:: Repeat
O disco da Karina Buhr é algo pra ouvir sem parar. S-e-m p-a-r-a-r. Incrível do começo ao fim.
sábado, janeiro 30
sexta-feira, janeiro 29
quinta-feira, janeiro 28
:: Caldo restaurador
A vida tem sido assim. Café com leite pela manhã. Jeneci, Letuce, Karina Buhr. Um pouquinho de cada, quando dá tempo. Antes de dormir, uma página ou outra de Somerset Maugham. Até o olho pesar. E uma vontade louca de estudar. Ler sentada na mesa, com lápis para grifar e caderno para anotar. Do lado, uma Coca light nos dias de semana, um uísque nos fins de semana - quem sabe?
No tempo livre, um pensamento ou dois sobre como será que vai ficar a prateleira que quero fazer ali na cozinha para colocar as minipanelas coloridas e desocupar um pouco aquela gavetona abarrotada de cacarecos de cozinha. Um tempo também para imaginar o desenho da zebra que quero fazer ainda não sei bem onde e outro tanto de tempo para ir à livraria.
Hoje até acordei mais cedo. Bem mais cedo que o normal. E então fiz o ritual da manhã, café-com-leite-jeneci-letuce-buhr, depois um pouco de exercício e... livraria. E ali gastei tudo que eu podia e o que eu não podia. Tenho a impressão de ter mesmo aprendido o que mamãe me ensinou na adolescência: dinheiro com livros é sempre bem gasto. Porque teve um dia que comprei um livro e paguei caro e fiquei culpada porque não passei do primeiro capítulo. Enfim...
Enfim tenho a Larousse Gastronomique numa lindíssima edição de 2009. É como se fosse um marco, não sei bem explicar. Desde os 19, 20 anos que namoro uma dessas, desde os tempos do escritório do JM, que tinha uma biblioteca de fazer inveja. Aí passava um ano, outro e mais outro e nada de conseguir gastar aquele monte de dinheiro na Larousse. Mas dessa vez foi - e eu já imaginava como ia ficar feliz com isso.
Na sacolinha coloquei também o livro do açúcar, do Gilberto Freyre, que é básico, eu já li emprestado um monte de trechos, mas não tinha um próprio para ler de uma vez e grifar. Ui. Lá no canto da antropologia encontrei “A Invenção do Restaurante”, da Rebecca L. Spang, e toda aquela história do restaurant, quando não era um lugar, era algo para comer, um caldo restaurador. Preciso de um desse. E de sossego. Comofaz?
A vida tem sido assim. Café com leite pela manhã. Jeneci, Letuce, Karina Buhr. Um pouquinho de cada, quando dá tempo. Antes de dormir, uma página ou outra de Somerset Maugham. Até o olho pesar. E uma vontade louca de estudar. Ler sentada na mesa, com lápis para grifar e caderno para anotar. Do lado, uma Coca light nos dias de semana, um uísque nos fins de semana - quem sabe?
No tempo livre, um pensamento ou dois sobre como será que vai ficar a prateleira que quero fazer ali na cozinha para colocar as minipanelas coloridas e desocupar um pouco aquela gavetona abarrotada de cacarecos de cozinha. Um tempo também para imaginar o desenho da zebra que quero fazer ainda não sei bem onde e outro tanto de tempo para ir à livraria.
Hoje até acordei mais cedo. Bem mais cedo que o normal. E então fiz o ritual da manhã, café-com-leite-jeneci-letuce-buhr, depois um pouco de exercício e... livraria. E ali gastei tudo que eu podia e o que eu não podia. Tenho a impressão de ter mesmo aprendido o que mamãe me ensinou na adolescência: dinheiro com livros é sempre bem gasto. Porque teve um dia que comprei um livro e paguei caro e fiquei culpada porque não passei do primeiro capítulo. Enfim...
Enfim tenho a Larousse Gastronomique numa lindíssima edição de 2009. É como se fosse um marco, não sei bem explicar. Desde os 19, 20 anos que namoro uma dessas, desde os tempos do escritório do JM, que tinha uma biblioteca de fazer inveja. Aí passava um ano, outro e mais outro e nada de conseguir gastar aquele monte de dinheiro na Larousse. Mas dessa vez foi - e eu já imaginava como ia ficar feliz com isso.
