:: Caderno de histórias
Verdade, tenho um monte de assunto acumulado. Coisas inúteis como o sapateiro novo ou a organização dos armários da cozinha, Outras mais sobre comida e diversão. Sobre os vários lugares que visitei no feriado (que eu tive!), sobre algumas conversas específicas com pessoas específicas, sobre o porre de uma (!) caipirinha de maracujá num almoço. Sobre o balcão do Balcão, que meu tio arquiteto desenhou, ou até sobre o hambúrguer tenro e suculento que comi ali do lado direito, num dos bancos altos, numa noite que estava um calor quase desconfortável.
Verdade, tenho um monte de assunto acumulado, o fato de que tenho tentado estudar pelo menos uma hora por dia e até agora tem dado certo. Que enfim recebi meu primeiro livro comprado na Estante Virtual, “Comida, Uma História”, de Felipe Fernández-Armesto, e que o sedex chegou impecável e já estou lendo e grifando, nas horas de estudo. Que minhas roupas de cama estão com cheirinho de lavanda e tenho fronhas brancas novas. Ou então que papai nos recebeu para um almoço com piscina e nos serviu uma massa que ele mesmo fez, com um molhinho que não sei descrever, de tão bom, com pancetta, shiitake, um tomatinho confitado. Ui.
É, tenho mesmo um monte de coisa pra escrever e fiquei enrolando. Preferi tomar sol e morgar. Preferi abrir pastas de antigamente com cartas de antigamente. Preferi ir ao cinema e conversar com as amigas. Preferi os beijos e os abraços dele e os primeiros momentos na casinha com copos americanos e uma rede xadrez na varanda. Mas, sabe, hoje acordei cedinho, enrolei um pouco, e depois o dia começou com isso e aquilo e mais aquilo outro.
E então cheguei no jornal e tinha e-mail de papai. Outro dia, me contou, ele ocupou horas em uma conversa com a minha vozinha pelo telefone. Anotou tudo e mandou para aquele moço que está escrevendo um livro sobre o teleteatro da TV Tupi. Mandou para mim também. Ele sempre acerta quando diz que vou gostar.
Nos escritos, a primeira linha dizia assim: Antonino Ettore Clemente Fecarotta - Heitor de Andrade (10-06-1922 / 18-06-1966). Por isso lembrei da minha avó me falando, desde pequena, que eu era um presente de Deus. Nunca fui de religião e custei a entender. Hoje, acho que consigo captar um tiquinho do que ela sempre quis dizer com isso. Nasci no mesmo dia que meu avó morreu. Em outro ano, mas no mesmo dia. E, depois que ele morreu, ela sempre rezava, aos junhos, principalmente, pedindo um sinal. Um belo dia eu nasci. Assim.
Não conheci meu avô. Mas vovó sabe que essas histórias de rádio e televisão que ela conta do passado me levaram ao jornalismo. Vovô fez química na USP, não dá para acreditar. Nasceu em Palermo, na Sicília, e depois virou até nome de rua no Brasil. Bem ali na Vila Madalena. E, sabe, depois de sua morte o então prefeito brigadeiro Faria Lima assinou um decreto dando seu nome a uma escola municipal.
Fez de tudo na TV Tupi, mas o que mais gostei foi saber que ele apresentava um programa, “Música Sempre Música”, todas as quartas-feiras, lá do Teatro Municipal de São Paulo. E falava inglês, francês, italiano, espanhol. Vovó conta que, no fim de sua vida, estava até estudando alemão.
Foi mais ou menos assim hoje de manhã. Essas histórias da vida deixaram o cotidiano mais pra lá.
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Um comentário:
Alguns desses assuntos me soam bem familiares...! Ra!
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