quinta-feira, fevereiro 26

:: Memória

Ele disse que, entre nós, não há esquecimento.

quarta-feira, fevereiro 25

:: Coisas para aprender

Não se deve nunca ouvir Chet Baker e João Gilberto em manhãs chuvosas de Carnaval.

terça-feira, fevereiro 24

:: Das trilhas

Ela mandou mensagem de texto e depois e-mail. Não ousou tocar no telefone por dois motivos óbvios: o crédito sempre em falta e a minha irritação típica das terças-feiras. Mas ela insistiu em contar o quanto gostou dos discos que gravei pra ela, porque sabe que eu gosto de pequenos exageros.

Ontem contou as histórias mais engraçadas do motel, choramos as pitangas juntas pelas desilusões, atualizamos todas as novidades profissionais. Enquanto a gente morria de orgulho uma da outra. É um pouco assim com ela. Ela olha para cada detalhe da minicasa e repete os elogios.

Quando tiver uma casa só pra ela, disse que vai me alugar até deixar a dela igual a minha. Os detalhes, ela diz. Ela gosta mesmo dos detalhes, da tábua colorida de cortar cebola, do Paulinho da Viola ao fundo, dos quadrinhos do Miró, dos cabides e banquinhos de madeira da Baraúna, das cervejas sempre geladas e de uns extras _os espumantes, os licores, os saquês...

Ela que foi até a Liberdade comprar copinhos de cerâmica para eu servir o saquê com estilo, como a gente gosta. Resolveu meu presente de aniversário quando eu carreguei comigo num saquêbar e tomamos drinques até esquecer enquanto eu explicava o be-a-bá sobre o polimento do grão de arroz e sua fermentação.

Hoje escreveu para contar que dançou sozinha, nesta manhã de Carnaval, no quarto, na frente da janela, só porque ouviu os discos que eu fiz pra ela. Aumentou o som uma ou duas vezes e não ficou intimidada quando o vizinho começou a espiar aquele suingue. Justo ela, que fica vermelha e esconde o rosto com almofada quando vai contar alguma coisa para maiores de idade.

Depois vieram as canções mais calmas e ela ficou olhando pro teto, contou. Só ouvindo. Ela, que, imagina, nunca vai arriscar gravar um disco pra mim, preparou toda a sequência de exercícios da academia e vai pegar no meu pé se eu for tomar sol no lugar da bike e do alongamento. Mas talvez ela me dispense dos pesinhos vez ou outra se eu prometer mais um disco pra ela. Ou, quem sabe, eu consiga escapar de alguns exercícios se convidar ela pra dançar.
:: Das palavras que a gente guarda

Eu ainda não respondi aquele e-mail lindo que ele escreveu pra mim. Mas ele sabe o quanto gostei da interpretação fértil que ele fez sobre os momentos. Ele sabe que é isso que gosto nele, depois do humor e da risada.

Disse, naquelas palavras registradas ali, que a gente parece "personagens do Woody Allen, seduzindo um ao outro com comida fina, literatura bourjois e Oscar Peterson". Depois de uma piada ou outra, concluiu assim, cheio de graça, "na verdade, acho que vc e eu somos sibaritas da pior espécie".
:: Lágrimas de cebola

Ontem, depois de muito trabalho, teve jantarzinho improvisado na minicasa com ela, que está na lista das muito-amigas. E então fui cortar cebola na tábua colorida, com a faca que papai trouxe de viagem e eu adoro, pouco antes dela chegar. Fazia tempo que não chorava lágrimas de cebola daquele jeito exagerado. No fundo, acho que foi o Paulinho da Viola tocando na vitrola e o sambinha curto nos pés.

sábado, fevereiro 21

:: Das coisas que eu anoto

Ela me disse que as almas gêmeas não se complementam.
:: Sobre 2008

Eu não fiz o ritual do balanço de 2008 no fim do ano. Talvez porque eu não tenha conseguido me dedicar a momentos só meus nos últimos dias do ano passado, lá na praia que eu adoro, onde não tem barulho e sempre para um vaga-lume na janela, na hora do jantar. Na praia que fica vazia à noite e a gente nada para ver plactom. Eu gosto do balanço porque me divirto e relembro. Eu choro também. Quem conhece, sabe. E 2008 foi ano de grandes mudanças e decisões. Talvez não tenha sido a falta de tempo ou vontade de me dedicar a mim, para o balanço. Talvez tenha sido isso. Um pouco de medo de rever as grandes decisões. Mudanças assustam. Fora isso, eu continuei com a minha vida de sempre, que é mesmo o que tento manter. Café, coca light, amigos, filmes, livros, música e muitos, muitos restaurantes.

