:: Os trechos que grifo de lápis
Os meus livros costumam ser todos grifados (e eu não gosto de emprestar livros nem discos). Hoje eu estava no ônibus driblando o enjoo que sinto quando leio em movimento porque Sándor Márai está indo muito, muito bem. Dali a pouco, surge uma passagem linda, que eu grifei rapidinho no farol:
"O homem sem palavras, orgulhoso e triste se esforçou por ser completamente confiante, completamente modesto, completamente submisso. Por exemplo, ele sempre trazia presentes, pequenos presentes. Era de chorar. Porque o homem recatado se envergonhava de dar presentes miúdos, no Natal, no aniervsário, eu sempre ganhava dele algo caro, vistoso, uma bela viagem, uma pele nobre, um carro novo, jóias... O que sempre faltava era exatamente que ele voltasse para casa uma noite trazendo castanhas assadas por vinte centavos. Você entende?... Ou açúcar cristal, sei lá. Mas agora ele trazia".
(em "De Verdade")
quinta-feira, maio 29
quarta-feira, maio 28
:: Ginástica dos sonhos
Hoje na aula, enquanto movimentávamos o corpo inteirinho, ouvíamos coisas como: Feist, Celso Fonseca, Jack Johnson, Fernanda Takai, Gil, Chico... A dança do aquecimento foi simplesmente ao som de "A Well Respected Man", do Kinks, que não páro de ouvir desde de quando fui ao cinema assistir "Juno". A vida fica muito, muito melhor. Sério.
Hoje na aula, enquanto movimentávamos o corpo inteirinho, ouvíamos coisas como: Feist, Celso Fonseca, Jack Johnson, Fernanda Takai, Gil, Chico... A dança do aquecimento foi simplesmente ao som de "A Well Respected Man", do Kinks, que não páro de ouvir desde de quando fui ao cinema assistir "Juno". A vida fica muito, muito melhor. Sério.
:: Ouço e anoto
Adoro as pérolas - e não sou a maníaca do caderninho à toa. Anoto tudo. Hoje, uma assessora-amiga (melhor, amiga-assessora) estava correndo atrás de um chef porque estou no fechamento e preciso confirmar uma informação específica de ingredientes de uma receita. Então ela ligou pro sujeito, que não pôde falar porque estava numa palestra. Ela me escreveu assim (e eu amei):
"Ele tá numa palestra e vai me ligar assim que sair, daí eu te falo. Aliás, me explica uma coisa: por que uma pessoa que está numa palestra e não pode falar no telefone deixa o celular LIGADO? A vida é sempre um mistério".
Adoro as pérolas - e não sou a maníaca do caderninho à toa. Anoto tudo. Hoje, uma assessora-amiga (melhor, amiga-assessora) estava correndo atrás de um chef porque estou no fechamento e preciso confirmar uma informação específica de ingredientes de uma receita. Então ela ligou pro sujeito, que não pôde falar porque estava numa palestra. Ela me escreveu assim (e eu amei):
"Ele tá numa palestra e vai me ligar assim que sair, daí eu te falo. Aliás, me explica uma coisa: por que uma pessoa que está numa palestra e não pode falar no telefone deixa o celular LIGADO? A vida é sempre um mistério".
terça-feira, maio 27
:: O olhar dos outros
Eu adoro ler tudo que a Mari BZ escreve. Tudo mesmo. Os textos são leves, descontraídos, nunca tem erro de português (rá)e eu dou risada alto na maioria das vezes - santo remédio. E então o dom dela pelas letras também foi reconhecido por outros seres e agora até pagam pra ela escrever. Luxo.
Lá no Meia Fina - Manual Prático (http://meiafina.pop.com.br/blog/manualpratico/) ela conta tudo sobre Alice, a princesinha que ela simplesmente... pariu. Não exatamente sobre Alice, mas o que um filho representa em relação a tudo na vida.
