terça-feira, julho 31

:: O lanchinho da tarde

Depois que eu voltei de NY, essa coisa de lanche da tarde ficou complicada. O meu primeiro (em plena contencao de calorias) foi na casa da gravida-BZ. Essa menina (oh, ceus) sempre foi viciada em doce. Magrela, glamour, escultural, tchuchuca (pode ser assim?), mas escorregava (sim!) nos doces. E ai ia fazer regime e essa coisa toda, falava horas sobre o assunto comigo e bla bla bla. E entao, eis que um dia ela nao gostava mais de bobagens. Ela virou uma magra-a-prova-de-recaidas. Ai ela emagreceu mais. Ela ate casou. Ela usa biquini sem crise. Ela nem liga mais que ela nao tem peito (porque o que importa e' que ela nao tem barriga). E ai ela se empolgou e ate engravidou. E ai ela so cresceu na barriga. Uma loucura. Aquelas gravidas que irritam a gente - porque com a gente nunca (nunquinha) vai ser assim. E ai ela vai ao ginecologista (atencao, o meu!) e ele diz coisas incriveis pra ela do tipo (ai, nao aguentei, peguei isso de um post dela la no no-scrubs, olha):

"Dr. (que eu amo e me faz feliz!) Roberto:

-Ok, tá tudo ótimo. E você engordou pouco. Então pode comer mais, tá? Coma muito, muitas vezes por dia. Coma o tempo todo. E de tudo. Você precisa de calorias, muitas, milhares de calorias. Malhar? Não, agora não é hora. Você precisa de reservas pra você e o bebê. Faz assim: come muito e não faz nada, tá? Ponha as pernas pra cima e descanse. Qualquer coisa me ligue. Até o mês que vem, tchau."


E entao, voltando, eu fui na casa dela num final de dia e o Carlos chegando da padaria. Paes (muitos paes fresquinhos), frios (muitos frios), manteiga (pra que margarina, ne?!), geleias, mel... Uma orgia. Simples assim. Mas tem mais: ela abria os paes de queijo, pegava uma colher bem gorda com doce-de-leite do Havanna (oh,ceus!), passava no pao de queijo, abria a boca (que, pelamor, que medo, ela é tao pequena e tem aquela boca) e comia. Sem a menor cerimonia.

E ai, ela vai la e bagunca toda a minha cabeca com essa historia de lanche da tarde. Eu me distanciei dela depois disso (pra ficar claro que ela nao pode fazer isso com as amigas). Aos poucos, voltamos a nos ver e a coisa do lanche se dissolveu... Eu parei com essa bobagem, pensei que, tambem ne, tem a Alice ali dentro e tal... Ok, relacao reestabelecida, chegou a vez da minha tia acabar comigo.

Domingo de frio. Casa da tia com as pequenas novas na familia (que eu amo) e aquele lanche em cima da mesa... O mais espetacular foi o chocolate quente. Que, de novo, vou reproduzir sem as proporcoes. Na verdade, nao e' que quero reproduzir as receitas. Eu quero memso é deixar todo mundo com agua na boca (aqueles vaarios leitores que eu tenho, oh,ceus! que crise!).

Leite A
chocolate do padre
gemas de ovo batidas
essencia de baunilha
acucar
maisena

Sim, a minha tia bateu tudo isso no liquidificador (nao sei em que ordem) e esquentou tudo na panela, como se fosse uma calda de um bolo (daqueles), mexendo com colher de pau. Me fez sentar na mesa e tomar. Pode? O que vai ser de mim agora que é semana e mal posso comer uma fruta na hora do lanche?! lanche???
:: Os tais almocos de domingo

Entao é domingo. É dia de comer bem e, ja que esta frio (muito frio), é dia de comer quentinho, é dia daquele vinho tinto... Em casa a turma da cozinha inventa. Gosta de inventar e ousar e reinventar e testar. Mas, sabe, os livros de receita sao sempre muito bem-vindos. Primeiro porque eles sao lindos, sao obras de arte da nossa casa mesmo. E eles ficam ali expostos numa prateleira bem alta na cozinha aberta, deixando tudo colorido. E entao voce abre um daqueles, ve aquelas ideias, as tecnicas, as fotos. Ai, as fotos. Ai o apetite abre, as novidades aparecem e estimulam. Ai, de repente, voce esta com a lista do supermercado nas maos com tudo aquilo de gostoso pra fazer aquela receita ali. Humm...

