quarta-feira, abril 29

:: O começo do fim

Hoje ela trouxe os “tupevares” (porque eu falo assim) com a tal da sopa de nabo, berinjela e repolho e aquelas outras coisas que nunca virão ao caso. “E coloquei um muito coentro, você gosta, né?” Ufa que ela colocou coentro porque a sopa tem mesmo gosto de “água suja”, como ela mesma diz. Medo. E a gente ali, naquela situação - e comendo no “tupevare”, atenção! - e falando sobre os próximos dias.

Ela quer que chegue logo o dia do bife com tomate e eu perguntei onde é que íamos comer no dia do bife com tomate. “Eu vou trazer de casa”. “De casa?” “É. Perto disso [olhando pra sopa], bife requentado no micro-ondas* é uma de-lí-cia!”

Na hora do café... “E o que você vai comer amanhã no café da manhã, Lu?” [e amanhã é dia de legumes e sopa]... E eu fiquei em silêncio. O que dizer numa hora dessas? E ela: “Hum.... Acho que vou comer... pepino-japonês, cenoura e.... hum.... Tomate!”

E então combinamos que, a partir de amanhã, traremos uns bowls charmosinhos + jogos americanos para tornar esses momentos muito glamourosos!


* além de tudo, agora tenho de escrever micro-ondas com hífen. Céus!
:: As inspirações e os textos

As pessoas vivem me inspirando para os textos. Os lugares, as músicas, os livros idem. Eu também já fui fonte inspiradora pra textos de outras pessoas. As cartas de amor, as despedidas, as memórias.

E então, uma das minhas amigas mais antigas escreveu outro dia uns pensamentos. Pensamentos sobre a nossa relação e a contagem de quantos aniversários - literalmente - já passamos juntas. A ideia era: tudo pode acontecer e você continua vindo aos meus aniversários. Coisa linda, né? Tem uma parte que diz assim:

"Adolescência. Eu achava que era rebelde e gostava de esportes. Ela namorava os meninos bonitos e fazia tudo certinho. Mas ainda assim passávamos os aniversários juntas (...) O primeiro emprego juntas. Eu sabia de literatura, ela sabia de música, as duas aprendiam sobre cinema."

Mas o mais lindo de tudo é o final, coisa que constatou há pouco tempo e vive repetindo: "Ela aprendeu a falar, e eu a ouvir".
:: Repeat

Disco novo do Caetano - e a nostalgia de uma vida

Django Reinhardt e o Quintette du Hot Club de France - e as lembranças de mais de um, de dois, de três momentos memoráveis em Paris

Whitest Boy Alive - e as memórias do show inesquecível na minha última noite de Londres e todo o resto

segunda-feira, abril 27

:: Almoço de reunião

Agora a gente vai aproveitar todas as pautas para fazer reunião e não perder tempo - porque daqui pra frente será assim, maximizar o tempo. E fomos no Lapinha comer picadinho e na hora de pagar ali estava um cartaz assim: "Fiado só para maiores de 90anos acompanhado dos pais".
:: Enfim, a rotina

E então, a vida não é mesmo de sonhos e é preciso voltar à rotina. Para diminuir o choque, fui paparicada com excesso de elogios e tudo. Teve mais: juntamos um grupo de meninas pra fazer o regime mais engraçado que eu já vi, que dura uma semana. Ela vai preparar a tal da sopa, que mistura nabo, berinjela e outros itens nada animadores e congelar. As outras vão até lá buscar a parte exata do caldeirão.

Imagina o quanto a gente riu ao ver que um dia só se come sopa e frutas. E no outro, sopa e legumes - e o café da manhã, céus?! E-o-café-da-manhã-céus?! No outro, olha que presente: frutas E legumes. Tem o dia da banana e do leite desnatado: que você pode comer até oito bananas e leite desnatado até não aguentar mais - e foi meu dia predileto porque no dia das frutas, a única proibida é... banana. Ela prefere o dia dos bifes e tomates e tem também o dos bifes e legumes.

