quarta-feira, dezembro 29

:: Pequenas alegrias

Hoje ela mandou Cora Coralina por e-mail...

SABER VIVER

“Não sei se a vida é curta ou longa demais pra nós, mas sei que nada do que vivemos tem sentido, se não tocamos o coração das pessoas. Muitas vezes basta ser:
Colo que acolhe,
Braço que envolve,
Palavra que conforta,
Silêncio que respeita,
Alegria que contagia,
Lágrima que corre,
Olhar que acaricia,
Desejo que sacia,
Amor que promove.
E isso não é coisa do outro mundo, é o que dá sentido à vida. É o que faz com que ela não seja curta, nem longa demais, mas que seja intensa, verdadeira, pura, enquanto durar.”

Cora Coralina

terça-feira, dezembro 28

:: Na casa da vó

Mamãe fica louca quando eu chamo o gato de filho. "É um gato", ela diz. Mas ela mesma vira pro gato e fala: "Vem com a vovó, vem?". Que será?

domingo, dezembro 26

:: Quando a gente cresce

Quando a gente cresce, a gente aprende se presentear. Pelo menos foi assim comigo. De uns tempos pra cá adotei esse costume eventual de me agradar.

Hoje, louca, eu tinha seis amigos para receber para o almoço e, mesmo assim, antes de tudo, fui à Livraria da Vila aproveitar os 20% de desconto no acervo inteiro, ritual que já virou tradição nos meus pós-natais.

Verdade que isso é um pouco cabeça de quem vive duro e adora uma promoção. Mas olha a alegria: voltar pra casa com discos novos, aos montes. Hoje foi meu primeiro dia lá (costumo ir mais de uma vez, para a pausa pro meu expresso curto de sempre lá nos fundos, sob as àrvores que tanto gosto). Já voltei com Alice Coltrane, Benny Goodman, Coleman Hawkins e dois Caetanos.
:: Achismos

Talvez "Michelangelo Antonioni", do Caetano, seja uma das músicas que mais gosto na vida.

sábado, dezembro 25

:: As playlists sob medida

Fazia tempo que queria gravar umas canções pra ela. Desde que voltou de Paris, acho. Antes de ir, lembro, gravei um tanto de discos. E ela me contou, dia desses, que hoje são músicas que a lembram da cidade das luzes. Agora pensei em juntar músicas brasileiras que me marcaram neste ano dos infernos. Músicas para que ela fique aqui, perto de mim. Então escolhi musiquinhas da Lulina, do Jeneci, da Tulipa, aos montes. No disco dois, tem ainda Lettuce, Karina Buhr (que peguei um pouco de birra no último show, verdade), Lucas Santtana, Eduardo Nazarian, com "Quem Vem Lá", que amo, amo. Tem mais: Junio Barreto, Mallu Magalhães, Andreia Dias, Leo Cavalcanti, Cibelle, Kassin + 2. Estou esperando as primeiras impressões. Ansiosa. Ela sabe. Costumo ficar ansiosa com amizades musicais e verdadeiras - e pra sempre.

quinta-feira, dezembro 23

:: Repeat

Por que diabos esses dois fazem isso com a gente?

terça-feira, dezembro 21

:: A depressão generalizada...

...vira comédia

- Toma uma remedinho - diz um. Um frontalzinho. Quer?
- Não toma, não - diz outra.
- Eu não tomo mesmo. Sabe por quê? Porque por enquanto só tomo uísque.
:: Diálogos

Sentamos um de costas para o outro na firma. Foi assim:

eu: faz uma massagem? GRATA
ele: really. eu não sei fazer massagem, amor. tenho mãos fracas, pequenas e desajeitadas. servem só pra agradar meninos.

sábado, dezembro 18

:: Perguntas e respostas

Por que a minicasa chama minicasa:










:: As cartas de amor

Fui ler umas velharias e então achei uma carta que ele me mandou num fim de ano do passado. Me fez tanto sentido que rabisquei aqui umas ideias.

Ah, Lu, me dei conta que não sei bem qual será o meu destino no ano que vem. Uma amiga minha está de mudança para Brasilia. Nem é tão longe, mas é que é uma distância real mesmo. Eu também estou planejando sair do Brasil no final do ano. Preciso de tempo para respirar diferente.

Foi aí que me dei conta como a gente anda afastado e como havíamos prometido não nos afastar muito este ano. Não consigo imaginar planos ou estratagemas que pudéssemos ter para enganar essa minha saudade.

