quinta-feira, janeiro 21

:: Das coisas que emocionam

Quando eu era pequena, dizia e repetia: não choro de emoção, choro de tristeza. Nem sei o que é isso de chorar de emoção. E sempre fui uma bela de uma chorona. Depois cresci um pouco e segui repetindo a mesma coisa. Até que um dia, um tiquinho mais velha, chorei ininterruptamente num show do Caetano. Saí de lá repetindo o mesmo. Dizia que era tristeza, que me fazia lembrar um aconchego do passado, uma alegria sem compromissos, um antigo amor.

Pouco depois, deixei escapar uma lágrima no canto esquerdo do olho direito quando chegou carta de um ex-namorado da adolescência, que estava há dias viajando bem longe. Aquele envelope debaixo da porta, as letras malfeitas, corridas pela página de pauta, contando as maravilhas das cidades italianas e falando sobre a saudade. Nunca gostei de sentir saudade. Por isso dizia e repetia. Choro de tristeza.

Bem mais velha, vi Joshua Redman e seu sax e seu sorriso e seu carisma no palco, bem pertinho de mim, lá na cidade que mais gosto, e chorei. Parecia quase dor. Mas não. Devia ser alguma coisa parecida com emoção. Tentei aceitar. Mas não. Não completamente.

E então veio o show do ano passado, com Zé Miguel Wisnik, Nestrovski, Luiz Tatit, Celso Sim e... Marcelo Jeneci. E então acho que entendi. Entendi que talvez eu tivesse crescido mesmo. E que se chora de emoção. Vez ou outra acontece. Foi até exagerado, aquela coisa do soluço e tal, da vergonha do barulho, do rosto amassado com força no casaco. Foi uma coisa que mexeu com energia do corpo, com as ideias da cabeça, com as lembranças e com as esperanças. Quando começaram a cantar "Feito para Acabar" deu pontada no coração, misturada com uma espécie de dor que não sei bem explicar. Eu sabia. Era a música que eu mais ouviria dali pra frente. E que eu ia ouvir pra chorar no travesseiro ou acordar num domingo de sol.

Ontem foi assim. No show do Marcelo Jeneci, no Sesc, senti um monte de coisa misturada. Os instrumentos, as letras, a doce voz de Laura, o pequeno palco, o clima de aconhego e de emoção. Verdade. Depois comemorei a notícia que ele nos deu, que vai gravar o disco em fevereiro. Já pensou?

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