terça-feira, novembro 30

:: Homenagem

Não é de hoje que temos algo muito em comum. E é um pouco inexplicável, acho, a sensação de se sentir compreendida nas delicadezas. Nos pequenos gestos. Nos detalhes. Outro dia ela voltou de viagem com três presentes. Ela sabe exatamente o que me encanta. Duas girafas e uma zebra que estão em perfeita harmonia aqui na minha pequena sala. É como se tivesse um pouco dela no ar, e mais aconchego. Outro dia, veio aqui distrair os pensamentos. Os pensamentos que grudam na cabeça da gente. Enquanto eu colocava o vestido preto de renda, ela agachava no chão assim e assado para alcançar o Moacir. Fez fotos desse e desse ângulo. E agora quer um gatinho só pra ela. Mas eu digo, ela sabe, enquanto isso não acontece, ela pode vir aqui sempre e sempre acariciar a barriga do meu gordinho e deixar meus dias mais felizes. Sempre que ela vem é assim. A vida fica um pouco mais feliz.
:: Ritual para começar o dia

(por e-mail)

queridos,

hoje o dia amanheceu chuvoso aqui. mas... temos o nosso dicionário pra trazer alegria. e hoje é dia da letra "F" com várias definições fofas sobre felicidade. eba!

beijos, beijos

F

fácil e difícil - fácil é comer sorvete. difícil é comer espinafre

felicidade - é quando o coração enche e eu fico com vontade de cantar o tempo todo

felicidade - é a gente querer muito uma coisa e aquela coisa ir ficando cada vez mais perto, mais perto, mais perto

felicidade - é virar verdade tudo o que a gente quer

felicidade - é a gente conseguir gostar da gente

felicidade - é poder consertar a vida de todo mundo

felicidade - não é o que a gente sente. é o que as outras pessoas sentem por nós

felicidade - é uma palavra que tem música

felicidade - é o que os meninos ricos dizem que têm. eu vou passar as férias carregando água pra minha mãe, mas vou cantando

feriado - é um dia que passa tão depressa que parece hora

férias - mãe, não me chama pra comer agora porque estou de férias

filho único - não sei como a mamãe tem coragem de bater em mim, seu filho único

flauta doce - não é doce de comer. é doce de tocar

folgado - é um cara que vem pro meu aniversário, sem trazer presente e come e bebe tudo

segunda-feira, novembro 29

:: Modelo fotográfico

Tanta mulher passou pela minicasa neste fim de semana que o Moacir virou modelo fotográfico.




:: Balanço

Ornette Coleman me fez chorar.
:: Por e-mail

amados,

hoje é segunda, mas a gente tem nosso dicionário das creonças para animar o dia (e a semana).

beijos, beijos,


a letra "e"

edifício - o que eu mais gostei do apartamento novo que papai comprou foi o elevador

educação - menino educado é o que não mexe em nada, não fala nada, só diz "obrigado" e "com licença". e, quando a gente quer brincar com ele, ele guarda os brinquedos para não estragar

educação - se mamãe, em vez de ter outro filho, desse educação pra mim e pro meu irmão, a gente não era burro nem mal educado

educação sexual - eu sei como é educação sexual. só que achava a história da cegonha muito mais bonita

elétrons - são os micróbios da eletricidade

escola - é um lugar muito bom. hoje eu até aprendi que gato não é só gato. é felino. só não entendi porque ela foi mudar o nome do gato

escuro - quando acende a luz, pra onde é que vai o escuro?

esperança - é a gente não desistir de esperar

espero - é ser inteligente, mas um inteligente folgado

estetoscópio - é um ouvidor de coração

domingo, novembro 28

:: Trilha

Um fim de semana mais do jazz do que da mpb: Jazz nos Fundos no sábado, Ornette Coleman no domingo.
:: As letras "c" e "d"

As definições prediletas _e devidamente grifadas_ das letras "c" e "d", do "Dicionário de Humor Infantil" de Pedro Bloch (um livro que me dá pequenos momentos de muita alegria).


