:: Ali no paraíso
Eu vou dar um pulinho ali no meu paraíso particular e já volto. Bom ano pra gente, com as uvas e as ondas e o vestido verde - porque cansei dessa coisa do branco da paz; eu quero mais sorte e mais coincidências. Bom ano com os sete pedidos e os vários desejos e as reflexões e os balanços (ai, os balanços).
terça-feira, dezembro 30
:: Pequenos prazeres
Ela veio aqui tomar sol, nadar e comer salada de minialface comigo no domingo. Antes, me trouxe um disco na bolsa, com a playlist "to dance" que ela tem no iPod e eu queria ouvir sempre. E então, ouvimos e dançamos "Hot'n Cold" (Basement Jaxx) loucamente, como se não houvesse amanhã. Ela falou pelos cotovelos, um monte de bobagem que me fez rir até cansar o abdomi (ela falaria assim, "abdomi"). E então, tomou Stella na minha varanda, bem do lado do meu pé de café, tomou banho com meu novo sabonete líquido da L'occitane e, no cabelo, usou meu creme Paul Mitchell, assim, toda-toda, só para o encontro que tinha logo em seguida. Ela sabe, ela está no topo.
Ela veio aqui tomar sol, nadar e comer salada de minialface comigo no domingo. Antes, me trouxe um disco na bolsa, com a playlist "to dance" que ela tem no iPod e eu queria ouvir sempre. E então, ouvimos e dançamos "Hot'n Cold" (Basement Jaxx) loucamente, como se não houvesse amanhã. Ela falou pelos cotovelos, um monte de bobagem que me fez rir até cansar o abdomi (ela falaria assim, "abdomi"). E então, tomou Stella na minha varanda, bem do lado do meu pé de café, tomou banho com meu novo sabonete líquido da L'occitane e, no cabelo, usou meu creme Paul Mitchell, assim, toda-toda, só para o encontro que tinha logo em seguida. Ela sabe, ela está no topo.
domingo, dezembro 28
:: Vale-fim de ano
Minha mãe me ensinou que não devemos reclamar de presente, jamais. E sempre, sempre é preciso agradecer. No final das contas, eu virei mesmo uma mocinha educada. Mas, então, chega o fim de ano e a firma dá aqueles panetones que sempre doo para alguém que vai ficar mais feliz do que eu e aquele vale-compras. No ano passado, a gente podia gastar nos supermercados da rede Extra e eu amei porque sou habitué do Sam's Club - pronto, falei!
E então, neste ano, recebemos um vale-compras nos supermercados Sonda. E hoje, pós-natal e pré-volta ao plantão no jornal, fiz a listinha básica de coisas que tenho de repor aqui em casa. Saco de lixo, Veja, detergente (que, lembra, nunca devemos economizar), amaciante e afins.
Uma compra assim, impessoal, pensei, pode ser feita em qualquer lugar e lá fui eu toda bem-disposta ver na internet que tanto amo os endereços do Sonda. E ia descendo a barra ali do lado direito para ver a lista completa e ia aparecendo assim: Penha, Tatuapé, Cidade Dutra, Itaim Paulista, Jaçanã, Santo Amaro, Tremembé, Itaberana, Carapicuiba, Vila Rio, Piedade... E a lista quase acabando... E mais Vila São José, São José dos Campos...
E então, fechei tudo e fui tomar um bronze na piscina e nadar um pouco na água gelada para ver se surgia uma idéia sensacional de que diabos fazer com esse incrível vale-compras.
Minha mãe me ensinou que não devemos reclamar de presente, jamais. E sempre, sempre é preciso agradecer. No final das contas, eu virei mesmo uma mocinha educada. Mas, então, chega o fim de ano e a firma dá aqueles panetones que sempre doo para alguém que vai ficar mais feliz do que eu e aquele vale-compras. No ano passado, a gente podia gastar nos supermercados da rede Extra e eu amei porque sou habitué do Sam's Club - pronto, falei!
E então, neste ano, recebemos um vale-compras nos supermercados Sonda. E hoje, pós-natal e pré-volta ao plantão no jornal, fiz a listinha básica de coisas que tenho de repor aqui em casa. Saco de lixo, Veja, detergente (que, lembra, nunca devemos economizar), amaciante e afins.
