terça-feira, junho 30

:: Das ressacas



Às vezes eu fico tentando entender alguns sentimentos e é quase uma coisa besta - tudo, na verdade, é meio óbvio. Mas não consigo evitar, hoje é um dia de ressaca. E é como se, ao mesmo tempo, fosse um dia de digestão.

quinta-feira, junho 25

:: Pílulas

E agora que ela escreveu lá de Paris só pra dizer "me afogo de tanto orgulho"? da m-i-n-h-a p-r-ó-p-r-i-a p-e-s-s-o-a e fez dessa quinta chuvosa um dia muito melhor?
:: Fora da ordem

Depois de reconstruir toda a rotina - e aprender a gostar de quase tudo - as coisas voltaram aos velhos tempos. Mas, como ela diz, as coisas nunca voltam da mesma forma depois que você mudou.

E mal voltei à rotina, tratei de mudar a rotina de novo. Não com uma nova rotina, como foi há dois, três meses. Estou falando de pequenas coisas. Sabe aquele poema "Mude", que diz coisas como "quando sair, procure andar pelo outro lado da rua. Depois, mude de caminho" ou "abra e feche as gavetas e portas com a mão esquerda"? É mais ou menos isso. Os pequenos gestos.

Então venci a preguiça matinal dos dias chuvosos, fui à terapia, fui à manicure e fiz o serviço completo: depilação, mão, pé, uma beleza. Depois ia ter almoço na firma, aquela coisa zero glamour. Por isso a gente mudou os planos e foi almoçar na casa dela. Nós três.

Antes de colocar os raviólis na água quente, ela me fez provar um cru. Ela tem essa coisa meio criança de comer cru e eu idem, confesso. Depois colocou Louis Armstrong bem alto e cantou junto enquanto esquentava o molho. Eu arrumei a mesa e acertei até a gaveta dos talheres. E então sentamos, almoçamos-delícia, conversamos com risada, escovamos os dentes pela casa, tiramos foto com os gatos (sempre, sempre tiro foto com os gatos), listamos os próximos discos que temos de gravar umas pras outras.

E depois, que venha a rotina. Não é ou não é?

quarta-feira, junho 24

:: No almoço

- Que academia você faz?
- Bio Ritmo do Conjunto Nacional.
- Nossa. Eu tive que escolher: ou eu como ou eu faço academia.
- É. Eu preferi a academia.
:: Ele disse

"Fiz por muito tempo uma busca rápida"
:: Registros inúteis

Quando fico muito tempo sem escrever aqui ou estou escrevendo ali, na ala secreta, ou estou com muito assunto e travada ou estou sem tempo. Falta de assunto, nun-ca, ja-mais. Rá! Sempre aparece alguma coisa idiota.

***

Hoje eu não resisti. Ai, os micos da acadimia. Teve uma vez que fui fazer a tal da avaliação médica e o diálogo com a cidadã foi assim:

- Você está de top?
- Estou.
- Então tira a blusa?

Silêncio mortal enquanto eu tirava a blusa.

- Agora sobe aqui? [apontando a esteira, ATENÇÃO!]

Silêncio mortal enquanto eu subia.

- Agora vou colar esses eletrodos aqui.
- Ai, eu tenho alergia. Precisa mesmo?
- Precisa mesmo...

Silêncio mortal enquanto ela colava as porras dos eletrodos no meu abdomI.

- Isso, agora começa a andar devagar. Eu vou aumentar a velocidade aos poucos até você correr.
- Céus, você é mesmo médica? Mes-mo? [Enquanto eu pensava "tem certeza que terei de correr na frente de um ser humano me observando em detalhes de TOP"?]

Enfim, geNE, eu corri de top na frente dela e quis morrer M-O-R-R-E-R! RÁ
E-u-c-o-r-r-i-d-e-T-O-P!

