quinta-feira, setembro 30

:: Os anos

Será que envelheci tanto assim? Dei para falar que tal coisa é boa pra dedéu, boa pra chuchu. Me lembro que, quando era pequena, ficava meio ressabiada quando mamãe ou papai falavam isso ou aquilo. Hoje sou eu.
:: Músicas e leituras

Depois de ouvir Louis Armstrong exaustivamente enquanto lia as 500 páginas que destrincham a vida dele, comecei a ouvir Charleu Mingus. Tudo isso para ler sua autobiografia.

quarta-feira, setembro 29

:: Presente matinal

Hoje ele me mandou, ainda pela manhã, a versão de Jim Hall e Paul Desmond para "Time After Time". De doer.
:: Agenda da barriga

Ela acabou de ligar, contando que preferiu mesmo comemorar o aniversário num encontro mais íntimo. Disse que a amiga trouxe lulas e polvos de Cananeia e que faremos um jantar nesta sexta.

terça-feira, setembro 28

:: Lentamente

Uma pausa para respirar.

segunda-feira, setembro 27

:: Caderno de notas

"Ainda bem que, pra sua vida, existe a realidade", ele me disse dia desses.

domingo, setembro 26

:: Domingo com cara de domingo

Os sinos estão tocando aqui na igreja das redondezas. Eu, dentro de casa, embaixo do cobertor, ouço João Gilberto, tomo chá e rascunho o texto do quase finado Gemini.
:: Nos mínimos detalhes

Quando ela vai a Paris, lembra de mim porque sabe como sou atenta aos detalhes. Acho que é por isso. Depois, voltou da Itália com três presentes na bolsa: um tempero de trufas brancas, que estou economizando de maneira antipática, um panforte, bem firme, aromático e apimentado, e uma cafeteirinha Bialetti para apenas uma xicrinha de café. Aquela que a gente sempre, sempre quis comprar de tão linda, mas sempre resistiu.

Outro dia, me contou, lembrou de mim aqui mesmo no Brasil, em Porto Alegre. Contou que foi "a um teatro lindo"... antigo. E no andar de cima tem um salão de chá maravilhoso... com aqueles lustres de cristal, cortinas vermelhas de veludo, xícaras de porcelana... E cada torta, cada doce... madeleines delicadas para comer com o chá. A sua cara!".
:: Caderno de notas

"Onde queres o sim e o não, talvez"

sábado, setembro 25

:: Grandes emoções

Caríssimo pichador, dava para o senhor escolher outro dia pra invadir e Bienal e acabar com a obra dos urubus do Nuno Ramos? Algum dia que não fosse o meu plantão? Grata.

quinta-feira, setembro 23

:: Pequenos prazeres

Hoje pela manhã, nós duas acordamos cedo, bem cedo, para fazer meninices. A mão, o pé, a depilação. E então colocamos, sem querer, o mesmo esmalte melancia e viemos de sapatinho e vestido. E ontem, olha que fofa, ela me trouxe uma tortinha divina de presente: pecan, mel e açúcar mascavo. Por isso que a vida fica melhor. Bem melhor.
:: O disco, a bicicleta e o jardim

Ele anda meio assim meio assado porque parou de fazer as playlists praquele restaurante. Eu disse que, enquanto isso, podia fazer uma playlist pra mim. E ele perguntou se eu preferia que um carteiro de bicicleta jogasse o cd no meu jardim.

quarta-feira, setembro 22

:: Trechos

Aí tem uma música da Lulina que diz assim, ó:

“Minha vó fazia papa de farinha láctea e o dia terminava quando eu fechava os olhos pra dormir”
:: Repeat

O disco da Lulina é bonitico demais. Ela pede pra gente não chamá-la de fofa. Mas... Fazer o quê? Já ouviu? Numa entrevista que ela deu pro Bruno Saito, na Ilustrada, falou assim: "Tem umas partes mais bonitinhas, outras mais escrotinhas. É uma mistura. Não venha me dizer que sou fofa. Tenho também a parte safada e brava, como qualquer pessoa normal". Mas o começo da matéria dele é o que mais gosto. Dessas que a gente queria ter escrito.


