sexta-feira, abril 29

:: Pensamentos

Acho que a primeira vez que senti uma sensação firme de "eu sou mulher" (e não mais uma adorável adolscente) foi quando entendi que eu gostava, muito, da Bethânia.
:: Biblioteca sentimental

Meus amigos mais próximos sabem essa minha neura: não gosto de emprestar livros nem discos. Cedo meus azeites portugueses, meus temperos da Índia, meus vinhos e meus licores. Mas com livros e discos é diferente. Então, hoje ela veio aqui e conversamos um monte e ela pediu aquele livro de chá, sobre o qual eu tinha contado em detalhes dia desses. O livro que eu trouxe de Londres, na maior paixão. E hoje é xodó. E pra sempre. Então, fiquei meio reticente. Ela viu. Ela sabe, na verdade. Mas então me pendurei na prateleira, naquela mais alta, onde guardo agrupados os livros de bebidas. Peguei o livro e dei na mão dela. Antes de folhear, fuçou o índice. Folheia, eu disse. É lindo. Um livro se conhece pelo índice, retrucou. Depois folheou, feliz com a leitura que tinha para o fim de semana.

Eu: Cuida bem dele e me devolve segunda? Tenho certo xodó...
Ela: Prometo. Vou cuidar como você cuidaria. Porque como eu cuidaria você não confia.
:: Uma ou outra?

Olha, paguei mico ontem no show do Camelo. Prontofalei. Ele começou aquele instrumental de "Copacabana", aquela marchinha, e muito me lembrou "Um Frevo Novo", do Caetano. Ainda mais o breque depois dos metais, antes dele entrar com a voz. Putz. Só dava eu, na maior animação (que não sei de onde tirei), soltando a voz com "A praça Castro Alves é do Povo, como o céu é do avião" enquanto o Camelo falava ali naquela letra fofa sobre o bairro Peixoto, os velhinhos bons de papo e o alvoroço das gordinhas.
:: Preciosidades

Heine, citado por Freud, em
"O mal-estar na civilização"

"Minha disposição é a mais pacífica. Os meus desejos são: uma humilde cabana com um teto de palha, mas boa cama, boa comida, o leite e a manteiga mais frescos, flores em minha janela e algumas belas árvores em frente de minha porta; e, se Deus quiser tornar completa a minha felicidade, me concederá a alegria de ver seis ou sete de meus inimigos enforcados nessas árvores. Antes da morte deles, eu, tocado em meu coração, lhes perdoarei todo o mal que em vida me fizeram. Deve-se, é verdade, perdoar os inimigos - mas não antes de terem sido enforcados".

quinta-feira, abril 28

:: Nos mínimos detalhes

Clarice Lispector dizia essa coisa de estar atrás do que está atrás dos pensamentos. Sou de fuçar os pensamentos, verdade. Mas tenho fuçado mais sobre a vida dos alimentos. Outro dia, assistindo a um longo documentário canadense sobre café, de três horas, em inglês e sem legenda, eu pensava: onde diabos está a minha formação intelectual?.

Depois passou. Aprendi coisas para tomar nota, ao meu gosto. Descobri, por exmeplo, que na Turquia há uma lenda que diz que mocinhas devem servir café ao futuro marido com açúcar, caso queiram casar, com sal, caso não queiram. E então se o prometido recebe uma xícara de café com sal e sorve tudo, até o fim, quer dizer que ele quer muito casar com aquela donzela. Achei lindo. Novidade, sou romântica.

Depois, ao falar das crises e oscilações infinitas nos preços do café pelo mundo, um brasileiro retoma os ditos de um general de guerra chinês.

"Na paz, prepara-se para a guerra. Na guerra, prepara-se para a paz"
:: Relatos de Paris

Mamãe escreveu outro dia contando das "rosas que circulam as escultras tão lindas do jardim de Rodin", num dia com "solzinho agradável e brisa" _talvez um dos meus lugares prediletos de Paris. Um "prazer imenso", disse. Falou, com detalhes, sobre o sabor do sorvete que minha madrinha tomava, de baunilha, noz-pecã e candy cremoso feito com açúcar e manteiga ou creme e xarope de maple, ão sei ao certo. Disse que havia tomado um delicioso "suco de orange". Depois contou sobre a confusão que fez para comprar um sanduíche ali naquele café cheio de charme e mal sabia o que estava por vir. Mas, no final, disse, foi ótimo: "um sanduíche de frango, com alface e tomates fresquinhos num pão francês legítimo!", assim com ponto de exclamação. Sacanagem essa coisa de misturar saudade de mãe com saudade de Paris.
:: Imagens