O melhor é o final que diz que, "se você não tiver fraudado a dieta", você terá perdido X. E então, a rotina nem parece ser tão horripilante assim.

domingo, abril 26

:: De tudo um pouco

Antes da japa tatuadora que, por sua vez, é antes do almoço com as amigas que eu mais gosto de esmagar, vou comprar uma bike com o meu irmão e vamos andar no parque.

sábado, abril 25

:: Os platônicos

A gente sempre teve uma coisa meio platônica. Essa coisa das palavras, das músicas, dos livros. Ele me gravava discos chamados "songs for luiza", assim, em caixa baixa, e mandava livros pelo correio, com cartas. Só ele entende a minha fixação por cartas e eu nem mandei um postal de Paris...

Ainda assim, continua essa coisa das palavras, das músicas, dos livros. A gente passa dias, semanas, sem se falar. Eu sei. Ele sabe. Por isso que, de repente, ele pode me mandar as canções da Comadre Fulozinha e dizer: eu gosto porque tem uma coisa lúdica - e ele sabe como vou entender exatamente o que quer dizer.

E então, numa conversa que surge do nada, ele diz que gosta dos meus textos e da minha mania pelos detalhes. E eu peço pra ele me mandar uma música muito triste - muito mesmo. Um dia, quando a gente tinha um amor platônico que nunca vou esquecer, ele me chamava de principessa e escrevia poemas, e combinamos de trocar discos com as canções mais tristes. Era quase uma coisa competitiva de quem ia ser mais capaz de traduzir a tristeza das canções. No fim, ninguém gravou disco nenhum. A alegria deve ter invadido, não sei. Até hoje não sei bem.

Hoje foi assim. Depois de reunião, de horas de bar, pedi pra ele me mandar uma música triste - muito triste, eu disse. Como se eu soubesse que, no fundo, ele ia saber escolher as canções mais tristes e eu queria mesmo achar espaço pro sofrimento. Talvez tenha sido o uísque.

E aí fomos falando sobre as tristezas mais ou menos assim:

- mas isso foi meio triste de mais, hein?
- seria triste se tristeza fosse para sempre. mas tristeza vem e passa

...

- estou ouvindo a música.
- eu gosto do final: "eu voltei foi para te dar uma rosa. e também queria te dar uma rosa (...) pensei em te dar uma rosa. ou melhor: um armário. armário cheio de gavetas. gavetas cheias de rosas".

E então eu vim escrever. A conversa parou abruptamente porque, ele sabe, eu precisava mesmo escrever. Acontece às vezes.

sexta-feira, abril 24

:: Dos momentos em casa

Desde sempre eu gosto (muito) dos meus momentos em casa. Desde pequena é assim. Todo mundo sabe que sou agitada, faço um monte de coisa com um monte de gente mas nunca fico sem minhas horas de estar só - e quieta. Quando eu era pequena e dividia quarto com a minha irmã, aproveitava os momentos em que ela preferia estar no meio dos adultos, ouvindo as conversas mais variadas. E eu nunca troquei os meus rabiscos, as minhas músicas, as minhas miniaturas por adultos - a não ser pelo colo do meu pai, eventualmente.

Depois, bem depois, tive um quarto só pra mim e comprei um som novo. Antes, eu tinha um som preto e comprido que eu adorava, para duas fitas, que eu gravava de um lado para o outro loucamente. Desde pequena é assim. Antes do som preto, eu tinha um som menorzinho que eu fazia malabarismos para gravar músicas do rádio. Era assim: na sala lá da casa da vila, bem em frente ao jardim, que eu tanto gostava, tinham duas grandes caixas de som colocadas ali no teto em dois cantos (explica assim?). Meus pais sempre gostaram de ouvir música - e alta. Principalmente nos domingos de sol, em que a gente colocava a mesa da sala de jantar no jardim, entre as flores que mamãe insistia em plantar, e convidava os padrinhos e almoçávamos por horas. E, para as crianças, não tinha aquele compromisso chato de ficar preso à mesa.