"A Lulilândia é um reino (des)encantado de solo bom para a criação de minhocas. Por ali caminha um príncipe pobretão que não tem cavalo branco. A população local comemora o Réveillon várias vezes ao ano, para esquecer as mágoas. E, enquanto olham para o céu, todos se embriagam com uma bebida chamada sangue de ET.
Lulilândia é também a mente frenética da publicitária Luciana Lins, 30 ("nascida em Recife, mas olindense de formação"), que, nas horas vagas, se transforma na cantora Lulina e cria músicas para os personagens desse peculiar universo. Tão peculiar que ela estreia por uma gravadora com "Cristalina", uma espécie de coletânea. Nos últimos oito anos, ela gravou nove discos caseiros."
:: Pequenas ondas de felicidade

Quando éramos pequenas, tínhamos uma árvore da felicidade lá na casa da vila, bem ao lado da porta, quando saíamos da sala para o jardim de trepadeiras e ipês. Vez ou outra a gente ficava meio triste e mamãe nos levava até a tal da árvore, de mãos dadas, conversando bem manso. Quando chovia, por exemplo, era ali que a gente colocava um ovo para santa clara (clarear). Os ipês eram outra história. Eles cobriam o chão de flores amarelas, bem amarelas, como um tapete. Mas a gente tinha problema com a vizinha. Vê se pode: tínhamos problema com a vizinha porque enchíamos a casa dela de flores amarelas. O que uma pessoa que não gosta de flores poderia querer? Me lembro que, às vezes, à tarde, eu ligava para a mamãe no trabalho louquinha da vida porque a tal da vizinha estava podando nosso ipê. "Po-dan-do".
:: Sobre sonhos

Hoje ela acordou (e eu ainda não consigo entender como é que ela consegue dormir, com dois filhos pequenos) e veio me procurar logo pela manhã para contar do sonho. Sonhou que eu ficava muito, muito brava porque ela separou os figos grelhados da salada que meu pai havia preparado num almoço tardio, lá na casa da praia.

terça-feira, setembro 21

:: Afinidades

Ele tem uma coisa comigo que pouca gente tem. Podemos passar meses, até anos, sem nos ver. Quando nos vemos é a mesma intimidade. Demora apenas minutos para qualquer conversa se desdobrar, como se fosse antigamente. Mais: o silêncio, quando aparece, nunca nos soa constrangedor.

Depois que nos vimos naquele fim de tarde, até o começo da madrugada, ao som que metade ele colocava, metade eu, foram pequenas lembranças misturadas com as dores do presente e as pequenas alegrias da vida. Sempre igual, ao som de Caetano, Dave Brubeck e coisas novas que eu mostrei para ele e ele mostrou pra mim. Com o arrepio de sempre diante das músicas novas.

Me contou que foi tocar no Timor Leste, que tem um gato e um cachorro numa casa na Lapa. Me contou do disco que foi gravar na Bahia e dos jingles que precisa produzir para fazer algum dinheiro. Me contou calmamente como foi que o amor aconteceu, nos pequenos detalhes, e que, no duro, isso e aquilo são coisas que não importam.

Ele lembrou das fitas K7 que trocamos na pré-adolescência e adolescência inteiras. E, quando começou a tocar Bowie, eu senti uma coisa no coração e então ele lembrou daquela fita que me gravou e mandou um amigo me levar na praia. "Mando eu enquanto fita", chamava. Como posso esquecer?