C

cerimônia - é a gente ser bem educado. quando a tia me disse "não faça cerimônia", eu não fiz. comi os doces todos

céu - para morar no céu não é preciso morrer. é só virar o mundo de cabeça para baixo

chocolate - é uma coisa que a gente nunca oferece aos amigos porque eles aceitam

choro - não tô chorando, não. Tou só lavando os olhos

choro - é chuva dos olhos

ciúme - é quando uma pessoa gosta tanto tanto da outra que fica com medo de dividir

ciúme - é o que a gente sente quando nasce a irmãzinha da gente. a gente gosta tanto dela que era melhor que nem nascesse

cobra - é um bicho que só tem rabo

coceira - é dor de pulga

colher - é um objeto que serve pra gente comer, mas eu devia usar garfo. só que, se eu usar garfo, a comida cai toda no chão do prato

complicação - é coisa que adulto adora. sempre faz uma coisa fácil parecer difícil. eu, por exemplo, descobri que esporadicamente não quer dizer nada de mais só quer dizer de vez em quando

crescer - é uma coisa que dói

D

dia - hoje é amanhã de ontem?

dieta - não gosto de mamãe fazendo dieta. fica pouca mãe pra gostar de mim

distância - a europa fica mais longe que a lua. a lua eu vejo.
:: Um amanhecer

Café com leite e Curtis Mayfield com sua "Pusherman" para amanhecer neste domingo de sol.

sábado, novembro 27

:: Tarde de sol

Primeiro, o sol. Depois, o banho. Em seguida, a cozinha, a faca afiada e uma melancia quase inteira, bem rosa, quase avermelhada. Pico em cubinhos para colocar na geladeira e comer mais tarde. Enquanto isso, Moacir, que adora água gelada, brinca com uma pedrinha de gelo que dei pra ele na varanda, ao lado do pé de café. No som: "Milan", de Matthew Herbert. Tudo se encaixa: 2010 está a-ca-ban-do!

sexta-feira, novembro 26

:: A letra "B"

As definições prediletas da letra "b", do "Dicionário de Humor Infantil", de Pedro Bloch.


beleza - a coisa mais linda do mundo é um jardim, quando as flores estão contentes

borboleta - é uma flor que pensa que sabe voar

brincar - a coisa mais alegre do mundo é brincar de pensar pensamento bom

brinquedo - que não deixa a gente pensar que ele pode ser outra coisa, não é brinquedo. por isso é que eu gosto mais de vassoura, que pode ser cavalo, pode ser espada de mocinho e ser, até, cabo de vassoura mesmo

bússola - é um aparelho que toda criança devia ter pra saber onde está. é que eu me perdo muito

quinta-feira, novembro 25

:: Caderno de notas

Adoro essa frase do Luiz Tatit:

"Não existe a menor possibilidade de a canção acabar (...) Enquanto houver alguém falando, a canção sai. Não daria nem para ninar uma criança se a canção acabasse."
:: Troca-troca

Hoje pela manhã, escolhi pessoas que gosto muito para mandar um e-mail com as melhores frases das crianças. Estou louca (lou-ca) com o dicionário do Pedro Bloch. Aí ela me respondeu com a música do Arnaldo Antunes, do Palavra Cantada. Olha que coisa linda:

Cultura

O girino é o peixinho do sapo
O silêncio é o começo do papo

O bigode é a antena do gato
O cavalo é o pasto do carrapato

O cabrito é o cordeiro da cabra
O pescoço é a barriga da cobra

O leitão é um porquinho mais novo
A galinha é um pouquinho do ovo

O desejo é o começo do corpo
Engordar é tarefa do porco

A cegonha é a girafa do ganso
O cachorro é um lobo mais manso

O escuro é a metade da zebra
As raízes são as veias da seiva

O camelo é um cavalo sem sede
Tartaruga por dentro é parede

O potrinho é o bezerro da égua
A batalha é o começo da trégua

Papagaio é um dragão miniatura
Bactéria num meio é cultura
:: Dentro da cabeça das crianças

Existe uma coisa tão pura nas ideias das crianças que me espanta. De verdade. Uma coisa que a gente perde pra sempre, mais tarde. E então, outro dia ele me consolou com verbetes do "Dicionário de Humor Infantil", de Pedro Bloch, e funcionou tanto, tanto.

Pedro Bloch é um médico e escritor que seguiu os dias anotando coisinhas que ouvia da boca das crianças aqui e acolá. Compilando o que reuniu de melhor, escreveu o livro, com as definições. Ele me disse pra comprar. Esgotado. Chegou ontem, da Estante Virtual, que sempre me salva.

