:: Das teorias
Por que diabos existem seres humanos que simplesmente não conhecem ou não respeitam a teoria da bolha?
terça-feira, março 31
:: Shuffle
Eu e meu iPod nos entendemos tão bem que é como se houvesse uma coisa sobrenatural de transmissão de energia. Hoje, no fim do dia, tava um por-do-sol que faz a gente não querer ir embora. E então caminhei horrores ali beirando o Jardin des Tuileries. Um choque. E começa a tocar Thelonious Monk. Amo. E anda mais e mais e mais e: Cartola seguido de Adoniran. Quando eu já não aguentava mais andar (porque hoje andei mais de 10 horas, que saúde) e queria mais-que-tudo chegar em casa, sobretudo por conta do não-banheiro o dia todo*, começou a tocar "Chambermaid Swing", do Parov Stelar, e, logo depois, Hercules and Love Affair. Apertei o passo e já estou no conforto do lar. E tem mais: cheguei e o jantar estava quase pronto - que luxo. É o tempo de tomar um banho (e até demorar se quiser - e eu quero!).
*sobre a história do não-banheiro foi assim, o dia todo. Aí, lá pelas cinco e pouco, entrei numa loja só pra dar o golpe do banheiro. Mas, como sou muito fina, eu até comprei um gatinho miniatura pra tentar ganhar a dona da loja na simpatia. Mas nada. Quando perguntei sobre um banheiro ela disse que ali ali no metrô tinha um. E eu fiz uma cara de: jamais. Banheiro do metrô? Nun-ca.
Eu e meu iPod nos entendemos tão bem que é como se houvesse uma coisa sobrenatural de transmissão de energia. Hoje, no fim do dia, tava um por-do-sol que faz a gente não querer ir embora. E então caminhei horrores ali beirando o Jardin des Tuileries. Um choque. E começa a tocar Thelonious Monk. Amo. E anda mais e mais e mais e: Cartola seguido de Adoniran. Quando eu já não aguentava mais andar (porque hoje andei mais de 10 horas, que saúde) e queria mais-que-tudo chegar em casa, sobretudo por conta do não-banheiro o dia todo*, começou a tocar "Chambermaid Swing", do Parov Stelar, e, logo depois, Hercules and Love Affair. Apertei o passo e já estou no conforto do lar. E tem mais: cheguei e o jantar estava quase pronto - que luxo. É o tempo de tomar um banho (e até demorar se quiser - e eu quero!).
*sobre a história do não-banheiro foi assim, o dia todo. Aí, lá pelas cinco e pouco, entrei numa loja só pra dar o golpe do banheiro. Mas, como sou muito fina, eu até comprei um gatinho miniatura pra tentar ganhar a dona da loja na simpatia. Mas nada. Quando perguntei sobre um banheiro ela disse que ali ali no metrô tinha um. E eu fiz uma cara de: jamais. Banheiro do metrô? Nun-ca.
segunda-feira, março 30
:: Surpresas matinais
Aqui em Paris parece que as emoções alcançam o auge. E hoje acordei e, entre o café e o caderno, vim espiar os e-mails e ele estava lá com suas dicas incríveis, com suas histórias pela metade que vamos completar uma a uma ao vivo, ouvindo as músicas novas que ele acumulou pela América do Norte. Nunca tive dúvidas dos motivos que me deixam tão saudosa quando ele está longe. Dos trechos:
"Se tiver um tempinho, dá uma passada lá no 54 da Fauburg St. Honoré. É a loja da minha querida Rei Kawakubo, que faz as roupas mais incríveis do mundo e pensa nos melhores cheiros (que são baratinhos) do universo. A japonesa é louca a ponto de criar perfumes conceituais que misturam cheiro de poeira que fica em cima da lampada do abajur + a primeira nuvem do mês de julho. Poesia em frascos, coisa de japonês. Lá vc tb. encontra as roupas mais bonitas feitas pelo Junya Watanabe, que é um fera. A loja vermelha mexe inteira quando vc entra. Uma coisa. E um outro endereço, que tem de tudo, a MERCI, no 111 do Boulevard Beaumarchais, da Marie France Cohen, irmã da Anick Goutal. É a nova coqueluche de Paris. Porque coqueluche é uma palvra que a gente só pode usar quando fala de Paris não te parece?"
Aqui em Paris parece que as emoções alcançam o auge. E hoje acordei e, entre o café e o caderno, vim espiar os e-mails e ele estava lá com suas dicas incríveis, com suas histórias pela metade que vamos completar uma a uma ao vivo, ouvindo as músicas novas que ele acumulou pela América do Norte. Nunca tive dúvidas dos motivos que me deixam tão saudosa quando ele está longe. Dos trechos:
"Se tiver um tempinho, dá uma passada lá no 54 da Fauburg St. Honoré. É a loja da minha querida Rei Kawakubo, que faz as roupas mais incríveis do mundo e pensa nos melhores cheiros (que são baratinhos) do universo. A japonesa é louca a ponto de criar perfumes conceituais que misturam cheiro de poeira que fica em cima da lampada do abajur + a primeira nuvem do mês de julho. Poesia em frascos, coisa de japonês. Lá vc tb. encontra as roupas mais bonitas feitas pelo Junya Watanabe, que é um fera. A loja vermelha mexe inteira quando vc entra. Uma coisa. E um outro endereço, que tem de tudo, a MERCI, no 111 do Boulevard Beaumarchais, da Marie France Cohen, irmã da Anick Goutal. É a nova coqueluche de Paris. Porque coqueluche é uma palvra que a gente só pode usar quando fala de Paris não te parece?"
domingo, março 29
:: Dos romances literários (e musicais)
Eu tinha esperado acordar com raios de sol pela sala. Ele mandou "Georgia" para adoçar o dia. E tenho mesmo certa aflição dessas coisas das coincidências. Django Reinhardt e o Quintette du Hot Club de France apareceram exaustivamente na exposição de Jazz que eu escolhi pra ir ontem. Ontem foi assim. Escolhi o dia do sol, apesar de ter quase doído esperar para ouvir o que ele tinha aprontado. Escolhi o dia do sol para ir ao Le Comptoir, o bistrô que o Josi recomendou com seus cérebros de animais de todas as espécies, as bochechas de boi, as tripas, os pés. E eu fui no leitãozinho com lentilha, cozido depois assado, que desmanchou na boca, no meio daquele ambiente cheio de charme com um clima francês, no que os franceses têm de melhor.