***

Depois teve o dia das não-havaianas. É, eu esqueci as havaianas em casa e, depois disso, vou comprar havaianas pra deixar dentro da mochila e nunca mais tirar. Porque, pensa, tomar banho naquele banheiro de acadimia descalça? Nunca, jamais. Lá fui eu pegar dois saquinhos plásticos e coloquei um em cada pé, pagando o maior mico enquanto Ana Maria Braga falava sem parar com aquele bicho insuportável, aos berros. God! E eu andando de saquinhos nos pés pra ir até o box e depois pra voltar. E, atenção, a volta é bem mais traumática porque tem de andar a zero por hora, porque os saquinhos estão molhados, ensopados e você pode escorregar a qualquer momento. E sempre, sempre sobra pra gordinha. Uma lou-cu-ra. Mais que isso: você vai andando a zero por hora, chama muita atenção e vai molhando (muito) o banheiro que a fulana acabou de secar. E aí você quer morrer de vergonha. Mas, tu-do, menos andar descalça naquele banheiro.

sexta-feira, junho 19

:: Adoro

Lu, olha o dialogo entre Carlos e Alice:

Ca - vovó e vovô chegam semana que vem!
Alice: vovó! vovô!
Ca: é, eles vão ficar aqui com a gente, vai ser muito legal, não é?
Alice: não é!

Hah, lembrei muito de você!
:: Registros da madrugada

Ontem à noite foi noite de desabafo com choro e tudo - mas acho que foi só uma onda de cansaço e TPM. E passou. Papai me ouviu até o fim, entre uma respiração curta e outra, e esquentou uma canja. Eu disse não pra canja e ele disse sim. E eu comi. E ele tinha mesmo razão. Costuma ser assim. Me serviu uma taça de Terrazas Malbec 2006 e tudo parecia bem menos pior. Tem sido assim. Tudo na vida tem sido bem menos pior. Depois passou. Tirei tudo de dentro de mim e passou.

Depois fui embora e ele veio me ver. E eu disse baixinho que foi o meu melhor inferno astral dos últimos tempos. Mais que isso. Foi a minha melhor manhã de aniversário dos últimos tempos e não importa os parabéns. Não importa. Então ele me gravou músicas novas (e ele sempre acerta) e enrolou o máximo que pode. E agora estou ouvindo CocoRosie abraçada no travasseiro de fronha branca.

Depois o telefone tocou um monte e recados e e-mails e afins. Era como se eu estivesse cercada nesse aniversário. Cercada com o que há de melhor. Mari me levou para almoçar no Antiquarius e eu comi uma tigelinha de bacalhau desfiado, com cenourinha ralada até desaparecer, cebola e creme de leite, tudo batidinho e gratinado no forno até formar aquela casquinha que dá vontade de repetir. Depois teve bacalhau à Bras, desfiadinho, com batata palha, azeitonas pretas, daquele jeitinho que é o meu predileto. E nós duas sentamos do mesmo lado do sofá e conversamos tudo o que nos devíamos há dias. E brindamos o meu aniversário - mas eu estava brindando a nossa amizade.

No jornal foi assim: teve girassol sobre a mesa com recadinho com desenho coletivo e tudo - uma beleza, de fazer rir. Teve um bonsai de laranjinhas que eu caí pra trás, lindo, lindo. Teve flores que eu nem sabia o nome - e agora reinam na minha sala. Ela me ensinou assim: bambu da sorte e alguma coisa imperial. O que era mesmo? Ai. O que era mesmo, céus!? Um, dois, três e-mails. Quatro, cinco, seis e mais. Depois mais um, dois, três telefonemas. Tantas ligações e eu nem parecia tão ocupada. Mas não importa. Essa parte de estar ocupada não importa.

Cheguei há pouco. E está um silêncio na rua que até me assusta um pouco. Mas coloquei play e, devagar, abri minhas flores, reguei meu pé de café, organizei os vasinhos novos na varanda, naquela faixa que bate um pouquinho de sol, e arrumei o vaso do centro da mesa, mas ainda não sei se vou mesmo deixar ali. Depois teve pijama, escova de dentes, Devendra, CocoRosie, travesseiro de fronha branca do lado direito. E travesseiro de fronha branca do lado direito. E travesseiro de fronha branca do lado direito...

quarta-feira, junho 17

:: Troca-troca


E tem momentos que a gente escreve um monte de coisa e esconde tudo. Quase tudo porque, ainda assim, sobra espaço pra esse monte de bobagem que eu registro aqui. Dessa vez, vou me aproveitar da criatividade alheia - me aproveito mesmo, eu diria pra ela.