E então comecei a ler. E é lindo. Tem uma sensibilidade e uma alegria naqueles pensamentos que fiquei com vontade de anotar. Vou registrar aqui alguns verbetes, para reler. Vou começar com meus prediletos da letra "A", olha:

Adulto - é uma pessoa que não entende de chuva, criança ou bala

Alegria - é uma gargalhada pendurada na gente

Alegria - o meu irmão divide tudo comigo: brinquedo, sanduíche, sorvete e, até, a alegria dele

Amar - é pensar no outro mesmo quando a gente nem tá pensando

Amar - é querer tanto, tanto uma pessoa, que parece sorvete

Anestesia - é um remédio que não deixa a dor doer. Pra mim, é a maior invenção do homem, depois do sorvete

Avestruz - é a girafa dos passarinhos
:: Livros e amores

Ele sabe. É meu consultor oficial de livros. Acato todas, todas as dicas que me dá. E ele não erra. Lá no começo dos anos 2000, quando nos conhecemos, ele me mandou pelo correio, "Razão e Sensibilidade", de Jane Austen. Virou um dos meus livros da vida. Mandou com uma carta escrita à mão. Um romantismo que não existe mais.

Antes das minhas férias, tivemos uma longa conversa sobre livros. E eu torcendo para a minha querida Livraria da Vila estar aberta naquele dia de eleição para que eu pudesse fazer minha lista de títulos na mesa do café, sob aquela jaboticabeira de que sempre falo, com um expresso curto _ou meu habitual chá de cidreira.

Li, de uma vez só, dois que ele me indicou. "A Dócil", de Dostoievski, sobre um homem que, olhando para sua mulher morta, num caixão em cima da mesa da sala, que havia acabado de se suicidar, repensa toda a relação dos dois, para tentar entender. Mas não. Além do óbvio, o que mais me atrai é a escolha perfeita das palavras para dizer coisas difíceis de colocar em... palavras.

Depois li "Histórias de Amor", de Bioy Casares, um escritor que ainda preciso aprender a amar. Foi um bom recomeço. São contos lindos, de tanto amor, em cenas tão, tão simples.

Bem, dos indicados, Mamãe leu outro, "A Trégua". Foi presente meu, com dedicatória de uma página inteirinha. E ontem à noite, comecei mais um da lista dele: "Dicionário de Humor Infantil", de Pedro Bloch. Acho que vou começar outros escritos só pra ele.

quarta-feira, novembro 24

:: O interior da gente

Ele tem lindos olhos azuis e uma barba por fazer. Usa camisa e gosta de gatos. E está sempre sorrindo.

- Você passou o dia sorrindo.
- É para esconder a tristeza.
:: O que as pessoas comem

Não é de hoje minha fixação pela comida. Mas é coisa mais recente, de um ano, dois, essa mania louca de grifar em todas as matérias e livros e afins o que as pessoas gostam de comer. Grifar e, mais, anotar num caderno. Coisas como as framboesas silvestres que o Chet Baker colhia, ou o caqui maduro, tirado do pé, que já registrei aqui.

Mas tem também muita coisa pra contar do Louis Armstrong. Depois de tocar nos barcos turísticos que circulavam pelo rio Mississippi e comer loucamente, teve de trocar o guarda-roupas e comprar "calças para gordos". De lá pra 1971, quando morreu, insistiu nos mais variados regimes e tomava um laxante caseiro, feito com ervas colhidas nos trilhos do trem. Tudo para que emagrecesse sem ter de abrir mão de seus feijões-vermelhos com arroz.

Nesta semana, estou especialmente entusiasmada com a leitura da Ilustrada. Entendi facilmente por quê. Textos sobre arte, música, colunas e cia. citam comida. Vê se não dá um toque especial:

"Nunca me esqueço do bife a cavalo que comi, quando desembarquei no Brasil. É uma das minhas comidas preferidas", Tomie Ohtake

"Tudo que quero é praticar. Bach e café todas as manhãs", Brad Mehldau

"Só um espírito grosseiro incluiria os cupcakes na categoria da empadinha ou do bombocado. Pertencem a um mundo em miniatura, o dos carrinhos de colecionador, dos sabonetinhos de hotel, dos anõezinhos de jardim e da Barbie", Marcelo Coelho

terça-feira, novembro 23

:: Aos mais experientes

Aqui no jornal tem essa coisa de ter de explicar tudo. Lembro que o fim foi quando eu tive de abrir um parenteses depois de sushi (su-shi) para explicar que diabos era aquela "iguaria tão rara" (rá!). Mas isso já faz tempo. De qualquer maneira, foi a minha escola e hoje tem essa coisa dos parenteses para dar as coordenadas dos termos. Quase sempre. Hoje não queria explicar o que era comim.