Bem, o som. Eu ganhei o tal do som ainda tão pequena que não tocava rádio. Então eu ligava o rádio do som do papai, colocava bem alto, subia no sofá carregando o meu sonzinho pequetucho, toda equilibrada e ofegante, ficava na ponta dos pés, levantava os bracinhos até ficar o mais próxima possível das caixas que estavam no alto e colocava REC. Segurava nesta posição até cansar. Abaixava os pés, apoiava um e outro no sofá, sentava devagar - e às vezes rápido - pausava. Andava até o outro som, desligava o rádio. Voltava a fita e colocava play pra ver o que é que eu tinha aprontado. E ia fazer isso no quarto, para contar nos meus momentos de estar só. E era uma realização total e absoluta.

Hoje tenho um som novo, tenho um iPod, o meu próprio computador e uma casa só minha. E então amanheci bem cedinho, como tem sido, e ele tinha me mandado o disco de Alva Noto e Ryuichi Sakamoto, depois de me falar mais de uma vez sobre o piano e me deixar curiosa. Play e peguei todas as Ilustradas antigas das quintas-feiras que fiquei fora e li, cuidadosamente, as matérias, notas, colunas e afins das páginas de comida. Enquanto isso, chá gelado e algumas anotações. E ja ja vou cortar cebolas porque não fui viajar, mas vou receber amigos para o almoço e, depois, para o chá.
:: Pequenos prazeres

Ontem foi dia de Livraria da Vila, para, enfim, comprar o disco novo do Caetano. E, adivinha? Tinha acabado. Pra aliviar a decepção, fomos almoçar no meu queridinho Florinda. Eu não canso de ir lá. Tudo é bonitico e gostoso. E eles servem o que chamam de "quentinha" e eu acho muito fofo. Uma salada ou sopa mais uma massa com molho do dia mais uma bebida (suco ou refrigerante) mais um espresso Pessegueiro pra arrematar - tudo por um (bom) preço fechado, de segunda a sexta. E então comemos igual: saladinha com molho mostarda e penne ao limone, bem delicado, diferente do meu, que fica meio pastoso, de gordinho. Para beber, claro: ela foi de suco e eu de coca light, pra variar.

quinta-feira, abril 23

:: Dos encontros

A gente sempre quer se ver e vive inventando minúsculos intervalos. Ontem foi assim. Fui até o trabalho dele pra almoçar. E, coitado, eu falei por uma hora seguida, nem consegui acabar de comer. Depois confessei que devia ter visto uma amiga antes e ele riu. Mas ele sabe: ele é meu amigo, minha amiga, minha dupla-casal. Ele é um pouco de tudo!

Mais à noite, eu e ela quebramos a cabeça pra achar um lugar para conhecer. Mas nenhuma queria jantar e os cafés já deviam estar fechados. Então ela me buscou e decidimos. Se é para repetir, vamos escolher um que valha sempre repetir. E fomos tomar espumante com terrine de pato e pistache no La Casserole e brindamos e falamos da vida, dos corações, dos trabalhos, dos planos. Na maior elegância.

segunda-feira, abril 20

:: Os afazeres domésticos e os pequenos prazeres

Eu custei a voltar pra minha casa. Dormi fora na primeira noite, com as malas e tudo e dormiria na segunda também. Tudo porque eu estava com medo de rejeitar a minha própria casa, que é o lugar que mais gosto ever. Quando cheguei, tudo entrou nos eixos, como deveria ser mesmo. Abri a cortina, tinha sol na sala inteira, pé de café no canto da varanda todo saudável, roupa de cama predileta com cheirinho leve de lavanda, cozinha brilhando, com os meus coloridos de sempre e as galinhas d'angola que ela desenhou especialmente pra mim.

E então acordei bem cedinho para comprar flores com a mamãe - e, desta vez, a ideia foi minha e ela adorou. Comprei flores para o vaso da sala e para os vasinhos dos banheiros, rosinhas amarelas micras. Depois teve o supermercado, com as cervejas, as cocas lights em quantidade (porque eu continua quase a mesma), as frutas, o suco de laranja, a água-de-coco tirada na hora... E, de volta, Nina Simone me acompanha nas arrumações que sempre, quase sempre, viram mesmo pequenos prazeres e até parece que está tudo bem.
:: Dos prediletos