E depois era hora de caminhar até a torre. Antes, a exposição de Jazz. Primeiro porque estava mesmo na agenda. Segundo porque ia criar todo um clima até potencializar ao máximo as sensações daquele momento da playlist no Champ de Mars. Exatamente como ele tinha dito. E eu assimilei. Desde sempre. Tudo, apesar da curiosidade. E eu tinha mesmo razão. A trilha agora é a trilha de Paris. Não era pra ser diferente.
Na exposição fiz anotações. Eu sempre faço anotações. Escrevi alguns nomes de pessoas com cara de quem canta e toca bem para pesquisar depois. Tem essa coisa da energia, bem no fundo. Anotei "Hot Jazz", "Harlem Renaissance" porque quero entender melhor os movimentos. Ou, de repente, ele pode me explicar baixinho, do jeito que, ele sabe, eu ficaria horas ouvindo. Mais: rabisquei, em francês mesmo, uma passagem de um livro que dizia algo sobre a improvisação. Depois vamos traduzir pra ver se tem alguma ligação com essa coisa que ele leu na biografia do Charles Mingus, que ele lê e conta. Lê e conta. E eu adoro.
Na saída do museu, frio cortante que até fez doer. E eu, animada com aqueles raios de sol matinais, invadindo a sala através das cinco janelas que vão do teto ao chão, saí sem meia-calça, sem guarda-chuva, sem chapéu. Fiquei impressionada com a torre. Uma coisa de arrepiar que não consigo colocar em palavras. Foi algo que me fez esquecer aquele monte de turista amontoado, que não suporto (prontofalei). Não pensei que fosse ser assim. Não sei entender por que diabos eu sempre relacionei a torre com a estatua da liberdade, que eu me recusei chegar perto. Mas não. Foi tudo diferente. E tinha uma coisa especial no ar, uma coisa própria daquele momento.
Tirei umas fotos, sem exagero. Observei um pouco e caminhei lentamente para os bancos do Champ de Mars, bem como ele insistiu. E estava quase na hora do sorriso bobo que ele imaginou e me deu até certo nervoso. E o frio cortante, a dor de cabeça. E...play. Play? Eu diria. E começou a chover, de leve. E depois dos 13 minutos, muito. Eu digo. Sempre chove. Sempre. E eu nem tento mais entender.
Eu corri pra uma barraca de cachorro-quente ali do lado, perto das alamedas de árvore sem tirar o iPod do corpo. Porque era mesmo como se tudo aquilo invadisse meu corpo inteiro. Impressionada com as palmas e o piano. Palmas. Piano. Depois com o assobio que tenho certeza que ele deve tentar imitar, juntinho. E a tarde de sol que eu tinha escolhido ficou assim, chuva de gelo - e até pareceu neve. Então tentei ver certo romantismo naquilo também. Porque aquele gramado coberto por pedacinhos de gelo tinha mesmo o seu charme.
Por segundos me senti rompendo o combinado, mas não pausei. Não pausei mais. Tomei muita chuva, dor de cabeça, dor nos pés de tanto frio. All Star novo com cara de velho. Ensopado. Luvas laranjas grudadas nos dedos. E o cabelo no rosto molhado. O cabelo molhado. O rosto molhado. Caminhei até o ponto de ônibus. E a playlist tocando. E tinha todo um lance de perplexidade naquilo. Porque eu realmente estava impressionada com aquelas músicas, com a sequência, com a harmonia daquilo tudo. Daquilo por si só e mais: era como se houvesse mesmo uma playlist feita especialmente para ouvir ali. Era como se fosse mesmo verdade.
Mas choveu. Choveu muito. E eu nem sei mais.
Eu tinha esperado acordar com raios de sol pela sala. Ele mandou "Georgia" para adoçar o dia. E tenho mesmo certa aflição dessas coisas das coincidências. Django Reinhardt e o Quintette du Hot Club de France apareceram exaustivamente na exposição de Jazz que eu escolhi pra ir ontem. Ontem foi assim. Escolhi o dia do sol, apesar de ter quase doído esperar para ouvir o que ele tinha aprontado. Escolhi o dia do sol para ir ao Le Comptoir, o bistrô que o Josi recomendou com seus cérebros de animais de todas as espécies, as bochechas de boi, as tripas, os pés. E eu fui no leitãozinho com lentilha, cozido depois assado, que desmanchou na boca, no meio daquele ambiente cheio de charme com um clima francês, no que os franceses têm de melhor.
E depois era hora de caminhar até a torre. Antes, a exposição de Jazz. Primeiro porque estava mesmo na agenda. Segundo porque ia criar todo um clima até potencializar ao máximo as sensações daquele momento da playlist no Champ de Mars. Exatamente como ele tinha dito. E eu assimilei. Desde sempre. Tudo, apesar da curiosidade. E eu tinha mesmo razão. A trilha agora é a trilha de Paris. Não era pra ser diferente.
Na exposição fiz anotações. Eu sempre faço anotações. Escrevi alguns nomes de pessoas com cara de quem canta e toca bem para pesquisar depois. Tem essa coisa da energia, bem no fundo. Anotei "Hot Jazz", "Harlem Renaissance" porque quero entender melhor os movimentos. Ou, de repente, ele pode me explicar baixinho, do jeito que, ele sabe, eu ficaria horas ouvindo. Mais: rabisquei, em francês mesmo, uma passagem de um livro que dizia algo sobre a improvisação. Depois vamos traduzir pra ver se tem alguma ligação com essa coisa que ele leu na biografia do Charles Mingus, que ele lê e conta. Lê e conta. E eu adoro.
Na saída do museu, frio cortante que até fez doer. E eu, animada com aqueles raios de sol matinais, invadindo a sala através das cinco janelas que vão do teto ao chão, saí sem meia-calça, sem guarda-chuva, sem chapéu. Fiquei impressionada com a torre. Uma coisa de arrepiar que não consigo colocar em palavras. Foi algo que me fez esquecer aquele monte de turista amontoado, que não suporto (prontofalei). Não pensei que fosse ser assim. Não sei entender por que diabos eu sempre relacionei a torre com a estatua da liberdade, que eu me recusei chegar perto. Mas não. Foi tudo diferente. E tinha uma coisa especial no ar, uma coisa própria daquele momento.