- Ivan, preciso explicar o que é comim?
- Comim? Aqueles garçonzinhos?
- É, os auxiliares.
- Não. Quem não souber vai saber depois de ler sua matéria porque vai ver no dicionário ou perguntar pra mãe. Eu sou dessa linha.

E eu fiz um coração gigante pra ele no ar. Rá!
:: Glamour

"Quando eu for milionário sabe o que eu vou ter? Uma banheira de porcelana, com pezinho (sabe?), cheia de champanhe. Lulu, me fala uma marca bem chique?"

sábado, novembro 20

:: Momentos de alegria e os mínimos detalhes

(na foto, a Má e o Moacir)

Combinamos um jantar rápido na minicasa. Só para a sexta não passar em branco. Na noite anterior, ela tinha dormido só duas, três horas. Eu dormi um pouco mais, mas no dia seguinte ia cair da cama pra cuidar da fila do Paul. Então ficou acertada uma saladinha básica, de folhas verdes, palmito, tomatinhos minúsculos e adocicados e bolinhas de queijo de cabra no azeite. Para temperar, azeite espanhol, aceto balsâmico autêntico (envelhecido em Módena) e sal em cristais, para moer. Uma taça de vinho de branco. Água gelada. Depois, ela tomou um licor, nas minhas minitacinhas de cristal que papai me deu. Eu tomei um chá branco, orgânico, na minha xícara florida de vó. Mas o que a gente mais gostou, além do fato em si de estarmos ali conversando mais uma noite sobre coisas da vida, foi a mesa. Ia ser algo rápido e simples, mas fizemos daquele momento algo fofo, como a gente gosta. Uma saladeira colorida, com talheres coloridos. Pratos brancos, taças de cristal. Os croûtons servidos em minipotinhos trabalhados em cerâmica, em relevos ultradelicados, que ela acabou de me trazer de presente da Turquia. Tudo pensado nos mínimos detalhes. E aquela alegria que dá.

:: Rápidas e inúteis

1.

- E seu inglês tá tão bom assim?
- Eu falo com ele com cinco janelas de dicionário abertas

2.

"Toda trabalhada na vingança"

3.

"Ainda bem que tá verão. Adoro o verão", disse olhando para a maior nuvem preta dos últimos dias, com casaco no joelho e botas de chuva.

4.

- Tô muito maquiada? Porque tava um trânsito terrível e eu não tinha nada pra fazer...

5.

Duas amigas e um amigo:

- Nossa, seu cabelo está lindo, diz o amigo para a amiga 1
- E o meu? pergunta a amiga 2
- O seu está como sempre, diz o amigo e fica quieto. Como sempre li-ndo.

6.

"Toda trabalhada no roxo"


7.

"Como diz minha mãe, não deixe ninguém fazer festinha na sua cabeça"
:: Embalo

Ouvindo Beatles ("Rubber Soul", um dos meus prediletos) desde às 7h da manhã, durante o banho e o café da manhã, para entrar no clima da megacobertura que faremos dos shows de Paul McCartney que, atenção, nasceu no mesmo dia que eu, anos e anos antes. Feliz da vida indo pra fila, neste sábado de sol, conversar loucamente com os fãs que estão acampados lá há um, dois dias. Computador, celular e todo kit do jornal para mandar as matérias da rua. Ela disse que "sou uma repórter" e eu adoro a sensação de sair da patota da gastronomia vez ou outra. É algo que tem a ver com liberdade.

quinta-feira, novembro 18

:: Uma manhã

Nesta manhã, tive um despertar precoce, com o nascer do dia. Fiquei algumas horas ao sol, enquanto lia o jornal e aquelas páginas especiais sobre o Paul McCartney e a reportagem de capa da Ilustrada, sobre o show do Ornette Colemam. Eu lia, ria alto e agradecia aos céus por não ter caído no meu colo. Pedi pra cuidar dessa matéria, em pessoa, de joelhos, mas minhas férias estragaram o cronograma. Ufa! Imagine o que ia causar em mim uma entrevista que fez um repórter desse duvidar de seu próprio inglês ou de sua engenhosidade para conduzir a conversa.