Gostaria de ter dito isso pessoalmente.
:: Uma queda pelos clássicos

Sempre tive uma queda pelos clássicos. Não vou esquecer jamais dos fins de semana em que minha avó tocava Bach ao piano, com pedais e tudo, enquanto eu escrevia no diário, esparramada no chão da sala, tomando chá de cidreira. Quando entrei para a aula de piano impliquei com a professora que implicou com as minhas unhas roídas. Quando ela disse ou as unhas roídas ou o piano, fiquei com o piano. Mas, pouco depois, de unhas bonitinhas e tudo, ela disse que não ia me ensinar piano clássico. Só popular. E lá fui eu tocar "Água Branca" e cia. Uma chatice. Eu, que queria tocar as mais lindas canções clásscias e estudar incansavelmente, tive de tocar as populares de sempre. Parei o piano, depois. Desiludida. Até hoje sinto certa desilusão por isso.

Quando eu era uma pequena adolescente tive um amor platônico que também não vou esquecer. Íamos os melhores amigos todos na casa do avô de um dos amigos. Uma casa numa selva, em plena São Paulo, com uma escultura barroca num jardim de antigamente, com a grama verde, brilhante e incrivelmente aparada. O avô, pensa, nos deixava ficar na piscina e, lá pelas tantas, nos servia champanhe e caviar. Champanhe, uma tacinha, e caviar. Foi a primeira vez que provei um e outro.

Enquanto isso, o primo desse amigo não saía daquela sala espaçosa, que dava vista para o jardim, separados por uma enorme porta de vidro de correr. Ele não saía de lá de jeito nenhum. Ficava a tocar músicas clássicas naquele belíssimo piano de cauda. À exaustão. E eu, entretida. Desviava toda a atenção dos amigos juvenis da piscina, a brincar incansavelmente. Eu ficava ali de olho naquele primo mais velho, de nome bonito e mãos com dedos alongados.

Um pouco antes dessa fase, quando eu era bem menor, papai tomou o hábito de acordar a mim e a Li com música. Pianos e violinos clássicos, sem muitos sobressaltos, para que a gente não ficasse atordoada já pela manhã. Ele aumentava o som na sala, abria a porta do nosso quarto e abria a janela, sem falar nada. E a gente acordava.

Bem, e então, nos tempos de hoje, soube que aquela linda menina, de traços angelicais, olhos azuis, cabelos louros, dedos longos, nariz delicado, que conheço desde a infância, sem muita proximidade, foi convidada para ir para o Inhotim para uma missão e tanto. Ela, que dá sua vida ao piano, foi ao Inhotim virar as partituras para uma pianista clásscia que veio do Japão tocar aqui.

Fiquei com isso na cabeça.

E hoje, nessa manhã cinzenta, um pouco impregnada de tristeza, estava lendo Ian McEwan e ele começa a descrever uma de suas personagens. Florence morava num albergue severo, no qual as luzes de apagavam pontualmente às 23h, visitantes homens eram proibidos a qualquer hora. Ela praticava quatro horas de piano por dia e ia a concertos com as amigas.

Gostava, particularmente, dos concertos de câmara num lugar de "paredes desbotadas e descascadas", "o madeiramento envernizado" e o "tapete vermelho escuro do hall de entrada", o "auditório com a forma de um túnel dourado". Olha essa cena, que linda: "Ela reverenciava os velhos tipos, que levavam minutos para descer dos táxis, coxeando com suas bengalas até suas cadeiras, para escutar música num silêncio crítico e alerta, às vezes com a manta xadrez que traziam a cobrir-lhes os joelhos."

Passado um tempo, ela recebeu uma proposta de emprego de meio período nos bastidores. "Tinha de servir chá aos intérpretes na espaçosa sala verde e ficar de espreita na vigia para poder abrir a porta quando os artistas saíam do palco. Também podia virar as páginas para os pianistas em peças de câmara."

Fiquei com esse treco na cabeça. Vim então aqui passar os meus discos de Mozart, Bach, Beethoven e Vivaldi para o computador, depois para o iPod. E agora estou escrevendo enquanto ouço um pouco de tudo. Num cenário menos romântico, troquei o chá de cidreira por uma Coca zero gelada.

sábado, dezembro 11

:: Diálogos musicais

Ele: Tô tocando escaleta!
Eu: Divertido? Devem ser momentos felizes.
Ele: Yeap. Estou tirando as valsinhas da Amelie.

sexta-feira, dezembro 10

:: Diálogos

Ela



Eu

‎"Toda a existência humana decorre do binômio Estômago e Sexo. A Fome o e Amor governam o mundo, afirmava Schiller." (Câmara Cascudo, em "História da Alimentação no Brasil")

Ela

"Parece-me, diz ela, que nossas três necessidades básicas, a comida, a segurança e o amor, estão misturadas e unidas e entrelaçadas, que não podemos pensar diretamente em uma sem pensar nas outras ...." (M.F.K. Fisher)

quinta-feira, dezembro 9

:: Inspirações matinais

Hoje, pela manhã, muito cedo, teve toda a andança até a ponte do Jaguaré para compromissos com o automóvel _e com o governo. Bem, depois disso, uma fórmula para recuperar o humor matinal, que me é peculiar.