E então outro dia eu fui ao Pita de novo e fiquei pensando que parte do balanço - a parte inútil, eu precisava registrar. Porque é coisa pra se fazer em listas. E faz tempo que não faço listas.

Em 2008:

O que mais comi: salada de chancliche, folhas, pera e nozes do Pita

Onde mais gastei dinheiro: Livraria da Vila, da Vila Madalena

Lugar que mais indiquei pros amigos: o novo e pequenino Vito e seu ravióli de agrião recheado com rabada (é isso mesmo?)

Café: Florinda

O que mais ouvi: Caetano e Joshua Redman

O que mais tive desejo de repente: guacamole da Lourdez Hernandez

Mais. Foi o ano que mais ganhei presente na vida. Casa nova. Cozinha completa com direito a itens Le Creuset (ai). Matisses espalhados. O ano da lista completa de novos restaurantes, cafés e docerias ticada.
:: Quando satisfaz

Depois de ouvir a versão de Toni Toy pra "Tainted Love", do disco Thash, que ele gravou, eu não preciso de mais nada. É a voz mais sexy dos últimos tempos todos. E mistura uma coisa de alegria e nostalgia difícil de explicar.

sexta-feira, fevereiro 20

:: Sobre os momentos

Ele disse que melhor se tiver mesmo um pouco de ficção e eu fiquei mesmo aliviada. Ali é assim, tem chave para entrar no térreo e um hall que parece a sala da nossa casa - uma casa moderna e iluminada. Em outro país.

Lá dentro, tem obras de arte espalhadas, piso de taco e algumas janelas amplas. Essa parede, e aponta para a parede preta que eu achei chiquérima, é para rabiscar com giz e depois lavar com coca-cola. Na frente, uma prateleira cheia de livros - e ele leu todos. Foi assim desde sempre. Ele ia mal na escola, e usava jeans e havaianas-do-modelo-antigo, mas lia, ouvia jazz e preparava salmão no forno. Eu já contei.





E quando chegamos, e eu fixada naquela árvore da felicidade, que minha mãe me ensinou a gostar desde sempre, ele pegou o vinil da Julie London e colocou pra gente ouvir, só porque é a capa de disco que ele mais gosta. E eu, na verdade, gosto mais do verso, que tem o nome das músicas e uma frase explicando cada uma. E então tem "I Love You" assim:

"I Love You" - é uma velha frase, mas da maneira como Julie a diz é nova e cheia de insinuações.

Coisinhas assim. Ele anda um pouco pela sala, enquanto a gente lembra das situações mais imbecis dos tempos. Troca o vinil algumas vezes. Depois que eu conto uma história de amor sem futuro e ele enche o meu copo: fala que eu tentei te seduzir com Oscar Peterson, sugere. E ele tentou mesmo.

Depois que eu me acomodei no sofá, já em casa, coloquei os discos que ele me deu. Primeiro, o trash. Depois, o chic. Por isso, lembranças surgem assim.

Ali no canto tinha uma poltrona laranja, quase vermelha, onde ele senta e fuma. Bem ao lado da árvore, que, talvez, não seja a árvore da felicidade que minha mãe me ensinou a gostar desde pequena. Na verdade, não entendo muito de árvores. Nada muito além de orquídeas e pés de café. Do lado oposto da parede preta, tijolos aparentes. Eu sempre soube; é muita personalidade.

