terça-feira, maio 31

:: A chamada 'perca' de controle

Altas horas, no fechamento:

- Tá chato aqui, né.
- É. Vamos tirar a roupa?

segunda-feira, maio 30

:: Sobre as flores

Outro dia, uma amiga encheu meu coração de alegria. Disse que estava se sentindo como se fosse eu, a caminho da floricultura, para comprar flores. Aí lembramos todas juntas de Mrs Dalloway, aquele trecho que fala que "decidiu que iria ela mesma comprar as flores". Que tanto acho lindo. Hoje foi outra. Pediu para que eu chegasse logo ao jornal. E pensei que fosse a saudade de um fim de semana que nos separou. Mas não. Ou não só. Ela me trouxe flores. E escreveu, no caderninho de bolacha (também presente dela), um bilhetinho delicado, como é tudo que ela encosta a mão. "Miniflores para a minicasa", dizia. "E uma semana muito feliz!" Assim, sem mais nem menos. Só pra gente celebrar nossa amizade e ter, enfim, uma semana mais colorida e leve. Quem sabe?

sexta-feira, maio 27

:: Bloco de notas

"Ah, se ter saudade é ter algum defeito"

quarta-feira, maio 25

:: Um fim da tarde meu

"Todo dia o sol levanta e a gente canta o sol de todo dia. Fim da tarde a terra cora e a gente chora porque fim da tarde. Quando a noite, a lua mansa e a gente dança venerando a noite"

Um suspiro de alegria e paz, na minicasa.

:: Dos diálogos idiotas

Eu, no dia de folga: e a pessoa com a chamada roupa de fitness e com preguiça de andar até a cozinha para pegar um copo d'água
AH-TÁ

Ela: rararara o quê? toda trabalhada na lycra e não quer malhar?
ah, cláudia.
:: Uma relação antiga

Ela tinha um tato incrível para a música. E aprendeu, desde muito cedo, a acreditar em Deus. É assim até hoje. Tem a música, tem Deus, tem os afetos e os desafetos. Outro dia sentamos naquela sala mais reservada, de janelões de vidro, abertos para uma parte do jardim. Do outro lado da parede, um pouco atrás, eles estavam preparando a quatro mãos (e às vezes seis) uma massa recheada artesanal.

Depois de misturar o espinafre batidinho, esticaram a massa naquela máquina de macarrão, com uma manivela. Em seguida, rechearam pequenos quadradinhos com um queijo um pouco mais firme e mais amarelado que a mussarela de búfala.

Enquanto isso, estávamos na sala, de papo. Eu mexia na mão direita dela com delicadeza, dedo por dedo. Até que ela sentisse. Vez ou outra ela esticava o braço esquerdo até o copo d'água temperada que estava sobre a mesinha triangular que temos desde os tempos em que morávamos em família. Tomava um gole e apoiava de novo. E seguíamos conversando.

Contei, lá pelas tantas, que li a autobiografia da Nina Simone e o que ela realmente almejava era se tornar a primeira concertista negra de piano clássico. Por isso colocava-se a tocar uma, duas, três horas por dia. Tocava Bach. Aprendeu tudo de Bach. Assim como minha vozinha. Bach, pra Nina Simone, pra minha vozinha e pra mim é o predileto. Falamos então de pianistas clássicos, ela me contou um tanto sobre Beethoven, outro tanto sobre o próprio Bach. Chegou a falar alguma coisa de Chopin.

Acontece assim. Passamos horas conversando, se deixar. Mas sempre tem a coisa do tempo, me puxando pra cá e pra lá. Depois ficamos dias e dias sem nem nos falar. A mão direita dela ainda não está boa, mas tem melhorado, aos poucos. Faz pirraça da antiga fisioterapeuta. Ela dizia que minha bunda era durinha, acredita? E minha mão, nada de melhorar, disse dia desses.

E agora, que está com uma fisioterapeuta nova, que faz exercícios pontuais, contou que está até catando feijão. Tô catando feijão e amassando massinha de modelar. Mas não essas massinhas de criança, não. E seu pai outro dia fez uma feijoada aqui e dá-lhe feijão para catar. Hoje mesmo, acabaram de me dar outro saco de feijão para escolher.

Ela tem um humor que me espanta. Que é lindo de ver. Aos 86 anos, mãos livres de rugas, teve de sair da casa dela no interior, onde cuida do jardim e do gato, para ficar aqui, na casa do meu pai, até que recupere os movimentos da mão, depois da queda. Está há meses já sem tocar piano. E ainda assim, mantém o bom humor. É um exemplo. Porque eu sou atacada pelo cansaço, pela TPM, pela saudade da minha mãe, das minhas amigas que moram fora. E ela firme. De uma vitalidade que dá alegria.

Tem pastas e pastas, que hei de herdar, com todos os recortes de jornal em que meu avô saia. Às vezes acho que esse ritual de ficar na casa dela quando pequena, brincar de cabeleireiro e fazer nhoque, e depois ficar esparramada no chão vendo essas pastas, com os recortes de jornal, me fizeram, de certa forma, querer o jornalismo. E talvez, vai saber, essa coisa dela ter sido uma famosa atriz de rádio tenha me criado essa vontade louca de ser locutora.