Uma compra assim, impessoal, pensei, pode ser feita em qualquer lugar e lá fui eu toda bem-disposta ver na internet que tanto amo os endereços do Sonda. E ia descendo a barra ali do lado direito para ver a lista completa e ia aparecendo assim: Penha, Tatuapé, Cidade Dutra, Itaim Paulista, Jaçanã, Santo Amaro, Tremembé, Itaberana, Carapicuiba, Vila Rio, Piedade... E a lista quase acabando... E mais Vila São José, São José dos Campos...
E então, fechei tudo e fui tomar um bronze na piscina e nadar um pouco na água gelada para ver se surgia uma idéia sensacional de que diabos fazer com esse incrível vale-compras.
sábado, dezembro 27
:: Rascunhos
Ela gosta daquele biquinho que a Nina Simone faz no palco de maiô, super à vontade. Coloca o DVD e volta, play e volta, play e volta e repete. Não acredita como pode ser tão incrível e diz para eu comprar DVDs assim quando for viajar. Dança funk e rap no meio da pista e dá pequenas requebradas em lugares públicos quando ouve alguma coisa que mexe. Faz aquele biquinho. Nem percebe. Mas é mania e fica sexy, confesso. Ela vai com o peito pra frente e a bunda pra trás. Valoriza o quadril para esconder os mínimos peitos. Conta que já pegou no silicone da amiga no banheiro e que sim, teve vontade de imitar. Mas não. Quando era pequena achava ruim o cabelo meio enrolado e deixava até a cintura para fazer charme. E abalava os corações. Lia desde a infância. Lia. Lia muito. E rápido. E eu, que nunca conseguia acabar os livros da escola no prazo, às vezes convidava ela pra ir para o sítio comigo e ela lia para mim, os meus livros, em voz alta, durante as longas horas de viagem. Nas piscina, pouco depois, papai levava pra gente cachos de uva e a gente fazia pose para tirar foto. E a gente guarda até hoje. E vê o potencial da vaidade desde cedo. Apesar do chulé. Até ontem, ela tinha um pé minúsculo que exalava um cheiro quase insuportável. Ela se recusava a brincar de boneca e, por ela, ficava o dia entretida nas mais diversas brincadeiras de menino. A vizinha lá da vila dizia, ai, que sobrancelhas bonitas você tem, grossas, né, e ela odiava. Ela gostava do elogio, desde sempre, mas não gostava da tal da sobrancelha grossa. Quando a gente era bem pequena e tinha almoço na casa dela, ficávamos horas brincando naquela escada aberta e perigosa, enquanto os adultos, em coro, diziam, tomem cuidado na escada. Isso não é lugar para criança. E então, a gente ficava no quarto dela, micro, e brincando ali, naquele pedaço de mundo, de gato-mia, no escuro. Por anos, o melhor esconderijo foi o mesmo. Dentro do armário de sapatos. Ai, o armário de sapatos. Depois daquilo, era público essa coisa do chulé. Hoje, ela tem pés sedosos e macios, usa cremes especiais e tudo. Ela não queria casar, nem ter filhos jovem. Ela nem era romântica. Sofreu por alguns amores, transou tarde, fez alguns amores sofrer. Depois, recebeu uma carta de amor que carregou por meses na bolsa para reler alguns trechos e casou. Ela casou ouvindo Feeling Good, da nossa Nina. E eu chorei até borrar a maquiagem. Ela não ia se vestir de noiva, na vida. E então, ela estava ali, de noiva, com um vestido autêntico e tudo, sapatinhos cor-de-rosa, cabeleira luxo. Ela também usa cremes especiais para o cabelo. Ela, que devia mesmo pular banho quando era pequena, usa muitos cremes especiais e faz propaganda. Ela, que fez uma tatuagem tribal nas costas quando jovenzinha, fingindo que era rebelde (mas não), usa até maquiagem hoje em dia. Mais. Ela bate pernas em Paris, loucamente. Não compra nada, além do supermercado, e fica em pânico quando passa numa vitrine de maquiagens. Ela tem pernas pequenas e não consegue andar rápido na rua por isso. Acha a risada da Erikah Badu em Plenty a melhor. A melhor depois da minha, acho. Ela gosta quando eu tenho ataque de riso e sempre, sempre me faz rir. Virou barista mas não esconde que toma Nescafé e com um pouquinho de chocolate do padre, assim. Mas nunca muito quente. Nos almoços da firma era sempre um problema. A gente demorava mais na hora do café só porque ela tem muita sensibilidade e não conseguia beber nada muito quente. Nem mais ou menos quente. Ela me ensinou “Picture on the Wall”, do JBs. Eu ensinei Blosson Dearie pra ela. Poucos sabem que ela, toda diva e deslumbrante, tinha um pêlo alien no braço que dava até para fazer trança. Mas não se acanhava. Hoje, imagina, nem pensa mais nos peitos pequenos. Ela usa botas até o joelho no inverno com saia. E eu digo, quero ser assim quando eu crescer. E ela, quando cresceu, até brincou de ser DJ comigo. E tocamos juntas numa festa em que quase ninguém dançou. A gente anotou algumas coisas daquela noite. Quando pediram para peloamordedeus tocar funk enquanto, sim, estava tocando Curtis. Era mais ou menos assim. E depois, as horas no sofá da casa nova dela. De adulto. Os segredos e mais conselhos que sempre, sempre foram positivos. Porque ela é assim. Ela é assim com a vida e a vida fica assim com ela. Por isso que dá sempre mais e mais vontade de estar perto. E então, quando ela está longe, a gente tenta apagar. E escreve até esquecer.