Na sacolinha coloquei também o livro do açúcar, do Gilberto Freyre, que é básico, eu já li emprestado um monte de trechos, mas não tinha um próprio para ler de uma vez e grifar. Ui. Lá no canto da antropologia encontrei “A Invenção do Restaurante”, da Rebecca L. Spang, e toda aquela história do restaurant, quando não era um lugar, era algo para comer, um caldo restaurador. Preciso de um desse. E de sossego. Comofaz?
quarta-feira, janeiro 27
:: Repeat
Ele me apresentou Letuce e eu não consigo fazer outra coisa senão ouvir e ouvir de novo e de novo e de novo.
Ele me apresentou Letuce e eu não consigo fazer outra coisa senão ouvir e ouvir de novo e de novo e de novo.
terça-feira, janeiro 26
:: Nova ortografia
Um pergunta pro outro que pergunta pro outro que pergunta pro outro. Aqui tem sempre disso. Hoje a corrente foi: diarreia perdeu o acento? Todo mundo sabia, mas todo mundo passou a pergunta pra frente. Um exercício lúdico, como se fôssemos uma turminha de adolescentes carentes por alguma coisa mais engraçada no dia a dia.
Um pergunta pro outro que pergunta pro outro que pergunta pro outro. Aqui tem sempre disso. Hoje a corrente foi: diarreia perdeu o acento? Todo mundo sabia, mas todo mundo passou a pergunta pra frente. Um exercício lúdico, como se fôssemos uma turminha de adolescentes carentes por alguma coisa mais engraçada no dia a dia.
segunda-feira, janeiro 25
:: Afinidades
Se tem uma pessoa que entende profundamente a minha obsessão pela Nina Simone esse alguém é a minha querida e amada BZ.
Olha isso!
Se tem uma pessoa que entende profundamente a minha obsessão pela Nina Simone esse alguém é a minha querida e amada BZ.
Olha isso!
quinta-feira, janeiro 21
:: Pensamentos musicais
O Carlinhos Brown estragou tudo. Inventou de cantar "Sem Você", que compôs com o Arnaldo Antunes, e, no passado, fez colar na minha cabeça. Agora, sempre ouço a incrível versão da música com Arto Lindsay, Arnaldo Antunes e Davi Moraes, ele surge na memória e acaba com o clima. Céus!
O Carlinhos Brown estragou tudo. Inventou de cantar "Sem Você", que compôs com o Arnaldo Antunes, e, no passado, fez colar na minha cabeça. Agora, sempre ouço a incrível versão da música com Arto Lindsay, Arnaldo Antunes e Davi Moraes, ele surge na memória e acaba com o clima. Céus!
:: Todo dia ele faz tudo sempre igual
Não é monótono. Ele tem uma mania que me deixa sempre mais encantada. Lê receitas na internet sem parar e vai falando o que aprende em voz alta. Já já, quando tiver uma cozinha grande só pra ele, vai fazer dali uma espécie de laboratório de quitutes do dia a dia, como ele gosta. Simples e caseiro. Altos investimentos só para as facas. Assim, assado. E, ele não confessa, mas já deu pra perceber que está louco por uma Le Creuset igualzinha à minha.
Não é monótono. Ele tem uma mania que me deixa sempre mais encantada. Lê receitas na internet sem parar e vai falando o que aprende em voz alta. Já já, quando tiver uma cozinha grande só pra ele, vai fazer dali uma espécie de laboratório de quitutes do dia a dia, como ele gosta. Simples e caseiro. Altos investimentos só para as facas. Assim, assado. E, ele não confessa, mas já deu pra perceber que está louco por uma Le Creuset igualzinha à minha.
:: Das coisas que emocionam
Quando eu era pequena, dizia e repetia: não choro de emoção, choro de tristeza. Nem sei o que é isso de chorar de emoção. E sempre fui uma bela de uma chorona. Depois cresci um pouco e segui repetindo a mesma coisa. Até que um dia, um tiquinho mais velha, chorei ininterruptamente num show do Caetano. Saí de lá repetindo o mesmo. Dizia que era tristeza, que me fazia lembrar um aconchego do passado, uma alegria sem compromissos, um antigo amor.
Pouco depois, deixei escapar uma lágrima no canto esquerdo do olho direito quando chegou carta de um ex-namorado da adolescência, que estava há dias viajando bem longe. Aquele envelope debaixo da porta, as letras malfeitas, corridas pela página de pauta, contando as maravilhas das cidades italianas e falando sobre a saudade. Nunca gostei de sentir saudade. Por isso dizia e repetia. Choro de tristeza.