E, sabe, desde que comecei a escrever no jornal da cidade grande, naquele caderno de circulação nacional, ela passou a guardar minhas reportagens também. Uma a uma. Estão todas organizadas na casa dela. Mas desde que teve de vir para São Paulo, parou. O jornal não é meu aqui, né. Me disse. Mas pedi para que ela continuasse guardando, porque ela era a única pessoa que cuidava dos meus escritos. E eu amo.

Conversamos longamente ao telefone, neste dia em que me proibiram de ir ao trabalho. Olha, deviam fazer uma revistinha pra gente poder colecionar melhor, viu? Disse sobre o caderno novo. A revistinha é mais prática, sabe?, e dá para colecionar melhor, a gente pode colocar em qualquer lugar e fica uma belezinha. Mal sabe ela que tudo que ela faz fica, por natureza, uma belezinha.

terça-feira, maio 24

:: Bloco de notas

"Você esqueceu que você vive num corpo?"

domingo, maio 22

:: Diálogos inúteis

Tenho essa coisa louca com os diálogos inúteis. Gosto de tomar nota para que depois eu possa vir aqui, reler, e rir do nada. Feito idiota.

Outro dia, no restaurante:

Ele: Não acredito que a empresa fatura só 3,5 por ano.
Ela: 3,5 bi-lhões-de-eu-ros.

Já noutro dia:

Eu: E então, na viagem, abracei até Exu.
Ela, desesperada: Ele estava usando desodorante, pelo menos?

sexta-feira, maio 20

:: Na cola

Um na cola do outro:

quinta-feira, maio 19

:: Pequenas alegrias

Ela quase desistiu de me agradar nesta semana. Antes, ufa, me mandou um presente que ajudou muito.

quarta-feira, maio 18

:: Cartola no meu bloco de notas

"Depois da tempestade, o sol nascerá"
:: Reflexões

Deve haver alguma coisa errada nessa histeria do Moacir, de querer ficar colado em mim quando estou em casa, andar de lá pra cá comigo e me dar bom dia sempre umas 5h, 6h da manhã _e querer brincar infinito, e loucamente. Será que sou eu que estou toda errrada?
:: Registros inúteis

De ontem, às 4 AM, quando saí do jornal, até hoje, às 11h30 AM, quando cheguei no jornal, a melhor coisa que pensei foi como eu amo meu piso de vidrotil do box do banheiro.

segunda-feira, maio 16

:: Pequenas alegrias

Amo ele da ponta dos fios de cabelo até a sola dos pés. Hoje fiz uma voz de choro para que desse um jeito de almoçar comigo. E deu. Nos encontramos na hora marcada, sem atrasos. E ganhei ímã de geladeira que ele trouxe de Berlim, de minisushis. Ele sabe, sou louca por comida e por miniaturas e então ele juntou tudo numa coisa só. Mais tarde veio puxar assunto e eu lutando contra um texto. Um texto que escrevi, me apaixonei e precisava cortar infinito. Coisa de fazer doer. Me perguntou,c omo quem não quer nada, se eu tinha o disco do Snoopy. Do Snoopy mesmo, o cachorrinho-fofo-das-nossas-infâncias. "The Vince Guaraldi Trio", disse. "É tão sua cara". E então me mandou uma música por e-mail. E eu parei tudo para ouvir. Ouvimos juntos. E a gente se entendeu tão bem na nossa vontade de chorar. "Acho que estou sensível. Me deu vontade de chorar", falei. Foi igual pra ele. Uma vontade de chorar. E então a gente riu. A gente sempre ri alto. Eu daqui, ele de lá. Depois me contou que lembrou da vovó Zoraide, a vovozinha querida dele, que morreu há 11 anos. Ai. E eu no play pela terceira vez, numa tacada só. E aquele choro na garganta de uma coisa que misturava cansaço com tristeza e uma coisa que chama emoção que não sei bem o que é. Nunca soube. Fiquei quieta. E ele disse que geralmente quando ouve "uma música muito linda, penso em você". Por isso eu vim aqui. Por isso.

terça-feira, maio 10

:: A escolha das palavras

Ele escolheu as palavras com precisão para me descrever aquele restaurante delicioso, de cozinha da fazenda, no interior. "O prato individual dá pra 3 e você come inteiro de tão bom."

domingo, maio 1

:: Manhã de domingo

Depois de temperar a água do Moacir (metade-gelada-metade-natural), reguei o pé de café, preparei meu café com leite e sentei aqui pra escrever uns trecos e ouvir Criolo. Baita disco!

Agora acho que vou aumentar um tanto e vou lá pegar algodão com acetona para tirar esse esmalte vermelho descascado.
:: Presente da Ligúria



Ele escreveu lá da Itália com esse presente pra aliviar meus dias de muito trabalho.

"Preguiça mediterrânea: como não achou uma rede, gato usa um cesto para descansar depois do almoço na porta de um café em Monterosso, na Ligúria"

Fofo, né.
:: Gato com chic

Então eu fico aqui pensando: por que diabos fiz do Moacir um gato que só come ração de primeira _e crocante, atenção!_ e água misturada _metade gelada, metade natural?