Ela gosta daquele biquinho que a Nina Simone faz no palco de maiô, super à vontade. Coloca o DVD e volta, play e volta, play e volta e repete. Não acredita como pode ser tão incrível e diz para eu comprar DVDs assim quando for viajar. Dança funk e rap no meio da pista e dá pequenas requebradas em lugares públicos quando ouve alguma coisa que mexe. Faz aquele biquinho. Nem percebe. Mas é mania e fica sexy, confesso. Ela vai com o peito pra frente e a bunda pra trás. Valoriza o quadril para esconder os mínimos peitos. Conta que já pegou no silicone da amiga no banheiro e que sim, teve vontade de imitar. Mas não. Quando era pequena achava ruim o cabelo meio enrolado e deixava até a cintura para fazer charme. E abalava os corações. Lia desde a infância. Lia. Lia muito. E rápido. E eu, que nunca conseguia acabar os livros da escola no prazo, às vezes convidava ela pra ir para o sítio comigo e ela lia para mim, os meus livros, em voz alta, durante as longas horas de viagem. Nas piscina, pouco depois, papai levava pra gente cachos de uva e a gente fazia pose para tirar foto. E a gente guarda até hoje. E vê o potencial da vaidade desde cedo. Apesar do chulé. Até ontem, ela tinha um pé minúsculo que exalava um cheiro quase insuportável. Ela se recusava a brincar de boneca e, por ela, ficava o dia entretida nas mais diversas brincadeiras de menino. A vizinha lá da vila dizia, ai, que sobrancelhas bonitas você tem, grossas, né, e ela odiava. Ela gostava do elogio, desde sempre, mas não gostava da tal da sobrancelha grossa. Quando a gente era bem pequena e tinha almoço na casa dela, ficávamos horas brincando naquela escada aberta e perigosa, enquanto os adultos, em coro, diziam, tomem cuidado na escada. Isso não é lugar para criança. E então, a gente ficava no quarto dela, micro, e brincando ali, naquele pedaço de mundo, de gato-mia, no escuro. Por anos, o melhor esconderijo foi o mesmo. Dentro do armário de sapatos. Ai, o armário de sapatos. Depois daquilo, era público essa coisa do chulé. Hoje, ela tem pés sedosos e macios, usa cremes especiais e tudo. Ela não queria casar, nem ter filhos jovem. Ela nem era romântica. Sofreu por alguns amores, transou tarde, fez alguns amores sofrer. Depois, recebeu uma carta de amor que carregou por meses na bolsa para reler alguns trechos e casou. Ela casou ouvindo Feeling Good, da nossa Nina. E eu chorei até borrar a maquiagem. Ela não ia se vestir de noiva, na vida. E então, ela estava ali, de noiva, com um vestido autêntico e tudo, sapatinhos cor-de-rosa, cabeleira luxo. Ela também usa cremes especiais para o cabelo. Ela, que devia mesmo pular banho quando era pequena, usa muitos cremes especiais e faz propaganda. Ela, que fez uma tatuagem tribal nas costas quando jovenzinha, fingindo que era rebelde (mas não), usa até maquiagem hoje em dia. Mais. Ela bate pernas em Paris, loucamente. Não compra nada, além do supermercado, e fica em pânico quando passa numa vitrine de maquiagens. Ela tem pernas pequenas e não consegue andar rápido na rua por isso. Acha a risada da Erikah Badu em Plenty a melhor. A melhor depois da minha, acho. Ela gosta quando eu tenho ataque de riso e sempre, sempre me faz rir. Virou barista mas não esconde que toma Nescafé e com um pouquinho de chocolate do padre, assim. Mas nunca