segunda-feira, agosto 4

:: Das amizades antigas

Sabe que tem um amigo meu, de infância, que falava comigo na "língua do o", quando a gente era pequeno, e morria de rir de tudo - e às vezes eu ficava até em crise porque queria "conversar sério", aquela coisa de adolescentinha - um dia me convidou junto com uma amiga minha para um jantar na casa dos pais dele, quando ele ainda morava ali. E aí nos recebeu ao som de jazz, ainda pequenos (com uns 18, 19 anos?), com taça de espumante, enquanto preparava um delicioso salmão ao forno, com aspargos e cuscuz, um delírio. À mesa, ele discorria sobre a geração beatnik e coisas do gênero.

Desde então, saímos para jantar apenas duas vezes: uma delas, quando nos encontramos na rua sem querer e fomos ali na Estação Pizza-Bar, lugarzinho meio hippie que não tem nada a ver com a gente. Outro, fomos ao La Tartine, com a mesma amiga do primeiro jantar. E foi tudo uma delícia, sobretudo nos momentos em que ele se comunicava com o garçom e dizia: uma taça de vinho tal e uma água, "em copo alto, por favor, com gelo". Depois, eu me lembro, discutimos muito sobre o hábito horroroso de ter copos de requeijão em casa, e a nossa amiga achou a gente uó - tipo arrogante.

Nunca mais marcamos de nos ver. Mas continuamos comendo muito bem e nos encontrando eventualmente. Outro dia, ele virou artista e saiu na capa do Caderno 2. Eu liguei pra fazer festa - eu sempre aproveito as oportunidades para fazer festinha. Logo depois, ele saiu no Mais! e me ligou pra perguntar se era coisa minha (e não era). E então, outro dia nos encontramos no Bar do Betinho, numa tarde ensolarada, para uma incrível feijoada, cada um na sua mesa. Lá, deixamos um jantar pré-combinado, pois agora ele se mudou e tem casa própria. Ainda assim, a coisa nunca vingou.

E hoje recebo e-mail dele convidando pra abertura de uma exposição, no Sesc Pinheiros, um luxo! E eu respondi orgulhosa e perguntei de novo do nosso jantar. E ele:

"Vamos combinar?
Ultimamente eu tenho jantado qualquer coisa que lembra um sanduíche em cima do computador...Me lembra um certo filme do Kubrick...
'Trabalho sem diversão faz de um gourmet um glutão'...
Aquele em que o personagem principal mata a família toda quando fica meio entediado... pois é. Tô assim!
Beijo!"

E eu amei, e vim aqui escrever, antes da pizza que vou comer no jornal com marie e neide, porque hoje a coisa vai longe.


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