sexta-feira, abril 24

:: Dos momentos em casa

Desde sempre eu gosto (muito) dos meus momentos em casa. Desde pequena é assim. Todo mundo sabe que sou agitada, faço um monte de coisa com um monte de gente mas nunca fico sem minhas horas de estar só - e quieta. Quando eu era pequena e dividia quarto com a minha irmã, aproveitava os momentos em que ela preferia estar no meio dos adultos, ouvindo as conversas mais variadas. E eu nunca troquei os meus rabiscos, as minhas músicas, as minhas miniaturas por adultos - a não ser pelo colo do meu pai, eventualmente.

Depois, bem depois, tive um quarto só pra mim e comprei um som novo. Antes, eu tinha um som preto e comprido que eu adorava, para duas fitas, que eu gravava de um lado para o outro loucamente. Desde pequena é assim. Antes do som preto, eu tinha um som menorzinho que eu fazia malabarismos para gravar músicas do rádio. Era assim: na sala lá da casa da vila, bem em frente ao jardim, que eu tanto gostava, tinham duas grandes caixas de som colocadas ali no teto em dois cantos (explica assim?). Meus pais sempre gostaram de ouvir música - e alta. Principalmente nos domingos de sol, em que a gente colocava a mesa da sala de jantar no jardim, entre as flores que mamãe insistia em plantar, e convidava os padrinhos e almoçávamos por horas. E, para as crianças, não tinha aquele compromisso chato de ficar preso à mesa.

Bem, o som. Eu ganhei o tal do som ainda tão pequena que não tocava rádio. Então eu ligava o rádio do som do papai, colocava bem alto, subia no sofá carregando o meu sonzinho pequetucho, toda equilibrada e ofegante, ficava na ponta dos pés, levantava os bracinhos até ficar o mais próxima possível das caixas que estavam no alto e colocava REC. Segurava nesta posição até cansar. Abaixava os pés, apoiava um e outro no sofá, sentava devagar - e às vezes rápido - pausava. Andava até o outro som, desligava o rádio. Voltava a fita e colocava play pra ver o que é que eu tinha aprontado. E ia fazer isso no quarto, para contar nos meus momentos de estar só. E era uma realização total e absoluta.

Hoje tenho um som novo, tenho um iPod, o meu próprio computador e uma casa só minha. E então amanheci bem cedinho, como tem sido, e ele tinha me mandado o disco de Alva Noto e Ryuichi Sakamoto, depois de me falar mais de uma vez sobre o piano e me deixar curiosa. Play e peguei todas as Ilustradas antigas das quintas-feiras que fiquei fora e li, cuidadosamente, as matérias, notas, colunas e afins das páginas de comida. Enquanto isso, chá gelado e algumas anotações. E ja ja vou cortar cebolas porque não fui viajar, mas vou receber amigos para o almoço e, depois, para o chá.

2 comentários:

Saulo disse...

hm.... chá você que faz também?

lufec disse...

os chás eu trouxe de Paris... já pensou?