Para não parecer que está tudo acabado (tudo mesmo), domingo foi um dia dos prediletos. Acordei cedinho, fiz a dupla piscina e sol que nunca dispenso. Depois teve arrumação intensiva de malas e cacarecos com Whitest Boy Alive bem alto e o mantra "esta tudo bem esta tudo bem esta tudo bem". Pouco depois, almoço tardio com ele, no Astor, meu bar preferido, na minha mesa preferida também, com caipirinha de lichia e tudo. Aquela conversa que não tem igual e os desabafos de sempre, que ele entende tão bem. Café curto e a conta. Casa. Um telefonema, dois, três e até quatro. Pronta pro cinema, Belas Artes, como quase sempre, com direito a salada de verdes, chancliche, pera e nozes no Pita. E então posso dormir. Mas, antes, repetir meu mantra mais algumas vezes pra não ter erro. Eu sei. Talvez não seja tão fácil assim...

domingo, abril 19

:: Ainda os momentos



:: A invenção da verdade

E então vou comprar o disco novo do Caetano, me esticar no sol, ali na piscina, de unhas vermelhas e cabelo novo, e pensar que está tudo bem. Tudo bem.

quinta-feira, abril 16

:: Dos desencontros

Ele vem aqui quase sempre, mas prefere fingir que esqueceu. Gosta, especialmente, quando escrevo sobre Juarez Maciel, sobre os lencois brancos, sobre os sambinhas do Luiz Melodia e as maos dadas com forca. Gosta da foto de calca vermelha, mas dispensa os oculos de sol. Ele sempre dispensa os oculos escuros, as unhas vermelhas e o perfume. Nao desistiu do cheiro do corpo, das maos por fazer e dos olhares profundos nos momentos mais intimos. Finge que esqueceu e quase me fez esquece-lo. Finge que esqueceu ate se convencer. Mas nao. Ainda nao esta totalmente convencido.
:: Dos dizeres

"Ei, Lu, fica calma. Se passar a noite em claro, com dor ou chorando, nao tem problema. Nao fica nervosa. Se voce nao conseguir dormir nada, nao fique nervosa, pliis. As vezes acontece da gente nao dormir mesmo... E amanha fara um lindo dia de sol e voce vai poder dormir la no Regent's Park, ja pensou?"

E enfim acalmei. E dormi.

terça-feira, abril 14

:: Do capitulo das saudades

Dificilmente, nas minhas viagens, sinto saudade de doer. Eu ja disse uma vez: nao gosto de sentir saudade - porque, fato, costumo sofrer. Entao aprendi a ter menos saudade das coisas e das pessoas. E tem funcionado. Quando sinto, e' algo mais leve, que nao faz sofrer. Hoje foi diferente. Pela primeira vez em quase um mes fora e longe, senti saudade dos mariscos frescos que meu pai prepara na praia, com vinagrete feito na ponta da faca especialmente pra mim. Para beber, quando recuso o alcool (como quase sempre), nao basta o suco que eu peco. Ele faz assim: suco de limao gelado e sem acucar, como eu gosto, e um pinguinho de Campari, so pra dar uma cor. Antes de servir, um capricho final: rodelinha de limao no copo. Sempre tem um capricho final. A gente sabe, nao sao os mariscos frescos ou o suco do limao ou o servico completo, e' ele.

segunda-feira, abril 13

:: Dos e-mails

"Me avisa quando vc chega porque vou querer muito te ver (eu e a torcida do flamengo...)!"

domingo, abril 12

:: Os momentos

acompanhada


sozinha


acompanhada
:: Pequenos registros

Aqui e' assim: parques, nos dias de sol; museus + baladas, nos dias de chuva.
:: Futeis e inuteis

"A melhor receita para a auto-estima e' conviver com a Luluca"

"- Mas ele e' o seu tipo?
- Eu nao tenho tipo, eu tenho pressa - diz pra amiga, a menina que chegou nos 30"

"- Ui. Aquela menina nao da, vai!?
- Da sim, esse que e' o problema - o amigo pra amiga, na balada"

"E entao eu me inscrevi no intermediario, no curso de cozinha aqui em Londres, porque cozinho faz tempo e tal. Eis que, na minha primeira aula, colocaram uma codorna inteira na minha frente e disseram: desosse! E eu: mas cade a aula?!"

terça-feira, abril 7

:: Das andancas e dos extras

Aqui e' assim, nao consigo escrever com os acentos e afins e me da certa agonia, verdade. Alias, mais que isso, nao consigo escrever. Primeiro porque Londres nao me inspira a essa coisa meio romantica dos registros. Londres e' grande, rapida, movimentada. E eu entrei no ritmo, que e' um pouco o meu ritmo natural mesmo. Segundo porque a agenda aqui e' assim: acorda cedo e volta tarde. Todos os dias tem sido assim e perfeitos. Nao quero mais na-da alem de nao voltar.