Bem mais velha, vi Joshua Redman e seu sax e seu sorriso e seu carisma no palco, bem pertinho de mim, lá na cidade que mais gosto, e chorei. Parecia quase dor. Mas não. Devia ser alguma coisa parecida com emoção. Tentei aceitar. Mas não. Não completamente.
E então veio o show do ano passado, com Zé Miguel Wisnik, Nestrovski, Luiz Tatit, Celso Sim e... Marcelo Jeneci. E então acho que entendi. Entendi que talvez eu tivesse crescido mesmo. E que se chora de emoção. Vez ou outra acontece. Foi até exagerado, aquela coisa do soluço e tal, da vergonha do barulho, do rosto amassado com força no casaco. Foi uma coisa que mexeu com energia do corpo, com as ideias da cabeça, com as lembranças e com as esperanças. Quando começaram a cantar "Feito para Acabar" deu pontada no coração, misturada com uma espécie de dor que não sei bem explicar. Eu sabia. Era a música que eu mais ouviria dali pra frente. E que eu ia ouvir pra chorar no travesseiro ou acordar num domingo de sol.
Ontem foi assim. No show do Marcelo Jeneci, no Sesc, senti um monte de coisa misturada. Os instrumentos, as letras, a doce voz de Laura, o pequeno palco, o clima de aconhego e de emoção. Verdade. Depois comemorei a notícia que ele nos deu, que vai gravar o disco em fevereiro. Já pensou?
Quando eu era pequena, dizia e repetia: não choro de emoção, choro de tristeza. Nem sei o que é isso de chorar de emoção. E sempre fui uma bela de uma chorona. Depois cresci um pouco e segui repetindo a mesma coisa. Até que um dia, um tiquinho mais velha, chorei ininterruptamente num show do Caetano. Saí de lá repetindo o mesmo. Dizia que era tristeza, que me fazia lembrar um aconchego do passado, uma alegria sem compromissos, um antigo amor.
Pouco depois, deixei escapar uma lágrima no canto esquerdo do olho direito quando chegou carta de um ex-namorado da adolescência, que estava há dias viajando bem longe. Aquele envelope debaixo da porta, as letras malfeitas, corridas pela página de pauta, contando as maravilhas das cidades italianas e falando sobre a saudade. Nunca gostei de sentir saudade. Por isso dizia e repetia. Choro de tristeza.
Bem mais velha, vi Joshua Redman e seu sax e seu sorriso e seu carisma no palco, bem pertinho de mim, lá na cidade que mais gosto, e chorei. Parecia quase dor. Mas não. Devia ser alguma coisa parecida com emoção. Tentei aceitar. Mas não. Não completamente.
E então veio o show do ano passado, com Zé Miguel Wisnik, Nestrovski, Luiz Tatit, Celso Sim e... Marcelo Jeneci. E então acho que entendi. Entendi que talvez eu tivesse crescido mesmo. E que se chora de emoção. Vez ou outra acontece. Foi até exagerado, aquela coisa do soluço e tal, da vergonha do barulho, do rosto amassado com força no casaco. Foi uma coisa que mexeu com energia do corpo, com as ideias da cabeça, com as lembranças e com as esperanças. Quando começaram a cantar "Feito para Acabar" deu pontada no coração, misturada com uma espécie de dor que não sei bem explicar. Eu sabia. Era a música que eu mais ouviria dali pra frente. E que eu ia ouvir pra chorar no travesseiro ou acordar num domingo de sol.
Ontem foi assim. No show do Marcelo Jeneci, no Sesc, senti um monte de coisa misturada. Os instrumentos, as letras, a doce voz de Laura, o pequeno palco, o clima de aconhego e de emoção. Verdade. Depois comemorei a notícia que ele nos deu, que vai gravar o disco em fevereiro. Já pensou?
segunda-feira, janeiro 18
:: Almoço-família
Mamãe voltou de viagem, como contei, e resolvemos preparar um almocinho simples, mas especial. Billie Holiday e Nina Simone ao fundo. Saladinha para começar, com o básico. Risoto de limão-siciliano e peixinho no forno com gengibre. Na sobremesa, um cheesecake que ela sempre faz e cada dia está melhor, com mirtilos frescos para decorar.
