terça-feira, setembro 21

:: Afinidades

Ele tem uma coisa comigo que pouca gente tem. Podemos passar meses, até anos, sem nos ver. Quando nos vemos é a mesma intimidade. Demora apenas minutos para qualquer conversa se desdobrar, como se fosse antigamente. Mais: o silêncio, quando aparece, nunca nos soa constrangedor.

Depois que nos vimos naquele fim de tarde, até o começo da madrugada, ao som que metade ele colocava, metade eu, foram pequenas lembranças misturadas com as dores do presente e as pequenas alegrias da vida. Sempre igual, ao som de Caetano, Dave Brubeck e coisas novas que eu mostrei para ele e ele mostrou pra mim. Com o arrepio de sempre diante das músicas novas.

Me contou que foi tocar no Timor Leste, que tem um gato e um cachorro numa casa na Lapa. Me contou do disco que foi gravar na Bahia e dos jingles que precisa produzir para fazer algum dinheiro. Me contou calmamente como foi que o amor aconteceu, nos pequenos detalhes, e que, no duro, isso e aquilo são coisas que não importam.

Ele lembrou das fitas K7 que trocamos na pré-adolescência e adolescência inteiras. E, quando começou a tocar Bowie, eu senti uma coisa no coração e então ele lembrou daquela fita que me gravou e mandou um amigo me levar na praia. "Mando eu enquanto fita", chamava. Como posso esquecer?

Comaçava com "Colégio Aplicação", dos Novos Baianos. Tinha também "Baioque", com a Bethânia, "Mano Caetano", com Bethânia e Jorge Ben. Tinha "Água de Meninos", com o Gil e "Derramando o Gai", com MPB 4. Mas aí, de repente, tinha David Bowie e eu fiquei horrorizada. David Bowie? Depois a gente cresce e as coisas ficam diferentes. Mas certas coisas, nunca mudam. Assim, como essa coisa que existe entre nós.

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