:: Preocupações idiotas (e divertidas)
As mulheres se preocupam com coisas bestas, mas, sabe, acabam se divertindo também. Hoje ela contou, toda orgulhosa, que ele até levou o terno na lavanderia para o casamento que temos no sábado. Depois respirou - e quase riu. "É, mas ele não tem meia pra usar com o sapato social e pensou em colocar a meia branca que usa para correr, pode?"
quarta-feira, setembro 30
:: Pequenas alegrias
Hoje, quando cheguei pela manhã na Redação, encontrei lindas frésias amarelas sobre a minha mesa, num buquê que intercalava um ou outro verdinho, pra dar charme. E não era de assessor de imprensa. Acho que tem a ver com agradecimentos, celebrações e uma espécie de despedida. Até dói um pouquinho.
Hoje, quando cheguei pela manhã na Redação, encontrei lindas frésias amarelas sobre a minha mesa, num buquê que intercalava um ou outro verdinho, pra dar charme. E não era de assessor de imprensa. Acho que tem a ver com agradecimentos, celebrações e uma espécie de despedida. Até dói um pouquinho.
terça-feira, setembro 29
:: Caderno de anotações
Não sei se escrevo sobre as partes que mais gostei da autobiografia da Billie Holiday, como as cenas dela pequena, ouvindo Louis Armstrong e Bessie Smith na vitrola no tal do puteiro, ou da saudade que estou de passar horas na livraria, tomando chá de cidreira. Um espresso curto, talvez. Não sei se escrevo sobre as unhas vermelhas no meio da tarde de chuva ou do sol do domingo e dos pequenos encontros. Talvez sobre os últimos restaurantes que visitei ou, quem sabe, os últimos pratos que preparei na Le Creuset vermelha. Na verdade, acho que faltou registro de algumas refeições inesquecíveis. Faltou falar dos gafanhotos caramelizados que Mari Hirata preparou dia desses, faltou falar dos saquês do Kinoshita e suas invenções de fazer não esquecer, faltou falar de um jantar de um tempão atrás que teve escalope de foie gras com sorbet de pêssego e limão-siciliano mais compota de pêssego e gengibre, harmonizado com um vinho de sobremesa que não me lembro o nome. De repente eu devia falar das amizades demorei anos pra construir ou então dos e-mails e mais e-mails que ainda não respondi - e andam enchendo minha caixa de entrada. Tem ainda as cartas de amor e os próximos livros que devo ler quando acabar "Lady Sings the Blues", que ando arrastando as últimas páginas bem lentamente pra não acabar de repente. Tem mesmo essa coisa do apego aos livros, acho. Talvez não devesse chamar de apego, estou aprendendo. Hoje fui na casa dela e até preparamos arroz. Jantamos em bandejas vermelhas e largas no sofá da sala, no meio de um monte de almofadas de todas as estampas que se possa imaginar. E então ela disse pra eu fuçar os livros do lado direito da estante amarela, mas antes peguei Eduardo Galeano pra folhear. "O Livro dos Abraços" é leitura básica de cabeceira. Decidi, pouco depois, que mais dia menos dia devo passar na Livraria da Vila sozinha pra comprar "A Invenção de Morel", do argentino Adolfo Bioy Casares. Antes, vou ler mais Billie Holiday para dormir com as histórias do jazz.
Não sei se escrevo sobre as partes que mais gostei da autobiografia da Billie Holiday, como as cenas dela pequena, ouvindo Louis Armstrong e Bessie Smith na vitrola no tal do puteiro, ou da saudade que estou de passar horas na livraria, tomando chá de cidreira. Um espresso curto, talvez. Não sei se escrevo sobre as unhas vermelhas no meio da tarde de chuva ou do sol do domingo e dos pequenos encontros. Talvez sobre os últimos restaurantes que visitei ou, quem sabe, os últimos pratos que preparei na Le Creuset vermelha. Na verdade, acho que faltou registro de algumas refeições inesquecíveis. Faltou falar dos gafanhotos caramelizados que Mari Hirata preparou dia desses, faltou falar dos saquês do Kinoshita e suas invenções de fazer não esquecer, faltou falar de um jantar de um tempão atrás que teve escalope de foie gras com sorbet de pêssego e limão-siciliano mais compota de pêssego e gengibre, harmonizado com um vinho de sobremesa que não me lembro o nome. De repente eu devia falar das amizades demorei anos pra construir ou então dos e-mails e mais e-mails que ainda não respondi - e andam enchendo minha caixa de entrada. Tem ainda as cartas de amor e os próximos livros que devo ler quando acabar "Lady Sings the Blues", que ando arrastando as últimas páginas bem lentamente pra não acabar de repente. Tem mesmo essa coisa do apego aos livros, acho. Talvez não devesse chamar de apego, estou aprendendo. Hoje fui na casa dela e até preparamos arroz. Jantamos em bandejas vermelhas e largas no sofá da sala, no meio de um monte de almofadas de todas as estampas que se possa imaginar. E então ela disse pra eu fuçar os livros do lado direito da estante amarela, mas antes peguei Eduardo Galeano pra folhear. "O Livro dos Abraços" é leitura básica de cabeceira. Decidi, pouco depois, que mais dia menos dia devo passar na Livraria da Vila sozinha pra comprar "A Invenção de Morel", do argentino Adolfo Bioy Casares. Antes, vou ler mais Billie Holiday para dormir com as histórias do jazz.