Depois ele chega perto com o vinil do Chet Baker que eu mais amo, "Let's Get Lost". Agora você que vai ficar com invejinha, eu disse. Porque ele é amigo dos artistas, dos músicos de Berlim e de outros lugares por aí, mas eu tinha visto o documentário do Chet num cineminha mequetrefe lado B em Nova York, super alternativo. E ele ama Nova York e o lado B da vida. Mas não. Agora posso falar? Continuou. Eu conheço esse cara aqui, e apontou pro nome na capa do disco. É. Ele conhece Bruce Weber.

Ele tentou me impressionar com o bourbon com gelo (quer água com gás?, perguntou, ali perto da geladeira). Me deu uma obra de arte dele - não é exclusiva, mas é para a sua casa nova, explicou. Mais dois discos, com a playlist escrita com a letra de sempre, que eu gosto desde criança. Ele sabe. Mas ele que fica impressionado quando eu dou risada das coisas que ele diz e conta histórias idiotas. Porque ele sabe que eu leio muito. Ouço música. Vou ao cinema. E como nos restaurantes que ele mais gosta. E em outros também. Ele gosta especialmente de me contar que foi no Per Se e perceber que eu sei exatamente o que ele está dizendo. Quase exatamente.

No meio das bobagens, eu anotava um pouco no moleskine. Meio nerd, mas não controlei. Porque ele me ensinou como fazer um elefante, elegante e eu tinha certeza que ia esquecer. Ai, o bourbon. É só mudar o "f" por "g". E ninguém vai entender o quão idiota é, mas ele desenhou o tal do elefante e eu ganhei um cartão para colocar no lavabo da minicasa. Ele sabe que eu sempre vou rir.

Antes de ir, eu fui escrever na parede com giz, na parte que fica mais perto do fogão. Eu lembro quando era criança, que descobri que não poderia ser professora quando escrevi na lousa e ficou tudo torto - porque eu viro a página para escrever - e fica impecável, sempre em papel sem pauta. Mas, na lousa? Tudo, menos professora, eu pensava.

Ali eu rabisquei o menu que vamos preparar num sábado qualquer. Faz anos que a gente não cozinha juntos. A entrada é meio cafona, mas eu gosto: canapé de brie com damasco. Mas eu resolvo em uma pequena adaptação, ele disse. No lugar do brie, cablanca; no lugar do damasco, cereja seca. Ele é mesmo muito chique. Na verdade, ele é chic. Por isso que eu gosto. E ele diz, depois de tudo, que luxo é me ter por perto.

quarta-feira, fevereiro 18

:: Repeat



terça-feira, fevereiro 17

:: Das aventuras

Ele acabou de escrever falando que vai me arrastar para Nova York e de lá vamos para a cidade do Texas de carro para conhecer o Food Shark ao som das melhores trilhas sonoras. Eu sei. Ele sabe.
:: Da seção bobagens

- você está tomando água, lu?
- sempre. mas vou lá com você encher meu copo again.

no bebedouro:

- nossa, seu pé parece que acaba de repente com esse tênis. (eu)
- o meu? na frente ou atrás? (ela)
- na frente, olha. parece que meu pé, que é 36 e menor que o seu, com ese tênis fica maior. olha. (e coloca um pé do lado do outro)

...

- e isso porque você é que é a sapatona aqui. (eu)

ela riu e mandou eu registrar. eu obedeci, porque gosto de lembrar dessas bobagens no futuro, ou nos momentos de tristeza. eu acabo rindo e compensa.
:: Das coisas boas de um domingo

- ela desenhou o anel que vai fazer pra mim nos próximos dias e eu aprovei - e estou esperando ansiosamente

- comprei suco e iogurte e frutas e guardanapo no supermercado

- fui ao cinema assistir "Dúvida"

- comprei o novo livro do Dória, "Cozinha Materialista"; já estou lendo e grifando

- jantei no Arábia e nada (na-da) se compara ao fatuche de lá, com romã.