Tirei umas fotos, sem exagero. Observei um pouco e caminhei lentamente para os bancos do Champ de Mars, bem como ele insistiu. E estava quase na hora do sorriso bobo que ele imaginou e me deu até certo nervoso. E o frio cortante, a dor de cabeça. E...play. Play? Eu diria. E começou a chover, de leve. E depois dos 13 minutos, muito. Eu digo. Sempre chove. Sempre. E eu nem tento mais entender.
Eu corri pra uma barraca de cachorro-quente ali do lado, perto das alamedas de árvore sem tirar o iPod do corpo. Porque era mesmo como se tudo aquilo invadisse meu corpo inteiro. Impressionada com as palmas e o piano. Palmas. Piano. Depois com o assobio que tenho certeza que ele deve tentar imitar, juntinho. E a tarde de sol que eu tinha escolhido ficou assim, chuva de gelo - e até pareceu neve. Então tentei ver certo romantismo naquilo também. Porque aquele gramado coberto por pedacinhos de gelo tinha mesmo o seu charme.
Por segundos me senti rompendo o combinado, mas não pausei. Não pausei mais. Tomei muita chuva, dor de cabeça, dor nos pés de tanto frio. All Star novo com cara de velho. Ensopado. Luvas laranjas grudadas nos dedos. E o cabelo no rosto molhado. O cabelo molhado. O rosto molhado. Caminhei até o ponto de ônibus. E a playlist tocando. E tinha todo um lance de perplexidade naquilo. Porque eu realmente estava impressionada com aquelas músicas, com a sequência, com a harmonia daquilo tudo. Daquilo por si só e mais: era como se houvesse mesmo uma playlist feita especialmente para ouvir ali. Era como se fosse mesmo verdade.
Mas choveu. Choveu muito. E eu nem sei mais.
:: Eu e o Lenôtre
No topo da lista das coisas que mais tinha vontade de fazer em Paris estava ir ao Gaston Lenôtre. E tinha uma loja do lado de casa, bem ali. Nesta sexta que passou foi dia de, enfim, entrar. Banquei a pior das turistas e tirei foto fazendo pose na fachada e tudo. E lá dentro fotografei os macarons de Gaston Lenôtre. Os famosos macarons do chef-pâtissier que morreu no começo deste ano, aos 88 anos, e participou do movimento da "nouvelle cuisine".
Depois disso, tomei um pito porque não podia tirar foto lá dentro. Vai entender. Vai entender. Fui arranhar o inglês com o gerente e ele disse não. Ele repetiu "não" algumas vezes e "lá fora", outras. Depois fiquei pensando se foi antipatia ou se ele só sabia essas duas palavras em inglês.
No topo da lista das coisas que mais tinha vontade de fazer em Paris estava ir ao Gaston Lenôtre. E tinha uma loja do lado de casa, bem ali. Nesta sexta que passou foi dia de, enfim, entrar. Banquei a pior das turistas e tirei foto fazendo pose na fachada e tudo. E lá dentro fotografei os macarons de Gaston Lenôtre. Os famosos macarons do chef-pâtissier que morreu no começo deste ano, aos 88 anos, e participou do movimento da "nouvelle cuisine".
Depois disso, tomei um pito porque não podia tirar foto lá dentro. Vai entender. Vai entender. Fui arranhar o inglês com o gerente e ele disse não. Ele repetiu "não" algumas vezes e "lá fora", outras. Depois fiquei pensando se foi antipatia ou se ele só sabia essas duas palavras em inglês.
sexta-feira, março 27
:: Das minhas histórias com o jazz
Às vezes acontece de arriscar a dizer que quase gosto mais de jazz do que de MPB. Em Paris está sendo mais ou menos assim. Minha primeira foto com a Nikon-nova-em-folha foi da fachada de uma loja de vinis de jazz, onde passo quase todos os dias e paro, invariavelmente, para dar uma espiada. É como se o jazz construísse as histórias. Hoje parei um pouco sozinha no Jardin de Luxembourg, um dos lugares mais encantadores daqui. Abri o caderno, anotei as ideias enquanto ouvia Wayne Shorter (e também ouvi Thom York, "Rabbit in Your Headlights"). E então comecei a lembrar dos shows de jazz de NY, o Joshua ao vivo, pertinho de mim, pela primeira vez, os novos talentos do jazz no Dizzy's Club, com aquela fachada de vidro em plena Columbus Circle, de frente para o Central Park, Pat Matheny, os jazzistas do Harlem, que fui ver num bar lá em cima, com acesso por uma portinha suspeita, com luzes piscando lá dentro e só a comunidade.
Tudo isso para me preparar pra noite de hoje, que acabou gloriosa. A noite do Divan du Monde. A noite de Herbie Hancock. Ali naquele bairro descoladinho à noite, que concentra um monte de gente na rua de paralelepipedo, com casinhas de jazz e bistrôs dos mais charmosos. Assim.
E então entrei por uma porta pesada e lá dentro estava o pequeno palco, a cortina de veludo vermelho, o clima de antigamente, o piso de madeira, as poucas mesas, os homens barbados, as meninas lindamente descabeladas. O bar. A cerveja. Meia-luz. E assim foi que shows do passado começaram a ser projetados em um telão. Aparece o próprio HH. Aparece Ron Carter. Aparecem outros vários e ela ali, contando as últimas histórias de amor e eu fazendo pequenas pausas para anotações rápidas.
O trio entrou no palco: um foi para o piano de cauda. Outro na bateria. Outro com o contrabaixo acústico. Ai. Todas as sextas eles tocam ali, os caras grisalhos que devem tocar há anos. Anos. E eu estava ali. Bem ali. Boa noite e tal e o pianista começa dizendo que todos os estudantes de jazz deviam saber tocar " Dolphin Dance", que não importa o quanto eles vão sofrer para aprender, precisam saber e ponto. E começou. E aí já não tinha mais volta: estava mesmo começando a minha melhor noite em Paris.