Um café preparado na mesa em que eu estava sentada, no Coffee Lab, na AeroPress. Meu café predileto, sempre. A delicada textura do café coado, livre de qualquer resíduo, com a complexidade de aromas e sabor de um expresso. Enquanto isso, reli um ou outro trecho de "Açúcar", do Gilberto Freyre. Coisa boa sempre.

Depois, ouvi os Jenecis que consegui baixar, enquanto o disco não chega (o disco que não chega nunca - e o que eu faço com a minha ansiedade?). Já no jornal, tinha e-mail dele, falando que colocou as músicas dos discos que gravei outro dia especialmente pra ele no repeat.
:: Os cartões de Natal e Ano Novo

Todo ano aqui é assim: são enxurradas de e-mails de feliz Natal e Ano Novo. Panetones aos montes, vinhos, livros e cartões, muitos cartões. Bem, isso é praxe das assessorias e alguns de seus clientes o que torna a coisa meio repetitiva e num tom de obrigatoriedade, apesar de gentil.

E então que hoje recebi um cartão do Felipe, da Martins Fontes, que eu até recortei para colar em algum lugar. Ao lado das felicitações corriqueiras, uma citação de "Don Quijote de la Mancha", de Cervantes, que adorei:

"...qualquer parte que se leia, de qualquer livro de cavalaria andante, há de causar gosto e encantamento a quem ler. Creia-se, vossa mercê, como já lhe disse outra vez: leia esses livros e verá que afastarão sua melancolia, se porventura estiver melancólico, e animarão seu humor, se o tiver desfavorável."

Que venha 2011. E logo.
:: Leituras de antigamente

Os clássicos sempre, sempre me trouxeram algum sentimento que não sei bem explicar. É como se eu conseguisse me transportar para antigamente _e me isolar do presente. Outro dia senti uma coisa maluca lendo Gregório de Matos, nosso poeta "Boca do Inferno".

Achei um livro de 1981 sobre sua obra, com poemas comentados por Antônio Dimas. Foi lindo. Andava louca atrás desse livro e só achava em sebos. Ai, os sebos. Adoro meu ritual das livrarias. Mas me dá uma alegria enorme quando estou atrás de um livro antigo, não acho em canto algum e, de repente, encontro num sebo virtual, faço o pagamento da maneira mais simples e, dias depois, a obra está bem aqui, na portaria da minicasa, a me esperar.

Dessa vez foi diferente. Minha ansiedade foi tanta que resolvi arriscar uma pesquisa na biblioteca do jornal, meio sem esperança. E achei. Já estou com a parte da obra que me interessa devidamente xerocada e grifada. Lendo tudo sobre os relatos de Gregório de Matos sobre o Carnaval de antigamente e sua orgia gastronômica lá no Brasil seiscentista. Coisa linda.

quarta-feira, dezembro 8

:: Uma imagem

A Jan sugeriu e eu adorei e colei aqui no caderno de notas. Olha:

"Minimalist Muppets by Eric Slager"

:: As letras atrasadas

Sem mais delongas, aqui vão as letras atrasadas do nosso querido "Dicionário de Humor Infantil", de Pedro Bloch.


N

namorado - é uma pessoa que tem medo do claro

namorado - o meu namorado tem iniciativa. o que ele não tem é acabativa.

O

ódio - é sujeira da alma

opinião - gente que não gosta de sorvete não pode prestar. gente que gosta de jiló. então... vai ver que nem é gente


P

pai - ser pai é mais difícil que ser mãe. pai precisa usar gravata

palavra - tem adulto que fecha a palavra da criança

palavra - tem palavra que nem devia existir. urubu, por exemplo

palhaço - é um homem todo pintado de piadas

pão - não sei por que na reza só se pede o "pão nosso". na minha reza eu peço bife com batata frita e até sobremesa

pão duro - é uma pessoa que não gasta nem pensamento

passa - é uma uva morta

pensamento - é uma coisa que só dá na cabeça, né?