quinta-feira, setembro 24
:: Exercício de respiração
No meio de uma tarde de chuva, ele me manda pequenos agrados pro coração. Hoje foi Baden Powel e seu “Sorongaio”. Fazia um dia ou mais que ele queria mandar uma dessas pílulas pro ouvido no meio de uma tarde. Acho que esperou a chuva, ou a música certa. Tem sido assim. Ele sabe que as histórias musicais são as mais fortes na minha pequena vida. Entende porque é como se sentisse quase igual. E então transmite esses espasmos de alegria para dividir. Tem sido assim. Descobri agora há pouco que sorongo é uma dança negra de origem africana - certamente ele sabia. Eu devia ter feito parágrafo, mas, sabe, quando escrevo pra ele, não tem parágrafo. Nem deveria ter ponto. Não entendo bem por que é que “Sorongaio” quase me fez chorar. Ele me ensinou outro dia que o choro vem quando a gente transborda. Quando contei isso a ela, em seguida ela escreveu numa carta de amor que o choro encontra a saída que as palavras não conseguiram achar. E eu achei lindo. Tem sido assim. Uma coisa de transbordar. E aí faço “Sorongaio” repetir até cansar. Mas não cansa. Toca o fundo da gente, faz tremer a ponta dos dedos, remexe lá dentro, arrepia as superfícies, faz fechar os olhos úmidos e volta ao zero. E recomeça. Ele diz isso também. Algo sobre as pequenas mortes e sobre os recomeços. E eu ouvia com dor. Hoje ouço até quase compreender. Tento compreender até sentir. E acho até que consigo sentir. Tem sido assim. Pequenos aprendizados para não desorganizar. “Pequenos” só pra disfarçar a grande desorganização que é o aprender. É mais, até. É como se fosse um exercício de autoconhecimento. Coisa que vira a gente de cabeça pra baixo até a gente entrar dentro da gente tudo de novo pra se conhecer. Até dói. E Baden Powel repete outra vez seu “Sorongaio”. Os olhos quase fecham e uma imagem desconhecida de pés negros e descalços batendo num chão de terra vermelha e a poeira e o ritmo e a sincronia. Talvez seja um pouco resquício da Pina Bausch que assisti numa segunda ou terça à noite, dia desses. Stravisnky e sua “Sagração da Primavera”, diz o jornal da cidade grande, “é como um rito de passagem”. E então fico tentando entender por que será que as coisas às vezes se encaixam - mesmo num emaranhado todo confuso, conflituoso e obscuro, elas, simplesmente, se encaixam.
No meio de uma tarde de chuva, ele me manda pequenos agrados pro coração. Hoje foi Baden Powel e seu “Sorongaio”. Fazia um dia ou mais que ele queria mandar uma dessas pílulas pro ouvido no meio de uma tarde. Acho que esperou a chuva, ou a música certa. Tem sido assim. Ele sabe que as histórias musicais são as mais fortes na minha pequena vida. Entende porque é como se sentisse quase igual. E então transmite esses espasmos de alegria para dividir. Tem sido assim. Descobri agora há pouco que sorongo é uma dança negra de origem africana - certamente ele sabia. Eu devia ter feito parágrafo, mas, sabe, quando escrevo pra ele, não tem parágrafo. Nem deveria ter ponto. Não entendo bem por que é que “Sorongaio” quase me fez chorar. Ele me ensinou outro dia que o choro vem quando a gente transborda. Quando contei isso a ela, em seguida ela escreveu numa carta de amor que o choro encontra a saída que as palavras não conseguiram achar. E eu achei lindo. Tem sido assim. Uma coisa de transbordar. E aí faço “Sorongaio” repetir até cansar. Mas não cansa. Toca o fundo da gente, faz tremer a ponta dos dedos, remexe lá dentro, arrepia as superfícies, faz fechar os olhos úmidos e volta ao zero. E recomeça. Ele diz isso também. Algo sobre as pequenas mortes e sobre os recomeços. E eu ouvia com dor. Hoje ouço até quase compreender. Tento compreender até sentir. E acho até que consigo sentir. Tem sido assim. Pequenos aprendizados para não desorganizar. “Pequenos” só pra disfarçar a grande desorganização que é o aprender. É mais, até. É como se fosse um exercício de autoconhecimento. Coisa que vira a gente de cabeça pra baixo até a gente entrar dentro da gente tudo de novo pra se conhecer. Até dói. E Baden Powel repete outra vez seu “Sorongaio”. Os olhos quase fecham e uma imagem desconhecida de pés negros e descalços batendo num chão de terra vermelha e a poeira e o ritmo e a sincronia. Talvez seja um pouco resquício da Pina Bausch que assisti numa segunda ou terça à noite, dia desses. Stravisnky e sua “Sagração da Primavera”, diz o jornal da cidade grande, “é como um rito de passagem”. E então fico tentando entender por que será que as coisas às vezes se encaixam - mesmo num emaranhado todo confuso, conflituoso e obscuro, elas, simplesmente, se encaixam.
