quarta-feira, julho 21

:: As imagens que moram na cabeça dele

Ele disse que tem imagens que moram em sua cabeça. As coisas que viram pó. As coisas duplas, paralelas. As casas que lembram barcos ou os barcos em formas de casas. Um navio tranquilamente navegando pelo céu. A gente vendo só o casco indo embora, ele diz. Depois, muito aos poucos, sem me deixar perceber, me fez falar de coisas que gosto de ficar pensando. Falei daquela rede da casa antiga da praia, ali no deque, perto das plantas. A rede de ler e balançar e cochilar e namorar e contar histórias e estrelas.

- Mas não existe mais, depois da reforma.

- Por que não tem mais?

- Não tem mais o deque que corta a casa. A família cresceu, a casa cresceu.

- Mas rede não precisa só de gancho?

- Mas ão adianta. Eram ganchos presos em paredes. Paredes que nao existem mais....

- Não tem outras paredes?

- Agora são paredes distantes. Agora temos espaço amplo e não entrecortado por redes ou paredes.

- Mas rede não precisa ficar em paredes paralelas. Já vi paredes perpendiculares.

- Mas agora os cantos todos são tomados por janelas...

- Ah, janelas são importantes também.

- São janelas enormes. Para entrar bastante sol. E levar toda a tristeza, se houver. Quando houver.

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