quarta-feira, junho 30

:: Registros inúteis

"Luizie, vou te dar uma surra com pinto de boi, hein?!"

terça-feira, junho 29

:: Chamegos

Ele manda muitos beijos pra ela em catalão. Assim, ó: molts petons.

domingo, junho 27

:: Receita para acalmar os corações

Hoje acordou mais cedo. Um pouco mais cedo. Domingo é dia dela ficar na preguiça, conheço. Mas então. Acordou mais cedo para finalizar a torta de limão que ela faz à perfeição e preparar panquecas para o café da manhã.

Ontem já tinha sido um capricho. Preparou minha cama e deixou o aquedecor ligado, pra tudo ali ficar bem quentinho, como eu gosto. Mais tarde, antes de dormir, até levou um copo d'água gelada para eu deixar ao lado do abajur, que estava ligado, caso eu quisesse ler um pouco antes de dormir, como é de costume.

A primeira coisa que fez pela manhã foi abrir as janelas da sala - e está um sol imenso hoje, dá até certa alegria. Depois desceu da prateleira sua batedeira vermelha que mais ama para preparar as claras em neve.

Quando saí do banho, ela já estava preparando as panquecas em uma frigideira colorida, que a gente adora. Como você aprendeu a fazer? Nigella me ensinio, ela disse. Anda com essa fixação pela Nigella, desde que fomos à Livraria da Vila e ela comprou "Nigella Express". Até entendo. Nigella conversa com o leitor, como se fosse com ela. E ela gosta. Gosta muito. Mas hoje estava de pá virada. Nigella me decepcionou, ela disse. 40 g de fermento? 150 g de farinha? Verdade. estava puta da vida com essas medidas que não sabia bem definir no olho.

Mas a verdade é que isso não mudou nada. As panquecas saíram divinas. Di-vi-nas. E ela preparou a mesa de centro, da sala, que eu adoro. Você não gosta de comer na mesa, né, Lu. É. Por isso fez assim, forrou a mesinha de centro pra gente comer no chão, em cima das almofadas. Usou um toalha xadrez lindinha de tudo. Depois colocou a manteiga na manteigueira e a geleia num potinho de cerâmica lindo, que trouxe de viagem de um desses lugares do mundo.

E ainda colocou as orquídeas brancas, que estão lindas, lindas (e tão delicadas) ali do lado pra fechar a cena. Ontem foram as velinhas coloridas. Sempre tem alguma coisa para arrematar. Por isso me sinto melhor aqui. Bem melhor.

quarta-feira, junho 23

:: E agora?

Quando entrei aqui para ver as finais dos principais campeonatos mundiais de café, que começaram hoje em Londres, e acabam no sábado, pensei: que diabos estou fazendo aqui? Vale a pena dar uma olhada. A transmissão, em tempo real, está impecável.
:: A minha musa

Nina Simone. Quem não sabe? No último domingo fui arrancada da cama. Era dia de arrumar a casa da mamãe com frescurinhas bem femininas para receber a família para o almoço que ia comemorar o meu pior aniversário. Então minha madrinha chegou cheia de flores, ainda pela manhã. Como costuma ser. Eram flores que pareciam esculturas delicadíssimas, bem como eu gosto. No banheiro branco, branco, montou um miniarranjo num vaso micro. Na verdade, uma leiteirinha de cerâmica, florida, que ela trouxe de uma feira de antiguidades lá de Londres. Quando fui, trouxe duas para mim também. Tinha me apaixonado.

Enquanto isso, era ela que tocava e cantava ao fundo. Escolhemos um disco com blues mais animados porque quando ela dá pra cantar coisa pra baixo, ninguém aguenta. Bem, eu, pelo menos, não aguento. Minha madrinha cantarolou junto, alguns trechos de algumas canções. Estava na mesa de madeira que fica ali nos fundos, a mesa de costura, e uma fresta de sol entrava pela janela enquanto ela cortava talos das menores flores para organizá-las em vasos. Abriu os olhos azuis, que às vezes chegam a doer com a luminosidade, de tão claros, e me contou dos três shows da Nina que assistiu. Três shows, ela disse.

