:: Registros de viagem
Papai passou uns dias fora. De lá daquela terra onde fiz minha primeira viagem sozinha, de mochilão, de norte a sul. Uma terra que chamam de Chile. De lá, mandava recadinhos como pequenos filmes de pequenos momentos. Os pequenos momentos que a gente não esquece. Tenho precisado disso. Deixar de lado os grandes momentos e abrir espaço para pequenos acontecimentos.
Bem, contou do dia em que o carro amanheceu coberto de gelo, descreveu o nascer do sol do outro lado do lago. A vista para o Osorno. Contou do dia em que subiu no vulcão até encontrar neve. Na volta, disse, parou num canto para tomar pisco e camarones.
Teve um dia que escreveu mais à noite. Havia ido a um concerto de cello, de uma solista inglesa, num teatro que foi construído dentro do lago llanquille. Falou também do pôr-do-sol, do céu rosado, do vulcão ao fundo. Do dia em que foi jantar no Astrid & Gaston. Você conhece, filha? É incrível. Conheço, pai. É mesmo incrível.
Passou um tempo, me pediu conselho. Veja só, o que eu sugeria além de ceroulas, cachecol, meias de lã, gorro, sapatos forrados, pisco e vinho. Sugeri que voltasse. Porque, ele sabe, não gosto de sentir saudade. Até hoje não aprendi. Passou mais uns dias e ele voltou.
Preparou a mesa do café da manhã com louças campestres e taças para o suco de laranja natural. Era manhã e a casa estava toda ensolarada. E então ele foi até o fogão fazer “ovos revueltos”, enquanto os pães esquentavam. Como quando éramos pequenas. Até hoje é assim. Os melhores ovos mexidos. Vai ser sempre assim.
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Um comentário:
ai, fui eu que senti saudade lendo você. Dessa sua doçura, desse seu jeito, tão delicado, de amar as coisas mínimas.
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