pensamento - a coisa que mais dói no mundo é pensamento

pessoa boa - é aquela que não tem nem um limãozinho dentro dela

pintura - "não gosta do meu quadro? é que a senhora nunca viu pintura moderna"

prato - o prato que eu mais gosto nem é prato. é camarão no espeto

presente - o presente que eu quero ganhar quando você viajar papai... é você nem viajar. fica comigo?

psicóloga - mamãe me mandou pra pscicóloga e, depois da minha sessão, eu acho que a psicóloga melhorou

Q
(não teve prediletos aqui na letra "q")

sábado, dezembro 4

:: A letra "M"

(os prediletos da letra "m", do "Dicionário de Humor Infantil", de Pedro Bloch, para começar o fim de semana)


mãe - se eu fosse mãe, me dava uma coca-cola

mãe - mas você é uma mãe desalmada, mesmo. como é que se acorda uma criança de seis anos como eu, pra ir pra escola a essa hora?

máquina - o papai comprou um fogão de lavar roupa

milagre - é macaco virando gente. dá pra acreditar?

melhor - o melhor aluno da turma, pra mim, é o Valtinho. melhor porque ele paga o meu sorvete

menino - é uma criança que nasce completa

mentira - quando o telefone toca e papai manda dizer que não está, não é mentira. é recado

mentira - é uma coisa que depende. quando você diz a uma pessoa muito feia que ela é bonita, aí não é mentira. é caridade.

mundo - aprendi que mundo quer dizer limpo. imundo quer dizer sujo.

música - é uma coisa que faz muita falta quando o rádio está sem pilha e o som está sem tomada

sexta-feira, dezembro 3

:: Os livros, as lembranças

Hoje amanheci bem cedo para mexer nos livros de comida. Há um, dois dias adiei esse momento. Para mexer com os livros, eu preciso de tempo. Então selecionei todos aqueles quatro ou cinco que me interessavam e fiz uma lista de outros para comprar, onde posso caçar uma informação ou outra sobre o que preciso. Algo me desestruturou, no meio do caminho, e deixei os livros de lado. Peguei para folhear, mais uma vez, "Um Tratado da Cozinha Portuguesa do século XV". Na primeira página, a letra do meu avô, com uma dedicatória de 2002, antes de morrer. "Um dos meus guardados", dizia. Meu avô sempre foi um colecionador. Herdei essa mania dele. Ele colecionava obras de arte, livros e discos. Tudo devidamente catalogado. E esse, olha só, quando comecei a escrever de comida, ele me deu. Mas ele fazia muito mais. Ele imprimia todas as notas que eu escrevi lá no comecinho da carreira e, nos almoços de domingo, vinha com um punhado de papéis na mão, para mostrar meus feitos aos familiares. Um dia, me deu um mapa. Um mapa do mundo, desses que hoje a gente compra no farol. E disse: "Você é uma jornalista e precisa saber muito bem o mapa". Depois ele morreu. E eu joguei na cova, aos prantos, uma carta enorme de páginas e páginas. Queria conversar. Era isso. O que eu mais senti falta naquele dia do enterro foi de conversar longamente com ele. Então escrevi uma carta. Uma longa carta, como uma conversa. Como se ele estivesse ali perto de mim. Ele morreu e nem sabe que hoje ainda escrevo sobre comida, sou louca por livros, tenho "os guardados" dele comigo sempre, em destaque. Ele morreu e nem desconfia que, até hoje, ainda não aprendi bem a disposição dos países no mapa, dos oceanos, das ilhas. Mas hei de aprender. E, quem sabe, sento para escrever uma outra carta. Outra longa carta. Como uma conversa.
:: A letra "L" para uma sexta estranha

("Dicionário de Humor Infantil", de Pedro Bloch)

L

leão - tia, se o leão sair dessa jaula e comer a senhora, que ônibus eu tomo pra voltar pra casa?

leite - é suco de vaca

lembrança - aquele velho está com uma cara de quem está pensando no antigamente

leque - é um espanador de ventinho

línguas - já aprendi três palavras em francês: maison é casa, chaise é cadeira e thank you, que nem é francês

lógica - adulto é uma pessoa que não pensa. mamãe me comprou capa, chapéu, guarda-chuva e galocha e, agora, ão me deixa sair porque está chovendo. pode?

luto - a senhora não podia ficar triste de branco?

quinta-feira, dezembro 2

:: Caderno de notas

Tenho aquela mania obcessiva de tomar notas. De grifar os trechos prediletos dos livros. Já comecei com os dizeres do português. Até agora, juntei isso aqui:

"Quero comprar uma máquina que pense por mim"

"O mundo é claro e calmo e tem 24 horas.
De repente chega o desejo e estraga tudo"

"De resto tudo bem, se não fosse esta produção contínua de desespero.
Tenho uma fábrica de desespero debaixo da língua.
Por isso falo tão pouco"

"Vou mostrar-lhe que além de mentir também sei dançar"

(Gonçalo M. Tavares)
:: Três letras em um dia

(do "Dicionário de Humor Infantil", de Pedro Bloch)

H

histórias - as histórias que meu pai conta são tão curtas que parecem anúncios

homem - eu sou é homem. como é que eu sei? se eu não fosse homem, eu ia me chamar gilberto?

