:: Pequenas alegrias
Amo ele da ponta dos fios de cabelo até a sola dos pés. Hoje fiz uma voz de choro para que desse um jeito de almoçar comigo. E deu. Nos encontramos na hora marcada, sem atrasos. E ganhei ímã de geladeira que ele trouxe de Berlim, de minisushis. Ele sabe, sou louca por comida e por miniaturas e então ele juntou tudo numa coisa só. Mais tarde veio puxar assunto e eu lutando contra um texto. Um texto que escrevi, me apaixonei e precisava cortar infinito. Coisa de fazer doer. Me perguntou,c omo quem não quer nada, se eu tinha o disco do Snoopy. Do Snoopy mesmo, o cachorrinho-fofo-das-nossas-infâncias. "The Vince Guaraldi Trio", disse. "É tão sua cara". E então me mandou uma música por e-mail. E eu parei tudo para ouvir. Ouvimos juntos. E a gente se entendeu tão bem na nossa vontade de chorar. "Acho que estou sensível. Me deu vontade de chorar", falei. Foi igual pra ele. Uma vontade de chorar. E então a gente riu. A gente sempre ri alto. Eu daqui, ele de lá. Depois me contou que lembrou da vovó Zoraide, a vovozinha querida dele, que morreu há 11 anos. Ai. E eu no play pela terceira vez, numa tacada só. E aquele choro na garganta de uma coisa que misturava cansaço com tristeza e uma coisa que chama emoção que não sei bem o que é. Nunca soube. Fiquei quieta. E ele disse que geralmente quando ouve "uma música muito linda, penso em você". Por isso eu vim aqui. Por isso.
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