Neste domingo foi dia de risoto com aspargos e camaroes. Mas a revelacao veio depois. A sobremesa surgiu do "Balaio de Sabores", da Carla Pernambuco, do Carlota (ai, o Carlota...). O risoto sempre é um sucesso em casa, naquela panela Le Creuset (a vermelha, que eu adoro). Camaroes estao entre os meus prediletos. Aspargus (agora com "u") me faz lembrar NY. Pena que, desta vez, os aspargos ficaram meio molengos (eu gosto deles mais firmes). Eles iam ficar so no vapor (naquele que voce faz com agua quente e bicarbonato). Mas ai a agua subiu e a coisa perdeu um pouquinho a linha. Nao tem problema.

A sobremesa, pra comecar, é (e ficou) bonita. Eu gosto de pratos bonitos. Mesmo aquele arroz-e-feijao. Eu gosto de organizar tudo no prato, pra deixar um tom arrumadinho. Presta atencao:


(que otimo, sou incompetente, nao sei deixar essa foto na posicao correta)

Abra figos maduros no meio.
Coloque sobre uma forma untada com manteiga.
Espalhe um pouquinho de acucar sobre os figos. Depois coloque lasquinhas de manteiga em cima de cada metada.
Prepare uma calda com aceto (usamos o aromatizado da Casa Rinaldi, Balsamico e Frutti di Basco) e gotinhas de essencia de baunilha.
Regue cada meio figo.
Coloque no formo pre-aquecido a 220 (como coloca o simbolo do grau no mac?).
Deixe ate que os figos murchem. Retire e deixe esfriar.

A calda:

Coloque creme de leite fresco no fogo.
Quando estiver quente, acrescente uma barra de chocolate meio-amargo em lasquinhas.
Coloque uma pitada de sal e uma colher de cafe de essencia de baunilha.

A composicao:

Coloque em tacas um pouquinho de farofa, os figos abertos (para cima), sorvete de creme e passas ao rum e a calda por cima.

E seja feliz.

***Atencao: essa é a "versao falada" do meu pai, baseada na receita do Carlota.
E aqui foi so pra brincar, sem proporcoes e tal.
Quem quiser, pra valer, me ecsreve.
:: Das risadas

Tem gente que ri tanto comigo que outro dia ouvi num jantar:

"Parece que voce foi criada num acampamento!"

Adorei!

sexta-feira, julho 27

:: Sobre as variacoes do portugues

Hoje ela disse aqui em casa:

"(...) Nao, comprei outro tipo. Aquelas mangas estragaram antes de madurar".

"Muito lindo esse erdedron novo".
:: Big Apple Grooves

Nova York foi muito musical. Musical porque voce anda pelas ruas a pe prestando atencao nos sons. Porque voce vai ao parque e tem uma bandinha qualquer tocando um jazz qualquer (que voce simplesmente nunca mais vai esquecer). Musical porque voce pode bater perna a qualquer hora do dia e da noite ouvindo musica no iPod. Musical por conta dos shows. Musical por conta das amigas. A parte das amigas e' assim: antes de viajar, BZ fez uma playlist chamada "Big Apple Grooves" so pra mim. Assim ó:

:: Evening at Lafitte's - Squirrel Nut Zippers
:: Plenty MOre - Squirrel Nut Zippers
:: Big Spender - Shirley Bassey
:: It Don't Mean a Thing (If You Ain't got that swing) - Russell Gunn
:: I'll Take You There - The Staple Singers
:: Rehab - Amy Winehouse
:: Stronger Than M. - Amy Winehouse
:: Fidelity - Regina Spektor
:: April Fools - Rufus Wainwright
:: Sympathique - Pink Martini
:: Let's Make Love And Listen Death From Above - Cansei de Ser Sexy
:: I Don't Feel Like Dancin - Scissor Sisters
:: Bring it Back - Mc Almont & Butler
:: Broken Heart - Tim Maia
:: Grande Hotel - Chico Buarque
:: Eu Sambo Mesmo - Roberta Sa
:: Viva a Liberdade - Pau D'agua
:: Nega - Marcelo D2
:: Backlash Blues - Nina Simone
:: Sinnerman - Nina Simone