Outro dia ele mandou e-mail com algumas diquinhas da cidade, onde ja morou. E eu adorei. De maneira geral, amei todos os e-mails com dicas. E tenho usado varias, de todas as especies. Gostei porque aparecem coisinhas tao personalizadas de gente que me conhece bem e que conhece as cidades que mal deixei e quero tanto voltar.

Repara so numa parte: "musicalmente, não deixe de vasculhar qualquer loja HMV que vc encontrar. são as mais tradicionais de discos, e têm muita, muita coisa a preços ótimos. eu amava ficar fuçando os singles em promoção, dá pra achar pequenas alegrias". Da pra aguentar?

Depois tem assim: "Ah, claro: e vc é fina, então tem que dar uma andada por Notting Hill, bairro fofo e very cool, cheio de lojas incríveis e restaurantes e cafés e docerias lindos. Nessa região também fica a King's Road, aquela rua onde nos anos 60 apareceu a minissaia, a Vivienne Westwood e toda a galera fashion da "swinging London" (a cara do "Blow Up", do Antonioni)". E eu ainda nem contei pra ele que, simplesmente, estou instalada num apartamento dos sonhos em... Notting Hill, na casa de um amigo. Simples assim. E' mesmo um paraiso e nem tem muito como explicar... Nao e' ou nao e'?

E dai, nas dicas dela, tinha assim: " Nao deixe de ir ao Gordon´s Wine Bar, o primeiro (dizem) pub da cidade, que só vende vinhos, queijo e pão. É uma delícia. Tem água tb. Tem que andar abaixada lá dentro, é mto gostoso". Ja pensou? Quero muito. Ja esta na agenda, que tem tanta tanta tanta coisa ainda. God.

Minha outra amiga, das comidas, sugeriu um chines e uma loja de queijos assim: "o mais importante é você não deixar de ir ao Yauatcha, que, além de uns dim sum incríveis, incríveis mesmo, ainda tem uma loja fofíssima de chás (compre algum verde, qualquer um!) e uma confeitaria linda na frente".

Outra parte, dizia dos queijos e dos ovos, porque ela sabe que amo ovos quase como ela. "E, saindo dali, tem uma loja de queijos imperdível cujo nome não consigo lembrar. Tem um toldo azul, é bem conhecida, qualquer pessoa te mostra onde é. Não deixe de provar um pedaço do Stilton, que é maravilhoso. E, se puder, compre uns ovos lá de galinha 'free range' para comer em casa. De preferência com o pão-delícia que eles vendem lá mesmo".

Ui. Imagina se 13 dias em Londres serao suficiente? Nunca. Mas, o que importa e' que, na agenda dos shows ja tenho ingressos de: Fujiya And Miyagi, David Byrne (Giii, David Byrne em Londres! Venha, venha!) e Whitest Boy Alive, para a ultima noite. Enquanto isso, vou ouvindo pelas ruas bastante Spoon, Bonobo, Beirut, Kings, Datarock, Hot Chip, Hurtmold, Buckshot, Parov Stelar e, claro, o velho e bom Caetano de sempre.

segunda-feira, abril 6

:: Trilha do trem

Our Way to Fall - Yo La Tengo
Wait e Dear Prudence - Beatles
The Dock of the Bay - Otis Redding
Noctuary - Bonobo
Uma que nao lembro o nome do Dpt. of Eagles
Outra que nao lembro o nome do Vetiver
You don't Know Me + Nine Out of Ten + Mora na Filosofia + A Outra Banda da Terra + Michelangelo Antonioni - Caetano Veloso
:: Pequenos registros

