:: O gelinho dos olhos
Muito trabalho aqui em volta. Agenda aberta sobre a mesa, com anotações por todos os lados. Alguns post its até. Os e-mails espalhados na tela do computador. Uma garrafa d’água que eu insisto em encher esvaziar encher esvaziar. E ela me mandou Julie Delpy cantando baixinho “A Walts for a Night” - e, ela sabe, essas coisas são proibidas em dias de chuva. Antes, me fez cantar um pedacinho no táxi, e, tá, eu cantarolei. Talvez a gente chorasse. Pelos mesmos motivos e por outros tantos. No fundo, acho que a gente gosta de chorar.
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Quando eu era pequena, vez ou outra eu pulava na cama da minha mãe com a minha irmã e tínhamos todos os tipos de conversa. Um dia ficamos sentadas ali por horas, de perninhas cruzadas como os índios. E então mamãe perguntou de onde será que vinha o choro da gente. No meio das ideias mais férteis, descobrimos: o choro vem de um gelinho que fica dentro da gente, lá no coração, que derrete quando a gente fica triste e sai pelos olhos.
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Depois de anos, digo que “estou criando casca e me desapegando das coisas”. Ela mexe a cabeça e faz que entende mas ainda é a eterna apaixonada pelas coisas. Finjo que discordo, mas ela devia imaginar... essa é uma das coisas que mais admiro nela. A paixão pelas coisas.
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Muito trabalho aqui em volta, mas ando meio desconcentrada, confesso. A gente podia passar o dia falando sobre receitas de ovos ou combinando os detalhes de uma viagem pro sítio para visitar a plantação de café e preparar salada com as verduras fresquinhas e brilhantes da horta. Acho que ainda não contei, mas lá tem latinhas de azeite enfeitando a parede de tijolinhos e acho que ela vai gostar.
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Ainda não sei bem. A agenda aberta, os e-mails não-lidos, os textos por fazer. E eu aqui, rabiscando essas palavras pra dizer que não sei bem como vai ser. Talvez ela lembre: eu não gosto muito de sentir saudades.
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