muito quente. Nos almoços da firma era sempre um problema. A gente demorava mais na hora do café só porque ela tem muita sensibilidade e não conseguia beber nada muito quente. Nem mais ou menos quente. Ela me ensinou “Picture on the Wall”, do JBs. Eu ensinei Blosson Dearie pra ela. Poucos sabem que ela, toda diva e deslumbrante, tinha um pêlo alien no braço que dava até para fazer trança. Mas não se acanhava. Hoje, imagina, nem pensa mais nos peitos pequenos. Ela usa botas até o joelho no inverno com saia. E eu digo, quero ser assim quando eu crescer. E ela, quando cresceu, até brincou de ser DJ comigo. E tocamos juntas numa festa em que quase ninguém dançou. A gente anotou algumas coisas daquela noite. Quando pediram para peloamordedeus tocar funk enquanto, sim, estava tocando Curtis. Era mais ou menos assim. E depois, as horas no sofá da casa nova dela. De adulto. Os segredos e mais conselhos que sempre, sempre foram positivos. Porque ela é assim. Ela é assim com a vida e a vida fica assim com ela. Por isso que dá sempre mais e mais vontade de estar perto. E então, quando ela está longe, a gente tenta apagar. E escreve até esquecer.
:: Sobre as comidinhas
Eu não contei para minha mãe que, na hora h, eu fiquei mesmo com preguiça de lavar a minialface que ela tinha me dado, toda animada, e acabei servindo, de entrada, apenas o foie gras, dos sonhos, e, depois, a salada de bacalhau com lentilha. E ele, imagina, não gosta de feijão, olhou para aquela coisa arredondada e marrom no prato e disse, adoro bacalhau, mas feijão... Lentilha é parecido com feijão, não é?
Eu não contei para minha mãe que, na hora h, eu fiquei mesmo com preguiça de lavar a minialface que ela tinha me dado, toda animada, e acabei servindo, de entrada, apenas o foie gras, dos sonhos, e, depois, a salada de bacalhau com lentilha. E ele, imagina, não gosta de feijão, olhou para aquela coisa arredondada e marrom no prato e disse, adoro bacalhau, mas feijão... Lentilha é parecido com feijão, não é?
:: Os presentes prediletos
E então ele veio aqui almoçar comigo pela primeira vez. Depois de rodar dois ou três lugares já distantes do bairro, comprou uma plantinha com pequenos frutinhos cor de laranja - algo que chamou de pimentão e eu ri. Depois, tirou de um saco plástico do Extra o regador que eu tanto queria e disse "mas eu não comprei no Extra, hein Lu". Só por isso, acho que vou cuidar melhor do meu pé de café, que, aliás, floriu pela segunda vez aqui na minha varanda por esses dias.
E então ele veio aqui almoçar comigo pela primeira vez. Depois de rodar dois ou três lugares já distantes do bairro, comprou uma plantinha com pequenos frutinhos cor de laranja - algo que chamou de pimentão e eu ri. Depois, tirou de um saco plástico do Extra o regador que eu tanto queria e disse "mas eu não comprei no Extra, hein Lu". Só por isso, acho que vou cuidar melhor do meu pé de café, que, aliás, floriu pela segunda vez aqui na minha varanda por esses dias.
:: Do que não amadurece
Ao telefone, no meio das juras de amor, ela comia bacalhau e abria presentes. Por isso que ficou tentando entender por que diabos ele vinha aqui quase todos os dias para tentar entrar um pouco dentro da vida dela pelas beiradas e, ainda assim, resistiu tanto, tanto em escrever para desejar Feliz Natal.
