segunda-feira, setembro 7

:: Registros para lembrar

Domingo acabou. E então ouço Billie Holiday para registrar os momentos do dia. Para depois lembrar. É um pouco aflitiva essa coisa das coincidências. Antes do banho, após o dia longo, disse que queria ouvir jazz. E ele veio perguntar "de quem é mesmo esse disco 'Strange Fruit'?". E eu não soube responder. Sou ruim de nomes, ele sabe.

Strange Fruit é um poema sobre uma foto de um negro enforcado, pendurado numa árvore, ele disse. Poucos minutos depois, virei a página do livro, que tenho lido lentamente porque estou envolvida até a ponta dos pés. A autobiografia da Billie Holiday me deixa cada dia mais apaixonada por ela. E então, na página 87, ela conta sobre "Strange Fruit". E eu até me arrepiei toda. Era seu "protesto pessoal" e ela sempre passava mal depois de cantar e ia para o banheiro. "Me afeta tanto que fico enjoada. Tira todas as minhas forças", diz.

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E enfim, tomei meu banho. Um banho lento e quente, ouvindo seu canto rouco no fundo e repensando nos detalhes do dia. Estou exausta. Queria limpar cada milímetro das mãos, principalmente. Das mãos que ficaram o dia todo mergulhadas no detergente, nas panelas. Das mãos que cansaram de mexer as colheres de pau, de cortar em micropedacinhos o manjericão e salsinha.

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Tenho mania de guardar cosméticos especiais para dias especiais. E foi mais ou menos assim. Outro dia ela voltou de viagem e me trouxe um delicioso óleo de banho da República Tcheca, feito de... cerveja. E eu gosto tanto dessas coisas que economizo. Até estragar. Foi assim quando ela voltou de NY, há anos, e me trouxe um kit de frescurinhas para os pés. Achei aquilo tão incrível e meus pés ficavam tão macios que economizei loucamente. Até estragar. Pensei que tivesse aprendido depois de economizar minhas canetinhas quando eu era pequena - e elas secaram. Se-ca-ram. Mas não. Por isso que ainda não sei bem se vou ou não usar o tal do óleo de cerveja o quanto devo. Espero ter mais momentos especiais.

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Hoje levantei pela manhã e nem acreditei. Chuva lá fora - e até o barulhinho da água caindo nas árvores que ficam aqui atrás da janela do meu quarto - e eu levantei sonada, ainda assim. Era dia de almoço na minicasa. Todos os ingredientes estavam orgaizados na geladeria e nos armários. Ontem fomos ao supermercado e à quitanda, para frutas e verduras e temperos à altura dos convidados. Ela vinha por volta das duas, mas, no final, não veio. Ficou com preguiça da chuva. Por isso que uma convidada virou três convidados e tivemos de dobrar as receitas.

E então ele colocou "Temporada de Verão" enquanto eu estava na cozinha. Ele sabe que me acalma e eu estava meio tensa com essa coisa de dobrar as receitas assim, de repente.

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Depois, brindamos os momentos.

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