Tudo isso porque Mari BZ escreve tão bem que sempre que bate qualquer coisa estranha no humor eu corro no “pequeno guia prático para mães sem prática” e tudo parece melhor. Hoje foi assim. Eu sem tempo pra nada, me forcei a uma rápida pausa entre uma tarefa e outra e fui lá. Aí tinha o texto das intimidades e eu rolei de rir. Tem o link dele na íntegra aqui. Mas só pra dar uma ideia:

“...sei la. Acho péssimo. Já perereca é muito comprido e um pouco zombateiro, quase ofensivo (há uma distância enorme entre pinto e perereca, em termos de fauna. Por que os homem ganham um paralelo com uma ave fofinha e felpuda, e as mulheres com um anfíbio nojento e sem carisma? Não faz sentido.)”

terça-feira, junho 16

:: Pequenos prazeres

No meio da tarde, ele manda e-mail com “Jeitinho Dela”, do Tom Zé, pra eu ouvir e pensar que nem tudo está tão ruim assim nessa maratona de madrugadas e fins de semana no jornal. “E a letra me lembra você”, ele diz. Eu quase não aguento.
:: Das bobagens internas

- Olha esse nó [mostrando o cabelo pra ele]. Você vai ter que me ajudar a pentar antes do banho. Olha, olha!
- Mas Luuu, você não é uma barbie e eu não sou uma menina.
- Mas vai ter que me ajudar, olha.
- Não, Lu. Antes eu tenho que falar com o meu terapeuta.
:: Registros inúteis

Depois de uma dobradinha de casamentos no sábado (manhã + tarde / fim da tarde + noite), depois de mais espumantes do que a média, depois de dançar quadrilha num trio, ele disse "acho que PUC" e eu fiquei com cara de quê?. Acho que Pintou Um Clima, Lu...
:: Quando canto junto

"Quando a gente tá contente
Gente é gente (gato é gato!)
Barata pode ser um barato total"

segunda-feira, junho 15

:: Encontros e desencontros

Semana de aniversário mais semana de fechamento mais semana de TPM nunca, nunca deviam coincidir.

sexta-feira, junho 12

:: Pequenos prazeres

Depois de uma manhã de preguiça, que é segredo de Estado, ele sabe, vim para o jornal com um pouco de frio nas pernas, verdade. Inventei essa coisa de ver o Caetano de vestido e mesmo a meia-calça fio oitenta não dá conta. No fundo, eu sabia.

Depois fiquei desatenta nos primeiros momentos de trabalho e parei pra ouvir mais uma vez a música que ele me mandou outro dia, "A Ribbon", do Devendra. Tem sido assim, um pouco de Devendra, um pouco de Django, um pouco de Caetano e a lista "climinha", que é a nossa predileta e apesar de sempre igual, sempre surpreende.

Mamãe me trouxe de Londres, já faz um tempo, um ímã de geladeira que diz, numa bolinha verde, "just breath". A Li costuma dizer pra eu respirar beeem fundo quando estou agitada e eu fiz exatamente assim. Depois passou. E quando o trabalho fluia como nunca, ao lado das poucas pessoas que vieram pra cá nesta sexta de frio e chuva, a chefe trouxe chocolate quente pra todos, com três bolinhos: formigueiro, baunilha e laranja.

quinta-feira, junho 11

:: Feriado trabalhado

Enfim eu aprendi a não sofrer de trabalhar nos feriados. Mais que isso, eu aprendi a gostar. A gente acorda naquele silêncio absoluto, com calma (porque no dia anterior a coisa foi até alta madrugada no jornal). Toma água-de-coco porque vai pular o café da manhã já pensando no almoço. Coloca uma música matinal, um pouco de Django, um pouco de Caetano, um pouco de Nina. Arruma as coisas devagar, o vestido que ficou pra fora do armário, a escova de dente caída sobre a bancada do banheiro, o pé de meia que ficou esquecido ali no varal. Rega o pé de café, abre as cortinas pro sol que vai e vem. Toma banho bem demorado e aproveita pra usar aqueles cremes todos que a gente nunca tem tempo de usar numa semana normal.