quarta-feira, setembro 23
terça-feira, setembro 22
:: O gelinho dos olhos
Muito trabalho aqui em volta. Agenda aberta sobre a mesa, com anotações por todos os lados. Alguns post its até. Os e-mails espalhados na tela do computador. Uma garrafa d’água que eu insisto em encher esvaziar encher esvaziar. E ela me mandou Julie Delpy cantando baixinho “A Walts for a Night” - e, ela sabe, essas coisas são proibidas em dias de chuva. Antes, me fez cantar um pedacinho no táxi, e, tá, eu cantarolei. Talvez a gente chorasse. Pelos mesmos motivos e por outros tantos. No fundo, acho que a gente gosta de chorar.
***
Quando eu era pequena, vez ou outra eu pulava na cama da minha mãe com a minha irmã e tínhamos todos os tipos de conversa. Um dia ficamos sentadas ali por horas, de perninhas cruzadas como os índios. E então mamãe perguntou de onde será que vinha o choro da gente. No meio das ideias mais férteis, descobrimos: o choro vem de um gelinho que fica dentro da gente, lá no coração, que derrete quando a gente fica triste e sai pelos olhos.
***
Depois de anos, digo que “estou criando casca e me desapegando das coisas”. Ela mexe a cabeça e faz que entende mas ainda é a eterna apaixonada pelas coisas. Finjo que discordo, mas ela devia imaginar... essa é uma das coisas que mais admiro nela. A paixão pelas coisas.
***
Muito trabalho aqui em volta, mas ando meio desconcentrada, confesso. A gente podia passar o dia falando sobre receitas de ovos ou combinando os detalhes de uma viagem pro sítio para visitar a plantação de café e preparar salada com as verduras fresquinhas e brilhantes da horta. Acho que ainda não contei, mas lá tem latinhas de azeite enfeitando a parede de tijolinhos e acho que ela vai gostar.
***
Ainda não sei bem. A agenda aberta, os e-mails não-lidos, os textos por fazer. E eu aqui, rabiscando essas palavras pra dizer que não sei bem como vai ser. Talvez ela lembre: eu não gosto muito de sentir saudades.
Muito trabalho aqui em volta. Agenda aberta sobre a mesa, com anotações por todos os lados. Alguns post its até. Os e-mails espalhados na tela do computador. Uma garrafa d’água que eu insisto em encher esvaziar encher esvaziar. E ela me mandou Julie Delpy cantando baixinho “A Walts for a Night” - e, ela sabe, essas coisas são proibidas em dias de chuva. Antes, me fez cantar um pedacinho no táxi, e, tá, eu cantarolei. Talvez a gente chorasse. Pelos mesmos motivos e por outros tantos. No fundo, acho que a gente gosta de chorar.
***
Quando eu era pequena, vez ou outra eu pulava na cama da minha mãe com a minha irmã e tínhamos todos os tipos de conversa. Um dia ficamos sentadas ali por horas, de perninhas cruzadas como os índios. E então mamãe perguntou de onde será que vinha o choro da gente. No meio das ideias mais férteis, descobrimos: o choro vem de um gelinho que fica dentro da gente, lá no coração, que derrete quando a gente fica triste e sai pelos olhos.
***
Depois de anos, digo que “estou criando casca e me desapegando das coisas”. Ela mexe a cabeça e faz que entende mas ainda é a eterna apaixonada pelas coisas. Finjo que discordo, mas ela devia imaginar... essa é uma das coisas que mais admiro nela. A paixão pelas coisas.
