:: Sobre almoços de domingo
Era o segundo fim de semana que ela tentava marcar o almoço-família-do-namorado-quase-marido. Enfim, deu certo e domingo eu ia participar do ritual-mostrar-casa-nova e tal.
Chegamos primeiro que os outros convidados. A casa estava impecável, com sol entrando por todos os lados. Mesa posta, virada de lá pra cá, porque do jeito original, com uma ponta encostada na parede, ia ficar tudo meio apertado. Ela já estava com a minibarriga encostada ali atrás, no fogão, para preparar o arroz numa grande panela.
No centro da sala, aperitivos delicados, como o tomatinho-cereja com flor-de-sal, à vontade. Hum, eu pensei. No som, seleção finíssima de bossa nova. O bobó de camarão já estava pronto, com camarões limpinhos, graúdos. Hum, eu pensei.
À mesa, todos sentados, um espumante rosé, depois um vinho rosé e eu na coca light, em um copo de vidro que imita a latinha - sou mesmo fã, confesso. Tem algo de adolescente nisso. Eu sei.
Depois da entrada, uma salada que estava deliciosa, com frango defumado, simples de fazer, que quero copiar num almoço em casa, urgente, ela serviu o bobó com arroz. E aqueles camarões aparecendo por todos os lados... Hum, eu pensei...
Talheres quase cruzados, e a mãe dela chega com o pai só para “um oi rápido”. Ficam em pé em volta da mesa, jogando ótima conversa fora, cheia de graça. E a mãe se vira para o aparador das travessas e repara que falta o.... cuscuz! Onde está o cuscuz?, ela diz.
A minipessoa, a filha, a anfitriã, a dona da casa impecável, aquela que preparou playlist de bossa nova com toda a elegância, aquela que dá miniabraços para receber os convidados, tinha, simplesmente, esquecido de servir o cuscuz.
Talheres descruzados, foi uma ótima notícia, recomeçamos o almoço mais uma vez. Na maior tranqüilidade e alegria.
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