Um deles no Free Jazz Festival, no Anhembi, em 88. Ali naquela época, aos sete anos, eu já devia desconfiar que Nina ia ser minha musa tempos depois. E pra sempre. Mas não fui ao show. Será que eu poderia? Já nessa idade, mamãe me levava pros shows do Rumo, do Caetano e outros mais. Desde pequenininha. Um dia, me lenbro bem, até hoje, fiquei tão irritada. Tivemos de voltar horas mais cedo do sítio num domingo, porque à noite Caetano ia cantar. Hoje, ela sabe, agradeço. Faria o mesmo com os meus filhos.

As flores estavam prontas. E eu colocava a Nina para tocar de novo e de novo enquanto lavava as minialfaces que mamãe havia comprado no Santa Luzia. Em cima daquele monte de folhas verdinhas, verdinhas, coloquei quatro ou cinco flores comestíveis. Já pensou que lindo?

Depois papai chegou. Pouco depois. Eu ainda estava de havaianas e cabelo preso. Soltei o cabelo. Tirei as havaianas. E a Nina continuou. E então papai também lembrou de quando foi vê-la ao vivo e me contou detalhes da primeira vez que ouviu um vinil dela. Na casa de uma amiga. Uma amiga da faculdade. Uma amiga da faculdade que morava em Nova York e, de volta ao Brasil, trouxe um monte de vinis desse mesmo calibre. E ele ouviu e sentiu algo parecido com o que sinto até hoje com ouço aquele piano e aquele timbre de voz. Por isso a gente se entende tão bem. Também por isso.
:: As horas

Não é nem meio-dia e eu já acordei, tomei leite, me troquei, fiz aula de bike, treino de musculação, tomei banho, pintei os olhos, fiz a unha, comi uma pera e já fechei uma página de Comida, que sai amanhã.

domingo, junho 20

:: Registros inúteis

Ela disse que a estampa do meu gato é linda.

sábado, junho 19

:: Ensinamentos de Saramago

"Se tens um coração de ferro, bom proveito. O meu, fizeram-no de carne, e sangra todo dia"

"Gostar é provavelmente a melhor maneira de ter, ter deve ser a pior maneira de gostar"

sexta-feira, junho 18

:: Homenagens

Não é a primeira vez que ela me faz uma homenagem. No nosso primeiro trabalho juntas, onde cortávamos o cabelo uma da outra, pintávamos as unhas das mãos à perfeição, eu fiz aniversário. E ela me escreveu um dos textos mais lindos da vida. Qualquer hora copio aqui. Aí hoje, ela mal pode me dar os parabéns porque eu estava mergulhada na repercussão do Saramago. E então escolheu escrever. Da próxima vez, acho que vou fazer de propósito. Não falar com ela, só pra ganhar mais um texto e outro e outro. Adoro, sempre. Um grande presente, ela sabe.


:: Pausa para os parabéns

Lulu é minha amiga. Amigona. Desde sempre.

Lulu trabalha num jornal fazendo a coisa mais legal do mundo, que é falar de comida (entre outras coisas, porque ela é dessas pessoas insuportavelmente multitalentosas).

Lulu me botou no trampo mais legal da minha vida, que era comer-comer-comer, escrever um pouco e e ganhar dinheiro no fim do mês.

Lulu faz aniversário hoje.

José Saramago morreu hoje. Lamento muito, mesmo. Adoro o Saramago.

Mas vejam: se morre alguém do quilate do Saramago, o povo do jornal PÁRA TUDO e corre pra redação pra fazer plantão. E assim lá vai Lulu, no seu próprio aniversário, desmarcar compromissos-delicinha pra se enfurnar na redação antes da hora devida.

E ultimamente tem muita gente de alto quilate morrendo, e sempre em datas especiais para a vida íntima dessa menina. De modo que Lulu está sempre em plantão quando deveria estar fazendo outra coisa mais importante - importante não para o grande público, mas para a sua própria pessoinha.

Então repito a pergunta de ontem: existe justiça nesse mundo, gente?

(Tenho feito muito essa pergunta ultimamente, acho que vou mandar fazer im cartaz pra levantar toda hora que a questão se colocar...)

Enfim, não sei se vou ter a chance de encontrar Lulu hoje. Então quero registrar minha homenagem, meus parabéns e dizer que mesmo tendo morrido o Saramago e tals, hoje ainda é o dia dela.

