sexta-feira, agosto 24

:: Orquestra Imperial, o show



1.

O clímax foi Rubinho Jacobina. Ele é compositor, ele canta, ele toca teclado, ele até ganhou o APCA (premio revelcao da musica popular com o grupo Força Bruta). Mas nao foi nada disso. O climax foi ele ali no palco tentando dançar, tentando se movimentar com algum ritmo. Porque ele simplesmente nao consegue. Ele basicamente nao consegue. Ele pega aquele microfone, vai pro meio daquele palco cheio de gente agitada, canta musicas muitissimo alto-astral sem o menor rebolado. Estou dizendo do corpo mesmo. Porque ele coloca sim aquela plateia toda pra dançar. É uma loucura! É uma delicia: ele vai praquele centro do universo e eu tenho aqueles ataques de riso (quem sabe, sabe). É o auge, pra mim. E entao, aos poucos, ele canta aqui e ali, dançando daquele jeito desengoncado e todo esquisitao, cantando coisas pra pular meio parado, e eu vou relembrando a adolescencia. Acho que é um pouco isso tambem. Nos shows da Orquestra todo mundo sabe cantar tudo, todo mundo decora as letras e pira quando o Amarante entra em cena (ok, eu tambem), mas com o Jacobina é diferente. Porque ele começa a cantar "Artista é o Caralho" (ou "Artista é o K") e eu canto junto. Eu canto junto porque em 1900 e alguma coisa eu ganhei um CD (uma especie de compilacao das melhores e novas bandas do pedaço na epoca, selecionadas durante um festival no KVA (atencao), depois gravado pelo pessoal do Centro Cultural Elenko + KVA (alguem lembra disso??), e la estava ele com a cançao. Bem ali. E eu colocava aquilo sem ter ideia de que Jacobina estaria no palco com os feras da Orquestra Imperial um dia. Sem nem saber quem diabos era o moço. E ele é assim. Ele é que faz sentido num show cheio de hits que levantam a plateia. Ele faz o meu hit e eu pulo, eu sacolejo, eu canto junto.

1b.

Olha só o que o Jorge Mautner (climax dois) diz sobre ele:

"Rubinho Jacobina é irmão de Nelson Jacobina que entre outras coisas é autor de “Maracatu Atômico”. Eu vi Rubinho nascer, e aos 4, aos 7, aos 8, e aos 12 anos, e, daí por diante, sempre eu o via e conversávamos sobre todos os assuntos. Filho do genial cineasta Fernando Coni Campos, Rubinho nasceu e foi educado cercado de artes e liberdades por todos os lados. Eram dias e noites de cantoria, violão, bandolim, cavaquinho. Discussões e filosofias dia e noite. E ele, já desde muito pequeno participava e depois de ouvir atentamente o que se falava, dava a sua opinião e interpretava tudo sempre de maneira espantosa e original. E sempre tudo coroado por uma atmosfera de humor carioca antropofágico universal. Eram conversas de Noel Rosa a Aristóteles, Guimaraens Rosa a Pixinguinha, folclore a Villa Lobos, jazz e rock n roll a Oswald de Andrade, dias e noites sem fim."

2.

Jorge Mautner é aquilo tudo que a gente sabe. E entao, quando Nina Becker começa a cantar "Supermercado do Amor", ele entra de mansinho fazendo aquela citacao no final. Ele é o cara das citacoes melodiosas. Ele é muito foda. Ele fica ali no meio daquele monte de jovem bonito com suas rugas, sua camisa para dentro da calça, seu olhar meio deslumbrado 'praquelas' mulheres gostosas do lado dele, rebolando e requebrando so pra ele. E entao ele pega aquele violino eletrico e quebra tudo. Canta com aquela força, aquela vitalidade, esquenta as memorias. Canta "Maracatu Atomico". Deixa a molecada toda alucinada.

3.

Aí vem o Moreno e o Amarante. Minha relacao afetiva com Moreno logicamente é maior. Eu sei que isso é babaquice, mas ele é filho do Caetano e isso muda tudo pra mim. Muda porque ele cresceu ali, naquele violao do Caetano, naquela voz mansa, no meio daquele monte de musico fodido, no colo da Bethania (imagina dormir, um dia, na infancia, ouvindo cancoes de ninar cantadas pela Bethania??? Atençao!!!). Mais que isso: um show que eu fui dele mudou tudo. A Dri Kuchler disse algo como "Caetano e Moreno numa sala de estar". Adorei isso. Ela resumiu super e com sensibilidade. Eu achei o mesmo e esta entre os meus top 5 da vida. Porque foi aquele clima de conversa, dois violoes, um pai, um filho. Dois musicos que mexem la no fundo da minha alma. Aquele repertorio de cutucar a memoria - as minhas memorias de infancia. E eles proprios recuperaram historias de familia, historias musicais. Arranhavam o violao aqui e ali, riam, se comprometiam, revelavam aquelas historias que faz a plateia rir, leves e gostosas. O Moreno é assim pra mim. E ele tem aquela barba completa, aquela camisa azul-bebe abotoada até a goela, aquela ginga simpatica, aquela voz que parece que vai falhar a qualquer momento.

Aí tem o Amarante. E eu nao tenho muito o que falar aqui. Porque aquela voz rouca, aquele swingue, aquele ar tranquilo...

4.

E claro: alguma coisa precisava equilibrar tudo isso. Eu nao gosto da postura das meninas - e, atencao, isso nao é um comentario de menininha (rara). Thalma de Freitas e Nina Becker têm aquela presença exagerada no palco. Eu, sinceramente, nao sei se ia fazer o mesmo, porque elas sao mesmo duas musas ali no meio, ne? Daquele monte de homem interessante, pudera. Mas elas nao precisavam do exagero. Esse é o ponto. Talvez tenha sim alguma coisa de personalidade no meio daquele teatro todo que me incomoda. Elas sao bonitas e cantam bem por natureza, pra que entao, vestidos brilhantes? Um dourado e outro prateado. Pra que entao aquele monte de rebolada sensual? O lance é que ate perde a graça, porque aquele rebolado incrivel da Thalma, por exemplo, ate o chao, enquanto o Mautner tocava como se fosse pra ela, é repetido tantas vezes, que vira banal. Por que nao parar no primeiro? E dar aquela impressao luxo (nossa, que rebolada incrivel!)? Por que nao? Nina Becker é outro caso. Ela fica com aquele cabelao escorrido meio sem-graca e as costas inteiras aparecendo, sabe? Mas ela nem tem aquele tipo de costas pra mostrar. Enfim, whatever.

5.

O show é aquela bagunça boa. Eu explico assim. Eles perdem a linha. Eles demoram para começar a musica seguinte, eles vao chamando aqueles convidados todos no palco. Eles cantam, cantam, tocam, tocam, fazem zona, dançam (elas rebolam), eles dançam juntinho tambem. Aquela microfonia, aquela acustica terrivel. Ai, quando voce vai ver ja foram quase duas horas e meia de show e voce esta exausta. Eles perdem o timing. Me cansa um pouco, nessa hora. Mas aquela coisa alegre, aqueles musicos cheios de vitalidade, felizes, desorganizados, carismaticos. Aquilo tudo faz valer muito a pena. Mesmo.

Um comentário:

Adriana Küchler disse...

Vale tanta pena que rendeu todas essas idéias legais, ne?
O que não vale a pena são as meninas cantando. pior é que fica parecendo que é pra preencher as cotas.
beijos.