- coversei até muito, muito tarde sobre a vida, como se o dia seguinte nem fosse uma segunda
:: Repeat

Eles me fizeram ouvir Theatre of Disco sem parar. E eu ouvi. Agora eles não insistem mais e eu ouço por conta própria. Sem parar também, há dias, como se a vida estivesse muito animada.

segunda-feira, fevereiro 16

:: Das pequenas diversões

Hoje ele chegou calado, mas, pouco depois, começou a contar do fim de semana e fez um monte de programas culturais. Aqui é assim, na segunda todo mundo sempre tem muito o que contar dos programas culturais. Sempre alguém foi ao cinema, ao teatro, a uma exposição, a um restaurante, bar ou loja de chocolate. Ou viu algum DVD no cobertor.

- Ai, gente, eu revi Brokeback Mountain - gemendo ao seu estilo
- Chorou de novo?
- Chorei. Chorei pela vigésima quarta vez.

domingo, fevereiro 15

:: Sábado

- febre
- remédio
- cama
- febre
- banho
- sem febre
- sofá: jornal com chá e chet baker
- carro com amigos
- almoço com amigos (salada de rúcula, parmesão, presunto cru e peras)

- exposição do Josef Albers





- mais um disco pra coleção de jazz: "doo-bop", do Miles Davis.



- casa do pai para mimos e afins + café do sítio, moído na hora
- farmácia para remédios porque eu-não-aguento-mais
- coca light com amigos no cobertor

- cinema: "O Casamento de Rachel"



- salada de fatuche (no português) + babaganuj no Almarana e as conversas mais engraçadas
- as primeiras páginas de "Rimas de Vida e Morte", do Amoz Oz
- cama
- tosse
- domingo
:: Bobagens

Neste fim de semana, mais de cinco pessoas me ligaram para perguntar onde comer.
:: Quando bato pernas

Eu vivo andando pela cidade, não é novidade. Alguns dias, tenho de acordar mais cedo que o normal para visitar lugares, cafés, chocolaterias, doçarias e afins e caçar alguma coisa muito incrível para escrever na semana. O melhor da profissão é que sempre, sempre que dá certo e que realmente encontro coisinhas diferentes por aí fico realmente (re-al-men-te) satisfeita.

Outro dia foi assim. Fui a uma loja de chocolates nova, sobre a qual escrevi no Guia nesta semana, e conheci um monte de coisa por ali. E o lugar me encantou não só como profissional, mas como pessoa, pelas coisas que eu gosto, pessoalmente.

Logo que eu cheguei, anônima, a proprietária abriu um sorriso e começou a me contar sobre os chocolates, bombons, especiairias e afins porque me viu interessada. Tudo no maior prazer. Depois caminhei pela loja e descobri dois cacaueiros plantadinhos ali, na maior saúde. E então ela disse que um veio da Bahia e outro do litoral, aqui pertinho mesmo _era o menorzinho, que ela cuida tão bem, parece. Na hora pensei no meu pé de café.

Enquanto ela tirava um expresso que eu havia pedido _um leggero da Nespresso_, eu olhava atenta a prateleira de livros de chocolates e chás que ela tinha ali nos fundos, num móvel robusto, que eu teria na fazenda. Antes de sentar numa das confortáveis poltronas ali numa ala bem iluminada da loja, para tomar café e ler alguma coisa, ela comentou sobre um dos livros e eu fui dar uma olhada. "The Chocolate Connoisseur", de Cholé Doutre-Roussel. Li uns pedaços aleatórios e quero um pra mim. Vou encomendar.

Ao mesmo tempo, tocava uma trilha diferente e eu, mais uma vez, fui perguntar o que era. Ela me levou a caixinha do disco e eu anotei: Yael Naim & David Donatien. Depois entendi. O que ela quer ali, nas palavras dela, é criar um ambiente de prazer, que estimule todos os sentidos. Por isso tanto cuidado e delicadeza com os detalhes. E por isso que eu vou voltar para mais um café e meio chocolate _porque em 2009 é assim, metade de tudo, ou um terço, só.

A matéria está aqui: http://guia.folha.com.br/guloseimas/ult10080u503569.shtml
:: A mehor parte

(das conversas no restaurante)

Ele gosta dela. Ela é artista. Jovem artista. Ele é curador de arte. Gosta dos trabalhos dela, mas gosta mais dela, mesmo. E então talvez faça uma exposição e a convide para participar. E o amigo-querido-gay-e-muito-chique disse: mas só se venda para uma exposição na Tate, hein darling.
:: Das frases que eu anoto

Ela me contou: "Sempre que eu falo que estou enjoada o meu primo fala que eu não estou, mas que eu sou enjoada".