E depois teve "Textures", com um contrabaixo incrível (mesmo). E então "Speak Like a Child", "Butterfly". Uma pausa para o trio, que saiu do palco um pouco, enquanto aquela moçada toda ficava ali sentada no chão, ouvindo atenta, sabe. E começa a tocar Black Rio no intervalo. Céus. Black Rio. Me deu um arrepio difícil de explicar. Na volta: uma. Duas. Três e então eles começaram a tocar uma versão de "Cantaloup", que "não é a que a gente conhece", disse o pianista. E não era mesmo. Mas foi a versão mais incrível que já ouvi de "Cantaloup". Mesmo. Palmas e tal e acabou. Mas eles voltaram. E voltaram com a original de "Cantaloup" e aí não teve mais pra ninguém. Ninguém. Foi vibrante. Dancei ali pertinho, como se não houvesse amanhã.
De lá, fomos direto prum bistrozinho dos mais charmosos que já fui na vida. Não pensei que fosse ser assim aqui. Eis que eu estava mesmo num restaurante minúsculo, vintage, velinhas, toalhas floridas, carta de vinhos escrita à mão, repara. Eu anotei o nome e vou colar o cartão no Moleskine vermelho porque vai integrar as dicas alternativas prediletas: L'Homme Tranquille, chama. Mas nada: o dono é hiperativo e atende as mesas. Diz que é mesmo um restaurante de família, com a mãe a a avó na cozinha. Posso? Comemos saladinha com queijo Saint Marcelin quente e torrada. E estava tocando Beirut e eu nem acreditei. E agora não quero mais nada. Nem dormir.
Às vezes acontece de arriscar a dizer que quase gosto mais de jazz do que de MPB. Em Paris está sendo mais ou menos assim. Minha primeira foto com a Nikon-nova-em-folha foi da fachada de uma loja de vinis de jazz, onde passo quase todos os dias e paro, invariavelmente, para dar uma espiada. É como se o jazz construísse as histórias. Hoje parei um pouco sozinha no Jardin de Luxembourg, um dos lugares mais encantadores daqui. Abri o caderno, anotei as ideias enquanto ouvia Wayne Shorter (e também ouvi Thom York, "Rabbit in Your Headlights"). E então comecei a lembrar dos shows de jazz de NY, o Joshua ao vivo, pertinho de mim, pela primeira vez, os novos talentos do jazz no Dizzy's Club, com aquela fachada de vidro em plena Columbus Circle, de frente para o Central Park, Pat Matheny, os jazzistas do Harlem, que fui ver num bar lá em cima, com acesso por uma portinha suspeita, com luzes piscando lá dentro e só a comunidade.
Tudo isso para me preparar pra noite de hoje, que acabou gloriosa. A noite do Divan du Monde. A noite de Herbie Hancock. Ali naquele bairro descoladinho à noite, que concentra um monte de gente na rua de paralelepipedo, com casinhas de jazz e bistrôs dos mais charmosos. Assim.
E então entrei por uma porta pesada e lá dentro estava o pequeno palco, a cortina de veludo vermelho, o clima de antigamente, o piso de madeira, as poucas mesas, os homens barbados, as meninas lindamente descabeladas. O bar. A cerveja. Meia-luz. E assim foi que shows do passado começaram a ser projetados em um telão. Aparece o próprio HH. Aparece Ron Carter. Aparecem outros vários e ela ali, contando as últimas histórias de amor e eu fazendo pequenas pausas para anotações rápidas.
O trio entrou no palco: um foi para o piano de cauda. Outro na bateria. Outro com o contrabaixo acústico. Ai. Todas as sextas eles tocam ali, os caras grisalhos que devem tocar há anos. Anos. E eu estava ali. Bem ali. Boa noite e tal e o pianista começa dizendo que todos os estudantes de jazz deviam saber tocar " Dolphin Dance", que não importa o quanto eles vão sofrer para aprender, precisam saber e ponto. E começou. E aí já não tinha mais volta: estava mesmo começando a minha melhor noite em Paris.
E depois teve "Textures", com um contrabaixo incrível (mesmo). E então "Speak Like a Child", "Butterfly". Uma pausa para o trio, que saiu do palco um pouco, enquanto aquela moçada toda ficava ali sentada no chão, ouvindo atenta, sabe. E começa a tocar Black Rio no intervalo. Céus. Black Rio. Me deu um arrepio difícil de explicar. Na volta: uma. Duas. Três e então eles começaram a tocar uma versão de "Cantaloup", que "não é a que a gente conhece", disse o pianista. E não era mesmo. Mas foi a versão mais incrível que já ouvi de "Cantaloup". Mesmo. Palmas e tal e acabou. Mas eles voltaram. E voltaram com a original de "Cantaloup" e aí não teve mais pra ninguém. Ninguém. Foi vibrante. Dancei ali pertinho, como se não houvesse amanhã.
De lá, fomos direto prum bistrozinho dos mais charmosos que já fui na vida. Não pensei que fosse ser assim aqui. Eis que eu estava mesmo num restaurante minúsculo, vintage, velinhas, toalhas floridas, carta de vinhos escrita à mão, repara. Eu anotei o nome e vou colar o cartão no Moleskine vermelho porque vai integrar as dicas alternativas prediletas: L'Homme Tranquille, chama. Mas nada: o dono é hiperativo e atende as mesas. Diz que é mesmo um restaurante de família, com a mãe a a avó na cozinha. Posso? Comemos saladinha com queijo Saint Marcelin quente e torrada. E estava tocando Beirut e eu nem acreditei. E agora não quero mais nada. Nem dormir.
:: Dos e-mails de mãe
Sempre que estou longe, mamãe tem mais saudade de mim. E outro dia mandei notícias, ela ficou toda feliz e tentou ajudar numa parte que eu mostrava muita ansiedade. Eu amei. Foi assim:
"E quanto a ele, tempo, pense em aproveitá-lo ao máximo. E não consumi-lo ao máximo. Respire. Contemple. A gente nunca dá mesmo de dar conta de tudo. Mesmo com todo o tempo do mundo!"
Sempre que estou longe, mamãe tem mais saudade de mim. E outro dia mandei notícias, ela ficou toda feliz e tentou ajudar numa parte que eu mostrava muita ansiedade. Eu amei. Foi assim:
"E quanto a ele, tempo, pense em aproveitá-lo ao máximo. E não consumi-lo ao máximo. Respire. Contemple. A gente nunca dá mesmo de dar conta de tudo. Mesmo com todo o tempo do mundo!"