Comaçava com "Colégio Aplicação", dos Novos Baianos. Tinha também "Baioque", com a Bethânia, "Mano Caetano", com Bethânia e Jorge Ben. Tinha "Água de Meninos", com o Gil e "Derramando o Gai", com MPB 4. Mas aí, de repente, tinha David Bowie e eu fiquei horrorizada. David Bowie? Depois a gente cresce e as coisas ficam diferentes. Mas certas coisas, nunca mudam. Assim, como essa coisa que existe entre nós.
:: O vazio

Por que diabos dá tanto, tanto vazio acabar um livro que a gente gostou muito de ler?

segunda-feira, setembro 20

:: Registros inúteis

"Ai, minha filha, agora estou conjugando o verbo su-bli-mar". rá rá
:: Inevitável

Eu tento evitar, mas não consigo. Quando ouço Jeneci é sempre a mesma choradeira. Pro bem e pro mal.

sexta-feira, setembro 17

:: Repeat

Acordei lendo e fazendo anotações. E já ouvi duas versões de "St. Louis Blues", uma com Django Reinhardt e Stéphane Grappelli e outra com Bessie Smith. Mas estou garimpando outras e outras versões. Me intriga essa coisa das leituras de uma mesma música. E por que será que certas músicas são gravadas por tantas, tantas pessoas?

Tempos atrás, por exemplo, fiz um levantamento de "Night in Tunisia". Só das que tenho no computador: Art Blakey, Cal Tjader, Count Basie, Chaka Khan, Dee Dee Bridgewater, Dexter Gordon, Ella Fitzgerald, jamey aebersold, Maynard Ferguson, Sonny Rollins, Wes Montgomery & George Benson & Kenny Burrell! Ufa!
:: Nó

Me irritou um bocado saber que Dizzy Gillespie não admirava Louis Armstrong e Louis Armstrong não admirava Miles Davis e Miles Davis não admirava Dizzy Gillespie nem Louis Armstrong. Fez um nó na minha cabeça.

quinta-feira, setembro 16

:: Só pra ela

Hoje ela escreveu sobre John Lurie. E então lembrei de um poema que ele recita no disco que Medeski, Martin & Wood gravaram para crianças. É o que eu mais gosto. E escuto e volto e escuto e volto. Disse pra ela que, qualquer coisa, sempre que ela precisar, seja pelo que for, rodo o mundo atrás de um squalb pra ela. Eu também sempre quis ter um...

"A squalb will protect a little boy and a little girl throughout the day
and so that nothing bad will ever happen to you if you have a squalb
life will come at you in a beautiful way
things will be absolutely beautiful for you as you move through the day"
:: Pedaços

Teve um dia, tempos atrás, que ele andava com o coração despedaçado, com uma dor que a gente quase não suporta. Então escrevi uma carta. Uma carta com pensamentos. Tinha um recorte assim:

Aí fui ler Drummond, porque ainda não estou preparada para reler Clarice. E então, achei um trecho que quis copiar aqui pra você. Posso?

"Namorado é a mais difícil das conquistas.
Difícil porque namorado de verdade é muito raro.
Necessita de adivinhação, de pele, saliva, lágrima, nuvem, quindim, brisa ou filosofia."

Depois ele respondeu. Por e-mail. Um e-mail lindo, desses que a gente guarda para reler aqui e acolá. Mas uma parte me matou. Assim: "Eu sei que tudo passa. Mas enquanto não passa é foda, né?"

Hoje ele está melhor. Eu também. Ufa.
:: As leituras e o meu caderno de notas

Lendo enlouquecidamente. Grifando passagens incríveis da biografia de Louis Armstrong e aprendendo mais e mais sobre o jazz. Mais de uma, duas, três vezes Terry Teachout lembra que Armstrong não vivia sem os tais feijões-vermelhos com arroz. E, lá pelas tantas, tem a coisa do regime. Adorei. Olha:

"Como a maioria dos homens corpulentos, Armstrong estava sempre experimentado dietas diferentes em busca de um modo rápido de perder peso que não o impedisse de comer feijões-vermelhos e arroz. Lucille apresentou-o a Swiss Kriss, laxante de ervas. (...) Lembrava as ervas que sua mãe colhia nos trilhos de Nova Orleans e usava para cozinhar um laxante caseiro que dava aos filhos para combater os efeitos da comida gordurosa que comiam."