Mamãe voltou de viagem, como contei, e resolvemos preparar um almocinho simples, mas especial. Billie Holiday e Nina Simone ao fundo. Saladinha para começar, com o básico. Risoto de limão-siciliano e peixinho no forno com gengibre. Na sobremesa, um cheesecake que ela sempre faz e cada dia está melhor, com mirtilos frescos para decorar.
domingo, janeiro 17
:: Criado-mudo
2010 começou com "A Fera na Selva", de Henry James. Aquela linda edição da Cosac Naify que dá até um pouquinho de receio de mexer e levar de lá pra cá na bolsa. Agora estou lendo "O Fio da Navalha", de um dos escritores que mais gosto, Somerset Maugham. Tem uma parte mais ou menos assim:
- Há poucas coisas no mundo tão agradáveis com um almoço de piquenique, saboreado com todo conforto.
(...)
- Que é que você pretende dar-lhes para o almoço?
- Ovos cozidos e sanduíches de galinha.
- Absurdo. Ninguém pode fazer uma piquenique sem patê de foie gras. Eles precisam levar, em primeiro lugar, camarões com caril; peito de galinha em gelatina, com uma salada de alfaces tenras, que eu mesmo preparei; e depois do patê, se você quiser, como concessão ao hábito nacional, uma torta de maçã.
- Eles levarão ovos cozidos e sanduíche de galinha, Elliot.
- Pois bem, tome nota do que digo, vai ser um fracasso e a culpa será sua.
2010 começou com "A Fera na Selva", de Henry James. Aquela linda edição da Cosac Naify que dá até um pouquinho de receio de mexer e levar de lá pra cá na bolsa. Agora estou lendo "O Fio da Navalha", de um dos escritores que mais gosto, Somerset Maugham. Tem uma parte mais ou menos assim:
- Há poucas coisas no mundo tão agradáveis com um almoço de piquenique, saboreado com todo conforto.
(...)
- Que é que você pretende dar-lhes para o almoço?
- Ovos cozidos e sanduíches de galinha.
- Absurdo. Ninguém pode fazer uma piquenique sem patê de foie gras. Eles precisam levar, em primeiro lugar, camarões com caril; peito de galinha em gelatina, com uma salada de alfaces tenras, que eu mesmo preparei; e depois do patê, se você quiser, como concessão ao hábito nacional, uma torta de maçã.
- Eles levarão ovos cozidos e sanduíche de galinha, Elliot.
- Pois bem, tome nota do que digo, vai ser um fracasso e a culpa será sua.
:: Pequenas alegrias
Ele preparou uma sequência Jorge Ben/Gil Scott-Heron para o sábado à tarde e me mandou a playlist. Eba eba!
1. Engenho de Dentro
2. It's Your World
3. O Homem da Gravata Florida
4. We Almost Lost Detroit
5. Cavaleiro do Cavalo Imaculado
6. Lady Day and John Coltrane
7. Ive Brussel
8. A Sign of the Times
9.... Ponta de Lança Africano (Umbabarauma)
10. The Revolution Will Not Be Televised
11. Balança Pema
12. Who'll Pay Reparations on My Soul
13. Costa do Marfim
14. Home is Where the Hatred Is
Ele preparou uma sequência Jorge Ben/Gil Scott-Heron para o sábado à tarde e me mandou a playlist. Eba eba!
1. Engenho de Dentro
2. It's Your World
3. O Homem da Gravata Florida
4. We Almost Lost Detroit
5. Cavaleiro do Cavalo Imaculado
6. Lady Day and John Coltrane
7. Ive Brussel
8. A Sign of the Times
9.... Ponta de Lança Africano (Umbabarauma)
10. The Revolution Will Not Be Televised
11. Balança Pema
12. Who'll Pay Reparations on My Soul
13. Costa do Marfim
14. Home is Where the Hatred Is
sexta-feira, janeiro 15
:: Pequenas alegrias
Outro dia ele chegou sorridente para contar do fim de semana. O ex-namorado tinha ligado no domingo ensolarado pela manhã. Vamos na feira?
Foi assim por meses, anos. Aos domingos de sol, pela manhã, eles iam juntos na feira ali da vizinhança. Voltavam com peixe fresco, verduras brilhantes e frutas adocicadas e passavam o resto do dia cozinhando, um para o outro.
Depois se separaram. Mas, dia desses, diz que foram de novo à feira. De mãos dadas.
Outro dia ele chegou sorridente para contar do fim de semana. O ex-namorado tinha ligado no domingo ensolarado pela manhã. Vamos na feira?
Foi assim por meses, anos. Aos domingos de sol, pela manhã, eles iam juntos na feira ali da vizinhança. Voltavam com peixe fresco, verduras brilhantes e frutas adocicadas e passavam o resto do dia cozinhando, um para o outro.