Hoje, em uma breve pausa matinal, depois de muita correria, passei por lá pra ler as novidades e ela estava falando de sopa-sei-lá-das-quantas da Nestlé e do sopão-caseiro-sei-la-como. E eu amei quando ela disse:
"Aí, lá pelos 11 anos, entrei na minha fase gourmand (que, pra quem não sabe, começa quando a gente joga fora o tempero do miojo e faz nosso próprio molho com catchup – e daí pro macarrão com salsicha é um pulo...)"
Eu adoro ler tudo que a Mari BZ escreve. Tudo mesmo. Os textos são leves, descontraídos, nunca tem erro de português (rá)e eu dou risada alto na maioria das vezes - santo remédio. E então o dom dela pelas letras também foi reconhecido por outros seres e agora até pagam pra ela escrever. Luxo.
Lá no Meia Fina - Manual Prático (http://meiafina.pop.com.br/blog/manualpratico/) ela conta tudo sobre Alice, a princesinha que ela simplesmente... pariu. Não exatamente sobre Alice, mas o que um filho representa em relação a tudo na vida.
Hoje, em uma breve pausa matinal, depois de muita correria, passei por lá pra ler as novidades e ela estava falando de sopa-sei-lá-das-quantas da Nestlé e do sopão-caseiro-sei-la-como. E eu amei quando ela disse:
"Aí, lá pelos 11 anos, entrei na minha fase gourmand (que, pra quem não sabe, começa quando a gente joga fora o tempero do miojo e faz nosso próprio molho com catchup – e daí pro macarrão com salsicha é um pulo...)"
segunda-feira, maio 26
:: Das leituras
Hoje saí cedo de casa e fui caminhando a pé até a terapia, com um livro que comecei a ler ontem debaixo do braço.
Cheguei, me acomodei, apoiei o livro na bolsa, que apoiei no chão. Falei, falei, falei.
Levantei, peguei meu livro, minha bolsa. E então o terapeuta olhou para o meu braço, que segurava o livro, e disse que estava lendo o mesmo livro. Adorei porque os diálogos sempre ficam melhores quando estamos lendo os mesmos livros - já aconteceu outras vezes.
Sentei e pedi mais uns minutos.
Falamos das laranjas cristalizadas, da confeitaria vermelha com móveis antigos, do chá da tarde e do sorvete de pistache no inverno. Tudo fez muito sentido.
Estou lendo: "De Verdade", de Sándor Márai, que também escreveu "As Brasas".
Hoje saí cedo de casa e fui caminhando a pé até a terapia, com um livro que comecei a ler ontem debaixo do braço.
Cheguei, me acomodei, apoiei o livro na bolsa, que apoiei no chão. Falei, falei, falei.
Levantei, peguei meu livro, minha bolsa. E então o terapeuta olhou para o meu braço, que segurava o livro, e disse que estava lendo o mesmo livro. Adorei porque os diálogos sempre ficam melhores quando estamos lendo os mesmos livros - já aconteceu outras vezes.
Sentei e pedi mais uns minutos.
Falamos das laranjas cristalizadas, da confeitaria vermelha com móveis antigos, do chá da tarde e do sorvete de pistache no inverno. Tudo fez muito sentido.
Estou lendo: "De Verdade", de Sándor Márai, que também escreveu "As Brasas".
:: Lista de coisas
Quinta foi dia de não trabalhar. Sexta foi dia de trabalhar pouco. Sábado e domingo foi fim de semana para ticar itens da lista de coisas para fazer.
