:: Caderno de notas
Não é de hoje que ele me diz "descanse bem" e eu acho lindo. Já anotei uma, duas, três vezes. Vez ou outra eu fuço meus cadernos de antigamente e acho ali registrada essa ideia de "descansar bem". Outras tantas vezes ele me diz de novo. Antes de dormir ou antes de alguma viagem. Depende.
domingo, outubro 31
sábado, outubro 30
segunda-feira, outubro 25
:: Registros inúteis
Ela deu para fazer aula de balé agora, depois de velha, beirando os 30. E então, pela manhã, a gente fica esparramada na cama conversando por uma ou duas horas, antes do café da manhã, que, aliás, a gente tem pulado sempre aqui no Rio. Ela fica de barriga para cima, com os pés erguidos, abrindo os dedos o quanto pode, os metatarsos, diz. As falanges, corrige. Isso tudo porque outro dia ela insistiu em fazer uma ponta e quase quebrou o tornozelo.
Ela deu para fazer aula de balé agora, depois de velha, beirando os 30. E então, pela manhã, a gente fica esparramada na cama conversando por uma ou duas horas, antes do café da manhã, que, aliás, a gente tem pulado sempre aqui no Rio. Ela fica de barriga para cima, com os pés erguidos, abrindo os dedos o quanto pode, os metatarsos, diz. As falanges, corrige. Isso tudo porque outro dia ela insistiu em fazer uma ponta e quase quebrou o tornozelo.
sábado, outubro 23
:: Do outro lado
Ela habilitou o celular para receber e enviar mensagens de onde quer que fosse. Ufa. Por isso vez ou outra ela escreve lá da Turquia com notícias fresquinhas, daquele exato momento. E então parece que meu coração dá uma leve acalmada e até respiro melhor. Escreve contando que está "sentada numa vilinha linda", onde pediu um "rosé com queijo feta", depois me chama pra ir pra lá. Quem dera. Outro dia disse que eu ia ficar orgulhosa dela: fez amizade com gatos na rua. Vários. E eu fiquei mesmo. Dia desses ela resolveu mandar um e-mail, com mais detalhes. Me contou do dia de chuva e preguiça e me mandou um trechinho do livro do Garcia Marquez que está lendo por lá, o último que ela tem em português. Assim, olha: "Não há remédio que cure o que a felicidade não cura". Eu adorei, ela sabe.
Ela habilitou o celular para receber e enviar mensagens de onde quer que fosse. Ufa. Por isso vez ou outra ela escreve lá da Turquia com notícias fresquinhas, daquele exato momento. E então parece que meu coração dá uma leve acalmada e até respiro melhor. Escreve contando que está "sentada numa vilinha linda", onde pediu um "rosé com queijo feta", depois me chama pra ir pra lá. Quem dera. Outro dia disse que eu ia ficar orgulhosa dela: fez amizade com gatos na rua. Vários. E eu fiquei mesmo. Dia desses ela resolveu mandar um e-mail, com mais detalhes. Me contou do dia de chuva e preguiça e me mandou um trechinho do livro do Garcia Marquez que está lendo por lá, o último que ela tem em português. Assim, olha: "Não há remédio que cure o que a felicidade não cura". Eu adorei, ela sabe.
sexta-feira, outubro 22
:: O desconhecido e as homenagens
Entendo que minha mãe, meu pai, minha irmã me liguem todas às quintas bem cedinho, depois de ler minhas matérias. Entendo que eles nunca falham. Entendo também que minhas amigas de infância venham aqui me ler um pouco, de tempos em tempos. Entendo até que as mães dessas amigas, com as quais cresci, escrevam para elas falando de uma matéria ou outra que saiu no jornal com meu nome e elas gostaram. Muito. Orgulhosas.
O que ainda não entendo direito é que, às vezes, aparece um ou outro por aqui e para. Um ou outro que não me conhece. E volta. Faz pouco tempo que ela apareceu para deixar um recadinho delicado, que nem respondi. Tenho essa mania terrível de, primeiro, paralisar, e depois ler e reler e achar lindo. Verdade.
Disse "a maneira que você escreve é perfeita" e que consigo atingir quem eu nem conheço. Não respondi, mas fiquei intrigada com essa coisa. E outras também. Como essa coisa dela compartilhar meus "pequenos prazeres".
Uns dias antes, ele apareceu. Ficou intrigado com alguma coisa naquela cena da manteiga president, do jornal esparramado sobre a mesa, dos pães frescos. Com ela foi diferente. Ela ficou inquieta com a coincidência de um recado que publiquei, dizendo que minha amiga adorava ler a Ilustrada às quintas por dois motivos. Eu e Contardo. Escreveu dizendo o mesmo.