Ao telefone, no meio das juras de amor, ela comia bacalhau e abria presentes. Por isso que ficou tentando entender por que diabos ele vinha aqui quase todos os dias para tentar entrar um pouco dentro da vida dela pelas beiradas e, ainda assim, resistiu tanto, tanto em escrever para desejar Feliz Natal.
domingo, dezembro 21
quarta-feira, dezembro 17
:: Amigo-secreto
Confesso. Eu estava mesmo muito tensa com o amigo-secreto da firma. Porque tem aquelas histórias clássicas de quem compra presentes legais e ganha coisas estranhas. Uma amiga minha mesmo, em pleno amigo-secreto da família, uma família enorme e abonada, foi tirada por um dos primos - o mais alternativo de todos, que fez física na USP e é casado com uma bióloga, sabe? E então, depois dela presentear, com algo incrível e de muito bom gosto, foi presenteada por ele. Adivinha? Um mata mosquito. Ela sorriu e agradeceu. Foi pro quarto e me ligou no instante seguinte: "Ziza, eu ganhei um mata mosquito".
Pois então, por conta dessas histórias, eu estava mesmo meio tensa. Pra ele, eu tinha comprado um jogo de xícaras de café. Depois de alguns problemas não-revelados, decidiu-se que não íamos mais presentear - e a festinha também foi suspensa. E eu, que queria tanto preparar o guacamole com a receita da Má, que é um espetáculo, tive de me conformar.
Mais reviravoltas e resolvemos que, quem quisesse, dava o seu presente. Assim, sem agito, nem nada. Chegava pertinho, falando baixo, sem mistério, e: "olha, eu tirei você, aqui está o meu presente". No final das contas, foi mais ou menos assim. Também por isso, ninguém sabia muito bem quem ia e quem não ia ganhar presente. Afinal, teve a turma dos resistentes.
Depois de tudo, ufa. Quem me tirou foi a menina das pernas mais lindas, que abraça apertado, tem um bom gosto extremo e é gastona. Um luxo. Foi por conta disso que eu ganhei um caderno (sem pauta, ela sabe direitinho) da Papel Craft, com capa de couro laranja, um arraso. No lindo pacotinho também tinha um lápis e um bonequinho que me apaguei horrores e que batizei de picachu. Vou fotografar e colocar aqui qualquer hora.
O melhor foi que ela abraçou muito, muito forte. E, melhor ainda, foi ela me contar, assim, que ainda falta um pedaço. "Eu só preciso comprar umas tintas para acabar o quadrinho das galinhas d'angola." Ai, a galinha d'angola que eu tanto queria para pendurar na minha minicozinha. Por isso (e por outras) que ela está em alta no balanço do ano.
Confesso. Eu estava mesmo muito tensa com o amigo-secreto da firma. Porque tem aquelas histórias clássicas de quem compra presentes legais e ganha coisas estranhas. Uma amiga minha mesmo, em pleno amigo-secreto da família, uma família enorme e abonada, foi tirada por um dos primos - o mais alternativo de todos, que fez física na USP e é casado com uma bióloga, sabe? E então, depois dela presentear, com algo incrível e de muito bom gosto, foi presenteada por ele. Adivinha? Um mata mosquito. Ela sorriu e agradeceu. Foi pro quarto e me ligou no instante seguinte: "Ziza, eu ganhei um mata mosquito".
Pois então, por conta dessas histórias, eu estava mesmo meio tensa. Pra ele, eu tinha comprado um jogo de xícaras de café. Depois de alguns problemas não-revelados, decidiu-se que não íamos mais presentear - e a festinha também foi suspensa. E eu, que queria tanto preparar o guacamole com a receita da Má, que é um espetáculo, tive de me conformar.
Mais reviravoltas e resolvemos que, quem quisesse, dava o seu presente. Assim, sem agito, nem nada. Chegava pertinho, falando baixo, sem mistério, e: "olha, eu tirei você, aqui está o meu presente". No final das contas, foi mais ou menos assim. Também por isso, ninguém sabia muito bem quem ia e quem não ia ganhar presente. Afinal, teve a turma dos resistentes.
Depois de tudo, ufa. Quem me tirou foi a menina das pernas mais lindas, que abraça apertado, tem um bom gosto extremo e é gastona. Um luxo. Foi por conta disso que eu ganhei um caderno (sem pauta, ela sabe direitinho) da Papel Craft, com capa de couro laranja, um arraso. No lindo pacotinho também tinha um lápis e um bonequinho que me apaguei horrores e que batizei de picachu. Vou fotografar e colocar aqui qualquer hora.