Feliz aniversário, amore!

terça-feira, junho 15

:: Mimos

Ele é uma coisa de louco. Mesmo. Outro dia compilou uma troca de cartas com um anônimo para que eu possa ler inteirinha, assim que nos vermos novamente. São 90 páginas, me contou. Sobre a vida, disse. Depois, numa tarde dessas de sol, chegou e-mail assim:




Biquinho do Erlend pra te animar um pouquinho.
Está em Copenhague com o Kasper fazendo DJ set.

E pra dar inveja, o Brunch aqui foi assim:

Ovos mexidos com salmão defumado e um toque de danablu com tomatinhos confit do lado
Pãozinho integral de casca crocante e manteiga de marron, terrine de fois en croute, maravilhosa. Grapefruit vitrificado com menta.

E mimosas. Nessa luz bonita do domingo de junho, com Ella Fitzgerald fazendo Gershwin.
:: Pequenos prazeres

Ali é assim: a gente toma banho na banheira, sais de banho e óleos relaxantes, diante de uma janelona de vidro que dá para um jardim interno colorido com orquídeas amarelas. Daquelas pequenininhas e delicadas.

quinta-feira, junho 10

:: Instruções

Ela disse para eu ouvir uma música antes de sair. Respirar. Relaxar. Eu obedeci e ouvi "Baltimore", da minha musa Nina Simone, do disco de mesmo nome. Coisa linda que é. Dá até uma alegria lá no fundo que faz a gente ter vontade de ouvir e ouvir e ouvir no repeat.
:: A crise e o fim da crise

- Mas tá f. mesmo. Eu sou SÓ UMA!
- Sim! Você é só uma, mas é fantástica. Imagina duas Luizas? Eu ia mó---rrer!
:: Diálogo inútil

Ela foi ao supermercado comprar os ingredientes para preparar mais um prato do livro da Nigella (express), que lê todo santo dia antes de dormir e se identifica com as hitórias todas, de falta de tempo, de comidinha da alma e isso e aquilo. Depois, em casa, organizou tudo para o dia seguinte. Ia receber amigas para jantar.

- Queria tanto viver disso. Gosto tanto de cozinhar...
- Ah! Você queria trabalhar num restaurante?
- Não... Ser dona de casa mesmo...
:: Fatos

- Mas ela não te deu uma luz?
- Não, claro. Aqui só se apaga luz.

terça-feira, junho 8

:: Conforto

Todo dia ele me lembra do convite pra ver House, tomar sopa e comer doce de leite argentino.

sábado, junho 5

:: Reflexões

Ele trocou tudo de lugar. Disse que isso deve ser inferno astral. Ele sempre inventa as coisas da melhor forma. Veio me dizer, assim, que a angústia é um susto que parece que não termina. E que a tristeza tem uma certa beleza. Dor, ele disse, acho que é uma coisa mais física. Depois continuou. Enquanto isso eu ouvia o disco do She and Him que ele mandou, naquele esforço coletivo de me ajudar com um novo iTunes. Disse que angústia some quando a gente se acostuma com o susto. Ou transforma o susto em surpresa. Aí é legal, disse, uma constante surpresa. Isso deve ser a felecidade. Aos poucos, com calma e paciência, ele me ensina o que é a felicidade. E me mostra que está bem ali. Quase encostando em mim.

terça-feira, junho 1

:: Musicalizando

Quando a vida recomeça, porque uma hora tem mesmo de recomeçar, a gente trata de, em primeiro lugar, refazer as trilhas sonoras do iPod - e da vida. Agora está assim: aposentei um monte de coisa para só depois do próximo Carnaval e, enquanto isso, tem uns amigos na campanha de me encher de novidades para acalmar o coração. Uns nem sabem, mas eu pesco as dicas que soltam em pílulas aqui e ali. Ontem foi a vez dela mandar clip bonitico no youtube e agora entendi que preciso do disco inteiro do The Black Keys. Agora foi a vez dele. Me mandou uma música por e-mail, dessas que a gente ia ouvir no cobertor num domingo de manhã, enquanto o café ficava pronto, antes de ferver. Ouve: “Holy Flypaper”, do Nelson Riddle. Tenho ouvido também as musiquinhas meigas do Pomplamoose e Tulipa Ruiz no repeat. Até arrisco “Dia a dia lado a lado”, que ela fez com o Jeneci. Me acabo de chorar, mas uma hora seca.