A gente pula a academia para ganhar tempo em casa e nem sente culpa porque é feriado. A gente pode sair mais tarde porque não tem trânsito. A gente consegue até administrar as ansiedades. Porque é mais ou menos assim, ando mesmo ansiosa com essa coisa do show do Caetano estar cada dia mais perto.

Depois dá pra improvisar um almocinho rápido e usar as panelas que a gente mais gosta. Os pratos que a gente mais gosta. Os copos que a gente mais gosta. Mesmo com o armário meio vazio (céus), a gente inventa alguma coisa qualquer pra comer. Hoje voltei à infância e fiz um macarrãozinho cabelo-de-anjo com ovo. E o ovo de casa acabou, mas tenho tempo de administrar as ansiedades, então devo ir no mercado mais tarde.

Hoje já deu tempo de queimar o dedo na panela quente e até sentir dor, já deu tempo de cutucar a cutícula do mindinho, já deu tempo de organizar a gaveta de calcinhas. Hoje já deu tempo de gravar disco novo, com Devendra, Caetano, Chico, Comadre Fulôzinha, Django, Cazuza e Bebel, Emiliana Torrini, Hot Chip... Bem no clima interno da gente.

E então vim pro jornal. E o telefone não toca. As pessoas falam mais baixo do que o normal e ficam mais caladas do que o normal também. É quase um presente pré-aniversário. Meu trabalho rende mais, bem mais, e até posso me dar ao luxo de uma pequena pausa pra um texto ou outro dos registros pessoais. É mais ou menos assim.

quarta-feira, junho 10

:: Das anotações

Ela diz que quando você volta de férias tudo continua ridiculamente igual, menos você. E eu concordei tanto, que anotei.

terça-feira, junho 9

:: Das experiências

Tem uma coisa que chamo de experiência gastronômica. E são poucos, pouquíssimos os momentos que merecem ser chamados assim. Porque isso envolve um contexto. Vai além (muito além) da comida em si, que é o principal. Envolve o ambiente. A música. O atendimento. O momento daquilo tudo dentro da vida da gente. Envolve conforto. Temperatura. Companhia. Lembranças.

Hoje posso dizer que vivi uma experiência gastronômica, numa São Paulo que não parecia uma São Paulo. Saí do jornal no trânsito, tensa com o trabalho, nervosa com o tanto de coisa que tenho pra fazer na vida até sábado. De trabalho. De vida pessoal.

Mas então o carro estaciona ali na Ribeirão Preto, eu desço e ela já está me esperando. Ele sabe que eu preferia ir com ele. Eu preferia muito. Ele ia ficar encantado com aquilo tudo, mas ainda assim não ia conseguir falar muito baixo.

Ali é assim. Você chega na Brigadeiro Luis Antônio no número que anotou no papel. Olha para a galeria com portas fechadas e luzes quase totalmente apagadas e olha de novo o papel e confirma o número e se sente péssima por ter escrito o número errado. Está tudo fechado ali... Mas não. É ali mesmo. Você toca a campainha da galeria e entra. E então caminha um pouco pra esquerda, pergunta onde é a loja 23 e chega numa pequena portinha. Um passo a frente e você entra no Tempura Ten. E ali nem é mais a nossa São Paulo.

Num clima oriental, somos recebidas por Tiyoko. Uma nissei com gesto corporal delicado, com fala mansa e lenta, com a mesma delicadeza que seu marido, Masaomi Imai, prepara o que ele sabe fazer de melhor: os tempuras. Eles tinham ali uma loja de presentes, "a gente vendia cristais, presentes, né", ela me contou... E então ele se aposentou e, para não ficar parado, resolveram montar um restaurante.