Quinta
- acordei tarde (que era prioridade), li o jornal
- banho longo com cremes e frescurinhas
- almoço com amiga, depois de peregrinação: fomos ao Astor porque estava com desejo do filé Osvaldo Aranha de lá, com um arroz mexido delicioso, com batata palha e farofa, coisa de gordinho. Estava fila e desistimos. Fomos ao La Frontera, que estava fechado até o jantar e, logo depois, ao AK, que também tinha acabado de encerrar o almoço. Ódio. Fui parar no Pita. Comi babaganouj maravilhoso, bem defumado, e afins
- encontro com melhor amiga que mora em NY e troca-troca de todas as músicas da vida, de um branquinho para o outro
- Genial pra bater papo
- cama e preguiça com o namorado
Sexta
- acordei cedo, fui pra casa, li o jornal
- banho comprido, cremes e almoço rápido e insosso
- jornal, trabalho, trabalho, trabalho
- tratamento geral luxuoso no salão: manicure, pé, mão, unhas vermelhas meio tijolo (mistura de ruby e toureira - rá rá), depilação, uma beleza
- jantar no Astor, pra matar o desejo
- show da incrível Regina Carter e seu violino e seu quarteto de jazz de arrepiar e sua simpatia e seu sorriso, com a Jazz Sinfônica, no Auditório Ibirapuera - que
amo
- leitura antes de dormir
Sábado
- acordei cedo, não li o jornal
- café da manhã na padaria
- estrada com namorado, ouvindo música ao sol
- almoço no interior com irmã e cunhado
- estrada com namorado, ouvindo música ao pôr-do-sol
- espetáculo de mágica no Alfa (!!), encontro por um acaso com amigos, jantar com namorado e dois amigos no Pasquale - só falamos de mulher.
- casinha, cama, bons sonhos
Domingo
- acordei tarde, não li o jornal pela manhã
- almoço com mamãe no Platibanda, que me irritou. Estava tudo sujo, o garçom não sabia explicar nenhum prato, nada deu certo - a não ser a torta de frango com salada, que estava bem gostosa
- jornal
- faxina
- livro
- jantar surpresa com irmão e família, aniver do caçula, que esmaguei igualzinho eu fazia quando ele nasceu - e chorava
- livro
- TV
- livro
- cama
Acordei (bem) cedo e hoje é segunda...
Quinta foi dia de não trabalhar. Sexta foi dia de trabalhar pouco. Sábado e domingo foi fim de semana para ticar itens da lista de coisas para fazer.
Quinta
- acordei tarde (que era prioridade), li o jornal
- banho longo com cremes e frescurinhas
- almoço com amiga, depois de peregrinação: fomos ao Astor porque estava com desejo do filé Osvaldo Aranha de lá, com um arroz mexido delicioso, com batata palha e farofa, coisa de gordinho. Estava fila e desistimos. Fomos ao La Frontera, que estava fechado até o jantar e, logo depois, ao AK, que também tinha acabado de encerrar o almoço. Ódio. Fui parar no Pita. Comi babaganouj maravilhoso, bem defumado, e afins
- encontro com melhor amiga que mora em NY e troca-troca de todas as músicas da vida, de um branquinho para o outro
- Genial pra bater papo
- cama e preguiça com o namorado
Sexta
- acordei cedo, fui pra casa, li o jornal
- banho comprido, cremes e almoço rápido e insosso
- jornal, trabalho, trabalho, trabalho
- tratamento geral luxuoso no salão: manicure, pé, mão, unhas vermelhas meio tijolo (mistura de ruby e toureira - rá rá), depilação, uma beleza
- jantar no Astor, pra matar o desejo
- show da incrível Regina Carter e seu violino e seu quarteto de jazz de arrepiar e sua simpatia e seu sorriso, com a Jazz Sinfônica, no Auditório Ibirapuera - que
amo
- leitura antes de dormir
Sábado
- acordei cedo, não li o jornal
- café da manhã na padaria
- estrada com namorado, ouvindo música ao sol
- almoço no interior com irmã e cunhado
- estrada com namorado, ouvindo música ao pôr-do-sol
- espetáculo de mágica no Alfa (!!), encontro por um acaso com amigos, jantar com namorado e dois amigos no Pasquale - só falamos de mulher.
