domingo, novembro 6

:: Amor de gato

Tenho loucura pelo Moacir, o tigrinho. Ele me foi um presente do meu tio num momento difícil da vida. É para você aprender o amor de gato, ele me disse. E Moacir sempre foi assim: um exemplo de amor de gato. Diferente de todos os outros que já tive: grudados, exageradamente dóceis, um amor incontrolável. Moacir, o tigrinho, não. Moacir tem uma coisa selvagem. Não é arredio, mas não gosta de colo. Mas gosta de ficar colado. E eu o observo com toda a atenção. Nessa missão-pra-sempre de aprender sobre o amor dos gatos. E ele me dá pequenas alegrias com suas manias. O lugar que mais gosta na casinha, por exemplo, é o box de vidrotil branco, molhado, depois que saio do banho. Ele se esparrama ali religiosamente, faça chuva, faça sol. Das brincadeiras de que mais ama está a loucura pelas pedras de gelo do meu copo d'água matinal. Ele derruba um a cada dois dias no sofá, e não consigo ralhar. Pois ele coloca a patinha dentro do copo para pegar as pedrinhas de gelo, enquanto estou compenetrada escrevendo, na maior parte das vezes, ou lendo, e vira o copo numa alegria sem fim, até que espalha as pedrinhas de gelo ali sobre o tapete vermelho e corre de lá pra cá com elas, de cá pra lá. E assim vai. Tem outros coisas. Ele sobe na minha bancada cheia, lotada, abarrotada de cacarecos e não derruba (quase) nada. Sempre. Ele derruba propositalmente apenas um porquinho miúdo de madeira. Passa no maior equilibrismo entre a bicileta, os vasinhos de flor, a cadeirinha em miniatura e isso e aquilo. E não derruba nada. Nem sem querer. Apenas o porquinho de madeira, que empurra com a patinha, no maior cuidado, até que caia no chão. E então pula lá de cima com uma alegria que posso reparar à distância e corre pela minicasa jogando o tal porquiho de cá pra lá. Para comer, ele também tem alguns rituais. Gosta da água temperada, como já contei aqui vezes e vezes, e de ração crocante. Por isso insisto em colocar de poquinho em pouquinho. E ele fica assim pertinho do potinho da ração, pega os grãos com a patinha, um por um, joga para fora do potinho e aí come. E eu acho amável, amável. E ele ama ouvir música comigo. Gosta de tango e de Caetano Veloso. Gosta de Django e Nina Simone. E fica na maior alegria quando coloco Billie Holiday pra gente, o mesmo nome da gata da vizinha da frente. Aliás, ele tem estado muito empenhado em construir uma relação com o cãozinho da vizinha do lado. Noa adentra a casinha numa agitação de criança e eles brincam, brincam. Uma lindeza. E eu, sabe, eu observo. Observo até que eu aprenda essa coisa do amor dos gatos...

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