Depois trocamos um, dois e-mails. Mas fiquei com esse texto aqui parado. Desde lá. Há um tanto de tempo. Lembrei dela principalmente no fim de semana passado, por conta dos shows da caixa preta, em homenagem ao Itamar. O Itamar, aquele poeta, aquele cantor, que ganhou um radinho de pilha ainda pequeno e ia dar nome ao meu gato.
Quando me escreveu, contou que ia assistir a todos. Eu pensei o mesmo. Mas, quando chegou a hora, acabei não indo. Não nos primeiros. Tive certa vontade de escrever perguntando como foi. E contar algumas histórias do Itamar, que não sei se ela sabe, mas são as minhas prediletas. Tenho disso. Dessa coisa de reunir histórias prediletas para contar.
Entendo que minha mãe, meu pai, minha irmã me liguem todas às quintas bem cedinho, depois de ler minhas matérias. Entendo que eles nunca falham. Entendo também que minhas amigas de infância venham aqui me ler um pouco, de tempos em tempos. Entendo até que as mães dessas amigas, com as quais cresci, escrevam para elas falando de uma matéria ou outra que saiu no jornal com meu nome e elas gostaram. Muito. Orgulhosas.
O que ainda não entendo direito é que, às vezes, aparece um ou outro por aqui e para. Um ou outro que não me conhece. E volta. Faz pouco tempo que ela apareceu para deixar um recadinho delicado, que nem respondi. Tenho essa mania terrível de, primeiro, paralisar, e depois ler e reler e achar lindo. Verdade.
Disse "a maneira que você escreve é perfeita" e que consigo atingir quem eu nem conheço. Não respondi, mas fiquei intrigada com essa coisa. E outras também. Como essa coisa dela compartilhar meus "pequenos prazeres".
Uns dias antes, ele apareceu. Ficou intrigado com alguma coisa naquela cena da manteiga president, do jornal esparramado sobre a mesa, dos pães frescos. Com ela foi diferente. Ela ficou inquieta com a coincidência de um recado que publiquei, dizendo que minha amiga adorava ler a Ilustrada às quintas por dois motivos. Eu e Contardo. Escreveu dizendo o mesmo.
Depois trocamos um, dois e-mails. Mas fiquei com esse texto aqui parado. Desde lá. Há um tanto de tempo. Lembrei dela principalmente no fim de semana passado, por conta dos shows da caixa preta, em homenagem ao Itamar. O Itamar, aquele poeta, aquele cantor, que ganhou um radinho de pilha ainda pequeno e ia dar nome ao meu gato.
Quando me escreveu, contou que ia assistir a todos. Eu pensei o mesmo. Mas, quando chegou a hora, acabei não indo. Não nos primeiros. Tive certa vontade de escrever perguntando como foi. E contar algumas histórias do Itamar, que não sei se ela sabe, mas são as minhas prediletas. Tenho disso. Dessa coisa de reunir histórias prediletas para contar.
:: Fofurinhas
Ele tinha reparado que eu estava mesmo cansada. Mais: cansada e triste, bem triste. Então ficamos naquele quarto de hospital, já tarde da noite, e ele cantou pra mim. Antes me perguntou se eu conhecia a música "Luiza". Não a do Tom Jobim que a gente tanto conhece. A do Toquinho e do Chico. E eu sorri. Não conhecia. Então ele cantarolou, bem baixinho. E, no final, é assim:
"É por ela que espanto de casa
As sombras da rua
Faço a lua
Faço a brisa
Pra Luiza dormir em paz"
Ele tinha reparado que eu estava mesmo cansada. Mais: cansada e triste, bem triste. Então ficamos naquele quarto de hospital, já tarde da noite, e ele cantou pra mim. Antes me perguntou se eu conhecia a música "Luiza". Não a do Tom Jobim que a gente tanto conhece. A do Toquinho e do Chico. E eu sorri. Não conhecia. Então ele cantarolou, bem baixinho. E, no final, é assim:
"É por ela que espanto de casa
As sombras da rua
Faço a lua
Faço a brisa
Pra Luiza dormir em paz"
quinta-feira, outubro 21
quinta-feira, outubro 14
:: Uma manhã
Quando a gente engasga de choro, normalmente a gente merece uma manhã de pequenas alegrias. Um tanto de sol, unhas feitas, de vermelho, um pouco de frio, um pouco de flores. Foi assim nesta manhã. Comprei flores brancas, frésias. Organizei um vaso maior, que ficou feio. Outros quatro pequenininhos, fofos. E agora tem certa alegria na minicasa. E um perfume diferente do habitual.