Londres nao e' tao encatadora como Paris. Mas e' a cidade onde vou morar.

sexta-feira, abril 3

:: Carta aberta

Queridos,

não sei se isso faz sentido, mas alguma coisa, pelo menos alguma coisa dentro disso, tem sua razão de ser, por mais estranho que possa parecer uma carta aberta. Desde pequena tenho uma fissura inexplicável pelas cartas. Na lista de sonhos, está essa coisa de aprender a escrever que nem gente grande e fazer um livro só de cartas. Sempre tive uma queda pelos escritos mesmo. Mas nada disso importa, na verdade. As palavras têm dupla função nesses rabiscos. Primeiro, o adeus, que sempre dói. Depois, os agradecimentos. Melhor, em ordem invertida.

Hoje teve essa coisa de acordar cedo e ficar meio perdida. Foi o dia que acordei mais cedo em Paris. E que mais fiquei sem saber por onde começar. Então comecei escrevendo. Revi fotos, reli o moleskine. E fui lembrando, aos poucos, das memórias que quero levar. E é engraçado como tem vários flashes de passeios, da cidade, das vistas, das sensações, mas, acima disso tudo, tem vocês. Tem essa coisa de estar hospedada aqui.

Essa coisa da fineza e elegância do homem da casa. O jeito característico das piadas da mulher da casa - que eu acho que sou a única que entendo assim, tão bem. Vê se pode esse topete (e tenho mesmo, prontofalei). E tem a pequena Alice... Que, enfim, me pede colo com os bracinhos estendidos, repetindo "Lulu", com seu sotaque francês que ganha qualquer um. Que ri alto comigo quando eu rio alto - e eu sempre rio alto. Não importa o motivo. Ela simplesmente aprendeu a ter ataque de riso junto comigo e eu quase choro de alegria, no fundo. Mais e melhor: quando ela vem me pedir pra cantar "O Pato" e a mãe me acha erudita por isso, por chegar aqui e cantar "O Pato", como eu fazia com meu mini-irmão quando ele era bem pequetucho. Diz, "erudita a Lulu" porque ela canta atirei o pau no gato, que é um horror (repara: "airei o pau no gato, mas o gato não morreu. Pode? Não pode!), canta a música do minhoco e da minhoca, que um deu um beijo no outro do lado errado, vê se pode. Não pode!

E esse abracinho de Alice representa muito mais. Recebo isso com toda a simbologia que isso de fato tem. Essa coisa de me receber assim mesmo. Nessa casa deliciosa, com jantares inesquecíveis - desde o queijo mais incrível da vida, com alho e cebola, até o macarrão com aspargos que, no fundo, no fundo, ficou ótimo. E a gente sabe. Nem que seja só pelas risadas do jantar.

Com você é assim. Morro de orgulho. Da mãe que você é. Da pessoa. Da mulher. A-mo. Amo mais ainda essa coisa dos nossos códigos da comunicação, dos sites de maquiagem antes de dormir, dos segredos que a gente morre de falar sem constrangimento algum. Sem falar no nosso café predileto, da vida, que vamos imitar, quando a gente crescer. E o cabelo brilhante, os óculos novos que quero iguais. Os esmaltes que a gente ama-mais-que-tudo e essa coisa da gente bancar a perua, mas amar o tenis velho de sempre.

Por isso que hoje vou fechar a minha mochila verde e a minha mala preta que quase não fecha mais, com algum aperto na garganta, que vai raspar, mas vou engolir o choro. E vou imaginar que estou fechando tudo lá dentro, com cadeado e tudo, só pra não deixar escapar nada. Na-da.
:: Para reciclar

Algumas relações parecem que passam, mas não. Existe alguma coisa, em algum lugar que não sei explicar, que faz os contatos ressurgirem da maneira mais mágica. Com o Vincent foi assim. Nos conhecemos em NY e grudamos horrores por lá. Ele é um baby de 22 anos, adora a dupla cerveja + cigarro e faz o tipo rebelde. Mas não. Ele é delicado, educado e inteligente. Bastou um dia de aula em NY. Na classe, vários orientais (vá-ri-os) e nós dois, isso antes do Joan chegar. Fazíamos todas as duplas e depois íamos almoçar juntos e andar pela cidade, sempre naquele inglês duro de entender.