:: Das perfeições
Porque quando a gente merece elas existem, não é ou não é? E então estou hospedada numa companhia de dar inveja, num apartamento que, só na sala, tem cinco (cin-co) janelas enormes do teto até o chão, com vista pro Sena. E ando um pouquinho pra lá, assim, poucos passos, e caio na Bastille e, logo ali na esquina, está o Lenotre (e eu vou mesmo bancar a turista e tirar várias fotos, já que não vou poder me empanturrar de macarons e afins - mas ainda estou com vergonha da cena). Mais uns passos curtos e chego na Place des Voges e, numa caminhadinha pouco maior, posso ir até I'Île Saint-Louis, que é a coisa mais meiga. Que vida.
Porque quando a gente merece elas existem, não é ou não é? E então estou hospedada numa companhia de dar inveja, num apartamento que, só na sala, tem cinco (cin-co) janelas enormes do teto até o chão, com vista pro Sena. E ando um pouquinho pra lá, assim, poucos passos, e caio na Bastille e, logo ali na esquina, está o Lenotre (e eu vou mesmo bancar a turista e tirar várias fotos, já que não vou poder me empanturrar de macarons e afins - mas ainda estou com vergonha da cena). Mais uns passos curtos e chego na Place des Voges e, numa caminhadinha pouco maior, posso ir até I'Île Saint-Louis, que é a coisa mais meiga. Que vida.
:: Dos improváveis
Falando mais que a boca pelas ruas do Marais, depois de deixar a pequena Alice na escola, passamos por uma esquina, em frente a um café, onde duas pessoas conversavam, um homem e uma mulher. Depois que dobramos ali na rua ao lado, a mulher reaparece correndo loucamente e gritando ao mesmo tempo (que saúde, correr e gritar ao mesmo tempo, céus!):
- Mademoiselle, mademoiselle?!
E eu paro e olho pra tras. E ela continua em inglês com aquele sotaque carregado:
- Vocês estão falando português ou brasileiro?
- Português do Brasil.
E ela se vira pro sujeito que estava na esquina e diz algo como: "Está vendo? Acertei!"
E eu preocupada porque não sei reconhecer os ícones da cidade, GOD.
Falando mais que a boca pelas ruas do Marais, depois de deixar a pequena Alice na escola, passamos por uma esquina, em frente a um café, onde duas pessoas conversavam, um homem e uma mulher. Depois que dobramos ali na rua ao lado, a mulher reaparece correndo loucamente e gritando ao mesmo tempo (que saúde, correr e gritar ao mesmo tempo, céus!):
- Mademoiselle, mademoiselle?!
E eu paro e olho pra tras. E ela continua em inglês com aquele sotaque carregado:
- Vocês estão falando português ou brasileiro?
- Português do Brasil.
E ela se vira pro sujeito que estava na esquina e diz algo como: "Está vendo? Acertei!"
E eu preocupada porque não sei reconhecer os ícones da cidade, GOD.
quarta-feira, março 25
:: Os escritos
Confesso. Trocar o moleskine pelo computador não é das missões mais fáceis. Ainda bem. Meus cadernos de viagem carregam todo tipo de pensamento, notas fiscais, cartões de lojas e restaurantes e rabiscos dos mais variados, como o fato de, aqui em Paris, não estar mais na estação do figo e, por isso, eu ter pulado o sorvete da Bertillon, na Ille de Saint-Louis. Uma coisa que não faço nele, que agora ganhou uma versão vermelha no lugar da preta, é a agenda do futuro. Essa fica num outro caderninho que abro toda hora pra fazer anotações sem capricho. E lá estão listadas a (supostamente incrível) exposição de jazz (!) e uma festa nesta sexta, com o tema "Music Of Herbie Hancock". Diz ela que, quando viu a programação, que nem sabe ao certo qual é pois anda muito ocupada com os preparativos do festival de cinema brasileiro aqui em Paris, lembrou de mim na hora. Por isso anotei na agenda e já combinamos até a hora e o metrô que vamos nos encontrar na sexta.
Dos poucos rabiscos públicos aparecem coisas como:
- o meu desespero diante dos cosméticos
- adoro as quitandas no meio da rua, em cada esquina
- comprei minha Nikon
- a primeira fila que não tive de pegar no musée d'orsay
- o passeio pela beira do sena num frio cortando, com os raios de sol do fim do dia
- a loja que tinha na vitrine meus banquinhos na baraúna, com o logo e tudo
- os queijos e os pães
- a lista de lojas de comida e restaurantes, que tem pela frente
- o meu vasto vocabulário em francês, que está quase fluente, com bom dia e tudo - rá
- o dia em que me perdi de onibus e adorei
- os travesseiros quadrados (ai, os travesseiros quadrados)
Confesso. Trocar o moleskine pelo computador não é das missões mais fáceis. Ainda bem. Meus cadernos de viagem carregam todo tipo de pensamento, notas fiscais, cartões de lojas e restaurantes e rabiscos dos mais variados, como o fato de, aqui em Paris, não estar mais na estação do figo e, por isso, eu ter pulado o sorvete da Bertillon, na Ille de Saint-Louis. Uma coisa que não faço nele, que agora ganhou uma versão vermelha no lugar da preta, é a agenda do futuro. Essa fica num outro caderninho que abro toda hora pra fazer anotações sem capricho. E lá estão listadas a (supostamente incrível) exposição de jazz (!) e uma festa nesta sexta, com o tema "Music Of Herbie Hancock". Diz ela que, quando viu a programação, que nem sabe ao certo qual é pois anda muito ocupada com os preparativos do festival de cinema brasileiro aqui em Paris, lembrou de mim na hora. Por isso anotei na agenda e já combinamos até a hora e o metrô que vamos nos encontrar na sexta.