O melhor foi que ela abraçou muito, muito forte. E, melhor ainda, foi ela me contar, assim, que ainda falta um pedaço. "Eu só preciso comprar umas tintas para acabar o quadrinho das galinhas d'angola." Ai, a galinha d'angola que eu tanto queria para pendurar na minha minicozinha. Por isso (e por outras) que ela está em alta no balanço do ano.
segunda-feira, dezembro 15
:: Do jeito dela
Ela finalmente me convidou para ir à sua casa. Um dia, depois de muita insistência, confessou que o problema era o banheiro. O banheiro marrom. Tudo isso porque um dia, quando resolvi mudar radicalmente os meus banheiros, tinha dito: "tudo, menos banheiro marrom". Ainda penso assim. Acho que ela não entendeu que, banheiro marrom, sempre é uma escolha do outro, nunca da gente. E a casa, claro, não é dela. E o proprietário, que dúvida, escolheu vasos e azulejos em tons de marrom - tons de marrom, vejam.
Eu entrei de cabeça baixa, com o espumante na mão esquerda. Dei um meio abraço e pedi, por favor, para ver o banheiro. Depois, fui conhecer a casinha, linda, que tem uma janela na altura da copa da árvore, que fica na calçada.
Sentei no chão, num cantinho, um pouco tímida diante dos amigos que não conheço bem e fiquei observando os discos no armário que sustenta a TV. Todos em desordem. E então, esperei o momento em que ela começou a descrever com detalhes os quitutes que estavam sobre a mesa, decorados com florzinhas coloridas e um vaso de lisanthus brancos, suas preferidas.
Ela contou sobre a torta de tomates confitados com queijo e melado de romã. E repetia: "melado de romã, Lulu". Aí vinham os brioches, as pequenas foccacias com alecrim, o pãozinho rústico de nozes e damasco, o salmão marinado, o pão-de-festa, os delicados barquinhos de tapioca com queijo, saindo do forno, com aquele perfume pela casa, o brie com geléia de framboesa (que ela acabou de trazer, na própria mala, de Paris). E então as frutas vermelhas - e ele nunca, nunca tinha comido uma cereja na vida. O suco de lichia. Os espumantes para os brindes (um, dois, três).
Os brindes. Sempre os brindes.
Ela finalmente me convidou para ir à sua casa. Um dia, depois de muita insistência, confessou que o problema era o banheiro. O banheiro marrom. Tudo isso porque um dia, quando resolvi mudar radicalmente os meus banheiros, tinha dito: "tudo, menos banheiro marrom". Ainda penso assim. Acho que ela não entendeu que, banheiro marrom, sempre é uma escolha do outro, nunca da gente. E a casa, claro, não é dela. E o proprietário, que dúvida, escolheu vasos e azulejos em tons de marrom - tons de marrom, vejam.
Eu entrei de cabeça baixa, com o espumante na mão esquerda. Dei um meio abraço e pedi, por favor, para ver o banheiro. Depois, fui conhecer a casinha, linda, que tem uma janela na altura da copa da árvore, que fica na calçada.
Sentei no chão, num cantinho, um pouco tímida diante dos amigos que não conheço bem e fiquei observando os discos no armário que sustenta a TV. Todos em desordem. E então, esperei o momento em que ela começou a descrever com detalhes os quitutes que estavam sobre a mesa, decorados com florzinhas coloridas e um vaso de lisanthus brancos, suas preferidas.
Ela contou sobre a torta de tomates confitados com queijo e melado de romã. E repetia: "melado de romã, Lulu". Aí vinham os brioches, as pequenas foccacias com alecrim, o pãozinho rústico de nozes e damasco, o salmão marinado, o pão-de-festa, os delicados barquinhos de tapioca com queijo, saindo do forno, com aquele perfume pela casa, o brie com geléia de framboesa (que ela acabou de trazer, na própria mala, de Paris). E então as frutas vermelhas - e ele nunca, nunca tinha comido uma cereja na vida. O suco de lichia. Os espumantes para os brindes (um, dois, três).
Os brindes. Sempre os brindes.
domingo, dezembro 14
sábado, dezembro 13
quinta-feira, dezembro 11
:: Quando preciso me conformar
("piciso" muito, eu ia dizer pra elas)
A partir do dia primeiro do ano, o jornal vai adotar as regras do novo acordo ortográfico. Na semana passada, tivemos aulas de português com a professora que nos atende 24h para tirar dúvidas ao telefone - a glória. Confesso, estou meio nervosa.
Primeiro, porque, imagina, eu vou ter de viver sem tremas. Como é que vou ser capaz de escrever linguiça e não lingüiça? Além do português, é uma questão de charme. Depois, tive de relembrar as regras dos ditongos, hiatos, paroxítonas, oxítonas, monossílabos tônicos e afins para aprender, em seguida, as novas formas de usar acentos agudos em palavras como assembleia, ideia, heroico - pasmem: todos perderm o acento.