No centro é assim. Você para no farol, que demora a abrir, e se distrai com as cenas da cidade. Hoje foi um senhor, na chuva, de terno amarelo e sapatos pretos.

quarta-feira, abril 27

:: Gênios

Um beijo no coração do Itamar Assumpção, que fez letras geniais por toda a vida. Letras que combinam "sushi com chuchu", "quibebe com ravióli", "chope claro com escuro" e "empada com rocambole".

quarta-feira, abril 20

:: Diálogos

- Tô sofrendo.
- Eu também.
- Eu tô mais.
- Acho que eu tô mais.
- Eu já tive crise de choro. Você já teve?
- Não.
- Então tô sofrendo mais. Tá vendo?

segunda-feira, abril 18

:: Caderno de notas

- Não sei se estou pronta...

- Pronto ninguém está.

- Mas não sei se estou disposta.

- A gente vive se aprontando.

- Disposta a sentir saudades.

- Isso doeu. Ter saudades é uma dádiva.

- Não sei. Nunca gostei de sentir saudades. Me traz uma dor difícil de me desfazer.

- Mas aí não é saudade, é falta.

- Não. Qualquer sentimento de saudade me fere.

- Saudade é um lance mais ameno e ao mesmo tempo mais profundo, que tem a ver mais com você mesmo.

terça-feira, abril 12

:: Gêmeo do Moacir

segunda-feira, abril 11

:: Lágrima

Hoje, pela manhã, ele mandou e-mail. Falou sobre o céu azul e sobre os ovos com trufas brancas finamente raladas. Depois, prometeu aparecer por escrito vez ou outra, para que seus e-mails pudessem servir no meu dia como "pequenas lágrimas de grappa num café ou num sorvete".

Pouco depois de voltar do almoço, foi ela quem mandou um e-mail. E aí meu olho encheu e lembrei das lágrimas de grappa do amanhecer.

"Eu não sei a quem eu deveria agradecer por ter você como amiga. Mas eu agradeço muito. Talvez a sua mãe. Ou seu pai. Mas faz toda a diferença."
:: Diálogos

Outro dia, num domingo à noite, ela se pôs a escrever-me trechos que grifou da biografia de Virginia Woolf, que fez com que lembrasse de mim. Mais tarde, aquelas palavras me fizeram lembrar de um trecho da Clarice Lispector, que me fez lembrar dela e então respondi:

(ela)

No início, Julia não queria desfazer-se do seu hábito de sofrer, mas acabou cedendo, mesmo que penosamente, com um senso de remorso. Mas, como era forte e sincera, com coragem enfrentou a verdade: a alegria ainda existia, e podia voltar a experimentá-la. E foi capaz disso.

(eu)

E o que é que se faz quando se fica feliz? Que faço da felicidade? Que faço dessa paz estranha e aguda que já está começando a me doer como uma angústia e como um grande silêncio? A quem dou minha felicidade que já está começando a me rasgar um pouco e me assusta. Não, ela não queria ser feliz. Por medo de entrar num terreno desconhecido. Preferia a mediocridade de uma vida que ela conhecia. Depois procurou rir para disfarçar a terrível e fatal escolha. E pensou com falso ar de brincadeira: "Ser feliz? Deus dá nozes a quem não tem dentes". Mas não conseguiu achar graça. Estava triste, pensativa. Ia voltar para a morte diária.

sexta-feira, abril 8

:: Descobertas

Hoje ele me fez ver uma, duas, três vezes essa pituquinha fofa que ama Etta James e é mesmo uma mini Etta James. Só isso. Dá uma olhada aqui.

quinta-feira, abril 7

:: Zebras

O querido fotógrafo Clovis França sabe que sou louca por zebras. Então, de suas últimas andanças por Paris trouxe esse presentinho pra mim. E eu amei. Como se fossem minhas.

"Aproveito para te mandar as duas listadinhas que estavam na vitrine da Louis Vuitton em Paris, e me fizeram lembrar de você"



:: "Pequenas" alegrias

Ontem ele ligou. Não atendi, tinha esquecido o celular em algum lugar. Deixou recado, que só fui ouvir à noite. Antes, porém, me escreveu. Dizia que está organizando os muitos discos e que separou uns LPs pra mim. Depois perguntou se assim eu me animava em vê-lo. Será que ele não sabe que sempre estou animada pra isso? Com ou sem discos.

domingo, abril 3

:: Chuva

Sei que não disse que ia ser fácil. Mas difícil assim? Um domingo de chuva com Chet Baker e Billie Holiday depois de casar uma irmã?