Depois se separaram. Mas, dia desses, diz que foram de novo à feira. De mãos dadas.
segunda-feira, janeiro 11
:: Sobre saúde e família
Ela me trouxe flores bem pequenininhas ontem, num vasinho próprio para deixar na varanda, ao lado do pé de café. São florzinhas roxas, num tom quase lilás. Junto, um cartão que ela mesma escreveu dizendo que torcia para que eu melhorasse. Ele assinava ao lado. Depois fez carinho na minha nuca, bem de leve para eu não reclamar, e buscou um copo d'água gelada, que era a única coisa que conseguia pensar em ingerir.
Papai não me trouxe flores, mas segurou a minha mão de um jeito que a dor quase passou. Depois voltou. Disse que quando eu ficar boa vai fazer uma massinha que vou adorar. A parte de cima dos aspargos você faz no vapor. Compramos aquela panelinha de vapor, disse. A parte de baixo deixei no fogo com creme de leite fresco e depois bati no liquidificador. Melhor: depois ele prepara camarões graúdos, dourados, e serve com a massa. Já pensou?
Vou ter de esperar uma ou duas semanas. Talvez menos. Então, até lá, inventou outra coisa para me distrair e trazer uma certa alegria. Cortou dois cachos de banana que trouxe lá do Bonete, que ele mesmo pegou no meio do mato, como costuma fazer nas temporadas de verão. Sobre a mesa do quintal, que fica embaixo de um teto de vidro e cercada de vasos com rosinhas de todas as cores, ele colocou aquele monte de cachos de banana verde que trouxe da praia. Para mim, pediu para que ela tirasse as mais amareladas, para que eu não tenha de esperar muito para amadurecer.
Agora coloquei na minha fruteira vermelha, no centro da mesa, com o pouco de energia que me resta. Enquanto espero, vou tomar mais um copo d'água gelada e respirar bem profundamente, como disse que tenho de fazer. Depois, aposta que estarei melhor e que vou conseguir rabiscar uma coisa ou outra da matéria da semana.
Ela me trouxe flores bem pequenininhas ontem, num vasinho próprio para deixar na varanda, ao lado do pé de café. São florzinhas roxas, num tom quase lilás. Junto, um cartão que ela mesma escreveu dizendo que torcia para que eu melhorasse. Ele assinava ao lado. Depois fez carinho na minha nuca, bem de leve para eu não reclamar, e buscou um copo d'água gelada, que era a única coisa que conseguia pensar em ingerir.
Papai não me trouxe flores, mas segurou a minha mão de um jeito que a dor quase passou. Depois voltou. Disse que quando eu ficar boa vai fazer uma massinha que vou adorar. A parte de cima dos aspargos você faz no vapor. Compramos aquela panelinha de vapor, disse. A parte de baixo deixei no fogo com creme de leite fresco e depois bati no liquidificador. Melhor: depois ele prepara camarões graúdos, dourados, e serve com a massa. Já pensou?
Vou ter de esperar uma ou duas semanas. Talvez menos. Então, até lá, inventou outra coisa para me distrair e trazer uma certa alegria. Cortou dois cachos de banana que trouxe lá do Bonete, que ele mesmo pegou no meio do mato, como costuma fazer nas temporadas de verão. Sobre a mesa do quintal, que fica embaixo de um teto de vidro e cercada de vasos com rosinhas de todas as cores, ele colocou aquele monte de cachos de banana verde que trouxe da praia. Para mim, pediu para que ela tirasse as mais amareladas, para que eu não tenha de esperar muito para amadurecer.
Agora coloquei na minha fruteira vermelha, no centro da mesa, com o pouco de energia que me resta. Enquanto espero, vou tomar mais um copo d'água gelada e respirar bem profundamente, como disse que tenho de fazer. Depois, aposta que estarei melhor e que vou conseguir rabiscar uma coisa ou outra da matéria da semana.
sexta-feira, janeiro 8
quarta-feira, janeiro 6
:: Os ovos
Hoje ela chegou pela manhã e caminhou em minha direção, bem de mansinho, porque ando meio brava em dia de fechamento. E então deixou sobre a mesa uns papéis xerocados. Vira e mexe ela aparece com presentes inesperados, como a tarte tatin que fez no fim de semana ou as frutas vermelhas desconhecidas que comprou na Alemanha. Hoje, era um capítulo de "Como Cozinhar um Lobo" (1942), de M. F. K. Fisher. Justo o capítulo sobre ovos. Acho que ela não sabe quase nada sobre a minha família. Costuma acatar algumas dicas de texto que dou vez ou outra. Já percebeu o quanto sou brava quando estou ocupada e o quanto odeio grosserias em geral - ou quando um garçom demora para servir meu pedido. Mas, engraçado, ela sabe o quanto gosto de ovos. Sabe de pequenos detalhes e inventa de transformá-los em pequenas alegrias.