Atenção, está assim na ficha da aula: "quando o hiato é antecedido de ditongo, os acentos agudos nos hiatos "i" e "u", desaparace. A-hã. Claro. Óbvio. E então, a boa notícia: o acento circunflexo nas letras dobradas de-sa-pa-re-ce! Chega de veem, leem, voo, enjoo com acento. Ufa.
Eis que surgem as novas regras para hífen e voltei a ficar passada. Até esqueci que "o acento circunflexo nas letras dobradas de-sa-pa-re-ce" e tal. Pois estudei hífens a minha vida inteira. Decorei a lista até aprender de verdade e agora, atenção, tudo, tudo mudou. Bem, micro-ondas agora teremos de grafar assim, com hífen. Assim como temos novidades em palavras como: antissocial, paraquedas, contrarregra, benfeito, autorretrato, arqui-inimigo e afins, em suas novas versões.
Pior, pêra perde o acento e vira pera. Pára também e tudo vira para. E agora?
("piciso" muito, eu ia dizer pra elas)
A partir do dia primeiro do ano, o jornal vai adotar as regras do novo acordo ortográfico. Na semana passada, tivemos aulas de português com a professora que nos atende 24h para tirar dúvidas ao telefone - a glória. Confesso, estou meio nervosa.
Primeiro, porque, imagina, eu vou ter de viver sem tremas. Como é que vou ser capaz de escrever linguiça e não lingüiça? Além do português, é uma questão de charme. Depois, tive de relembrar as regras dos ditongos, hiatos, paroxítonas, oxítonas, monossílabos tônicos e afins para aprender, em seguida, as novas formas de usar acentos agudos em palavras como assembleia, ideia, heroico - pasmem: todos perderm o acento.
Atenção, está assim na ficha da aula: "quando o hiato é antecedido de ditongo, os acentos agudos nos hiatos "i" e "u", desaparace. A-hã. Claro. Óbvio. E então, a boa notícia: o acento circunflexo nas letras dobradas de-sa-pa-re-ce! Chega de veem, leem, voo, enjoo com acento. Ufa.
Eis que surgem as novas regras para hífen e voltei a ficar passada. Até esqueci que "o acento circunflexo nas letras dobradas de-sa-pa-re-ce" e tal. Pois estudei hífens a minha vida inteira. Decorei a lista até aprender de verdade e agora, atenção, tudo, tudo mudou. Bem, micro-ondas agora teremos de grafar assim, com hífen. Assim como temos novidades em palavras como: antissocial, paraquedas, contrarregra, benfeito, autorretrato, arqui-inimigo e afins, em suas novas versões.
Pior, pêra perde o acento e vira pera. Pára também e tudo vira para. E agora?
quarta-feira, dezembro 10
domingo, dezembro 7
:: Da agenda cultural
Na sexta fomos ver o show da Ná Ozzetti. Arrepiou tudo. E então lembrei de quando eu era pequenininha e ouvia Rumo sem parar e mamãe imitava o barulho do carro com a boca, assim. Mais tarde um pouquinho, quando fazia sol na casa da Vila, mamãe colocava o vinil da Ná pra gente ouvir. Enquanto a sis cantava junto com ela, que cantavam junto com a Ná, eu tentava desenhar a capa do disco num papel branco, com lápis, igualzinho, e mamãe dizia, que lindo que ficou, filhota.
Na sexta fomos ver o show da Ná Ozzetti. Arrepiou tudo. E então lembrei de quando eu era pequenininha e ouvia Rumo sem parar e mamãe imitava o barulho do carro com a boca, assim. Mais tarde um pouquinho, quando fazia sol na casa da Vila, mamãe colocava o vinil da Ná pra gente ouvir. Enquanto a sis cantava junto com ela, que cantavam junto com a Ná, eu tentava desenhar a capa do disco num papel branco, com lápis, igualzinho, e mamãe dizia, que lindo que ficou, filhota.
sexta-feira, dezembro 5
quinta-feira, dezembro 4
Como hoje estou correndo-correndo-correndo, recuperei um dos textos mais lindos que já fizeram pra mim na vida, de m.y. Vale?