***
Muito trabalho aqui em volta, mas ando meio desconcentrada, confesso. A gente podia passar o dia falando sobre receitas de ovos ou combinando os detalhes de uma viagem pro sítio para visitar a plantação de café e preparar salada com as verduras fresquinhas e brilhantes da horta. Acho que ainda não contei, mas lá tem latinhas de azeite enfeitando a parede de tijolinhos e acho que ela vai gostar.
***
Ainda não sei bem. A agenda aberta, os e-mails não-lidos, os textos por fazer. E eu aqui, rabiscando essas palavras pra dizer que não sei bem como vai ser. Talvez ela lembre: eu não gosto muito de sentir saudades.
sexta-feira, setembro 18
:: Paladar difícil
"Paladar difícil" era o assunto do e-mail que ela me mandou hoje pela manhã. Num dia desses, foi ele quem me mandou e-mail falando do aniversário e disse que queria comemorar comigo, com ela e com meu namo e só. Perguntou se eu tinha o sábado livre no jantar. Sim, disse. Não tinha, mas mudei as coisas pra ajeitar assim. Afinal, dobradinha de amizade e aniversário faz a gente mudar a programação.
Ele queria que eu escolhesse o lugar. Mas o que você está com vontade de comer?
"Fique à vontade pra escolher um lugar. Confesso que eu gostaria que NÃO fosse japonês, italiano ou francês. O resto, qualquer cozinha mesmo, tá valendo."
S-i-m-p-l-e-s, pensei. Ele NÃO quer (com caixa alta) nenhum ja-po-nês, i-ta-li-a-no e fran-cês. Respirei e tive uma ideia. O principal, pra mim, era sair do eixo.
Aí armei tudo e eles precisam estar na minha casa às 18h30 em ponto pra gente sair. Não contei nem onde nem o quê nem como. Mas está tudo combinado com a minha amiga querida, mulher dele. Mas é surpresa, hein? Vamos fazer tudo sem dizer detalhes.
Hoje, tinha e-mail dela:
"Vê se a gente pode com isso: ontem à noite, contei para ele que a gente já organizou a baladinha no sábado e que temos de estar na sua casa às 18h30. Daí ele falou assim: "mas não é no árabe, né? Pq eu disse para a Lu que não quero japonês, nem francês nem italiano e esqueci de dizer o árabe."
Rá rá
"Paladar difícil" era o assunto do e-mail que ela me mandou hoje pela manhã. Num dia desses, foi ele quem me mandou e-mail falando do aniversário e disse que queria comemorar comigo, com ela e com meu namo e só. Perguntou se eu tinha o sábado livre no jantar. Sim, disse. Não tinha, mas mudei as coisas pra ajeitar assim. Afinal, dobradinha de amizade e aniversário faz a gente mudar a programação.
Ele queria que eu escolhesse o lugar. Mas o que você está com vontade de comer?
"Fique à vontade pra escolher um lugar. Confesso que eu gostaria que NÃO fosse japonês, italiano ou francês. O resto, qualquer cozinha mesmo, tá valendo."
S-i-m-p-l-e-s, pensei. Ele NÃO quer (com caixa alta) nenhum ja-po-nês, i-ta-li-a-no e fran-cês. Respirei e tive uma ideia. O principal, pra mim, era sair do eixo.
Aí armei tudo e eles precisam estar na minha casa às 18h30 em ponto pra gente sair. Não contei nem onde nem o quê nem como. Mas está tudo combinado com a minha amiga querida, mulher dele. Mas é surpresa, hein? Vamos fazer tudo sem dizer detalhes.
Hoje, tinha e-mail dela:
"Vê se a gente pode com isso: ontem à noite, contei para ele que a gente já organizou a baladinha no sábado e que temos de estar na sua casa às 18h30. Daí ele falou assim: "mas não é no árabe, né? Pq eu disse para a Lu que não quero japonês, nem francês nem italiano e esqueci de dizer o árabe."
Rá rá
quinta-feira, setembro 17
quarta-feira, setembro 16
:: Histórias musicais
Quando fui morar uns meses em NY, poucas semanas antes de voltar pro Brasil, completamente falida, deu ataque de querer comprar presente pra todo mundo. Os mais difíceis, engraçado, foram os presentes do papai e da mamãe. E errei nos dois (n-o-s-d-o-i-s).
Pra mamãe eu trouxe um iPod shuffle, que ela ouviu uma ou duas vezes e aposentou. Fiquei triste de ter errado a mão, porque adoro presentear. Mas, claro, quem me conhece sabe que no fundo, no fundo, fiquei feliz. Ou fiquei triste no fundo e feliz na superfície, não sei bem.