Hoje ela chegou pela manhã e caminhou em minha direção, bem de mansinho, porque ando meio brava em dia de fechamento. E então deixou sobre a mesa uns papéis xerocados. Vira e mexe ela aparece com presentes inesperados, como a tarte tatin que fez no fim de semana ou as frutas vermelhas desconhecidas que comprou na Alemanha. Hoje, era um capítulo de "Como Cozinhar um Lobo" (1942), de M. F. K. Fisher. Justo o capítulo sobre ovos. Acho que ela não sabe quase nada sobre a minha família. Costuma acatar algumas dicas de texto que dou vez ou outra. Já percebeu o quanto sou brava quando estou ocupada e o quanto odeio grosserias em geral - ou quando um garçom demora para servir meu pedido. Mas, engraçado, ela sabe o quanto gosto de ovos. Sabe de pequenos detalhes e inventa de transformá-los em pequenas alegrias.
terça-feira, janeiro 5
:: Falta
Voltei do almoço numa chuvinha fina e, antes de voltar definitivamente ao batente, senti uma falta enorme de quando ela sentava bem na minha frente. Naquela época em que era mais fácil transformar os momentos de tédio. Ela me mandava musiquinhas novas do myspace e eu fazia piadinhas inúteis. Mas ela ria. A gente até cantava em voz alta vez ou outra.
Voltei do almoço numa chuvinha fina e, antes de voltar definitivamente ao batente, senti uma falta enorme de quando ela sentava bem na minha frente. Naquela época em que era mais fácil transformar os momentos de tédio. Ela me mandava musiquinhas novas do myspace e eu fazia piadinhas inúteis. Mas ela ria. A gente até cantava em voz alta vez ou outra.
sexta-feira, janeiro 1
:: Os balanços
Sempre gostei do ritual da Yemanjá. Aquela coisa de molhar os pés na água que ia e vinha e deixar o mar levar, lentamente, um barquinho com velas e flores e bilhetes de Ano-Novo. O que eu mais gostava em tudo isso eram os bilhetes. Essas espécies de balanço do ano que me ajudavam a fechar uma etapa e abrir outra.
Mas depois de um ano como 2009, nem sei o que esperar de 2010. Não sei o que esperar de mim, nem de ninguém. Outro dia, reli um texto que fiz para papai. Quando 2009 começou, ele disse, vai ser o seu ano, minha filha. E foi. Por isso 2010 me aflige um pouco.
Em 2009 minha biblioteca de livros de gastronomia cresceu um tanto que tive de fazer pilhas de livros no canto da sala. Li mais do que o habitual. Li mais sobre música, especialmente sobre jazz. Talvez eu tenha ouvido menos jazz instrumental e mais as mulheres do jazz. Em 2009 aprendi a amar ainda mais todas as canções de Billie Holiday. E ouvir uma, duas, três vezes seguidas um, dois, três discos dela. Foi um ano de alguns bons shows. Teve Cat Power pela segunda vez. Caetano pela milésima. Beirut, David Byrne, Whitest Boy Alive.
Cuidei melhor do meu pé de café, que floriu lindamente e até ficou cheio de grãos avermelhados. Ouvi mais Caetano. Tem sido assim cada ano que passa. Mais Caetano. Foi um dos meus anos mais musicais. Ele me apresentou um tanto de música que é difícil de contar. Gravamos discos e mais discos. Para ouvir junto. Para ouvir separado.
Em 2009 conheci Paris. Conheci Londres. Conheci Lima. Conheci Mendoza. Conheci Lisboa. Conheci um pouco menos de gente, mas foi o suficiente. Embora todo mundo duvide, porque trabalhei horrores, me dediquei mais aos meus amigos. Em 2009, fui à exposição do Calder no Pompidou num dia meio chuvoso e, quando voltei a São Paulo, fiz um de seus móbiles no ombro bem como eu gosto, uma, duas, três bolinhas.
