segunda-feira, abril 11

:: Diálogos

Outro dia, num domingo à noite, ela se pôs a escrever-me trechos que grifou da biografia de Virginia Woolf, que fez com que lembrasse de mim. Mais tarde, aquelas palavras me fizeram lembrar de um trecho da Clarice Lispector, que me fez lembrar dela e então respondi:

(ela)

No início, Julia não queria desfazer-se do seu hábito de sofrer, mas acabou cedendo, mesmo que penosamente, com um senso de remorso. Mas, como era forte e sincera, com coragem enfrentou a verdade: a alegria ainda existia, e podia voltar a experimentá-la. E foi capaz disso.

(eu)

E o que é que se faz quando se fica feliz? Que faço da felicidade? Que faço dessa paz estranha e aguda que já está começando a me doer como uma angústia e como um grande silêncio? A quem dou minha felicidade que já está começando a me rasgar um pouco e me assusta. Não, ela não queria ser feliz. Por medo de entrar num terreno desconhecido. Preferia a mediocridade de uma vida que ela conhecia. Depois procurou rir para disfarçar a terrível e fatal escolha. E pensou com falso ar de brincadeira: "Ser feliz? Deus dá nozes a quem não tem dentes". Mas não conseguiu achar graça. Estava triste, pensativa. Ia voltar para a morte diária.

Um comentário:

Mari disse...

Eu não tenho um diário que alimento com regularidade. Ainda bem que tem seu blog!