:: luiza
eu servia a uma principessa. mas ela encontrou outros reinos. aprendi o mal jeito de ir embora e fui. vaguei por outras terras, tive aventuras, sofri derrotas e aprendi a ciência das estrelas. voltei às terras de luiza por acaso e dentro daquela imensidão de campos e céus, deixei a armadura de caveleiro para os mais novos. fui ter com a principessa e percebi que a imortalidade das estrelas era imprecisa.
descobri que abandonei uma principessa solar, que existia em sistemas frágeis. deixei de ver os campos, os céus e a pessoa que era. o quão bonito eram suas coisas terrenas, o cabelo, a compaixão, o jeito com que fazia seus chamamentos. disse-me ela que também não evitou que eu partisse porque não sabia o que era partir.
percebi nesse dia a principessa que nunca deixaria de me acudir e que me amava o tanto quanto podia e ofereci-lhe um reino e minha vassalagem para que não nos perdêssemos mais.
:: luiza
eu servia a uma principessa. mas ela encontrou outros reinos. aprendi o mal jeito de ir embora e fui. vaguei por outras terras, tive aventuras, sofri derrotas e aprendi a ciência das estrelas. voltei às terras de luiza por acaso e dentro daquela imensidão de campos e céus, deixei a armadura de caveleiro para os mais novos. fui ter com a principessa e percebi que a imortalidade das estrelas era imprecisa.
descobri que abandonei uma principessa solar, que existia em sistemas frágeis. deixei de ver os campos, os céus e a pessoa que era. o quão bonito eram suas coisas terrenas, o cabelo, a compaixão, o jeito com que fazia seus chamamentos. disse-me ela que também não evitou que eu partisse porque não sabia o que era partir.
percebi nesse dia a principessa que nunca deixaria de me acudir e que me amava o tanto quanto podia e ofereci-lhe um reino e minha vassalagem para que não nos perdêssemos mais.
quarta-feira, dezembro 3
:: As regiões da cidade
Eu trabalho em um canto da cidade que não suporto, principalmente porque não tem onde comer bem - tem apenas o Casserole, mas eu não ganho pra isso; Casserole é pra dia de aniversário. Para chegar, passo por lugares como o "sukão", a "belíssima bella", o "kilo do lord" e o "quase tudo - materias de construção".
Eu trabalho em um canto da cidade que não suporto, principalmente porque não tem onde comer bem - tem apenas o Casserole, mas eu não ganho pra isso; Casserole é pra dia de aniversário. Para chegar, passo por lugares como o "sukão", a "belíssima bella", o "kilo do lord" e o "quase tudo - materias de construção".
terça-feira, dezembro 2
:: Diálogos
Hoje me ligaram da Livraria da Vila, por onde eu passo todas as semanas, para me avisar que o livro que encomendei chegou. Teve aquele dia que fiz uma pilha de livros ali no café, levei a lista de todas as indicações e não tinha nada, sabe? E então, liguei pra ele desesperada pedindo sugestões - imagina, um domingo de manhã e ele acordando. Então, me disse que eu tinha de ler "Mulherzinhas", da Louisa May Alcott. Também não tinha e encomendei. Acabei levando o Voltaire.
E então, hoje, quando desliguei o telefone, virei para o meu amigo repórter-que-entende-tudo-de-literatura:
- Chegou meu livro! "Mulherzinhas".
- Da Louisa May Alcott?
- Sim. Eu vou gostar?
- Você gosta de Jane Austen?
- Amo, tá na lista das prediletas.
- Então vai.
Virou para seu computador e continuou trabalhando horrores.
Hoje me ligaram da Livraria da Vila, por onde eu passo todas as semanas, para me avisar que o livro que encomendei chegou. Teve aquele dia que fiz uma pilha de livros ali no café, levei a lista de todas as indicações e não tinha nada, sabe? E então, liguei pra ele desesperada pedindo sugestões - imagina, um domingo de manhã e ele acordando. Então, me disse que eu tinha de ler "Mulherzinhas", da Louisa May Alcott. Também não tinha e encomendei. Acabei levando o Voltaire.
E então, hoje, quando desliguei o telefone, virei para o meu amigo repórter-que-entende-tudo-de-literatura:
- Chegou meu livro! "Mulherzinhas".
- Da Louisa May Alcott?
- Sim. Eu vou gostar?
- Você gosta de Jane Austen?
- Amo, tá na lista das prediletas.
- Então vai.
Virou para seu computador e continuou trabalhando horrores.
segunda-feira, dezembro 1
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