Em 2009 emagreci um pouco e engordei um pouco. Mas o balanço foi bom. Beijei mais do que o habitual. Antes do namorado. Depois do namorado. 2009 foi um ano de uma grande paixão. A maior. De uma alegria no coração que quase não cabe no peito. Uma alegria de dançar Dave Brubeck coladinha, na cozinha, no meio do café da manhã, depois dele voltar com pães fresquinhos da rua. Foi um ano para ouvir e repetir os discos do Django. E aumentar e voltar e ouvir de novo. Foi assim com Devendra também. Devendra veio para marcar momentos. Momentos de não esquecer.
Foi um ano de mais exercícios, de mais suor, de mais suco de laranja e banana no lanche da tarde. E mais Coca-Cola. A Coca-Cola tem sido como Caetano. 2009 foi um ano de experimentar frutas em mercados municipais de outros lugares do mundo. Foi um ano de experimentar outras coisas mais também. A primeira vez do queijo Serra da Estrela. A primeira vez das ovas de ouriço. A primeira vez da gordura do porco preto esparramada no pão do Alentejo. Foi a primeira vez do ovo perfeito, que ela preparou com farofa de tempura e purê de cará e também a primeira vez de tentar repetir uma receita tão difícil e complexa. Mas deu certo.
Foi ainda a primeira vez que comi carne de arraia e que experimentei uns tipos de batata do Peru, no Peru. E também frutas que não me lembro o nome. E chicha morada, aquele refresco de milho-roxo com especiarias que todo mundo toma por lá. Foi a primeira vez das almofadinhas de tapioca o Mocotó. Aliás, foi um ano de provar – e amar – muitas cachaças. E agora no meu bar improvisado, no fundo de um armário, tem vinho do Porto, licores variados, um ou outro vinho tinto, espumante aos montes, uísque, tequila, pisco e as cachaças. Uma envelhecida em tonéis de ipê com um gostinho suave que faz repetir. Ui.
Em 2009 tomei a minha primeira Crug. E no Fasano. E foi minha primeira vez no Fasano também. Foi um ano de conhecer grandes restaurantes que eu ainda não conhecia. La Brasserie Erick Jacquin, Arturito, Antiquarius, Amadeus, Tordesilhas, Kinoshita. Foi a primeira vez que provei um chá branco especialíssimo, feito apenas com os brotos da Camélia sinensis, colhidos no início da primavera.
Foi um ano de apresentar clássicos pra ele. Frangó, Mocotó, Bar do Biu. Um ano de mais brindes para os pequenos momentos de alegria. Foi um ano de lavar menos louça e ir mais à quitanda. Foi um ano de unhas vermelhas e de mais havaianas e de mais vestidos. Um ano de dormir menos e abraçar mais. Um ano de mais conversa do que cinema. Mas, ainda assim, de muito cinema.
Foi um ano de muito trabalho. E de novidades também. Coluna nova, guia novo, as páginas da Ilustrada. Foi o ano que, enfim, achei uma zebra para decorar a minha sala. Foi ano de quebrar a minha Nikon papel, espatifada no chão do mercado de Lima. E também ano de ganhar Nikon nova, digital, e registrar muitos momentos. Foi o primeiro ano de dívidas. Mas ele diz, são dívidas boas.
2009 foi um ano de me descobrir mais, de ter mais medos e mais realizações. 2009 foi tão bom que me faz agora sentir certo receio de 2010. Mas 2009 passou. E me deixou as coisas que preciso para deixar vir 2010.
Sempre gostei do ritual da Yemanjá. Aquela coisa de molhar os pés na água que ia e vinha e deixar o mar levar, lentamente, um barquinho com velas e flores e bilhetes de Ano-Novo. O que eu mais gostava em tudo isso eram os bilhetes. Essas espécies de balanço do ano que me ajudavam a fechar uma etapa e abrir outra.
Mas depois de um ano como 2009, nem sei o que esperar de 2010. Não sei o que esperar de mim, nem de ninguém. Outro dia, reli um texto que fiz para papai. Quando 2009 começou, ele disse, vai ser o seu ano, minha filha. E foi. Por isso 2010 me aflige um pouco.
Em 2009 minha biblioteca de livros de gastronomia cresceu um tanto que tive de fazer pilhas de livros no canto da sala. Li mais do que o habitual. Li mais sobre música, especialmente sobre jazz. Talvez eu tenha ouvido menos jazz instrumental e mais as mulheres do jazz. Em 2009 aprendi a amar ainda mais todas as canções de Billie Holiday. E ouvir uma, duas, três vezes seguidas um, dois, três discos dela. Foi um ano de alguns bons shows. Teve Cat Power pela segunda vez. Caetano pela milésima. Beirut, David Byrne, Whitest Boy Alive.