Dessas bem classudas que so ela sabe fazer. No final das contas, ela esqueceu de me dar o CD antes da viagem, ficou com um papinho mole que ia me mandar pelo correio e nunca mais. E entao, agora que choro as magoas da volta todos os dias, ela inventou de passar a tal da lista pro meu iPod. Ela quer mesmo me ver sofrer. ra

E entao, andando por la, a gente vai fazendo aquelas outras amizades musicais. Gi Gueiros e eu fizemos troca-troca em plena NY. Nos, nossos discos, as promocoes da Virgin e nossos laptops. E entao a coisa fluiu. Pra confessar, eu estou em divida, mas agora que ela voltou temporariamente vai ganhar pacote de novos CDs Lufec. Ja ela, aprontou um monte. Me gravou tres incriveis discos que marcaram bastante a viagem. Estou preparando as playlists para colocar aqui e compartilhar.
:: Direto de Toronto

Agora inventei moda de reproduzir aqui trechos de emails que recebo que fazem sentido enviados por pessoas que fazem mais sentido ainda. Que me conhecem, que sabem do que eu gosto. Olha esse aqui que acabou de chegar de Toronto:

"Imagino como deve ser dificil, mas nessas horas lembre-se sempre do pão frances com requiejao! Nao tem em NY!!"

"Esses dias comecou aqui no meu bairro o Beaches International Jazz Festival, um dos mais famosos do Canada, tudo de graça e na rua. Vc ia adorar!"
:: Das amizades...

(acabei de receber)

"quero falar com vc das coisas que estão entranhadas nas minhas tripas. precisa ser reservado e concentrado. quero saber do que está entranhado nas tuas. temos que nos dar esse tempo só nosso. tô te esperando desde antes de você chegar, chérie!"
:: E agora?

... que outra amiga que mora em NY mandou e-mail e disse que a cidade sente a minha falta?

"continuo com saudades e ontem lembrei muito da lulu. fomos num show na beira do lago na hora do por do sol, simplesmente um acustico musical com violao, trompete, acordeon e aquele baixo. e de fundo aquele ceu mesclado de rosa, roxo, laranja e azul. incrivel, ai luca, vc ia amar. coisa mais linda! NY eh a sua cara, a cidade ta sentindo sua falta! mesmo."

quinta-feira, julho 26

:: Amo muito tudo isso

Show do Architecture in Helsinki em Nova York, com as amigas incriveis. Tem coisa melhor?
Dancar, se requebrar, pular, cantar junto... Daquelas noites que a gente solta tudo. E volta leve pra casa, de metro, na madrugada, sem cheiro de cigarro (porque ali é proibido fumar). Um sucesso.



:: Das coisas da vida

"O que é vivo se movimenta"

"O desejo é uma coisa que aparece dentro da gente, se impoe"

segunda-feira, julho 23

:: Da lista da saudade






O Bryant Park ta na lista dos parques prediletos (da vida!). Desde o primeiro dia por ali (nessas fotos invernais), fiquei apaixonada. Tem mesinhas rodeando o pequeno gramado (limpissimo), sol batendo sempre (na primavera as arvores ficam verdinhas e voce acha um lugar ou outro com sombra)... Ai voce vai andar pela regiao, para um instante por ali, senta, e almoca. Ali por perto as pessoas fazem assim: saem dos seus escritorios e param para comer alguma coisa, conversando, observando a movimentacao, olhando aquelas arvores e a belissima construcao da Biblioteca Publica de NY, um dos meus cantos mais adorados, onde eu me enfiava alguns dias de frio para ler e estudar, com aquele silencio, o sol batendo la dentro, pessoas de todos os tipos concentradas em todos os tipos de coisas, aqueles livros em volta...

No Bryant Park é assim: voce se sente a vontade, voce pode sentar numa mesinha para ler jornal, revista, um livro (eles ficam numas prateleirinhas como esta mostrando aquela foto aqui de cima). Voce pode levar seu laptop e usar wi-fi publico. Sim, tem wi-fi no parque (!!!). Uma delicia... Ai, no verao, tem summer festival. Tem good morning NY alguns dias as 7h da manha com shows para voce ter um bom dia, como o da Nora Jones (posso com isso?). Tem atracoes no almoco (como um pianista x, tocando ali no meio, num piano lindissimo). Tem eventos no cair do dia, ou a noite.