Dos poucos rabiscos públicos aparecem coisas como:
- o meu desespero diante dos cosméticos
- adoro as quitandas no meio da rua, em cada esquina
- comprei minha Nikon
- a primeira fila que não tive de pegar no musée d'orsay
- o passeio pela beira do sena num frio cortando, com os raios de sol do fim do dia
- a loja que tinha na vitrine meus banquinhos na baraúna, com o logo e tudo
- os queijos e os pães
- a lista de lojas de comida e restaurantes, que tem pela frente
- o meu vasto vocabulário em francês, que está quase fluente, com bom dia e tudo - rá
- o dia em que me perdi de onibus e adorei
- os travesseiros quadrados (ai, os travesseiros quadrados)
domingo, março 22
:: Das trocas de discos
Ontem foi o dia da troca dos discos. Um deles, eu só vou poder ouvir no avião. O outro, no gramado do Champ de Mars. E eu, louca, prometi resistir até lá. Enquanto isso, vou ficar pensando se ele gostou dos chineses que não sei escrever o nome (nem ler, nem falar) e de outras mais. Todas as outras.
Ontem foi o dia da troca dos discos. Um deles, eu só vou poder ouvir no avião. O outro, no gramado do Champ de Mars. E eu, louca, prometi resistir até lá. Enquanto isso, vou ficar pensando se ele gostou dos chineses que não sei escrever o nome (nem ler, nem falar) e de outras mais. Todas as outras.
sexta-feira, março 20
:: Das piadas que salvam
Quando a gente está acabado de cansaço, tem gente que faz a gente se acabar de rir. Ufa. Hoje foi assim. O assunto era a comunidade "pela banalização do champanhe", que diz "na vitória você merece, na derrora você precisa". Depois tem outra assim: "Porque beber champanhe SÓ em dia de festa é coisa de pobre". rá!
Quando a gente está acabado de cansaço, tem gente que faz a gente se acabar de rir. Ufa. Hoje foi assim. O assunto era a comunidade "pela banalização do champanhe", que diz "na vitória você merece, na derrora você precisa". Depois tem outra assim: "Porque beber champanhe SÓ em dia de festa é coisa de pobre". rá!
:: Pequenas frustrações
Como é que vou dizer pra ela que fui em três lojas, das mais lindas da Vila Madalena, procurar uma agenda, que ela estranhamente ainda não tem, e não achei nenhuma diferente da pretinha básica? Claro, março, todas acabaram.
Como é que eu vou dizer pra ela que fui na Fnac e na banca da Cidade Jardim só para procurar a tal da revista espanhola-com-brinde e simplesmente não achei?
Será que se eu falar que vou levar o fio dental sem falta, ajuda?
Como é que vou dizer pra ela que fui em três lojas, das mais lindas da Vila Madalena, procurar uma agenda, que ela estranhamente ainda não tem, e não achei nenhuma diferente da pretinha básica? Claro, março, todas acabaram.
Como é que eu vou dizer pra ela que fui na Fnac e na banca da Cidade Jardim só para procurar a tal da revista espanhola-com-brinde e simplesmente não achei?
Será que se eu falar que vou levar o fio dental sem falta, ajuda?
:: Do conhecimento
Hoje entrevistei, rapidamente, o Alex Atala, para uma nota que darei na coluna. Quando desliguei, ela fez cara de "também quero" - porque ontem foi o Rodrigo do Mocotó, depois teve o Raphael Durand, do Marcel... Mas então, me contou que nas aulas de árabe, ela aprendeu que Atala quer dizer dádiva de Deus. E me ensinou.
Hoje entrevistei, rapidamente, o Alex Atala, para uma nota que darei na coluna. Quando desliguei, ela fez cara de "também quero" - porque ontem foi o Rodrigo do Mocotó, depois teve o Raphael Durand, do Marcel... Mas então, me contou que nas aulas de árabe, ela aprendeu que Atala quer dizer dádiva de Deus. E me ensinou.
quarta-feira, março 18
:: Das encomendas
E então eu disse que ela podia me pedir qualquer coisa do Brasil. De novo: qual-quer coi-sa. E então ela me pede uma revista espanhola-sei-lá-do-que que nem imoporta. "Compra só se vier com o brinde, adoro o brinde dessa revista e não acho aqui em Paris". Pois é. Medo. Passa um dia, chega mais um e-mail dela com outra encomenda. Sim, ela pedui 3 fitas dental J&J reach expansion plus e me mandou até uma foto pra eu saber exatamente qual é.
E então eu disse que ela podia me pedir qualquer coisa do Brasil. De novo: qual-quer coi-sa. E então ela me pede uma revista espanhola-sei-lá-do-que que nem imoporta. "Compra só se vier com o brinde, adoro o brinde dessa revista e não acho aqui em Paris". Pois é. Medo. Passa um dia, chega mais um e-mail dela com outra encomenda. Sim, ela pedui 3 fitas dental J&J reach expansion plus e me mandou até uma foto pra eu saber exatamente qual é.
terça-feira, março 17
:: Dos diálogos
- Lu, me empresta "Fazenda Africana"? Ou você é do tipo de não gosta de emprestar livros?
...Olha pra um lado, pro outro, respira e mente: - O livro está com a minha mãe.
Depois ri. Ela sabe.
E aí ela resolveu contar o diálogo do dia anterior, assim:
- E eu pedi "Fazenda Africana" pra Lu e ela disse: "mas é muito parado, você sabe, né?". Vocês acham que eu só ouço eletrônica, viu!
E a outra virou pra mim:
- É, ela deve gostar só de livro com figura.
Um dia depois, ela disse: o título da minha matéria é "Retratos do Artista Quando Jovem". E eu cantei Chico Buarque e ela não reconheceu. E eu ri com a outra (porque a outra reconheceu).
E a gente sempre ri porque, no fundo, a gente se ama. Aliás, ela começou a política do desapego - porque vamos ficar dois meses longe e até dói.
No final, o título da matéria era uma referência ao livro do James Joyce.
- Lu, me empresta "Fazenda Africana"? Ou você é do tipo de não gosta de emprestar livros?
...Olha pra um lado, pro outro, respira e mente: - O livro está com a minha mãe.
Depois ri. Ela sabe.
E aí ela resolveu contar o diálogo do dia anterior, assim:
- E eu pedi "Fazenda Africana" pra Lu e ela disse: "mas é muito parado, você sabe, né?". Vocês acham que eu só ouço eletrônica, viu!
E a outra virou pra mim:
- É, ela deve gostar só de livro com figura.
Um dia depois, ela disse: o título da minha matéria é "Retratos do Artista Quando Jovem". E eu cantei Chico Buarque e ela não reconheceu. E eu ri com a outra (porque a outra reconheceu).