Antes e depois do sol um copo d'água gelada. Bem gelada. Banho lento. Cremes pós-banho para os pés, para o cabelo, para o rosto, para o corpo. Ao som de Noites Cariocas, com uma alegria estranha. Estranha para o segundo dia de trabalho, depois das férias. Sandália amarela, bolsa amarela, regata branca e, senti, enfim, que 2010 está acabando. Dentro e fora de mim.

quarta-feira, novembro 17

:: Romantismo para mulheres

Outro dia ele me sondou. Me perguntou sobre flores. Conversamos um tanto, cada um com sua caneca de café com leite na mão, bebendo pequenos goles, lentamente. Hoje, no meio da tarde, recebi uma ligação da portaria do jornal. Flores. Desci certa de que eram flores de assessoria, como costuma ser. Mas não. Era dele. Uma rosa vermelha. No envelope vinha um cartão branco com poucas palavras. Letras muito bem desenhadas diziam, juntas, para que eu tivesse "uma volta ao trabalho mais feliz". Ele sabe o quanto funcionou. Ainda não falei muito bem, mas imagino que ele saiba. Porque ele sabe bem mais sobre mim. Sabe que sou friorenta e me empresta o casaco para molhar na chuva. Sabe que sou romântica e adoro esses pequenos gestos de delicadeza.
:: O prédio

E então, enquanto espero o elevador, adoro ficar plantada na frente do painel de comunicados para ler aqueles trecos que a síndica escreve. Hoje deu até alegria. Um comunicado enorme lembrava as regras do condomínio, que proíbe passear com os "animais de estimação nas dependências comuns do prédio". Bem, além de retomar as normas e esclarecer que alguns condôminos têm infringido (é assim, infringido?) a "lei", registra que para piorar "alguns animais têm realizado suas necessidades fisiológicas nas dependências do condomínio". De novo: "alguns animais têm realizado suas necessidades fisiológicas nas dependências do condomínio". Bom, vai?

terça-feira, novembro 16

:: Repeat

Essa mocinha nova-iorquina, Melanie, me deixou um pouco viciada em duas músicas:

"What Have They Done To My Song Ma?"
"Animal Crackers"

domingo, novembro 14

:: Coisas que não passam

Acho que até ontem, ou anteontem, não me lembro bem, ela não devia saber exatamente a gravidade do problema. Também, cá comigo, acho que nunca quis colocar a gravidade pra fora de mim. Talvez, nem pra dentro. Mas a verdade é que ela é uma amiga que não passa. E não vai passar. A gente sabe.

Na minha ausência, que coisa, deixei de visitá-la no hospital, depois que o filhotinho caçaula nasceu. Deixei de ir ao aniversário da filhotinha mais velha, com quem convivi tanto em Paris. Deixei, até, de ir ao aniversário dela própria. E nem sequer liguei para dar os parabéns.

Mas outro dia finalmente nos vimos. Sentamos no sofá, falamos da casa nova, dos filhos (novos e antigos), do gato, das crises, de cosméticos e livros. Depois de um bom tempo, ela voltou a ler. Eu também. Ela lê enquanto amamenta madrugada adentro. Eu leio em todas as outras horas. Ela contou que leu cinco livros nos últimos três meses. Eu disse que, no último mês, li três e dois meios.

E então contei das anotações de Leonardo da Vinci em seus "Cadernos de Cozinha". E prometi um texto. Um texto escrito só pra ela. Um texto contando as partes mais engraçadas do livro, que ela acha que é piada, mas não é. Depois, qualquer dia em que eu estiver mais inspirada, vale outros escritos sobre as passagens mais interessantes, como a fazenda em que ele morava quando pequeno, o costume de misturar água e vinho para purificar a água contaminada e por aí vai.

Mas agora, eu disse, vou reservar para ela as passagens que me fizeram rir. Como aquela cena do pepino. A fulana de tal acabou morta na fogueira por "mau uso do pepino". Tem também aquela dica de limpar as teias de aranha que se formam nos repolhos porque podem causar vômitos e "até uma paralisia completa".

Ele ensina ainda a matar um pavão (como uma cabra!) e depois, para amaciá-lo é preciso pendurá-lo com a cabeça para baixo em uma fi-guei-ra. Precisa ser uma figueira, atenção. A parte mais chocante, que me fez rolar de rir, no entanto, foi o capítulo dedicado aos "procedimentos indecorosos à mesa", como uma espécie de "manual de boas maneiras".

Presta atenção:

- Não porá pedaços mastigados de sua própria comida no prato de seu vizinho sem primeiro perguntar a ele.

- Não limpará a faca na roupa de seu vizinho.

- Não cortará a mesa com a faca.

- Não baterá nos serviçais (só pode fazê-lo em caso de sua própria defesa).