Foi ali que passei o meu aniversario. As 16h fui pra la, o gramado interditado e um mundo de pessoas rodeando com cobertores e travesseiros na mao. Entao as 17h o gramado foi liberado e aquele monte de gente invadiu numa veliocidade engracadissima e estendeu seus apetrechos por ali ocupando tudo em pouquissimos minutos. E entao o gramado inteiro estava coberto por cangas, cobertos, lencois. E travesseiros, vinhos, queijos, sushis, sanduiches, cervejas, aperitivos em geral, tudo espalhado em cima. Sapatos para todos os lados e pessoas transitando sem parar. Anoiteceu. A Li me encontrou la pelas 19h e pouco e comemos alguma coisa juntas ali mesmo. Todo mundo se encontra ali. Come junto, conversa, ve o movimento (la é sempre uma grande atracao ver o movimento), guarda a bolsa do vizinho. La é assim, se de repente voce precisa ir ate a rua fazer alguma coisa (como eu que precisei ir ate o telefone publico), sem drama: pode deixar seu jantar, sua bolsa, seu sapato, suas compras. Nada acontece. Nada mesmo.






E tudo aquilo para a grande transmissao de Annie Hall, do Woody Allen, as 21h. Um telao gigantesco, um som espetacular. Tudo ao ar livre, praquelas pessoas limpinhas e cheirosas (e, atencao, muito bem educadas!). Ao todo, aquele parque reuniu 10 mil pessoas. Foi um aniversario inesquecivel e tudo isso, claro, entrou pra lista da saudade.

:: Da lista da saudade



Quando fui a primeira vez no Dean & Deluca, no Soho, aquilo tudo mexeu comigo. A construcao em si, aquela bancada de frutas coloridas, os chocolates de todos os formatos e tamanhos que eles produzem em diferentes e delicadas embalagens, os paes (ai, os paes!), a secao dos cafes, com graos diferentes tambem de marca propria (e seus diferentes blends) e outras mais, ao lado das cafeteiras variadas, a italianinha, a french press - pra quem mora sozinho, pra casal, pra uma grande familia. Lembrando da Felicity (a grafia do nome dela é essa mesmo?), do seriado da Sony, que gravava seu diário no gravardor (meninas, voces lembrarm?) e trabalhava no supermercado. E eu pensando: que luxo trabalhar num supermercado desses!. E assim fui caminhando naqueles pequenos e organizadissimos corredores, ouvindo Jamie Cullum (porque ali so toca musica de primeira), ja antecipando o que eu ia fazer quando nao tivesse mais um daqueles para passear e tomar um cafe no meio da tarde, ou fazer as compras para aquele jantar especial do fim de semana. Por enquanto, acho que a unica saida é voltar.
Ao Deus dará...

quinta-feira, julho 19

:: De "Passado", de Alain Pauls

"Acabara de vislumbrar o que resta de um homem quando de tudo o que ele é, de tudo o que acredita ser, retira-se a mulher amada".

Esse cara é foda.
:: Programa de menininha e as aulas de ingles

Se tem um dos meus compromissos semanais inadiaveis que eu amo e' ir ao cabeleireiro dar aquela geral na cuticula, invetar mistura de cores e, vez ou outra, mudar as ondas do cabelo. E entao eu fui la dar um trato hoje. Estava batendo papo com a minha manicure (da vida!), que e' chique, elegante, bom portugues e um arraso pra fazer unha (ainda me da um incrivel desconto porque o salao e' de perua, a unha custa R$ 20 e eu sou da ala pobrinha e nao posso pagar - tento compensar com o charme. ra). Enquanto isso, a menina (nova assistente do cabeleireiro) estava lavando o meu cabelo naquela cadeira desconfortavel. E, claro, falavamos sobre NY. Sobre os cremes, os esmaltes, as maquiagens. E entao a mocinha tenta interagir:

- Ah, eu tenho uma amiga, ne, que mora dos Estados Unidos. E ela tem uma filhinha pequena linda.
- Ai, que fofo. Adoro crianca!
- Entao, e ela fala ingreis e e' muito bonitinha.
- Que gracinha...
- E', ela fala "dédi", ne, que e' pai.
:: Dos emails que fazem (muito) sentido