E ela é mesmo um pouco enjoada por natureza. Mas eu amo.

sexta-feira, fevereiro 13

:: Pequenos prazeres

Ela está um pouco triste nesses dias, por assuntos pessoais. Ainda assim, decidiu que vai passear na Liberdade amanhã. Eu disse para ela comprar alguns creminhos pro corpo, balas de lichia e chá de jasmin, que tudo, tudo ia melhorar.
:: Dos jeitinhos

Ela escreve "chegay" e "trancuilo". E fala mui-to, sem o som do "n". E eu tenho aflição, sempre.

Eu falo "pregüiça" desde que aboliram os tremas.

Ele fala que este ano é o dois mil in love.
:: Primeira vez

Tem duas coisas que eu sempre adoro: ouvir uma música pela primeira vez (que eu ame) e comer alguma coisa pela primeira vez (que eu ame ou odeie).

Ontem foi assim: comi pela primeira vez pistilos de jambu e foi uma experiência incrível. Se as folhas já causavam um surpreendente amortecimento na boca, os pistilos são o clímax. "Clí-ma-quez" eu ia dizer pra ela.

quinta-feira, fevereiro 12

:: Do melhor amigo

Ele escreveu assim:

"Você deixou de ser uma adolescente emocional e virou mulher. Se eu não tivesse uma, ia atrás de você."

Depois riu. E continuou:

"Mas, sem dúvida, é com muita honra que sou seu amigo."

Por isso que eu cuido tão bem do meu pé de café. E ele há de entender.
:: Dos planos

A gente combinou que vai andar no parque e comprar patins.
:: Dos fúteis e inúteis

Ela disse que no campeonato dos malas ele ia ganhar nos três primeiros lugares.
:: Quero-quero

as batatas rústicas da Lanchoenete da Cidade, fritas com casca, servidas com alecrim (lindos raminhos, sempre) e alhos confitados.

terça-feira, fevereiro 10

:: Das anotações no diário

Outro dia, ao despertar, coloquei o iPod no shuffle e a primeira música que tocou foi "Café Cuba", de Juarez Maciel e Grupo Muda. Simples assim, ele teria dito que eu diria.
:: Ressaca

Essa coisa de febre e afins tem a ver com o ar-condicionado sim-não-sim-não, com o sol religioso pelas manhãs, há dias, pela chuva que tomo vez ou outra, quando vem de repente, e também com o plantão caótico deste sábado, monitorando todas as catástrofes da chuva, o avião que caiu, o teto do shopping que desabou e as informações, morreu-não-morreu-morreu-não-morreu - e muda texto e volta texto e muda texto e manda troca. Depois, saladinha de folhas, nozes e pera no Pita e conversa fora para aliviar. Quase sempre funciona.
:: Remedinhos e afins

Ela ligou na segunda, enquanto eu estava enferma, perguntando se eu queria uma perinha. Perinha assim, no diminutivo. Virou mania na família dela porque a tia mais fofa que ela tem sempre diz que vai levar uma pera quando alguém fica doente. E ela disse pra mim que, se eu quisesse, ela dormia na sala e me levava peras antes de dormir. Por isso que eu aguento a febre e as dores.

*

Já a amiga mais antiga fez uma visita, de fato, e pediu salada de coração de alface no América para o jantar, para comer na bandeja, no sofá, de pernas cruzadas como índio, atualizando os últimos acontecimentos mais relevantes - e os outros também. Deixou até eu tomar coca light porque tinha passado o dia tomando suco de abacaxi com hortelã.

