sexta-feira, outubro 3

:: O banquete

Eu espalhei flores pela casa. Tem uma orquídea enorme, logo ali no chão, que ganhei de uma amiga. Uma orquídea amarela, micra e meiga, em cima da bancada branca, que ganhei de oura. No banheiro, rosinhas mini e brancas. Sobre a mesa, um arranjo lindo num vaso que ganhei pouco antes de mudar. Coloquei um disco de jazz para tentar me acalmar. Cozinhar agita.

Quando sentamos à mesa, abri minha cava rosé, Don Ramón, de uma bodega lá da Espanha, feita com uvas trepat. Ela respirou fundo e deixou escapar uma lágrima, na maior discrição. Acho que tinha uma mistura do orgulho das filhas, mas também sinto que foi uma forma de liberar o mínimo da tristeza de não nos ter mais em casa.

Brindamos. Sempre temos o que brindar. Levantamos as taças de cristal, que ela mesma me deu faz alguns dias. Logo depois da entrada, coisa simples, saladinha verde com tomatinho-cereja no sal grosso, eu e Li levantamos para servir o prato principal, que custou a ficar pronto e era absoluta surpresa. Não deixamos nem o cheiro do peixe se espalhar pela casa, por isso as flores perfumadas na sala.

Gostei mais da parte em que perguntaram, interessados, como era a receita. Eu descrevi todas as etapas com charme e detalhes. Contando do açúcar mascavo caramelizado na manteiga, da pimenta-branca ralada na hora, do fio de azeite...

Um toque artesanal parece ter impressionado, na hora da sobremesa, e dado mais força ao jantar. Bati as claras em neve do suflê de goiabada na mão. Detalhe besta esse de ainda não ter uma batedeira, né? Quem ia pensar?

Enfim, o suflê cresceu e ficou brilhoso. Ele, que estava de regime, não ia nem provar, mas acabou comendo metade do ramekin, que, atenção, fui comprar ontem de manhã, especialmente para o jantar.

Mais desapegada às bebidas, que insisto em economizar, servi um Nocello para finalizar, em tacinhas de licor (de cristal) que ganhei de Natal do meu pai.

Boa noite, beijos e abraços apertados. Me enfiei na cozinha para começar a arrumação neurótica. Cama, só na alta madrugada. E os mais doces sonhos.

2 comentários:

gisela disse...

todos os sentidos estimulados... e eu, só de ler, me senti na sala de jantar! que luxo de presente, lu.

Mariana Tassinari disse...

e eu qeuro saber mais. que sonhode jantar em familia...!