"Descobri que calorias são pequenos seres inanimados que vivem nos guarda-roupas e que, durante a noite, apertam as roupas das pessoas."

quarta-feira, julho 18

:: Os dialogos da infancia

(historia veridica)

Um garotinho de tres anos para a mae:

- Mae, posso brincar na casa do Gui?
- Pode, filhinho.
- Mae, posso dormir na casa do Gui?
- Ai a gente tem de ver com a mae do Gui, ne. Ver se tudo bem pra ela...
- Mae, a mae do Gui pode ser minha mae?

Aí a mae ficou acabada e:

- Mas.... Por que?
- Porque ela usa vestido florido, mae...

segunda-feira, julho 16

:: Presente da Dri Kuchler

Por Danuza Leao

TODA VIAGEM pode ser a última, por isso todas têm um significado enorme.
Paris está cada vez mais linda: as mulheres e os homens bonitos e elegantes, os lugares cheios, um ar de prosperidade geral que ajuda muito a ser feliz. Os primeiros dias são para desligar; os seguintes, para curtir. Curtir, passear, comer muito bem e beber vinho, numa felicidade de dar gosto.
Mas as coisas não são simples, e depois de um tempo a vida de um turista fica complicada. Existem os que enfrentam filas imensas para ver as exposições, os que compram o Pariscope para saber tudo o que está acontecendo na cidade, e até os que vão aos shows de mulher nua -é, tem de tudo.
Há os que sempre voltam aos museus, mas só os que são especial e profundamente ligados em arte, pois para isso é preciso muita disciplina: afinal, ninguém sai de férias com uma agenda, e bom mesmo é estar numa cidade bonita e conviver com ela com naturalidade e intimidade. E aí, o que se faz o dia inteiro? Compras, claro, mas até isso cansa.
É muito bom acordar sem precisar pular correndo da cama, e passar uma boa hora pensando, muito vagamente, onde almoçar; ou não seria melhor comer um crepe em pé, na rua, como fazia quando era jovem e pobre? E como é verão, tomar sorvete andando pelo cais -ah, é muito bom estar em Paris.
Mas um dia se percebe, com algum sofrimento, que por mais linda que seja a cidade, por mais que os restaurantes ofereçam as melhores opções -de ostras e ouriços ao melhor steak tartare com as melhores fritas do mundo-, o coração já não bate tão forte. As lojas ainda atraem, mas com muito menos intensidade.
Estará blasé ou seria um sinal de depressão? Afinal, não é possível estar em Paris e não ser imensamente feliz, e é terminantemente proibido dizer que se pensa na casa, nos amigos, nos gatos, até no trabalho: ninguém ia acreditar.
Só que nem todos têm o dom do ócio e do lazer, e as manhãs vão ficando cada vez mais longas -na cama- e os telefonemas para casa, mais freqüentes.
Aí um dia ela decide antecipar a volta em dois dias, mas não conta a ninguém, com medo das cobranças. Afinal, como explicar que estava em Paris e não era totalmente feliz?
Volta, e quando vê a baía de Guanabara, sente uma emoção que não sentiu nem uma única vez, no Champs Elisées. E depois de ter vivido num quarto tão charmoso quanto pequeno, acha a casa um verdadeiro palácio.
Passa dois dias pedindo comida dos restaurantes, e acaba saindo para fazer um supermercado básico. E aí, numa esquina, ela entende.
Era uma esquina normal, onde havia uma banquinha de frutas: caixas de cajus, os mais lindos e coloridos cajus, enormes, indo do amarelo ao vermelho numa sutileza e num bom gosto de dar inveja a qualquer pintor de qualquer museu.
Também havia mangas, mangas amarelas e rosadas, frescas e cheirosas, e abacaxis, sendo que um deles aberto, amarelinho, para que o freguês pudesse provar e ver como estavam docinhos.
E pensa uma grande banalidade: que, apesar de tudo, não é em vão que se nasce num país.

domingo, julho 15

:: Coisa do dia-a-dia

E entao o nosso dia-a-dia podia ser sem-graca, com tupperwares velhos, de diferentes tamanhos, daquele branco gasto, em cima da mesa do jantar. Podia ter aquele arroz-e-feijao-que-é-sempre-bom com bife acebolado. Podia ter agua pra acompanhar. Mas nao. Ele transforma tudo. Ele serve vinho tinto nas tacas novas belissimas, ele inventa um risoto de brie e alho-poro e, claro, aquele toque especial das travessas le creuset em cima da mesa. Ele faz um dia-a-dia cheio de cores e sabores.

