terça-feira, setembro 29

:: Caderno de anotações

Não sei se escrevo sobre as partes que mais gostei da autobiografia da Billie Holiday, como as cenas dela pequena, ouvindo Louis Armstrong e Bessie Smith na vitrola no tal do puteiro, ou da saudade que estou de passar horas na livraria, tomando chá de cidreira. Um espresso curto, talvez. Não sei se escrevo sobre as unhas vermelhas no meio da tarde de chuva ou do sol do domingo e dos pequenos encontros. Talvez sobre os últimos restaurantes que visitei ou, quem sabe, os últimos pratos que preparei na Le Creuset vermelha. Na verdade, acho que faltou registro de algumas refeições inesquecíveis. Faltou falar dos gafanhotos caramelizados que Mari Hirata preparou dia desses, faltou falar dos saquês do Kinoshita e suas invenções de fazer não esquecer, faltou falar de um jantar de um tempão atrás que teve escalope de foie gras com sorbet de pêssego e limão-siciliano mais compota de pêssego e gengibre, harmonizado com um vinho de sobremesa que não me lembro o nome. De repente eu devia falar das amizades demorei anos pra construir ou então dos e-mails e mais e-mails que ainda não respondi - e andam enchendo minha caixa de entrada. Tem ainda as cartas de amor e os próximos livros que devo ler quando acabar "Lady Sings the Blues", que ando arrastando as últimas páginas bem lentamente pra não acabar de repente. Tem mesmo essa coisa do apego aos livros, acho. Talvez não devesse chamar de apego, estou aprendendo. Hoje fui na casa dela e até preparamos arroz. Jantamos em bandejas vermelhas e largas no sofá da sala, no meio de um monte de almofadas de todas as estampas que se possa imaginar. E então ela disse pra eu fuçar os livros do lado direito da estante amarela, mas antes peguei Eduardo Galeano pra folhear. "O Livro dos Abraços" é leitura básica de cabeceira. Decidi, pouco depois, que mais dia menos dia devo passar na Livraria da Vila sozinha pra comprar "A Invenção de Morel", do argentino Adolfo Bioy Casares. Antes, vou ler mais Billie Holiday para dormir com as histórias do jazz.

Um comentário:

Mari disse...

a invenção de morel é bom. o livro dos abraços é muito bom. agora, gafanhoto caramelizado é de matar de horrível! argh!