- casinha, cama, bons sonhos
Domingo
- acordei tarde, não li o jornal pela manhã
- almoço com mamãe no Platibanda, que me irritou. Estava tudo sujo, o garçom não sabia explicar nenhum prato, nada deu certo - a não ser a torta de frango com salada, que estava bem gostosa
- jornal
- faxina
- livro
- jantar surpresa com irmão e família, aniver do caçula, que esmaguei igualzinho eu fazia quando ele nasceu - e chorava
- livro
- TV
- livro
- cama
Acordei (bem) cedo e hoje é segunda...
sexta-feira, maio 16
quinta-feira, maio 15
:: Sobre as manhãs
Se eu não luto (muito) contra o sono e não aproveito as minhas manhãs, a sensação que fica é a de que vivo pro trabalho - pior, não é só sensação. Tudo piora com esse friozinho. Ainda assim, hoje levantei bem cedo. Ufa. Depois das burocracias da vida real, fui à Livraria da Vila da Lorena dar uma olhada em uns livros. Comprei uma enciclopédia de queijos maravilhosa e aproveitei pra tomar um espresso no café do primeiro andar, uma filial do Il Barista. Diferente do que acontece na matriz, onde tudo sempre está nos trinques, o café nunca é servido perfeito, não importa se o movimento está assim ou assado. Mas o Maestro, que costumo pedir, do sul de Minas, se fosse bem-tirado poderia ser uma boa bebida, suave e com baixa acidez.
Se eu não luto (muito) contra o sono e não aproveito as minhas manhãs, a sensação que fica é a de que vivo pro trabalho - pior, não é só sensação. Tudo piora com esse friozinho. Ainda assim, hoje levantei bem cedo. Ufa. Depois das burocracias da vida real, fui à Livraria da Vila da Lorena dar uma olhada em uns livros. Comprei uma enciclopédia de queijos maravilhosa e aproveitei pra tomar um espresso no café do primeiro andar, uma filial do Il Barista. Diferente do que acontece na matriz, onde tudo sempre está nos trinques, o café nunca é servido perfeito, não importa se o movimento está assim ou assado. Mas o Maestro, que costumo pedir, do sul de Minas, se fosse bem-tirado poderia ser uma boa bebida, suave e com baixa acidez.
terça-feira, maio 13
:: Dos gritos
Peço atenção de pouquíssimas pessoas nos momentos que sinto desespero, angústia e dor. Quando realemnte preciso, me fecho e coloco a cabeça no meu travesseiro de pluma de ganso incrível, com lençol macio e cheiroso - sempre. E fico ali. Hoje, ao contrário, eu gritei e fui acolhida no maior estilo. Depois, mandei e-mail pra agradecer, com um poema do Drummond. E a resposta foi a mais linda: "não precisa agradecer, vc nunca se esquece de ser amiga". Anotei - e em caderninho novo de bolsa - depois eu conto.
Peço atenção de pouquíssimas pessoas nos momentos que sinto desespero, angústia e dor. Quando realemnte preciso, me fecho e coloco a cabeça no meu travesseiro de pluma de ganso incrível, com lençol macio e cheiroso - sempre. E fico ali. Hoje, ao contrário, eu gritei e fui acolhida no maior estilo. Depois, mandei e-mail pra agradecer, com um poema do Drummond. E a resposta foi a mais linda: "não precisa agradecer, vc nunca se esquece de ser amiga". Anotei - e em caderninho novo de bolsa - depois eu conto.
sexta-feira, maio 9
:: Dos presentes prediletos
Eu gosto dos presentes inusitados. Dessas idéias que as pessoas têm e, de repente, você está ali, num dia normal, e ganha um presente incrível. Foi assim há alguns dias, quando meu pai chegou com uma sacolinha pesada e me entregou. Eram duas panelinhas-sonho de ferro esmaltado da La Grande Maison, azuis. Ele disse: uma é para um risoto, a outra, pra um bifinho. Tudo em tamanho mini, coisa muito fofa. Olha:
Eu gosto dos presentes inusitados. Dessas idéias que as pessoas têm e, de repente, você está ali, num dia normal, e ganha um presente incrível. Foi assim há alguns dias, quando meu pai chegou com uma sacolinha pesada e me entregou. Eram duas panelinhas-sonho de ferro esmaltado da La Grande Maison, azuis. Ele disse: uma é para um risoto, a outra, pra um bifinho. Tudo em tamanho mini, coisa muito fofa. Olha:
:: Sobre o tempo
Frio é um luxo. A-M-O.