:: Da horta

Aqui é assim: pouco antes do almoco, a gente vai ate a horta, cheia de flores e latinhas de azeite, colhe alface, rucula, agriao, escarola. A gente abraca tudo aquilo, vai ate a cozinha, onde bate sol, apoia aquelas folhas verdes e fresquissimas na pia, lava, prepara uma travessa cheia de charme mesclando aqueles tons esverdeados, com tomatinhos cortados em cima para colorir, cenoura ralada, um molhinho especial e pronto: o almoco esta na mesa.

:: Dos prazeres

Prazer é chegar no sitio a noite depois de quarto horas de boa conversa com o pai, dar de cara com uma mesa a luz de velas, vongole no fogo, espaguete quase pronto. Salada fresquissima pra abrir o jantar. Prazer é aquele papo que flui, as risadas, o cansaco, a vontade de dormir. E entao dormir no silencio e no escuro absolutos.

quarta-feira, julho 11

:: Regras basicas sobre Lost

As pessoas comecaram a assitir Lost antes de mim. Oquei. Nas epocas da Folha, era o papo das rodinhas do almoco e eu ficava la, tentando entender. Nao entendia, nao conhecia nenhum personagem, mas uma coisa era clara desde o principio: nao se fala de Lost se voce nao esta no exato mesmo episodio que os seres da mesma mesa. Mais: nao se fala de Lost alto pra nao correr o risco de fazer a mesa ao lado ouvir.

Lost era motivo de chantagem na Redacao. E eu dava risada mesmo sem entender porque era divertido. Um nao quer fazer alguma coisa o outro oferece como castigo o que aconteceu com a Kate no capitulo X. Outro nao quer fazer o cafe, o castigo e' saber que fim levou o Jack. Outro se recusa a ler um print e' a vez de saber do Lock. E assim vai. Ate que eu, enfim, comecei a ver Lost e a ser chantageada junto. E a coisa e' eficiente e elegante. Oh, ceus.

E entao voce comeca a assimilar as regras basicas sobre o mundo de Lost: nunca ler nenhum tipo de reportagem sobre; caso comecem a falar do assunto (porque, acredite, sempre vao falar do assunto) mude de assunto rapido ate ter certeza de que voce esta mais adiantada que ele; se a Globo eventualmente passar propagandas, mude de canal no mesmo segundo. E assim vai. Acabei a segunda temporada antes de NY. Di me esperou para a terceira (ne verdade ele nao resistiu e viu alguns capitulos antes de eu chegar, mas ele respeita o manual-lost e ainda reve os episodios comigo, sucesso).

Eu vi uns dois ou tres desde que voltei (porque nao consigo ver sozinha, medo. ra). Eis que ontem, eu estava naquelas missoes deliciosas de ficar horas sentada no cartorio e a TV ligada. E eu ali. E a TV ligada no mudo. E eu ali. E entao, pasmem: comeca um episodio da terceira temporada que eu ainda nao tinha visto. E entao eu me revoltei. Como assim alguem ousa transmitir Lost em pleno cartorio? E as regras basicas sobre Lost? Cade o respeito?

:: Os dialogos de amor

Ele pergunta:

- Voce tem programa pra sabado?
- Nao...
- Entao arruma porque eu tenho!

terça-feira, julho 10

:: Da amizade

Entao olha so o final de um email lindo e emocionante que recebi de uma amiga que mora em NY:

"NYC esta sentindo sua falta. As vendas da Time Out cairam"

Da pra aguentar o quanto ela me capta? Eu nao aguento.

:: Comprei, comprei

O disco da Orquestra Imperial.
E!

segunda-feira, julho 9

:: Passagens

Quando coloco esse disco do Ravi Shankar e Philip Glass, sempre faco a mesma coisa: deixo a primeira faixa, "Offering", no repeat, aumento o maximo que posso. Lembro, aos poucos, das vezes que chorei ouvindo essa mesma cancao.