E a gente sempre ri porque, no fundo, a gente se ama. Aliás, ela começou a política do desapego - porque vamos ficar dois meses longe e até dói.
No final, o título da matéria era uma referência ao livro do James Joyce.
:: Das frases de viagem
Na volta do Peru a gente teve ataque de bobeira no voo (que perdeu o acento). Ataque mesmo. Fora eu, era todo mundo meio sério, mas, sinceramente, não sei quem riu mais. Foi aquela coisa adolescentinha, de rir mais alto do que deve, tomar uísque e mexer o gelo com o dedo fazendo pose. Um pouco de falta de sono generalizada, porque teve o mercado de peixe às 3 da manhã, depois de sair do jantar no Gaston Acurio lá pela 1h30. Depois, ainda, veio o mercado Mika, onde precisamos fazer anotações de todas as espécies sobre os vários tipos de batatas (haja memória) e frutas e ajís e afins.
Mas, enfim, achei engraçado que ela tem a mesma mania que eu de anotar as frases para não esquecer. E anotamos algumas assim:
- Quando magro cai, ninguém lembra.
- A maledicência une as pessoas (essa é clássica de ME, mas eu usei, com os créditos, e todo mundo amou)
- Fora da casinha
Na volta do Peru a gente teve ataque de bobeira no voo (que perdeu o acento). Ataque mesmo. Fora eu, era todo mundo meio sério, mas, sinceramente, não sei quem riu mais. Foi aquela coisa adolescentinha, de rir mais alto do que deve, tomar uísque e mexer o gelo com o dedo fazendo pose. Um pouco de falta de sono generalizada, porque teve o mercado de peixe às 3 da manhã, depois de sair do jantar no Gaston Acurio lá pela 1h30. Depois, ainda, veio o mercado Mika, onde precisamos fazer anotações de todas as espécies sobre os vários tipos de batatas (haja memória) e frutas e ajís e afins.
Mas, enfim, achei engraçado que ela tem a mesma mania que eu de anotar as frases para não esquecer. E anotamos algumas assim:
- Quando magro cai, ninguém lembra.
- A maledicência une as pessoas (essa é clássica de ME, mas eu usei, com os créditos, e todo mundo amou)
- Fora da casinha
:: As metades
Metade das pessoas que eu mais amo (e que mais me conhecem) diz que eu vou gostar mais de Paris. A outra, mais de Londres. Uma metade diz que eu tenho de levar o laptop (claro). A outra, jamais. Uma metade diz que, sim, devo levar o puma preto, mesmo sendo meio feio. A outra diz que não, pelamor - Paris é chique demais para um puma preto (rá). Metade diz que vale a pena eu levar o sapato preto de salto pra fazer pose em um ou outro restaurante chique que eu escolher pra conhecer (depois de dias sem comer só para economizar euros, claro). A outra diz não, pelamor, não leve salto nem para o Alain Ducasse. Então, apesar da mala quase pronta, da lista de remédios formatada e do moleskine verde preenchido com algumas dicas, eu ainda preciso decidir coisas básicas.
Metade das pessoas que eu mais amo (e que mais me conhecem) diz que eu vou gostar mais de Paris. A outra, mais de Londres. Uma metade diz que eu tenho de levar o laptop (claro). A outra, jamais. Uma metade diz que, sim, devo levar o puma preto, mesmo sendo meio feio. A outra diz que não, pelamor - Paris é chique demais para um puma preto (rá). Metade diz que vale a pena eu levar o sapato preto de salto pra fazer pose em um ou outro restaurante chique que eu escolher pra conhecer (depois de dias sem comer só para economizar euros, claro). A outra diz não, pelamor, não leve salto nem para o Alain Ducasse. Então, apesar da mala quase pronta, da lista de remédios formatada e do moleskine verde preenchido com algumas dicas, eu ainda preciso decidir coisas básicas.
sábado, março 14
:: Plantão
Ele é médico e nunca vai no Ano Novo porque está de plantão. Eu sou jornalista e nunca vou no Natal porque estou no plantão. Fora isso, mais várias fins de semana por ano, como esse aqui, que tenho de monitorar as DPs enquanto tomo água-de-coco e faltar nos aniversários dos amigos e nos brindes.
Ele é médico e nunca vai no Ano Novo porque está de plantão. Eu sou jornalista e nunca vou no Natal porque estou no plantão. Fora isso, mais várias fins de semana por ano, como esse aqui, que tenho de monitorar as DPs enquanto tomo água-de-coco e faltar nos aniversários dos amigos e nos brindes.
quinta-feira, março 12
:: Dos diálogos
Eu espero que ele entenda que interrompi a nossa conversa encantada para dar boa noite só porque, antes de dormir, queria registrar aqui o que ele (mesmo) disse. Porque ele é assim. Me deixa ainda mais inspirada para os registros.
ele: não é tão fácil achar gente que goste de música deste jeito. as pessoas gostam de música. mas existe todo um universo da história, da concepção, das diferenças e semelhanças que passa batido.
eu: mas eu não tenho esse refinamento que vc tem - e que, às vezes, acha que eu tenho, sabia?
ele: ah, vc tem. talvez fosse o caso de estudar um pouco. ter um perfil mais de pesquisador. mas aí é perfil, refinamente vc tem.
Eu espero que ele entenda que interrompi a nossa conversa encantada para dar boa noite só porque, antes de dormir, queria registrar aqui o que ele (mesmo) disse. Porque ele é assim. Me deixa ainda mais inspirada para os registros.
ele: não é tão fácil achar gente que goste de música deste jeito. as pessoas gostam de música. mas existe todo um universo da história, da concepção, das diferenças e semelhanças que passa batido.
eu: mas eu não tenho esse refinamento que vc tem - e que, às vezes, acha que eu tenho, sabia?
ele: ah, vc tem. talvez fosse o caso de estudar um pouco. ter um perfil mais de pesquisador. mas aí é perfil, refinamente vc tem.