Desde lá, o iPod foi morar na minha casa e eu adoro. Toda semana, mudo os discos e tenho conhecido bem melhor vários artistas. Enquanto eu aumento o peso do aparelho para o tal do "tchauzinho (pesadelo) das mulheres" aumento o Kamau, por exemplo, até esquecer o esforço e decorar a letra.
E faz uns dias que não tenho parado de ouvir o disco novo do Lucas Santtana (e volto sempre "Cira, Regina e Nana" pra tentar cantarolar junto. Mas o que eu quero mesmo decorar, de cabo a rabo, é "Evolução Na Locução", do Kamau. Não parece, as pessoas me acham muito angelical pra gostar tanto de rap e hip hop, mas eu gosto (sim) e tenho fixação por decorar, um dia na vida, uma letra inteira de um rap - e até agora na-da. Anos ouvindo Sabotage, Racionai's, Gog e na-da.
E aí também tem o disco amado do Junio Barreto, que conheci num boteco lá em Olinda, quando fiz o Guia Nordeste da Bei, e tenho todo um carinho especial. Pelo disco, pela história envolvida, pelo tal do boteco.
Mais que isso e aquilo, tem o disco que o Medeski Martin & Wood gravou para as crianças, que eu gosto cada dia mais, "Let's Go Evereywhere". Quando começa "The Squalb" de repente (aqui no meu iPod as músicas começam mesmo de repente), eu tento cantar junto. Eu tento falar junto, na verdade. É uma mensagem muito bonitica falada (recitada? cantada? óh, céus!) pelo ator John Lurie, que faz a gente ficar com muita (muita) vontade de ter um squalb.
E agora?
Quando fui morar uns meses em NY, poucas semanas antes de voltar pro Brasil, completamente falida, deu ataque de querer comprar presente pra todo mundo. Os mais difíceis, engraçado, foram os presentes do papai e da mamãe. E errei nos dois (n-o-s-d-o-i-s).
Pra mamãe eu trouxe um iPod shuffle, que ela ouviu uma ou duas vezes e aposentou. Fiquei triste de ter errado a mão, porque adoro presentear. Mas, claro, quem me conhece sabe que no fundo, no fundo, fiquei feliz. Ou fiquei triste no fundo e feliz na superfície, não sei bem.
Desde lá, o iPod foi morar na minha casa e eu adoro. Toda semana, mudo os discos e tenho conhecido bem melhor vários artistas. Enquanto eu aumento o peso do aparelho para o tal do "tchauzinho (pesadelo) das mulheres" aumento o Kamau, por exemplo, até esquecer o esforço e decorar a letra.
E faz uns dias que não tenho parado de ouvir o disco novo do Lucas Santtana (e volto sempre "Cira, Regina e Nana" pra tentar cantarolar junto. Mas o que eu quero mesmo decorar, de cabo a rabo, é "Evolução Na Locução", do Kamau. Não parece, as pessoas me acham muito angelical pra gostar tanto de rap e hip hop, mas eu gosto (sim) e tenho fixação por decorar, um dia na vida, uma letra inteira de um rap - e até agora na-da. Anos ouvindo Sabotage, Racionai's, Gog e na-da.
E aí também tem o disco amado do Junio Barreto, que conheci num boteco lá em Olinda, quando fiz o Guia Nordeste da Bei, e tenho todo um carinho especial. Pelo disco, pela história envolvida, pelo tal do boteco.
Mais que isso e aquilo, tem o disco que o Medeski Martin & Wood gravou para as crianças, que eu gosto cada dia mais, "Let's Go Evereywhere". Quando começa "The Squalb" de repente (aqui no meu iPod as músicas começam mesmo de repente), eu tento cantar junto. Eu tento falar junto, na verdade. É uma mensagem muito bonitica falada (recitada? cantada? óh, céus!) pelo ator John Lurie, que faz a gente ficar com muita (muita) vontade de ter um squalb.
E agora?
terça-feira, setembro 15
:: Dia a dia
Então todo santo dia eu vou lá no computador dela e coloco o dedo da tela. Poxa, agora ela tem uma tela gigante, branca, plana, deusa e eu vou lá e ponho o dedo mesmo. Quem resiste? Aí hoje, aconteceu como todos os dias. Eu fui lá e... dedão na tela pra apontar a parte do texto que ela podia cortar, se a foto ficasse muito escondida. Concordamos pela primeira vez: foto grande, texto pequeno.
E aí foi a vez dela apontar. Dessa vez pro post it que colou no canto da tela. Bem assim:
Então todo santo dia eu vou lá no computador dela e coloco o dedo da tela. Poxa, agora ela tem uma tela gigante, branca, plana, deusa e eu vou lá e ponho o dedo mesmo. Quem resiste? Aí hoje, aconteceu como todos os dias. Eu fui lá e... dedão na tela pra apontar a parte do texto que ela podia cortar, se a foto ficasse muito escondida. Concordamos pela primeira vez: foto grande, texto pequeno.