Ele ainda ensina como dispor um assassino à mesa, fala sobre sua invenção dos guardanapos, para substituir os coelhos que eram colocados ao pé de cada cadeira para que os convidados limpassem a gordura das mãos durante a refeição, lembra de alguns males que a comida pode causar, como comer muita ervilha, que pode levar o sujeito à loucura.
:: O gato

Atualmente, a principal diversão do Moacir é jogar meus cotonetes (muito bem organizados num potinho verde próprio pra isso) no chão. Depois, ele espalha todos, freneticamente, e brinca, brinca. Como se estivesse tudo ótimo. Eu, besta, sou incapaz de ensinar a ele que isso é errado. Ele fica numa alegria tão verdadeira que não dá vontade de fazer acabar.

sábado, novembro 13

:: Afazeres

Sábado à tarde. Chuva. Escuto Mallu Magalhães enquanto arrumo a gaveta de calcinhas.
:: Amores brutos

Ele sempre me chama de mala. "Mas não é qualquer mala", diz. "É uma mala Louis Vuitton." Outro dia deu pra ficar da pá virada comigo e repetiu as mesmas palavras. Mas dessa vez acrescentou um "do Paraguai", no final da frase.

quinta-feira, novembro 11

:: 13 minutos

Ele me pediu 13 minutos de atenção. Valia até mais.

:: Pequenas alegrias

Outro dia ele quis me ver ao vivo só para contar que comprou ingressos para vermos Ornette Coleman juntos.
:: O mundo paralelo dos gordos

No meio da pilha de livros que levamos pra praia, estava "Diário de um Magro", do Mario Prata. Ela que trouxe. Eu fui de coisas de outra natureza. Depois conto. Mas então a gente criou uma mania de ler trechos em voz alta, quando valia. Às vezes eu, às vezes ela. Foi assim:

"Todo gordo é engraçado"

"A gorda emagreceu e perdeu todos os amigos"

Enquanto isso, eu lia loucamete as histórias de suicídio, do Dostoiévski, para equilibrar os humores.
:: Futuro próximo

A gente é uma máquina de fazer planos.
:: Conversa de menina

"Ele não é fedido, mas também não é cheiroso. Ele cheira pele. Pe-le pe-lu-da."
:: Cenouras

- Você quer essas minicenouras na salada?
- Não! Eu trouxe isso pra levar pra praia ou pra quando eu ficar muito nervosa. Como o pacote inteiro e passa. Tenta.
:: O jeito das coisas

Acho que algumas coisas simplesmente não mudam. Até o fim da vida, quem sabe. Ouvir Juarez Maciel e lembrar dele está nessa categoria. Nessa categoria de coisas que não mudam. Até o fim da vida.
:: Branco 2

Naquela tarde em que fiquei horas e horas no café da minha livraria predileta, ali no quintal de jaboticabeiras, com a mesa abarrotada de livros - para escolher quais levar para as férias - duas minijoaninhas escolheram justo o meu vestido branco para copular alegremente.
:: Branco 1

"Minha mãe faz questão que eu case de branco. (silêncio). Nem que seja num churrasco."
:: Tres tres chic

Um amigo meu diz que "ser jornalista é a forma mais chique de ser pobre". Verdade. Mas ser sobrinha do meu tio arquiteto também funciona: agora tenho um box de vidrotil branco, por exemplo. Do dia para a noite. Ser filha do meu pai idem: ganho guardanapos coloridos para toalhas e louças brancas e acessórios de cozinha da Escandinávia, berço dos belíssimos designs. Só isso. Num dia qualquer, assim, numa quarta-feira de chuva à noite...

domingo, novembro 7

:: Caderno de notas

Outro dia ele escreveu um negócio que copiei no meu caderno para reler: ‎"Não há mal que sempre dure, nem bem que nunca se acabe."

sábado, novembro 6

:: Meninices

Da estrada fui direto para a manicure fazer pés, mãos, depilação. Serviço completo. Comprei, numa passada pela farmácia, um novo hidratante e escovas de dentes para estocar. Tenho disso. Refiz o kit sol também, com protetores assim e assado. Depois, adivinha? Comprei a meia arrastão que ela me obrigou, lá da Turquia. Se achar ruim, ela escreveu em uma mensagem de texto por celular, você coloca uma meia mais clara por baixo. Mais tarde, ouvi uma ou duas vezes a música do Quincy Jones que a Amy gravou e ele mandou de presente, por e-mail. Agora estou me arrumando praquela festinha, com lápis de olho, salto alto e perfume.