:: Carta aberta
Queridos,
não sei se isso faz sentido, mas alguma coisa, pelo menos alguma coisa dentro disso, tem sua razão de ser, por mais estranho que possa parecer uma carta aberta. Desde pequena tenho uma fissura inexplicável pelas cartas. Na lista de sonhos, está essa coisa de aprender a escrever que nem gente grande e fazer um livro só de cartas. Sempre tive uma queda pelos escritos mesmo. Mas nada disso importa, na verdade. As palavras têm dupla função nesses rabiscos. Primeiro, o adeus, que sempre dói. Depois, os agradecimentos. Melhor, em ordem invertida.
Hoje teve essa coisa de acordar cedo e ficar meio perdida. Foi o dia que acordei mais cedo em Paris. E que mais fiquei sem saber por onde começar. Então comecei escrevendo. Revi fotos, reli o moleskine. E fui lembrando, aos poucos, das memórias que quero levar. E é engraçado como tem vários flashes de passeios, da cidade, das vistas, das sensações, mas, acima disso tudo, tem vocês. Tem essa coisa de estar hospedada aqui.
Essa coisa da fineza e elegância do homem da casa. O jeito característico das piadas da mulher da casa - que eu acho que sou a única que entendo assim, tão bem. Vê se pode esse topete (e tenho mesmo, prontofalei). E tem a pequena Alice... Que, enfim, me pede colo com os bracinhos estendidos, repetindo "Lulu", com seu sotaque francês que ganha qualquer um. Que ri alto comigo quando eu rio alto - e eu sempre rio alto. Não importa o motivo. Ela simplesmente aprendeu a ter ataque de riso junto comigo e eu quase choro de alegria, no fundo. Mais e melhor: quando ela vem me pedir pra cantar "O Pato" e a mãe me acha erudita por isso, por chegar aqui e cantar "O Pato", como eu fazia com meu mini-irmão quando ele era bem pequetucho. Diz, "erudita a Lulu" porque ela canta atirei o pau no gato, que é um horror (repara: "airei o pau no gato, mas o gato não morreu. Pode? Não pode!), canta a música do minhoco e da minhoca, que um deu um beijo no outro do lado errado, vê se pode. Não pode!
E esse abracinho de Alice representa muito mais. Recebo isso com toda a simbologia que isso de fato tem. Essa coisa de me receber assim mesmo. Nessa casa deliciosa, com jantares inesquecíveis - desde o queijo mais incrível da vida, com alho e cebola, até o macarrão com aspargos que, no fundo, no fundo, ficou ótimo. E a gente sabe. Nem que seja só pelas risadas do jantar.
Com você é assim. Morro de orgulho. Da mãe que você é. Da pessoa. Da mulher. A-mo. Amo mais ainda essa coisa dos nossos códigos da comunicação, dos sites de maquiagem antes de dormir, dos segredos que a gente morre de falar sem constrangimento algum. Sem falar no nosso café predileto, da vida, que vamos imitar, quando a gente crescer. E o cabelo brilhante, os óculos novos que quero iguais. Os esmaltes que a gente ama-mais-que-tudo e essa coisa da gente bancar a perua, mas amar o tenis velho de sempre.
Por isso que hoje vou fechar a minha mochila verde e a minha mala preta que quase não fecha mais, com algum aperto na garganta, que vai raspar, mas vou engolir o choro. E vou imaginar que estou fechando tudo lá dentro, com cadeado e tudo, só pra não deixar escapar nada. Na-da.
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4 comentários:
Poxa, arrepiou! bjs
Chorei.
arrepiou, chorei, pacote completo.
vai ter réplica, tá? (um dia, haha, porque comigo é assim.)
alice ainda não entendeu onde vc foi parar, fica luluzando o dia todo. já estamos com saudade!
beijo
fofa!
sabia que também canto "atirei o pau no gato" e sempre acho super politicamente incorreto. mas, ele se racha. saudades luluca.
beijos e aproveita!
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