Quando a gente engasga de choro, normalmente a gente merece uma manhã de pequenas alegrias. Um tanto de sol, unhas feitas, de vermelho, um pouco de frio, um pouco de flores. Foi assim nesta manhã. Comprei flores brancas, frésias. Organizei um vaso maior, que ficou feio. Outros quatro pequenininhos, fofos. E agora tem certa alegria na minicasa. E um perfume diferente do habitual.
quarta-feira, outubro 13
:: Trechos românticos
E então eu estava lendo um bocado de coisas sobre cerveja e achei, no livro editado por Michael Jackson, uma passagem cheia de romantismo. Olha: Na cerveja acrescentava-se uma mistura de ervas, tícpica da produção inglesa. "Incluía normalmente plantas do pântano como murta do brejo e alecrim silvestre".
"Plantas do pântano como murta do brejo e alecrim silvestre". Não é ou não é?
E então eu estava lendo um bocado de coisas sobre cerveja e achei, no livro editado por Michael Jackson, uma passagem cheia de romantismo. Olha: Na cerveja acrescentava-se uma mistura de ervas, tícpica da produção inglesa. "Incluía normalmente plantas do pântano como murta do brejo e alecrim silvestre".
"Plantas do pântano como murta do brejo e alecrim silvestre". Não é ou não é?
segunda-feira, outubro 11
:: As flores
Ontem comprei flores pra ela. As mais delicadas daquela floricultura da quitanda, que adoro. Não combinaram muito com o vaso, ela sabe. Aliás, precisamos sair para comprar vasos. Qualquer dia desses vamos fazer isso, comprar vasos. Quando cheguei, o jazz estava tão baixinho que mal conseguia ouvir. E ela estava ali na cozinha. Naquela cozinha aberta para a sala, com piso de ladrilho hidráulico, como se estivésemos nas fazendas de café do passado. Mesa posta, com taças lindas de vinho, mas tomei Coca. E ela nos serviu mais uma daquelas receitas do livro da Carla Pernambuco. Quando pegou emprestado aqui de casa, marcou receita por receita que queria fazer dali. E, a cada fim de semana, apronta uma coisa nova. Vai ao Santa Luzia fazer compras pela manhã, dos melhores ingredientes, depois organiza o mise en place com uma delicadeza que me espanta. Nos serviu neste domingo de chuva um bacalhau desfiado misturado com arroz branco e selvagem e uma pasta de linguado e maçã-verde do além _tudo enroladinho em folhas de uva.
Ontem comprei flores pra ela. As mais delicadas daquela floricultura da quitanda, que adoro. Não combinaram muito com o vaso, ela sabe. Aliás, precisamos sair para comprar vasos. Qualquer dia desses vamos fazer isso, comprar vasos. Quando cheguei, o jazz estava tão baixinho que mal conseguia ouvir. E ela estava ali na cozinha. Naquela cozinha aberta para a sala, com piso de ladrilho hidráulico, como se estivésemos nas fazendas de café do passado. Mesa posta, com taças lindas de vinho, mas tomei Coca. E ela nos serviu mais uma daquelas receitas do livro da Carla Pernambuco. Quando pegou emprestado aqui de casa, marcou receita por receita que queria fazer dali. E, a cada fim de semana, apronta uma coisa nova. Vai ao Santa Luzia fazer compras pela manhã, dos melhores ingredientes, depois organiza o mise en place com uma delicadeza que me espanta. Nos serviu neste domingo de chuva um bacalhau desfiado misturado com arroz branco e selvagem e uma pasta de linguado e maçã-verde do além _tudo enroladinho em folhas de uva.
sexta-feira, outubro 8
quinta-feira, outubro 7
:: Nova ortografia
Quando tivemos a reforma ortográfica, passamos por aulinhas, como antigamente na escola. A gente bufava mas, no final das contas, foram aulas divertidas e úteis. Depois disso, circulam e-mails para toda a Redação com dicas da nova ortografia _e outras mais, baseadas em erros notados no jornal do dia.
Ontem chegaram algumas orientações. A que eu mais gostei tá aqui. Tô pensando quando será que vou usar isso. Ansiosa.
"Palavras de origem onomatopeica agora são escritas com hífen:
blá-blá-blá, lenga-lenga, ti-ti-ti, nhe-nhe-nhem, tró-ló-ló etc."
Quando tivemos a reforma ortográfica, passamos por aulinhas, como antigamente na escola. A gente bufava mas, no final das contas, foram aulas divertidas e úteis. Depois disso, circulam e-mails para toda a Redação com dicas da nova ortografia _e outras mais, baseadas em erros notados no jornal do dia.
Ontem chegaram algumas orientações. A que eu mais gostei tá aqui. Tô pensando quando será que vou usar isso. Ansiosa.