Essa é a parte que mais gosto. A parte da comunicação. Foi depois de conhece-lo (ele e o Joan) que percebi o quanto a língua nem importa quando existe alguma afinidade entre as pessoas. A gente passava horas falando errado e era incrível como fluía. Quando a viagem acabou, trocamos alguns e-mails. Ele de Paris, onde nasceu e vive até hoje. Eu do Brasil, de onde quero ir embora quando der. Quando cheguei em Paris nos falamos e eu guardei minha penúltima noite para vê-lo. E foi mesmo o que eu poderia chamar de mágico. Especial. Inesquecível talvez. São essas histórias que a gente nem quer esquecer mesmo. E nem vai.

Nos encontramos na saída do metrô Abbesses, em Montmartre. Montmartre é o bairro dos boêmios, onde os artistas se reuniam - e ainda se reúnem, para criar. É o bairro dos bares de jazz e dos bares de não-jazz também. O bairro das ruas pequenas e do bar da Amelie Poulain. Também é o bairro do Moulin Rouge e do gato preto que mais amo. Comprei cartões e tudo.








Então fomos caminhando pelo lado A, onde topamos com um monte de turistas, e, depois, pelo lado B, onde não topamos nem com os franceses. A gente foi caminhando meio naquele esquema de "Antes do pôr-do-sol", sabe? Mas sem a coisa do amor arrebatador. Ele ia me mostrando onde Renoir pintava (uma pracinha linda, que hoje tem uns restaurantes fofos), o bar que Duke Ellington tocava, e me mostrou uma produção pequetucha de uvas (um vinhedinho micro) no meio do bairro e explicou que as uvas dali são usadas pra fazer um vinho específico para uma festa da cidade. Me mostrou ainda a menor rua de Paris, que não tem nem número e é uma coisa fofa. E outra sem saída com pequenas árvores e casas que parecem de brinquedo. Paramos num lugar incrível uma hora e ele explicou que ali era o melhor lugar para estar no dia mundial da música. Que a cidade inteira fica incrível, mas ali era o melhor canto. Ai.






E a gente falava sem parar. E era engraçado quando as palavras fugiam e a gente tinha de parar, respirar e recomeçar de outra forma até o outro entender. E a gente super se entendia. Quando fomos parar para um café, que na verdade era um chope, ele me levou num lugar que eu desacreditei. A rua tinha milhões de bares e cafés. Mi-lhões. E ele me levou justo num que chama Zebrè, com umas zebrinhas fofas espalhadas. E eu sou louca por zebras. E o bar era charmosinho, alternativo, com um senhor sorridente (mas nem tanto) que tirava chope bem na minha frente, porque sentamos no balcão, nas banquetas de veludo vermelho meio vintages. E eu adoro.








Antes de reparar nas zebrinhas fui tomada pela música. Sempre é assim. Pisei lá dentro e estava tocando minha música predileta do Jimi Hendrix e criava todo um clima. "Crosstown Traffic". Depois, fiquei passada, mas tocou ""If You Want to Say". com Sly and the Family Stone, e ele ficou prestando atenção enquanto eu cantava baixinho. Gostou tanto, que fiquei de gravar um disco pra ele. Mais: ao estilo francesinho, tivemos Serge Gainsbourg e ele até anotou no meu caderno o nome da música, que, desta vez, quem não conhecia era eu. A gente tem disso. Quando estávamos em NY ele escreveu uma lista de músicas e artistas que eu devia procurar e eu colei no meu caderno de viagem e tenho até hoje - e pra sempre.