E aí foi a vez dela apontar. Dessa vez pro post it que colou no canto da tela. Bem assim:
:: Registros inúteis
Outro dia ela foi na padaria Pão de Ló, que mudou de endereço, pra uma casa ali nas vizinhanças onde funcionava antes, perto da Casper, e ficou linda. Ela ainda não entendeu que não deve ir na padaria j-a-m-a-i-s depois de d-u-a-s-h-o-r-a-s de acadimia.
Contou que queria comer um pão francês com bastante manteiga, bem gordinho, "mas aí resolvi dar uma de saudável e pedi um prato de frutas milionário". A conversa com o garçom foi assim:
- Será que vai demorar muito?
- Demora, viu. Não vou mentir não. É que eles fatiam tudo muito milimetricamente.
Outro dia ela foi na padaria Pão de Ló, que mudou de endereço, pra uma casa ali nas vizinhanças onde funcionava antes, perto da Casper, e ficou linda. Ela ainda não entendeu que não deve ir na padaria j-a-m-a-i-s depois de d-u-a-s-h-o-r-a-s de acadimia.
Contou que queria comer um pão francês com bastante manteiga, bem gordinho, "mas aí resolvi dar uma de saudável e pedi um prato de frutas milionário". A conversa com o garçom foi assim:
- Será que vai demorar muito?
- Demora, viu. Não vou mentir não. É que eles fatiam tudo muito milimetricamente.
:: No telefone
- Eu não aguento mais um cara que me liga toda hora, e é engano. Ele quer falar com um "seu Manoel". Você acha que eu posso xingar ele dá próxima vez?
- Não, Má. Ele deve ter se apaixonado pela sua voz. Se você xingar, aí é que não vai ter volta.
- Mas ele ligou agora e olha a conversa:
- Alô.
- Quem é?
- Quem é você.
- Mas eu que liguei primeiro!
- Mas o telefone é meu.
- Eu não aguento mais um cara que me liga toda hora, e é engano. Ele quer falar com um "seu Manoel". Você acha que eu posso xingar ele dá próxima vez?
- Não, Má. Ele deve ter se apaixonado pela sua voz. Se você xingar, aí é que não vai ter volta.
- Mas ele ligou agora e olha a conversa:
- Alô.
- Quem é?
- Quem é você.
- Mas eu que liguei primeiro!
- Mas o telefone é meu.
:: Pílulas de felicidade
Ela tem essa mania adorável de aparecer de repente, sem mais nem menos, com pílulas de felicidade. No fim de semana foi assim, escreveu de NY, no sábado à noite, ou à tarde, não me lembro, com uma musiquinha para "ouvir no domingo". E então "Elevator is Temporary", de Lilys, deixou o dia ainda mais encantado. Pra lá do jornal na piscina, das conversas ao pé do ouvido, dos bumbuns colados na pequena cozinha (enquanto ele picava cebola e alho milimetricamente, eu abria a lata de tomates pelados, na bancada oposta), pra além dos brindes que sempre fazemos à mesa, e do banho lento que eu tanto gosto. O domingo ficou ainda mais encantador. Ela deve imaginar. Acho.
Ela tem essa mania adorável de aparecer de repente, sem mais nem menos, com pílulas de felicidade. No fim de semana foi assim, escreveu de NY, no sábado à noite, ou à tarde, não me lembro, com uma musiquinha para "ouvir no domingo". E então "Elevator is Temporary", de Lilys, deixou o dia ainda mais encantado. Pra lá do jornal na piscina, das conversas ao pé do ouvido, dos bumbuns colados na pequena cozinha (enquanto ele picava cebola e alho milimetricamente, eu abria a lata de tomates pelados, na bancada oposta), pra além dos brindes que sempre fazemos à mesa, e do banho lento que eu tanto gosto. O domingo ficou ainda mais encantador. Ela deve imaginar. Acho.
domingo, setembro 13
quinta-feira, setembro 10
:: Atrás do pensamento
Quando a gente tenta traduzir alguma coisa que está pra além da nossa capacidade, é mais ou menos assim, a gente recorre a quem sabe usar as palavras para traduzir os sentimentos...
Para além da curva da estrada
Alberto Caeiro
Para além da curva da estrada
Talvez haja um poço, e talvez um castelo,
E talvez apenas a continuação da estrada.
Não sei nem pergunto.
Enquanto vou na estrada antes da curva
Só olho para a estrada antes da curva,
Porque não posso ver senão a estrada antes da curva.
De nada me serviria estar olhando para outro lado
E para aquilo que não vejo.