Minúsculo, ao som de jazz, com apenas quatro ou seis lugares no balcão e duas mesas. Duas bandejas pequenas dispostas no balcão para nos receber. E sobre cada uma, o molho para mergulhar os tempuras, que mistura caldo de peixe, shoyu, saquê doce e açúcar; um pratinho com um papel em cima, "é para sugar a gordura do tempura, né", ela explica. Sem ansiedade nenhuma, o que até ajudou a equilibrar a minha, porque tudo aquilo me despertava total atenção e curiosidade, ela dizia detalhes do que estava servindo, etapa por etapa. E isso? Isso é nabo com gengibre, que você mistura no tentsuyu, né.

E então, quando o primeiro camarão-rosa empanado foi servido, a recomendação era: "coma esse só com sal e limão, né. Depois, né, vamos servir outro camarão e você pode mergulhar no molho, né". Ela sabia exatamente o que estava dizendo. Ela entende dos sabores e das sensações que eles causam. Ela sabe o que é que chamo de experiência gastronômica.

Fiquei mesmo impressionada com o silêncio daquele salão micro. A cozinha colada ali, sabe, seu Masaomi empenhado no preparo daqueles empanados todos, logo atrás do balcão, bem na nossa frente. E nenhum barulho. Nenhum. Só tinha tido esse prazer, de um atendimento tão silencioso, que evita qualquer barulho de louças, de conversinhas descontraídas da equipe, de música, uma vez, no Le Bernardin, quando a sis me convidou no meu último almoço na cidade da minha vida, um dia antes de deixar Nova York, aos prantos. E o sonho acabou.

No Tempura Ten o jazz tocou sem parar, bem baixinho. Enquanto isso, seu Masomi e dona Tiyoko serviam um tempura de cada vez, num intervalo ideal, que me surpreendeu. Muita coisa me surpreendeu ali. O tempura fica tão, tão leve que nem parece fritura. A massa fininha, quase transparente, sequinha, crocante. Mas como? Como dona Tiyoko? "É com farinha importada, né. E meu marido gosta de fazer, né." E eu achava aquilo tudo lindo. Eu fico mesmo comovida com a simplicidade dos seres. De verdade.

Outro dia, no Mocotó, um garçom também mexeu assim comigo. Ele falava errado e pausadamente para explicar os pratos, mas me marcou (mesmo) quando veio explicar qual cachaça eu devia pedir e por quê. Falando num português capenga e cheio, cheio de paixão por tudo aquilo que ele faz. E faz tão bem.

Enfim, depois do camarão-rosa, aspargos, pepino-japonês, com um amargor acentuado ("pra quem gosta de jiló, né, ela diz). Depois um peixe fininho, do Pacífico ("especial pra fazer tempura, né"). Depois um espetáculo: um creme de palmito, com toque de alho, enrolado por uma folha de shissô. Junto o saquê seco, ("sem conservantes, né, que o pessoal prefere, né").

O jantar foi pra não esquecer. Mas, no fundo, ele sabe, eu queria mesmo estar ali com ele. Depois do saquê, era como se eu pudesse até inventar sua companhia.
:: Repeat.pra.sempre

Quedate Luna - Devendra Banhart

segunda-feira, junho 8

:: As músicas e as histórias

Ele não sabe bem classificar o que se passa comigo e com o Caetano. Por que diabos eu sempre coloco um disco dele pra tocar pelas manhãs. Depois pensou melhor e disse que acha que é mais ou menos a mesma coisa que se passa com ele e com o Devendra. E como a gente vive ensinando as coisas de ouvir um pro outro, ele me mandou "Cripple Crow" completo neste domingo à noite. E o domingo nem parece essa coisa desanimada que as pessoas inventaram. E então vou dormir com música nova, naquele travesseiro extra de fronha branca, enquanto penso nas próximas histórias. Tem sido assim.

sexta-feira, junho 5

:: No telefone

Ela me ligou e disse assim que "ele tinha se inscrevido numa escola de renome, que não lembro o nome".

Eu desliguei. E chorei.
:: Diálogos inúteis

- Vamos fazer um alongamento ali ali?

Silêncio

De novo:

- Vamos beber água?

E fomos. Lá no bebedouro ele diz assim:

- Primeiro os cavalheiros.
- Nó.
- É. Eu não gosto de mulher mesmo.
:: Os signos

Eu nunca, nunca fui desse papo de signos. Eu até acho graça. Quem sabe sabe que um dia eu saí com um mocinho e quando sentamos num bar pela primeira vez ele veio com esse papo de signo. Pra não levantar, tirei sarro e depois quase virou casamento. Pensa bem.