Ainda mais agora que ganhei um xale que veio diretamente da Índia.
Já pensou?
Ainda mais-mais agora que comprei duas sopeirinhas com estilo antigo, la no café Vintage, com borda delicadamente dourada e florzinhas discretas no pires e na lateral. Penso em servir, por exemplo, um creme de aspargos de entrada pra algum jantarzinho invernal...
Frio é um luxo. A-M-O.
Ainda mais agora que ganhei um xale que veio diretamente da Índia.
Já pensou?
Ainda mais-mais agora que comprei duas sopeirinhas com estilo antigo, la no café Vintage, com borda delicadamente dourada e florzinhas discretas no pires e na lateral. Penso em servir, por exemplo, um creme de aspargos de entrada pra algum jantarzinho invernal...
quinta-feira, maio 8
:: Das coisas que eu mais gosto
Hoje fui fazer umas pautas de manhã, sozinha. Visitei uma padaria nova e um café - depois eu conto mais aqui. E então, como saí muito cedo de casa (para um compromisso matinal antes de começar o dia de trabalho), meio estabanada, esqueci meu livro.
Foi ótimo para eu aproveitar e dar uma passadinha numa banca e atualizar a "biblioteca" com as revistas mensais que compro religiosamente. Foi assim, saí com uma sacolinha preciosa, devidamente abastecida com Gula, Menu e Prazeres da Mesa, uma delícia.
Em seguida, sentei ali no café e, depois de observar cuidadosamente o espresso Orfeu que chegou à minha mesa, também pedi a penúltima revista "Espresso" (comprei só a última e faltava na coleção) e ali fiquei um bom tempo... Na melhor companhia.
Hoje fui fazer umas pautas de manhã, sozinha. Visitei uma padaria nova e um café - depois eu conto mais aqui. E então, como saí muito cedo de casa (para um compromisso matinal antes de começar o dia de trabalho), meio estabanada, esqueci meu livro.
Foi ótimo para eu aproveitar e dar uma passadinha numa banca e atualizar a "biblioteca" com as revistas mensais que compro religiosamente. Foi assim, saí com uma sacolinha preciosa, devidamente abastecida com Gula, Menu e Prazeres da Mesa, uma delícia.
Em seguida, sentei ali no café e, depois de observar cuidadosamente o espresso Orfeu que chegou à minha mesa, também pedi a penúltima revista "Espresso" (comprei só a última e faltava na coleção) e ali fiquei um bom tempo... Na melhor companhia.
:: Feito pra mim
Será que o Contardo escreveu pra mim? rá rá
CONTARDO CALLIGARIS
Guias para aventureiros
Se toda viagem é uma aventura, o melhor guia de viagem deveria ser escrito por nós mesmos
TENHO UMA relação quase erótica com os instrumentos dos quais me sirvo para escrever. Festejo, portanto, a chegada ao Brasil dos cadernos e blocos da legendária marca Moleskine.
A Moleskine começou a publicar também "guias" das principais cidades do mundo. São cadernos quase normais, cujas primeiras páginas apresentam mapas detalhados da cidade e uma lista das ruas. Depois disso, só há espaço em branco para anotações: "Eis o mapa, percorra-o, viva sua aventura e escreva seu próprio guia". Quer um bom restaurante? Nada de Michelin, converse com os nativos.
É minha viagem ideal: a gente lê, bem antes de viajar, guias e livros de história, de arte e de ficção (romances ambientados na cidade que será visitada). Se a viagem for de última hora, resta estudar o guia turístico no hotel, à noite, e marcar no mapa os percursos do dia seguinte. Seja como for, é bom sair pelas ruas levando consigo apenas um caderno, para escrever o que se tornará, depois da viagem, o "nosso" guia.
Minha descoberta de Veneza, por exemplo, aconteceu quase dessa forma. Li, antes de viajar, "The Stones of Venice", de John Ruskin ("As Pedras de Veneza", ed. Martins Fontes, esgotado, infelizmente).
