:: Comidinhas da alma
Ando lendo muito sobre a comida e as relações sociais. Registros históricos, principalmente. Outro dia dei uma geral em "A Fisiologia do Gosto", de Brillat-Savarin. Grifei, grifei, como sempre acontece. Mas anotei um trecho, em particular, no caderno de notas. Assim:
"A gastronomia, enfim, quando partilhada, exerce a mais nítida influência sobre a felicidade que se pode encontrar na união conjugal."
Depois li um bocado sobre a "invenção" do fogo e como ele é determinante nas relações. Como Fernández-Armesto diz, o fogo não tem importância somente por transformar os alimentos e sim por estabelecer a primeira forma de organização da sociedade. Era em torno das fogueiras, nos campos, que as pessoas se reuniam para comer. Eram momentos de comunhão.
Hoje foi mais ou menos assim. Era um dia normal de trabalho. Mas resolvi adiantar as coisas pela manhã e comprometer um tanto o meu fim de dia para abrir espaço para um almoço com as mulheres da família. Eu, minha irmã e minha mãe. Enquanto eu estava a ler e escrever, elas estavam na cozinha, fazendo pouco barulho e preparando algo muito perfumado.
No forno colocaram postas de robalo, com raspas de gengibre e tomilho, embaladas em papel-alumínio. A abóbora bem laranjinha foi cortada em cubinhos, regada com um bom azeite espanhol, farelos de queijo roquefort, tomilho e nozes. Também ao forno. Lili ainda fez algo que gosto muito: um cuscuz marroquino, mas sem frutas secas e afins. Só os grãos. Leves e delicados.
Depois, um café Nespresso curto, de uma edição limitada que gosto muito, com bolo de fubá de receita da Carla Pernambuco. Quem quis também provou um bolo fofo e molhadinho de maçã e nozes com chá. E então, ao trabalho. Sem choro, nem vela.
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