quinta-feira, agosto 5

:: Leituras

Li, de ontem para hoje, numa tacada só, "Chet Baker - Memórias Perdidas". Eu devia estar meio desorientada quando fui à livraria. Não tinha meu chá de cidreira e tive de tomar um de camomila. E então levei este livro pensando que era a biografia. Mas não. São relatos em primeira pessoa. Relatos mal escritos.

Me incomodou um pouco. Uma tradução porca que não tomou cuidado com coisas básicas do português e termos batidos que deram a sensação de estar lendo qualquer autor. O livro em si também não me disse grandes coisas. Ele se pica, vai preso, toca num canto, se pica. Aquele ciclo. Mas, no meio das palavras, encontrei detalhes que fizeram com que a minha leitura valesse a pena. Chet Baker gostava de comer caqui do pé.

No inverno poderoso, tinha de deixar o bocal dos instrumentos de sopro na boca, senão congelava e, na hora de tocar, congelava os lábios. Numa primavera, que passou nos arredores de Berlim, costumava velejar durante horas num lago. Sozinho. Sozinho com um radinho portátil, onde ouviu pela primeira vez Dizzy Gillespie. Ai. Lá pelas tantas, até trocou um anel de "ouro com uma água-marinha de dois quilates e duas safiras" por um pequeno bote a motor, usado para levá-lo da margem até o barco a vela.

Chet Baker cresceu numa fazenda. Nos verões, caminhava na estrada de terra para colher framboesas silvestres. Também comia melões. Os colocava sobre a cabeça para que caíssem no chão e, na queda, abriam sobre a terra e ele podia escolher os pedaços mais adocicados. Sua mãe trabalhava numa fábrica de sorvetes e levava sorvete para casa todas as noites.

Também gostava de mergulhar em busca de conchas de madrepérolas.

Foi com o pianista de Peggy Lee, Jimmy Rowles, que aprendeu "sobre como simplificar as coisas e não complicar demais a maneira de tocar meu instrumento". Tocou com Dave Brubeck, Paul Desmond, Stan Getz, Charlie Parker, Gerry Mulligan.

Quando foi preso na Itália, sua mulher mandava livros e mais livros. E ele lia. Lia. Tocava um pouco de trompete. Compunha. Conta de um dia em que tocou num clube em Nápoles um sujeito roubou seu trompete. "Imaginei que fosse porque costumavam me chamar de 'trombo doro', e o cara que levou o trompete deve ter achado que ele era mesmo de ouro bruto."

Comia espaguete com garçons, músicos e barmen depois dos shows. E foi na cozinha que começou a tocar flugelhorn.

Um comentário:

Mari disse...

É assim mesmo, né? São as coisas pequenas, as mais gostosas.