Eu implicava com o amor exclusivo de Ruskin pelo gótico e com sua antipatia pelo estilo clássico, mas a inteligência e a sensibilidade do texto eram contagiantes. Ruskin sugere que se chegue a Veneza pelo mar, vindo de Chioggia, e no fim do dia, para ver a República surgir das águas na luz do pôr-do-sol. Fui de trem (melhor do que de avião, de qualquer forma); quando, mais tarde, consegui repetir a chegada de Ruskin, lamentei não ter escutado sua sugestão.
Naquela primeira estada, apenas errei pela cidade com a lembrança da leitura de Ruskin e um caderno que, de café em café, de encontro em encontro, enchi de notas.
As "pedras" não são a única razão de viajar. Ultimamente, chegaram em massa os guias da revista "Wallpaper" (ed. Phaidon). São livros de bolso, com, no fim, uma dezena de páginas brancas para anotações. O que precede são fotografias com um parágrafo de descrição. A ausência de qualquer mapa supõe um viajante que nem queira se orientar, apenas preocupado em visitar (ou melhor, em ter visitado) os lugares memoráveis ("eu estive lá"). Os ditos "lugares memoráveis" são os hotéis, os restaurantes e as lojas mais luxuosas, spas, bares na moda e alguns marcos que, às vezes, parecem ter sido escolhidos por um arquiteto enlouquecido ou por alguém que nunca colocou os pés na cidade em questão. A sensação é que são guias para não se esquecer dos lugares que vai ser obrigatório mencionar numa conversa entre emergentes na volta das férias.
Fora a antipatia pelas fraquezas narcisistas das classes emergentes, nenhuma censura: uma viagem não tem que ser obrigatoriamente um banho na "alta cultura". Mas o que não entendo é que a gente viaje para bater ponto nos lugares, artísticos ou mundanos, cuja menção futura atestará que estivemos lá. Ou seja, não entendo viagem sem aventura.
Sem chegar à ousada proposta das páginas brancas dos Moleskine, os melhores guias turísticos, hoje, tentam interessar tanto o viajante mundano quanto o viajante "artístico" (que podem ser a mesma pessoa) e, sobretudo, tentam indicar ao leitor lugares fora dos caminhos mais trilhados. Ou seja, os guias se preocupam em nos dar ao menos o sentimento de uma aventura possível. Claro, não basta: a aventura não depende apenas do encontro com o inusitado, ela é, antes de mais nada, uma disposição do espírito.
Uma surpresa: a Louis Vuitton pode ter-se tornado uma marca para quem busca sinais que confirmem seu status, mas, aparentemente, não se esqueceu de sua origem, não se esqueceu do que significa viajar. A marca acaba de publicar uma série de guias de cidades, em inglês e francês (Nova York, mais uma caixa com outras cidades do mundo). O guia de Nova York é o melhor que eu conheça -pela sóbria mistura de "dicas" tradicionais (galerias, museus etc.) e "dicas" mundanas (hotéis, restaurantes, bares, lojas, de luxo e de pechincha), pela menção de lugares nada óbvios (do Old Town Bar aos brechós) e, enfim, pela página dedicada às leituras literárias e de ficção que são a melhor "introdução" à cidade. Só falta uma lista de filmes (ou será que há uma, e eu não vi?).
Será que o Contardo escreveu pra mim? rá rá
CONTARDO CALLIGARIS
Guias para aventureiros
Se toda viagem é uma aventura, o melhor guia de viagem deveria ser escrito por nós mesmos
TENHO UMA relação quase erótica com os instrumentos dos quais me sirvo para escrever. Festejo, portanto, a chegada ao Brasil dos cadernos e blocos da legendária marca Moleskine.
A Moleskine começou a publicar também "guias" das principais cidades do mundo. São cadernos quase normais, cujas primeiras páginas apresentam mapas detalhados da cidade e uma lista das ruas. Depois disso, só há espaço em branco para anotações: "Eis o mapa, percorra-o, viva sua aventura e escreva seu próprio guia". Quer um bom restaurante? Nada de Michelin, converse com os nativos.