*

E, enfim, se tem uma coisa com a qual eu ainda não me adaptei é essa história de ficar doente e morar sola. Porque aí você levanta com febre e vai fazer o seu próprio almoço e fica sem os mimos e afagos clássicos. E então lá fui eu, descalça e tudo - porque pelo menos ninguém gritou, olha esse pé no chão gelado - fazer um ovinho mexido com aspargos verdes firmes, bem como eu gosto.
:: Das promoções

Elas compraram calcinha e sutiã Calvin Klein no mesmo fim de semana e eu também quero!
:: Repeat

Sumida enquanto ouço "Cherries From My Neighbour's Tree", de Tok Tok Tok, sem parar.

sexta-feira, fevereiro 6

:: Da agenda cultural

E então eu não paro mesmo com os programas de todas as espécies. Eu deixava muita gente irritada por ser planejada e sempre estar com o fim de semana lotado. Hoje, passou. Quem quer, vem comigo.

A qualquer momento, ele vai dizer que falta eu atualizar a lista de filmes. Verdade. Assisti "Ninho Vazio" e o documentário dos Titãs durante a semana. E, na lista do que entrou em pré, "Dúvida" está no topo. Ainda mais porque a capa de hoje da Ilustrada foi dela - e ela sempre escreve tão bem...

E eu continuo ouvindo Munk e comprando vestidos nas sextas de manhã. À noite, vai ser dia de teatro. Vou ver "Memória da Cana", dos Fofos Encenam, com texto de Nelson Rodrigues e direção de Newton Moreno, já pensou? Sábado é dia de sol, almoço e plantão à noite. Domingo, volto ao teatro para assistir "Avenida Dropsie", do Felipe Hirsch, com nada mais nada menos que Guilherme Weber. Para respirar fundo - antes, durante e depois.

Vai ser mais ou menos assim.
:: Comidinhas

Ontem tomei suco de uva-verde com água-de-coco no almoço. Hoje, suco de carambola, natural, batido com gelo e sem açúcar, com saladinha marroquina, com alface, tomatinho, cuscuz marroquino, passas e nozes com um molhinho que é segredo do Florinda, o café que mais amo em São Paulo. Quem me conhece, sabe. No final, expresso Fazenda Pessegueiro curto, na medida.

quarta-feira, fevereiro 4

:: Das dicas que eu anoto

Ela me ensinou a ouvir Munk. Fica a dica, ela disse. E eu, claro, anotei.
:: Quero-quero

- tomar magarita de melancia do Obá
- comer salada de folhas verdes, pera e nozes do Pita
- ir ao show da Anelis Assumpção e do Beto Villares no Sesc Avenida Paulista
- abraçar minha mãe bem forte - porque estou com saudades
- fazer o curso do Carlos Rennó - "Letra de Música É Poesia Cantada"

terça-feira, fevereiro 3

:: Dos pensamentos

Hoje ela disse, caminhando, que está com uma frase do Maquiavel na cabeça que é mais ou menos assim: "Quando fizer o bem, faça-o aos poucos; quando for praticar o mal, faça-o de uma vez só".
:: Nas manhãs

Tenho ouvido "Blues 55", de Pericles Cavalcanti, todas as manhãs durante o banho, o leite com café e a primeira leitura do jornal. Eu gosto tanto, que é como se o disco tivesse sido feito todinho pra mim.

segunda-feira, fevereiro 2

:: Da lista dos filmes em cartaz

De tempos em tempos, faço um balanço dos filmes em cartaz. Isso para organizar, também, a listinha dos filmes em DVD que levo sempre que vou à locadora - anoto os filmes em cartaz que não consegui ver. Fanática por listas, não é novidade, mas ajuda a contornar o "branco" clássico que temos na hora de procurar o filme do domingo à noite na locadora.

Nesta semana estou assim:

Já assisti:

- um beijo roubado
- o curioso caso de benjamin button
- do outro lado
- medos privados em lugares públicos
- queime depois de ler
- rebobine, por favor
- surpresas do amor (a trabalho - é algo assustador de ruim)
- o silêncio de lorna
- a troca
- vicky, cristina, barcelona

Quero assistir:

- o leitor
- milk - a voz da igualdade
- foi apenas um sonho
- ninho vazio
- antes que o diabo saiba que você está morto
- a bela junie
- uma garota dividida em dois
- gomorra
- lemon tree
- linha de passe
:: Pequenos prazeres