:: Sobre oles e cremes especiais

E entao eu resolvi tirar o esmalte vermelho (chega de fazer tipo) porque o sol apertou. Esmaltes escuros sao coisas de inverno. Oleo na cuticula para nao esparramar aquele vermelhao todo que gruda no dedo e demora pra sair. Quatro algodoes com acetona e parece que a coisa foi. Gal canta do quarto, aos berros, e eu fico arrepiada. "Lagrimas Negras", do Mautner e Jacobina, na voz dela e' uma das coisas que me arrepiam de verdade. E eu deixo no repeat e nao canso. Mais: eu canto junto. Eu tento. E aquele eco do banheiro.... Que ajuda. E o sol entrando pela janela, batendo no azulejo branquinho.

Hoje o banho foi um daqueles memoraveis. Banho, normalmente, e' momento de prazer, mas tem dias que sao especiais. Quando voce olha aquele monte de produtos de beleza, aqueles fru-frus todos ali, que voce sempre economizou (e inclusive semana passada teve de jogar um ou outro fora porque passou o prazo de validade) e voce decide que vai usar um por um, cada um para a sua funcao, entao voce tera um banho especial.

Foi assim. Hoje deu ataque de menininha. Preparei aquelas luvas com o sabonete liquido, que fica num pote de vidro todo charmoso, que a BZ deu algum tempo atras. E depois tem o creme de cabelo que e' aquele carissimo que voce deixa por uns minutos, sabe? E depois vem o capitulo fio-dental-mais-tres-escovadas-de-dentes, nao necessariamente nessa ordem. Adoro. Ai tem a parte do oleo pelo corpo. E teve os cuidados especiais com os pes. Aquele esfoliante que voce ama, com a pedra sabao. E ai horas embaixo da agua correndo que nos ultimos segundos do banho voce deixa geladissima pra dar aquela sacodida.

Voce sai com duas toalhas (uma para o cabelo), fica na frente do espelho, passa o creminho especial do rosto que voce comprou com as moedas do porquinho magico em NY (isso depois do esfoliante e do tonificante, claro). Depois o hidratante do corpo. Voce senta, enrolada na toalha branca, e e' a vez daquele creme especial para os pes. E, em seguida, havaianas verdes. Gal no repeat, aquela frestinha de sol entrando no quarto. Um ponto a mais no volume porque voce quer cantar junto. Voce abaixa, seca o cabelo com a toalha-do-cabelo, pega o produto que sua cabelereira indicou e comeca a espalhar sem encostar na raiz. E arremata com aquele silicone nas pontas.

E ai abre a janela completamente, ve o dia lindo la fora e respira.
Voce esta pronta pra sair.

:: Dos filmes

Ontem fui ao cinema assistir "Paris, te amo". Tava com saudades do cinema brasileiro (das salas de cinema, das legendas em portugues). Acho que troco sem drama pelo torcicolo do imax, apesar de o imax ter sido uma experiencia incrivel.

Enfim, nao anotei as frases exatas mas algumas ideias me marcaram. Algo como:

Voce nao me faz rir, nao podemos casar

A nossa primavera foi maravilhosa mas agora o verao acabou.

A cena mais foda, pra mim, foi a da gordinha solitaria meia-idade que narra a viagem dela 'a Paris, com aquele sotaque esquisito, aquelas frases simples de quem nao fala bem. E entao, em certo momento ela diz (pra ela mesmo, ela tenta mesmo se convencer daquilo) algo como: "Eu sou feliz, tenho os meus cachorros. Eu sou feliz, mas entao, quando vejo Paris de um arranha-ceu e quero virar pra alguem e dizer 'que lindo!', mas nao tem ninguem ali. Ninguem". Achei foda. achei tao tao triste. Mexeu comigo. (Ele diz mesmo, que o que mexe comigo e' a solidao, com ele a coincidencia).

Depois, em casa, assisti mais dois filmes no Telecine. Em um deles, uma mulher comum passa uma noite de loucuras com um cara famoso e no dia seguinte da um pequeno ataque: "Eu nao posso ficar com voce! Porque o meu eu verdadeiro e' simples, E' muito simples." Elevou o tom de voz e seguiu: " Eu nao uso calcinha sexy porque calcinha sexy nao e' confortavel!!!".