"Palavras de origem onomatopeica agora são escritas com hífen:
blá-blá-blá, lenga-lenga, ti-ti-ti, nhe-nhe-nhem, tró-ló-ló etc."
quarta-feira, outubro 6
:: Lista para melhorar o dia
Hoje, ele sabe, estou mais pra lá do que pra cá. E então, depois de uma lágrima aqui e outra acolá, me mandou cinco e-mails "para melhorar o dia"
Tinha isso aqui dentro:
1. "We Can Work it Ou"t - Stevie Wonder
2. "Sem Compromisso" - Orquestra Imperial
3. "P.D.A." - John Legend
4. "Yes Indeed" - Ray Charles
5.
Hoje, ele sabe, estou mais pra lá do que pra cá. E então, depois de uma lágrima aqui e outra acolá, me mandou cinco e-mails "para melhorar o dia"
Tinha isso aqui dentro:
1. "We Can Work it Ou"t - Stevie Wonder
2. "Sem Compromisso" - Orquestra Imperial
3. "P.D.A." - John Legend
4. "Yes Indeed" - Ray Charles
5.
terça-feira, outubro 5
:: Virtual
Outro dia, ela mandou e-mail lá daquela cidade que mais amo, com o assunto "showzinho". Dentro, assim: "Assistindo Belle & Sebastian no parque e pensando na Luluca!!! Saudades"
Outro dia foi ele. Mandou e-mail de bom dia, com um trecho de Beto Guedes, num disco do Milton.
"No inverno te proteger, no verão sair pra pescar
no outono te conhecer, primavera poder gostar"
Outro dia, ela mandou e-mail lá daquela cidade que mais amo, com o assunto "showzinho". Dentro, assim: "Assistindo Belle & Sebastian no parque e pensando na Luluca!!! Saudades"
Outro dia foi ele. Mandou e-mail de bom dia, com um trecho de Beto Guedes, num disco do Milton.
"No inverno te proteger, no verão sair pra pescar
no outono te conhecer, primavera poder gostar"
segunda-feira, outubro 4
domingo, outubro 3
:: Uma noite num sábado
Fomos a um bar de jazz novo aqui das redondezas. Paredes de tijolo aparente, cortinas vermelhas de veludo, poltronas antigas e largas, de couro já meio surrado, sem perder o charme. Uma estante de livros nos fundos, com velharias, edições de páginas de lateral dourada e capa dura vinho ou marrom. Um quarteto de primeiríssima. Uma dose de Black Label. Bastante gelo. E a gente não quer quase mais nada. Quase.
Fomos a um bar de jazz novo aqui das redondezas. Paredes de tijolo aparente, cortinas vermelhas de veludo, poltronas antigas e largas, de couro já meio surrado, sem perder o charme. Uma estante de livros nos fundos, com velharias, edições de páginas de lateral dourada e capa dura vinho ou marrom. Um quarteto de primeiríssima. Uma dose de Black Label. Bastante gelo. E a gente não quer quase mais nada. Quase.
:: Amadorismo
Mamãe anda impressionada com o nosso amadorismo na política. Hoje, pela manhã, chegou a se irritar quando eu e minha irmã falávamos ao telefone, ainda indecisas em realação às eleições. Ela, que já teve nome de guerra, foi presa política e devora livros pela noite e jornais pela manhã, não se conforma diante da nossa falta de capacidade de nos familiarizarmos com o tema. "Mas mamãe a culpa é dos pais." Ela até riu. E tudo ficou bem melhor, depois.
Mamãe anda impressionada com o nosso amadorismo na política. Hoje, pela manhã, chegou a se irritar quando eu e minha irmã falávamos ao telefone, ainda indecisas em realação às eleições. Ela, que já teve nome de guerra, foi presa política e devora livros pela noite e jornais pela manhã, não se conforma diante da nossa falta de capacidade de nos familiarizarmos com o tema. "Mas mamãe a culpa é dos pais." Ela até riu. E tudo ficou bem melhor, depois.
:: Fúteis e inúteis
No carro, ela tira um treco da bolsa, coloca nas mãos e passa no cabelo. E eu dirigindo.
- Quer?
- Que que é isso?
- Silicone.
- Não, já passei tudo o que deveria depois do banho.
- É que o mocinho não tinha creme...
- Eles nunca têm creme e sempre usam Fruicts. Sempre. Dá-lhe silicone importado.
No carro, ela tira um treco da bolsa, coloca nas mãos e passa no cabelo. E eu dirigindo.
- Quer?
- Que que é isso?
- Silicone.
- Não, já passei tudo o que deveria depois do banho.
- É que o mocinho não tinha creme...
- Eles nunca têm creme e sempre usam Fruicts. Sempre. Dá-lhe silicone importado.
sábado, outubro 2
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