Algumas coisas têm mesmo de ser assim: pra sempre. Mas nunca se sabe.

quinta-feira, abril 2

:: Penúltimo dia

Tem texto à beça pro penúltimo dia. Tanto texto de tanta coisa que aconteceu, que vou deixar pra depois. Antes, eu comigo mesma 3, fora de foco, porque estou meio assim mesmo, por conta dessa coisa besta de deixar Paris...

quarta-feira, abril 1

:: Flashes

Depois das palavras, as imagens...


eu comigo mesma 1


quando eu não estou atrás dela, ela está atrás de mim



o louvre, que eu insisto em só ver por fora


eu comigo mesma 2 e o Sena


parque em frente à cidade universitária, onde todos sempre correm


no banco do parque, porque eu não estou no time que corre



logo que eu acordei na cidade universitária
:: Nem tirar nem pôr

Aqui é assim: eu não acordo tão tão cedo. Estou de férias, né. E então, tem sempre café da manhã na mesa com baguete e croissant fresquinhos, que ele vai comprar bem cedinho numa boulangerie aqui do bairro, antes de sair. Na mesa, tem mais suco de laranja, queijos, geleia e manteiga Président, a que eu mais amo. A gente toma café com o caderninho de anotações do lado e eu vou rabiscando o mapa enquanto coloco "ok" nos programas que já fiz. Conforme os dias passam, eu reorganizo a agenda dos quereres. E, confesso, tenho certa pregüiça de trocar a luz do dia e esse sol inebriante que tem feito pelo Louvre (prontofalei).

Hoje foi o dia do museu Orangerie, pela manhã. Depois teve caminhada pela Champs-Élysées até o Arc de Triomphe e, confesso, não vi muita graça. Só na parte que parei na loja de maquiagem e comprei pepinos para os olhos, que você guarda na geladeira antes de usar, para mamãe. E então, na hora de pagar, ganhei uma amostra grátis do novo perfume do Jean Paul Gaultier, Madame. E não é que é bom?

Agora eu conto: na hora de fazer a mala, a sis disse pra eu deixar o perfume pro final. E eu deixei. Tão pro final que acabei esquecendo em São Paulo. God. Fiquei em pâ-ni-co (céus, será que só a BZ entende meu tom quando falo pau-sa-do?). Pois então inventei a incrível técnica de entrar numa lojinha por dia e provar um perfume diferente. Que glamour. Sempre perfumada e sem gastar nem um tostão, ela disse e me fez rir - ela sempre me faz rir.

Depois teve o museu Rodin e foi um dos passeios que mais amei até hoje. E eu, inexperiente, sem câmera, saí sem bateria, pode? Mas o jardim do museu é a melhor parte. Lindo de morrer. Delicado, gostoso de estar ao sol. Ouvi Grappelli e Baden e o "Samba de uma Nota Só" ali deitada, observando os movimentos do pato que estava nadando ali em volta de uma escultura linda e pensando na vida. E foi nesse mesmo jardim que pude ver "O Pensador", bem de pertinho, e até arrepiou e eu lembrei das aulas da escola que eu trocava bilhetes e fazia amigos - os amigos "de" até hoje.

Saindo de lá, caminhei um tantinho até chegar no Grand Epicerie du Bon Marché, um mercado que ela me recomendou. Ela que adora comida como eu, escrever e tudo. Quando a M.E. viu na listinha de dicas, comentou em cima e disse que foi um dos lugares que ela mais lembrou de mim: "lulu, só você ia entender esse mercado", dizia sem parar. E eu amei tudo ali mesmo. E entendi o que ela quis dizer.

Fiquei paralisada principalmente na ala dos sais. Ninguém imagina a ala dos sais. De cores e grãos e tamanhos e texturas e origens diferentes. Comprei um que vem em pedaços grandes, como cristais, e com um ralador micro, fofito. Se eu conseguir me desprender - porque existe mesmo todo um processo - vou dar pro meu pai. Na verdade, confesso, comprei pensando nele. Aqui lembro muito dele com essa coisa das comidas. E muito da minha mãe com essa coisa dos museus, da cidade em si, das lojas.

Pra além dos sais, num corredor ali adiante, uma seção de mostardas - comprei um kit pequetucho com seis tipos diferentes. Vontade de comprar tudo. E a ala dos queijos? E os foie gras? Me decepcionou o cantinho dos cafés, não podia ser diferente. Prateleiras e mais prateleiras de Lavazza e nada, nadinha do Brasil. Alguns até usam grãos brasileiros, mas é outra coisa, né. Enfim, os chocolates quase compensavam. Os chás. Ai, os chás.

Vim carregada pra casa. E tive um jantar glorioso. Dos melhores, apesar da exaustão.