E aí tem essas histórias de búzios, de cartas, disso e daquilo e eu também não gosto de na-da. Um dia vieram me contar uma coisa que uma moça dessa que lê a mão falou sobre a minha pessoa. S-o-b-r-e-a-m-i-n-h-a-p-e-s-s-o-a (e leu na mão de outro, escuta). Chocante. Eu tento passar batido, mas confesso que tenho um pouco de agonia de algumas histórias que ouço.

Enfim, de volta aos signos. Aqui no jornal tem um momento lúdico pelas manhãs. Quem chega mais cedo, lê o horóscopo em voz alta pro outro. Não é sempre, porque nin-guém merece ler horóscopo todo dia.

Então hoje, num dia lindo de sol e frio, que são os meus prediletos, acordei cedinho com toda a animação que Deus deu, fui pra academia, me acabei, li jornal na cantina enquanto tomava uma vitamina e cheguei na Redação.

B. A. que me desculpe, mas ela podia ter inventado algo mais animador pra uma sexta-feira. Vê se a minha pessoa merece um horóscopo desse em plena sexta:

"Clima astral moderado pra você - fim de semana vem com tensão de Lua e Mercúrio denotando problemas orgânicos e mal estar, alem de distração e propensão a acidentes e brigas. Arrumações em casa, limpezas e organização estão protegidas, soluções originais!"

Ufa que eu li em voz alta, o meu próprio, e virou piada. Pi-a-da!

quinta-feira, junho 4

:: Comidinhas da alma

Quando eu era pequena, ela dizia que ia fazer pra mim uma "comidinha pra alma", sempre que eu chorava ou ficava com muito frio. E fazia mesmo. Depois de um tempo, fui entender. E então ontem, que fazia tempo que a gente não saía, fomos jantar no Obá, no Festival das Anfitriãs.

Não é a primeira vez que eu escrevo aqui sobre o Obá e não será a última. É um dos restaurantes que eu mais gosto em São Paulo, não só pelo ambiente, que é lindo e alegre, não só pela comida, que é saborosa e delicadamente servida em louças cheias de personalidade, cada uma de um jeito. Arrisco dizer que o que eu mais gosto ali é o calor das pessoas. A turma de proprietários sempre me surpreende com o carinho e com a dedicação integral ao restaurante. Eles passam isso de forma tão verdadeira à equipe, que parece que todo mundo ali ficou enfeitiçado por esse clima encantado. Por isso recebem os clientes tão bem. E, de repente, a gente quer voltar e levar as pessoas que a gente mais gosta junto.

Tudo isso fez ainda mais sentido quando eu soube os detalhes do projeto Anfitriãs do Brasil. O Hugo e o Carlitos resolveram desvendar as cozinheiras do Brasil. Não estou falando de chefs de cozinha, que tem toda aquela pose, né. É mais ou menos assim: eles decidem um destino no país, fazem as malas, recolhem informações sobre a cozinha local e saem em busca de cozinheiras. Cozinheiras porque são personagens anônimas, muitas vezes, mas que fazem essa comida que eu chamo - depois que aprendi - de "comidinha da alma". Elas encostam a barriga no fogão desde pequenas, quando a avó e a mãe cozinhavam, e depois inventam de reproduzir a comida caseira, cheia de histórias.

Algumas nunca pegaram avião, outras nunca foram ao teatro. Mas elas têm em comum o gosto pela cozinha e a sabedoria no uso dos ingredientes locais, que a gente nem imagina que existem.

***



Na última edição, quem veio pra cá foi a piauisense Ilma, que nasceu na Parnaíba e encheu os olhos quando fui perguntar os detalhes da sobremesa que ela aprontou. Ela lembrou da mãe, que morreu faz menos de um mês. Eu fiquei meio sem saber o que falar e tocada de vê-la tão emocionada. Ela tentava me explicar que o projeto tem a ver com "as comidas da história da cozinheira" e não com o que há de mais importante no Estado. E então, ela lembrou das vezes que ficava na cozinha ao lado da mãe e chorou. "Mas a sua mãe ia ficar orgulhosa de ver você fazendo tanta gente feliz com a sua comida. Porque essa comidinha, é uma comida pra alma". Foi assim que eu falei e em seguida bebi um gole de caipirinha de pinga, de limão e caju, e ela se afastou. Ufa, porque eu fiquei nervosa, confesso.