Importemo-nos apenas com o lugar onde estamos.
Há beleza bastante em estar aqui e não noutra parte qualquer.
Se há alguém para além da curva da estrada,
Esses que se preocupem com o que há para além da curva da estrada.
Essa é que é a estrada para eles.
Se nós tivermos que chegar lá, quando lá chegarmos saberemos.
Por ora só sabemos que lá não estamos.
Aqui há só a estrada antes da curva, e antes da curva
Há a estrada sem curva nenhuma.
Quando a gente tenta traduzir alguma coisa que está pra além da nossa capacidade, é mais ou menos assim, a gente recorre a quem sabe usar as palavras para traduzir os sentimentos...
Para além da curva da estrada
Alberto Caeiro
Para além da curva da estrada
Talvez haja um poço, e talvez um castelo,
E talvez apenas a continuação da estrada.
Não sei nem pergunto.
Enquanto vou na estrada antes da curva
Só olho para a estrada antes da curva,
Porque não posso ver senão a estrada antes da curva.
De nada me serviria estar olhando para outro lado
E para aquilo que não vejo.
Importemo-nos apenas com o lugar onde estamos.
Há beleza bastante em estar aqui e não noutra parte qualquer.
Se há alguém para além da curva da estrada,
Esses que se preocupem com o que há para além da curva da estrada.
Essa é que é a estrada para eles.
Se nós tivermos que chegar lá, quando lá chegarmos saberemos.
Por ora só sabemos que lá não estamos.
Aqui há só a estrada antes da curva, e antes da curva
Há a estrada sem curva nenhuma.
quarta-feira, setembro 9
:: Combo
Picadinho, arroz-e-feijão-preto, farofa levemente apimentada, banana em rodelas + Dave Brubeck na trilha sonora (e não fui eu que escolhi) + livro da Billie Holiday e detalhes de sua amizade com Orson Wells. Tudo isso, sozinha, no café dos sonhos. Pra acabar, expresso Orfeu curto - extraído à perfeição e, pra arrematar, cappuccino pequeno, com leite vaporizado brilhante e cremoso.
Picadinho, arroz-e-feijão-preto, farofa levemente apimentada, banana em rodelas + Dave Brubeck na trilha sonora (e não fui eu que escolhi) + livro da Billie Holiday e detalhes de sua amizade com Orson Wells. Tudo isso, sozinha, no café dos sonhos. Pra acabar, expresso Orfeu curto - extraído à perfeição e, pra arrematar, cappuccino pequeno, com leite vaporizado brilhante e cremoso.
terça-feira, setembro 8
:: Pequenas alegrias
Outro dia eu tomei o suco de limão do Rocket's, que faz tanto sucesso. Confirmei. É batido com pedrinhas de gelo e fica mesmo incrível. Entre um gole e outro, brinquei de escolher músicas na pequena jukebox. Ouvi Peggy Lee, Ray Charles e afins enquanto anotava uma coisa ou outra na agenda e organizava algumas notas fiscais.
Outro dia eu tomei o suco de limão do Rocket's, que faz tanto sucesso. Confirmei. É batido com pedrinhas de gelo e fica mesmo incrível. Entre um gole e outro, brinquei de escolher músicas na pequena jukebox. Ouvi Peggy Lee, Ray Charles e afins enquanto anotava uma coisa ou outra na agenda e organizava algumas notas fiscais.
segunda-feira, setembro 7
:: Registros para lembrar
Domingo acabou. E então ouço Billie Holiday para registrar os momentos do dia. Para depois lembrar. É um pouco aflitiva essa coisa das coincidências. Antes do banho, após o dia longo, disse que queria ouvir jazz. E ele veio perguntar "de quem é mesmo esse disco 'Strange Fruit'?". E eu não soube responder. Sou ruim de nomes, ele sabe.
Strange Fruit é um poema sobre uma foto de um negro enforcado, pendurado numa árvore, ele disse. Poucos minutos depois, virei a página do livro, que tenho lido lentamente porque estou envolvida até a ponta dos pés. A autobiografia da Billie Holiday me deixa cada dia mais apaixonada por ela. E então, na página 87, ela conta sobre "Strange Fruit". E eu até me arrepiei toda. Era seu "protesto pessoal" e ela sempre passava mal depois de cantar e ia para o banheiro. "Me afeta tanto que fico enjoada. Tira todas as minhas forças", diz.
***
E enfim, tomei meu banho. Um banho lento e quente, ouvindo seu canto rouco no fundo e repensando nos detalhes do dia. Estou exausta. Queria limpar cada milímetro das mãos, principalmente. Das mãos que ficaram o dia todo mergulhadas no detergente, nas panelas. Das mãos que cansaram de mexer as colheres de pau, de cortar em micropedacinhos o manjericão e salsinha.