Muito bom!

domingo, julho 8

:: Da safra terapia

A gente monta uma vida para se proteger das emocoes ao inves de montar uma vida para viver as emocoes?

sexta-feira, julho 6

:: Dos novos

Orquestra Imperial lancou CD. Quero-quero!

:: Paulistinha

Dobradinha 'a paulista pode ser assim:

Almoco no Sachinha, ali na calcada, no sol, com arroz-feijao-bife-e-salada.
Cervejinha na Mercearia Sao Pedro, com jazz ruido no fundo, depois sambinhas-cartola.

quinta-feira, julho 5

:: Feitico?

E entao eu fui uma jovem adolescente com a pele de bebe. Desde sempre. Aquela que nunca teve espinha, os cravos vinham, um ou outro, mas ficavam escondidos entre as sardinhas, aquela coisa. Tudo lisinho, bem hidratado e tal. Ai cresci e tdo continuou normal. Ai comecei a ter crise de menininha e ir uma vez ou outra fazer limpeza de pele so pelo glamour disso mesmo (pronto, falei!). Ai saia toda-toda, aquele tipo. Ai fui para NY e parece que minha pele ficou ainda melhor. La, aproveitei pra comprar cremes e mais cremes (claro!) pra cuidar do futuro, aquela frescura toda que eu adoro.

E entao, na volta, cutuquei a minha boca (atencao: a minha boca!) e ficou um machucadinho. Ai nao resisti, fui la de novo e cutuquei mais. Doeu. Ai, no dia seguinte, o lance tinha virado tipo uma espinha gigante (inflamacao e' a mesma coisa que espinha? Porque, na verdade, o negocio nao nasceu espinha, entende? O negocio nasceu qualquer coisa que eu mexi e virou uma cratera). Ja estou ha alguns dias nesse processo de me olhar no espalho, ver aquela monstruosidade e pensar: nao vou mexer. Ai saio do banheiro. respiro. Ai nao aguento: volto e cutuco de novo. Enfim, acho que vou ficar com uma marca daquelas que da vergonha pra sempre. Oh, ceus. Justo hoje que vou gravar uma entrevista pra TV.

Pensei em ligar pra um primo meu que sempre teve a cara cheia de espinhas (a cara todinha) e pedir uma dica. Porque ele chegou no ponto de fazer um tratamento que orientava ele andar pela rua atras de um tipo de erva-daninha e depois ferver aquilo tudo e passar no rosto. Depois pensei que pudesse ser indelicado. Imagina?

"Oi, primo, quanto tempo! Nossa, nao nos falamos ha quase um ano. tudo bem? Entao, na verdade estou te ligando pra saber como dar um fim numa espjnha gigante qe apareceu na minha boca. Sera que e' mesmo uma espinha? Ja que voce tem experiencia e tal..."

terça-feira, julho 3

:: Make-up

A pratica com a maquiagem e' tanta que passo gloss ate mesmo antes de escovar os dentes...
Ve se pode, nem NY deu conta....

domingo, julho 1

:: Repeat

Mr. Bellamy – Paul Mccartney

(porque a Gi me ensinou assim)

:: Do que ouco por ai'...

"Cada dia mais me convenco de que a morte, quando nao e' tragica, e' uma escolha".

:: Porque pai e' muito bom

Hoje e' domingo e e' dia de almocar na casa do papai. E isso so e' bom. E muito. Entao ele faz um prato pra me receber de volta e me convencer que e' bom voltar _essa tem sido a missao das pessoas queridas. E' muita delicadeza: primeiro porque me recebe com brie e paozinho 7 graos caseiro. Depois tem fatias de sashimi de salmao, cortadas em casa, do peixe que a Be comprou fresquissimo no Ceasa. E entao vem o prato principal. Receita de Edinho Engel, do Manaca, um dos lugares onde comi melhor na vida, em Camburi, misturada com capricho do papai. Nada melhor. Camaroes grelhados com um creme de mascarpone, emmenthal e alho-poro distribuido delicadamente por cima, com arroz-de-alho e uma batatinha especial. Pra fechar, o expresso do sitio, tirado da maquina nova. Chave-de-ouro. E aos poucos as coisas vao fazendo sentido.