***

Anfitriãs porque a ideia ali não é ficar dentro da cozinha, trancada. A ideia é circular pelo salão e receber os clientes. Foi assim que o Hugo me contou num bate-papo outro dia. E foi assim mesmo ontem.

Comemos pequenas porções de "petiscos para abrir o apetite e a conversa", como uma tortinha de feijão com pequi e o caruru (com quiabo e camarão-seco) numa cestinha de beiju de tapioca, o miniescondidinho de macaxeira e carne de sol, e o arrumadinho piauiense, com charque, linguiça, feijão-verde e temperinhos.





Depois, as "receitas para segurar a cachaça e aguentar a festa", como diz o cardápio. Chegou à mesa pescada-amarela com leite de coco, arroz e pirão; picadinho "da mamãe de Ilma", com maxixe, quiabo, abóbora e macaxeira; carneiro ao leite de coco, que desmanchou na boca, e paçoca de carne que eu nunca (nun-ca) comi igual. Não foi só.




***

Na sobremesa, fui surpreendida por limõezinhos doces, uns recheados com bacuri, outros com doce de leite e castanha. Por isso que fui atrás da Ilma... E então ela me contou que usa "um limão pequenininho, caseiro, sabe? Não é aquele grande. O grande não presta". Ela demora oito dias pra preparar o limão. Deixa uma hora por dia no fogo com uma calda de açúcar "bem fininha". No primeiro dia é para raspar a casca, depois, para amolecer. No terceiro, para tirar a casca, no quarto para tirar o miolo. Os outros, para ficar na calda e chegar no ponto certo.

Fica verdinho verdinho, chega a brilhar. E depois é recheado com um creme de bacuri (que eu amo tanto), batido com creme de leite e leite condensado. O outro tem doce de leite e castanha, mas eu pulei, porque tudo tem limite nessa vida.

***

Teve também um grupo de música folclórica, que fez uma linda apresentação ao vivo. E o mocinho dizia assim: "Coisinhas da vida que ficam na cabeça da gente". E eu pensei: "E no coração também". Foi assim ontem, no Obá.


*fotos de Paulinho Mercadante

terça-feira, junho 2

:: Só lamentos

Tem uma história péssima, que evito escrever pra não lembrar. Mas o fato em si eu não esqueço nun-ca. E o fato é que eu odeio (o-d-e-i-o) o nome do meu blog. Mesmo. Nem com o tempo eu consegui me adaptar, me apegar ou seja lá o que for. Eu mudei tanto no começo (digo, no primeiro dia de existência, que fiquei com preguiça e joguei pra Deus). E agora ele chama isso faz tempo e eu nem consigo pensar em mudar o nome. É engraçado (é trágico, na verdade) que não é a primeira, nem segunda, nem terceira (e nem quarta!) vez que eu comento isso informalmente e a reação é sempre parecida. Outro dia foi assim:

- Eu odeio o nome do meu blog!
- Então por que você não muda?

Em outras palavras é assim: "é, eu também odeio, muda pelamordedeus".

E agora essa crise. Eu, que comemoro semanas quando emplaco um título de capa, faço piada e festinha, como é que hei de fazer para inventar um novo nome pra isso aqui? Justo eu?
:: Nhé

E então eu me acho péssima porque insisto em falar certo coisas como:

"o" tequila
"a" fondue

Falar errado, quando é uma escolha, tem todo um lance de personalidade, hein, hein?

segunda-feira, junho 1

:: Registros inúteis

Veja só que singelo: no Ora Pois! tem um prato chamado Bife à Luiza, frito na manteiga com alho e mostarda. Fri-to-na-man-tei-ga-com-a-lho-e-mos-tar-da! Não tem alguma coisa errada com esse nome?