I

ilha - é um morro que caiu no mar

inglês - a única palavra que sei em inglês é "tchau"

inteligência - eu sou inteligente porque eu sei que sou inteligente. nenhum menino bobo sabe que é bobo

inteligência - ele não é inteligente. ele diz as palavras, mas não diz os pensamentos

irmãozinho - tô feliz que ganhei um irmãozinho, mas prefiro vídeo game


J

jardim zoológico - o bicho que eu mais gostei, no jardim zoológico, foi o vendedor de sorvete

quarta-feira, dezembro 1

:: Aconchego

Ele agora tem essa mania adorável de me dar flores. Outro dia chegou com um arranjo tão voltuoso que, na manhã seguinte, dividi em três vasos, inclusive um para o banheiro, onde gosto sempre de deixar um colorido para as visitas. Nesta semana, não. As flores até murcharam. Nesta semana, ele comprou um livro. Dois. Um pra ele, outro igual pra mim. Um livro do português Gonçalo M. Tavares, com poemas. Livro daqueles que a gente acomoda na nossa mesinha de cabeceira para folhear antes de dormir, quando está triste ou feliz. Quando está sem sono ou quando está sonada. Ele sabe como eu gosto das palavras. Ele diz que prefere a forma das letras, mas acho que gosta das palavras também. Talvez pelas formas das letras...? Na dedicatória, escreve que não é bom com as palavras "mas tem gente que é", disse. Achei lindo. Ele é bom com essas delicadezas inesperadas.
:: Pequenas alegrias

Hoje, enquanto eu tomava café preto, ela escreveu contando que "todo dia de manhã" escuta a minha playlist da Nina. Uma playlist que fiz já há algum tempo, com as minhas prediletas da minha musa, garimpadas de toda a discografia, para curar o coração. E funcionou.
:: A curiosidade de uma mulher

Ou será um interesse extremo pelas coisas? Hoje me perguntei isso uma, duas vezes. Pra dentro de mim. No transporte coletivo (!), bem cedinho, me esmagava entre um e outro com o jornal aberto, numa tentativa inútil de ler algumas linhas. Depois, sentei. Por isso fui capaz de devorar a coluna do Marcelo Coelho, pela segunda semana seguida. Digo, pela segunda semana seguida que li com mais voracidade. Ele falava, de algum jeito, de comida.

Hoje, conta sobre o concurso de redações escolares no qual participaram 7 milhões de alunos da rede pública, entre 13 e 17 anos. E então comenta sobre uma ou outra, que ele mesmo leu, como júri da etapa final, em que sobraram 150 textos.

Olha que linda a forma como ele escreve, lá pelas tantas:

"Os concorrentes vinham dos lugares mais improváveis. A cidade de Formiga, em Minas Gerais, era das poucas de que já tinha ouvido falar.

Vitória do Xingu (PA), Carrapateira (PB), Nova Alvorada do Sul (MS), Vila Paixão (ES): em cada lugar desses, há um adolescente escrevendo coisa com coisa, citando Clarice Lispector (1920-1977) ou Carlos Drummond (1902-1987), pesando os prós e os contras da colheita mecanizada na lavoura do café ou analisando o impacto da construção de uma barragem.

Nas crônicas, nos artigos de opinião e nos registros do passado feitos por meio de entrevistas com idosos, tem-se um vislumbre da realidade brasileira. Cidades que se formam em poucos anos e se dedicam à exportação de mexerica. Crianças que, depois de estudar, ajudam na colheita do chuchu."

***

Agora, sobre a curiosidade. Quero ler essas redações. Quero muito. Quero tanto que chego a sentir uma ansiedade ruim de sentir. Depois, me perguntei se não era um interesse extremo pelas coisas simples. Acho que é.
:: A letra "G"

("Dicionário de Humor Infantil", de Pedro Bloch)

G

gêmeas - eu vi duas meninas de cara repetida

gêmeo - é quando dois irmãos nascem juntos, mas eu sou muito mais gêmeo que meu irmão

gosto - de três pessoas. uma delas sou eu.

guerra - não gosto com gente com guerra no coração