Comprei meu all star dourado, enfim!
:: Pequenos prazeres

Ele levou balinhas de tamarindo para o cinema, quando fomos assistir "O Curioso Caso de Benjamin Button".

domingo, fevereiro 1

:: O repeat deste domingo

- Tudo de Cartola
- "Estudando o Samba" - Tom Zé
- "Live at Roxy Club" - Parov Stelar
- "How Long Blues" - Kimmy and Mama Yencey
:: Épocas

Outro dia ela escreveu sobre épocas e sobre saudades. E eu disse que ia imitar. Ela disse que era para ser inspiração e não para fazer igual. No fundo, era o que eu queria dizer mesmo. E então neste domingo de céu completamente aberto - que eu esperava há dias, acordei surpreendentemente cedo. Vou me preparar para a piscina. Fazer um pouco de exercício antes, na pequena academia ali embaixo. E antes, ainda, lavar roupas brancas - hoje é dia das roupas brancas e, depois, das delicadas, que devem ser lavadas individualmente.

Abri a porta da varanda inteira, para ver o máximo do dia. Coloquei o último disco que comprei do Bach e aumentei quando começou "Jesus Alegria dos Homens". E então isso me lembrou das épocas. De quando a minha avó se sentava ao piano e tocava Bach pra mim e dizia: minha pituquinha, essa é para você. E eu pedia para tocar de novo e de novo e de novo. Mais tarde, fiquei frustrada porque não fui aprender piano clássico, só popular. E eu sentava para mostrar a ela as novidades, as notas mais longas que eu aprendia em alguma canção, e dizia animada que eram as notas que eu ia poder usar quando tocasse, enfim, música clássica como ela.

Ela achava lindo. Lindo. Por isso que um dia me deu a miniatura que ela mais amava da coleção inteira - que juntou pela vida toda e espalhou pela casa. Eu guardo num armarinho de madeira do quarto, que outro dia, quando eu mudei, ela esvaziou inteiro na casa dela, empilhando as miniaturas em outros lugares, só para me dar.

A gente sentava na mesa da cozinha para tomar chá e conversava muito sobre a vida. Muito. E depois íamos de novo ao piano e ela tocava pra mim. Às vezes, eu tocava pra ela - e ela achava lindo. Sempre. Desde a época em que meu pé não alcançava o pedal. E eu ficava acabada porque via o quanto ela usava aquele pedal que prolongava os sons. Eu ficava arrepiada, desde pequena.

Antes de tudo, quando eu era menor, dormia na casa dela quando ela fazia nhoque. Ela sempre fez o melhor nhoque. Quando meu pai ia embora e eu começa a sentir certa saudade, ela costumava tirar todos (todos) os cacarecos das gavetas do banheiro para que eu pudesse brincar, sem fronteiras, de cabeleireira. E então, aquele cabelo todo arrumado que ela usava era desmontado e eu ia ficando mais e mais feliz. Depois do novo penteado, eu podia fazer maquiagem e passar perfume e depois olhava o meu trabalho e pensava, pronto, já pode ir para a festa.

Mas eu ficava quieta. Não queria que ela inventasse nenhuma festa naquela noite. Eu tinha medo de um ladrão subir pelo prédio. Eu morria de medo. Por isso quase sempre fazia ela montar um colchão colado no da minha irmã mais velha, que nunca tinha medo. Nem sempre funcionava e ela tinha de abrir a janela do quarto no meio da noite, me segurando pela mão, para me mostrar como ali era alto. Eram 12 andares e nenhum ladrão ia conseguir subir, ela repetia.

Bom tempo depois, eu e minha irmã falamos sobre o sonho da gente de te-la tocando no nosso casamento. E eu, imagina, nem vou casar. Mas eu inventei na minha cabeça a cerimônia, a trilha, e o momento exato que ela ia começar a tocar Bach. Eu ia chorar. E aí o coração aperta. Muito. Se ela não estiver lá, aquele conjunto de violinos vai tocar a música que ela sempre dedicou pra gente. E eu vou senti-la pertinho. E vou chorar de saudade. E lembrar das épocas com um pouco de dor e vazio.