Cuidei melhor do meu pé de café, que floriu lindamente e até ficou cheio de grãos avermelhados. Ouvi mais Caetano. Tem sido assim cada ano que passa. Mais Caetano. Foi um dos meus anos mais musicais. Ele me apresentou um tanto de música que é difícil de contar. Gravamos discos e mais discos. Para ouvir junto. Para ouvir separado.
Em 2009 conheci Paris. Conheci Londres. Conheci Lima. Conheci Mendoza. Conheci Lisboa. Conheci um pouco menos de gente, mas foi o suficiente. Embora todo mundo duvide, porque trabalhei horrores, me dediquei mais aos meus amigos. Em 2009, fui à exposição do Calder no Pompidou num dia meio chuvoso e, quando voltei a São Paulo, fiz um de seus móbiles no ombro bem como eu gosto, uma, duas, três bolinhas.
Em 2009 emagreci um pouco e engordei um pouco. Mas o balanço foi bom. Beijei mais do que o habitual. Antes do namorado. Depois do namorado. 2009 foi um ano de uma grande paixão. A maior. De uma alegria no coração que quase não cabe no peito. Uma alegria de dançar Dave Brubeck coladinha, na cozinha, no meio do café da manhã, depois dele voltar com pães fresquinhos da rua. Foi um ano para ouvir e repetir os discos do Django. E aumentar e voltar e ouvir de novo. Foi assim com Devendra também. Devendra veio para marcar momentos. Momentos de não esquecer.
Foi um ano de mais exercícios, de mais suor, de mais suco de laranja e banana no lanche da tarde. E mais Coca-Cola. A Coca-Cola tem sido como Caetano. 2009 foi um ano de experimentar frutas em mercados municipais de outros lugares do mundo. Foi um ano de experimentar outras coisas mais também. A primeira vez do queijo Serra da Estrela. A primeira vez das ovas de ouriço. A primeira vez da gordura do porco preto esparramada no pão do Alentejo. Foi a primeira vez do ovo perfeito, que ela preparou com farofa de tempura e purê de cará e também a primeira vez de tentar repetir uma receita tão difícil e complexa. Mas deu certo.
Foi ainda a primeira vez que comi carne de arraia e que experimentei uns tipos de batata do Peru, no Peru. E também frutas que não me lembro o nome. E chicha morada, aquele refresco de milho-roxo com especiarias que todo mundo toma por lá. Foi a primeira vez das almofadinhas de tapioca o Mocotó. Aliás, foi um ano de provar – e amar – muitas cachaças. E agora no meu bar improvisado, no fundo de um armário, tem vinho do Porto, licores variados, um ou outro vinho tinto, espumante aos montes, uísque, tequila, pisco e as cachaças. Uma envelhecida em tonéis de ipê com um gostinho suave que faz repetir. Ui.
Em 2009 tomei a minha primeira Crug. E no Fasano. E foi minha primeira vez no Fasano também. Foi um ano de conhecer grandes restaurantes que eu ainda não conhecia. La Brasserie Erick Jacquin, Arturito, Antiquarius, Amadeus, Tordesilhas, Kinoshita. Foi a primeira vez que provei um chá branco especialíssimo, feito apenas com os brotos da Camélia sinensis, colhidos no início da primavera.
Foi um ano de apresentar clássicos pra ele. Frangó, Mocotó, Bar do Biu. Um ano de mais brindes para os pequenos momentos de alegria. Foi um ano de lavar menos louça e ir mais à quitanda. Foi um ano de unhas vermelhas e de mais havaianas e de mais vestidos. Um ano de dormir menos e abraçar mais. Um ano de mais conversa do que cinema. Mas, ainda assim, de muito cinema.
Foi um ano de muito trabalho. E de novidades também. Coluna nova, guia novo, as páginas da Ilustrada. Foi o ano que, enfim, achei uma zebra para decorar a minha sala. Foi ano de quebrar a minha Nikon papel, espatifada no chão do mercado de Lima. E também ano de ganhar Nikon nova, digital, e registrar muitos momentos. Foi o primeiro ano de dívidas. Mas ele diz, são dívidas boas.
2009 foi um ano de me descobrir mais, de ter mais medos e mais realizações. 2009 foi tão bom que me faz agora sentir certo receio de 2010. Mas 2009 passou. E me deixou as coisas que preciso para deixar vir 2010.
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