É minha viagem ideal: a gente lê, bem antes de viajar, guias e livros de história, de arte e de ficção (romances ambientados na cidade que será visitada). Se a viagem for de última hora, resta estudar o guia turístico no hotel, à noite, e marcar no mapa os percursos do dia seguinte. Seja como for, é bom sair pelas ruas levando consigo apenas um caderno, para escrever o que se tornará, depois da viagem, o "nosso" guia.
Minha descoberta de Veneza, por exemplo, aconteceu quase dessa forma. Li, antes de viajar, "The Stones of Venice", de John Ruskin ("As Pedras de Veneza", ed. Martins Fontes, esgotado, infelizmente).
Eu implicava com o amor exclusivo de Ruskin pelo gótico e com sua antipatia pelo estilo clássico, mas a inteligência e a sensibilidade do texto eram contagiantes. Ruskin sugere que se chegue a Veneza pelo mar, vindo de Chioggia, e no fim do dia, para ver a República surgir das águas na luz do pôr-do-sol. Fui de trem (melhor do que de avião, de qualquer forma); quando, mais tarde, consegui repetir a chegada de Ruskin, lamentei não ter escutado sua sugestão.
Naquela primeira estada, apenas errei pela cidade com a lembrança da leitura de Ruskin e um caderno que, de café em café, de encontro em encontro, enchi de notas.
As "pedras" não são a única razão de viajar. Ultimamente, chegaram em massa os guias da revista "Wallpaper" (ed. Phaidon). São livros de bolso, com, no fim, uma dezena de páginas brancas para anotações. O que precede são fotografias com um parágrafo de descrição. A ausência de qualquer mapa supõe um viajante que nem queira se orientar, apenas preocupado em visitar (ou melhor, em ter visitado) os lugares memoráveis ("eu estive lá"). Os ditos "lugares memoráveis" são os hotéis, os restaurantes e as lojas mais luxuosas, spas, bares na moda e alguns marcos que, às vezes, parecem ter sido escolhidos por um arquiteto enlouquecido ou por alguém que nunca colocou os pés na cidade em questão. A sensação é que são guias para não se esquecer dos lugares que vai ser obrigatório mencionar numa conversa entre emergentes na volta das férias.
Fora a antipatia pelas fraquezas narcisistas das classes emergentes, nenhuma censura: uma viagem não tem que ser obrigatoriamente um banho na "alta cultura". Mas o que não entendo é que a gente viaje para bater ponto nos lugares, artísticos ou mundanos, cuja menção futura atestará que estivemos lá. Ou seja, não entendo viagem sem aventura.
Sem chegar à ousada proposta das páginas brancas dos Moleskine, os melhores guias turísticos, hoje, tentam interessar tanto o viajante mundano quanto o viajante "artístico" (que podem ser a mesma pessoa) e, sobretudo, tentam indicar ao leitor lugares fora dos caminhos mais trilhados. Ou seja, os guias se preocupam em nos dar ao menos o sentimento de uma aventura possível. Claro, não basta: a aventura não depende apenas do encontro com o inusitado, ela é, antes de mais nada, uma disposição do espírito.
Uma surpresa: a Louis Vuitton pode ter-se tornado uma marca para quem busca sinais que confirmem seu status, mas, aparentemente, não se esqueceu de sua origem, não se esqueceu do que significa viajar. A marca acaba de publicar uma série de guias de cidades, em inglês e francês (Nova York, mais uma caixa com outras cidades do mundo). O guia de Nova York é o melhor que eu conheça -pela sóbria mistura de "dicas" tradicionais (galerias, museus etc.) e "dicas" mundanas (hotéis, restaurantes, bares, lojas, de luxo e de pechincha), pela menção de lugares nada óbvios (do Old Town Bar aos brechós) e, enfim, pela página dedicada às leituras literárias e de ficção que são a melhor "introdução" à cidade. Só falta uma lista de filmes (ou será que há uma, e eu não vi?).
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