***
Tenho mania de guardar cosméticos especiais para dias especiais. E foi mais ou menos assim. Outro dia ela voltou de viagem e me trouxe um delicioso óleo de banho da República Tcheca, feito de... cerveja. E eu gosto tanto dessas coisas que economizo. Até estragar. Foi assim quando ela voltou de NY, há anos, e me trouxe um kit de frescurinhas para os pés. Achei aquilo tão incrível e meus pés ficavam tão macios que economizei loucamente. Até estragar. Pensei que tivesse aprendido depois de economizar minhas canetinhas quando eu era pequena - e elas secaram. Se-ca-ram. Mas não. Por isso que ainda não sei bem se vou ou não usar o tal do óleo de cerveja o quanto devo. Espero ter mais momentos especiais.
***
Hoje levantei pela manhã e nem acreditei. Chuva lá fora - e até o barulhinho da água caindo nas árvores que ficam aqui atrás da janela do meu quarto - e eu levantei sonada, ainda assim. Era dia de almoço na minicasa. Todos os ingredientes estavam orgaizados na geladeria e nos armários. Ontem fomos ao supermercado e à quitanda, para frutas e verduras e temperos à altura dos convidados. Ela vinha por volta das duas, mas, no final, não veio. Ficou com preguiça da chuva. Por isso que uma convidada virou três convidados e tivemos de dobrar as receitas.
E então ele colocou "Temporada de Verão" enquanto eu estava na cozinha. Ele sabe que me acalma e eu estava meio tensa com essa coisa de dobrar as receitas assim, de repente.
***
Depois, brindamos os momentos.
Domingo acabou. E então ouço Billie Holiday para registrar os momentos do dia. Para depois lembrar. É um pouco aflitiva essa coisa das coincidências. Antes do banho, após o dia longo, disse que queria ouvir jazz. E ele veio perguntar "de quem é mesmo esse disco 'Strange Fruit'?". E eu não soube responder. Sou ruim de nomes, ele sabe.
Strange Fruit é um poema sobre uma foto de um negro enforcado, pendurado numa árvore, ele disse. Poucos minutos depois, virei a página do livro, que tenho lido lentamente porque estou envolvida até a ponta dos pés. A autobiografia da Billie Holiday me deixa cada dia mais apaixonada por ela. E então, na página 87, ela conta sobre "Strange Fruit". E eu até me arrepiei toda. Era seu "protesto pessoal" e ela sempre passava mal depois de cantar e ia para o banheiro. "Me afeta tanto que fico enjoada. Tira todas as minhas forças", diz.
***
E enfim, tomei meu banho. Um banho lento e quente, ouvindo seu canto rouco no fundo e repensando nos detalhes do dia. Estou exausta. Queria limpar cada milímetro das mãos, principalmente. Das mãos que ficaram o dia todo mergulhadas no detergente, nas panelas. Das mãos que cansaram de mexer as colheres de pau, de cortar em micropedacinhos o manjericão e salsinha.
***
Tenho mania de guardar cosméticos especiais para dias especiais. E foi mais ou menos assim. Outro dia ela voltou de viagem e me trouxe um delicioso óleo de banho da República Tcheca, feito de... cerveja. E eu gosto tanto dessas coisas que economizo. Até estragar. Foi assim quando ela voltou de NY, há anos, e me trouxe um kit de frescurinhas para os pés. Achei aquilo tão incrível e meus pés ficavam tão macios que economizei loucamente. Até estragar. Pensei que tivesse aprendido depois de economizar minhas canetinhas quando eu era pequena - e elas secaram. Se-ca-ram. Mas não. Por isso que ainda não sei bem se vou ou não usar o tal do óleo de cerveja o quanto devo. Espero ter mais momentos especiais.
***
Hoje levantei pela manhã e nem acreditei. Chuva lá fora - e até o barulhinho da água caindo nas árvores que ficam aqui atrás da janela do meu quarto - e eu levantei sonada, ainda assim. Era dia de almoço na minicasa. Todos os ingredientes estavam orgaizados na geladeria e nos armários. Ontem fomos ao supermercado e à quitanda, para frutas e verduras e temperos à altura dos convidados. Ela vinha por volta das duas, mas, no final, não veio. Ficou com preguiça da chuva. Por isso que uma convidada virou três convidados e tivemos de dobrar as receitas.
E então ele colocou "Temporada de Verão" enquanto eu estava na cozinha. Ele sabe que me acalma e eu estava meio tensa com essa coisa de dobrar as receitas assim, de repente.
***
Depois, brindamos os momentos.
Assinar:
Postagens (Atom)