quarta-feira, setembro 15

:: Pequenos prazeres

Acordar mais cedo que o necessário, sem despertador e sem mau humor, para tomar café da manhã com o jornal esparramado, mais lentamente do que no dia a dia. Na mesa, manteiga President, pães frescos, leite vaporizado com café. E um copo d'água bem gelada.

quinta-feira, setembro 9

:: O gato e o rato

(e Piazzolla ao fundo)

:: Pequenos detalhes

:: A não-rotina

Ouvindo "Ive Brussel", que me traz alegria sempre, e esperando meu móvel verde chegar. Ai.

terça-feira, setembro 7

:: Repeat

O disco novo do "Do Amor" tá bom pra chuchu.

Ele também me mandou ouvir "Plastic Beach Mini Mix", do Gorillaz, e uma tal de Barbara Eugênia, que ainda não conhecia. Tenho minhas dúvidas, mas parece boa a moça.
:: Inverso

Dei para relembrar um pouco da minha adolescência e então fiz algumas trocas de artistas em canções de todo dia. É assim:

"I Shot the Sheriff", com Eric Clapton.
"I Wait Until Tomorrow", com Jimi Hendrix.

Coisa boa, viu.

segunda-feira, setembro 6

:: Comidinhas da alma

Ando lendo muito sobre a comida e as relações sociais. Registros históricos, principalmente. Outro dia dei uma geral em "A Fisiologia do Gosto", de Brillat-Savarin. Grifei, grifei, como sempre acontece. Mas anotei um trecho, em particular, no caderno de notas. Assim:

"A gastronomia, enfim, quando partilhada, exerce a mais nítida influência sobre a felicidade que se pode encontrar na união conjugal."

Depois li um bocado sobre a "invenção" do fogo e como ele é determinante nas relações. Como Fernández-Armesto diz, o fogo não tem importância somente por transformar os alimentos e sim por estabelecer a primeira forma de organização da sociedade. Era em torno das fogueiras, nos campos, que as pessoas se reuniam para comer. Eram momentos de comunhão.

Hoje foi mais ou menos assim. Era um dia normal de trabalho. Mas resolvi adiantar as coisas pela manhã e comprometer um tanto o meu fim de dia para abrir espaço para um almoço com as mulheres da família. Eu, minha irmã e minha mãe. Enquanto eu estava a ler e escrever, elas estavam na cozinha, fazendo pouco barulho e preparando algo muito perfumado.

No forno colocaram postas de robalo, com raspas de gengibre e tomilho, embaladas em papel-alumínio. A abóbora bem laranjinha foi cortada em cubinhos, regada com um bom azeite espanhol, farelos de queijo roquefort, tomilho e nozes. Também ao forno. Lili ainda fez algo que gosto muito: um cuscuz marroquino, mas sem frutas secas e afins. Só os grãos. Leves e delicados.

Depois, um café Nespresso curto, de uma edição limitada que gosto muito, com bolo de fubá de receita da Carla Pernambuco. Quem quis também provou um bolo fofo e molhadinho de maçã e nozes com chá. E então, ao trabalho. Sem choro, nem vela.

sábado, setembro 4

:: Pedido

"Manda urgentemente
Algum cheirinho de alecrim"

(Chico Buarque)
:: Caderno de notas

Hoje ele me mandou ler esse trecho aqui da Clarice Lispector:

"Saudade é um pouco como fome. Só passa quando se come a presença. Mas às vezes a saudade é tão profunda que a presença é pouco: quer-se absorver a outra pessoa toda. Essa vontade de um ser o outro para uma unificação inteira é um dos sentimentos mais urgentes que se tem na vida."

sexta-feira, setembro 3

:: Registros inúteis

Hoje ele me disse que até PF comigo vira programa fino. Rá!