:: Lupralu
A gente tem playlist no iPod que chama "lupralu" porque ele vive me gravando os melhores discos de mp3 com todas as novidades mais bees - e eu amo (e ele sabe). E então, hoje, eu fui cantar no ouvido dele, porque os dois estão doentes-quase-morrendo nestes dias (e a gente até ri). Agora eu melhorei e fui dar uma palhinha do Luiz Tatit pra ver se ele melhora "essa força". Mais ou menos assim:
Dodói
Composição: Luiz Tatit / Itamar Assumpção
Eu ando tão dodói
Mas tão dodói
Que quando ando dói
Quando não ando dói
Meu corpo todo dói
Tendão dói
Dedão dói
Pomo-de-adão dói
Ouvido dói
Libido dói
Fígado dói
Até meu dom dói
Pois quando canto
Não importa o tom dói
A gente tem playlist no iPod que chama "lupralu" porque ele vive me gravando os melhores discos de mp3 com todas as novidades mais bees - e eu amo (e ele sabe). E então, hoje, eu fui cantar no ouvido dele, porque os dois estão doentes-quase-morrendo nestes dias (e a gente até ri). Agora eu melhorei e fui dar uma palhinha do Luiz Tatit pra ver se ele melhora "essa força". Mais ou menos assim:
Dodói
Composição: Luiz Tatit / Itamar Assumpção
Eu ando tão dodói
Mas tão dodói
Que quando ando dói
Quando não ando dói
Meu corpo todo dói
Tendão dói
Dedão dói
Pomo-de-adão dói
Ouvido dói
Libido dói
Fígado dói
Até meu dom dói
Pois quando canto
Não importa o tom dói
quarta-feira, março 11
:: Das sintonias
Ela sempre diz que a gente tem um amor musical. E eu sei que é verdade. Mas tem mais. A gente tem um amor infinito pela mesma cidade (no mundo inteiro, a mesma cidade, pensa). Por isso que, no fundo, não importa essa coisa da distância. A gente sempre está perto. E então, depois de um tempão paralisada, me animei para um longo e-mail. E valeu só pela resposta. Então eu inventei de colocar umas partes aqui, pra registrar nas páginas que costumo reler nos momentos de saudade. É mais ou menos assim:
"aí, vc é dessas pessoas que escreve tão bem, que a vida escrita fica melhor que a vida real. sabe, isso? tipo quando vc lê cCortazar descrevendo a chuva? a chuva parece muito mais poética do que ela é na verdade? (http://albumzutico.blogspot.com/2006/10/cortzar-o-esmagamento-das-gotas.html) mas enfim."
"basicamente o cara gostar e entender de música é tão importante como saber beijar na boca. é uma questão de química, mesmo. acho que namorar um cara não-musical deve ser pior que namorar um cara broxa. porque pelo menos pra 'broxice' existe viagra. (nossa, que viagem)."
"david byrne não conta porque ele é tipo a bjork homem"
"cada dia gosto mais de cozinhar. e isso tb me faz pensar em vc."
"muitos beijos
muito amor (sem ser hippie)"
Minha vez: ela não é incrível?
Ela sempre diz que a gente tem um amor musical. E eu sei que é verdade. Mas tem mais. A gente tem um amor infinito pela mesma cidade (no mundo inteiro, a mesma cidade, pensa). Por isso que, no fundo, não importa essa coisa da distância. A gente sempre está perto. E então, depois de um tempão paralisada, me animei para um longo e-mail. E valeu só pela resposta. Então eu inventei de colocar umas partes aqui, pra registrar nas páginas que costumo reler nos momentos de saudade. É mais ou menos assim:
"aí, vc é dessas pessoas que escreve tão bem, que a vida escrita fica melhor que a vida real. sabe, isso? tipo quando vc lê cCortazar descrevendo a chuva? a chuva parece muito mais poética do que ela é na verdade? (http://albumzutico.blogspot.com/2006/10/cortzar-o-esmagamento-das-gotas.html) mas enfim."
"basicamente o cara gostar e entender de música é tão importante como saber beijar na boca. é uma questão de química, mesmo. acho que namorar um cara não-musical deve ser pior que namorar um cara broxa. porque pelo menos pra 'broxice' existe viagra. (nossa, que viagem)."
"david byrne não conta porque ele é tipo a bjork homem"
"cada dia gosto mais de cozinhar. e isso tb me faz pensar em vc."
"muitos beijos
muito amor (sem ser hippie)"
Minha vez: ela não é incrível?
terça-feira, março 10
domingo, março 8
:: Gaveta
De volta, Inka Cola no copo com gelo e as memórias da infância, no meio dos sabores das frutas, das batatas e dos milhos que eu nunca tinha provado. A cena é assim para lembrar os detalhes das histórias que ele contava, quando colocava Otis Redding alto na vitrola. Contava dos causos de quando era DJ com fita-cassete e perguntava pra mim, tão pequena, por que diabos aquela música chamava "Fa Fa Fa Fa Fa (SAD SONG)". Ele me ensinou desde sempre sobre o que é sentir com as músicas e até brincava de tirar letras em inglês comigo (porque eu gostava), como se importasse.
De volta, Inka Cola no copo com gelo e as memórias da infância, no meio dos sabores das frutas, das batatas e dos milhos que eu nunca tinha provado. A cena é assim para lembrar os detalhes das histórias que ele contava, quando colocava Otis Redding alto na vitrola. Contava dos causos de quando era DJ com fita-cassete e perguntava pra mim, tão pequena, por que diabos aquela música chamava "Fa Fa Fa Fa Fa (SAD SONG)". Ele me ensinou desde sempre sobre o que é sentir com as músicas e até brincava de tirar letras em inglês comigo (porque eu gostava), como se importasse.
quinta-feira, março 5
:: Das artes
Começou a mostra do Matthew Barney na Escola São Paulo e eu estou só esperando um pequeno tempo livre para reler tudo que eu escrevi sobre ele no caderno de viagem de NY, tudo que a Gi me ensinou sobre, e me preparar para rever. Talvez aconteça de lembrar do tempo mágico lá do passado e sentir, eventualmente, um aperto ou outro.
Começou a mostra do Matthew Barney na Escola São Paulo e eu estou só esperando um pequeno tempo livre para reler tudo que eu escrevi sobre ele no caderno de viagem de NY, tudo que a Gi me ensinou sobre, e me preparar para rever. Talvez aconteça de lembrar do tempo mágico lá do passado e sentir, eventualmente, um aperto ou outro.
quarta-feira, março 4
:: Sobre musiquinhas
Ele sabe que eu tenho um lado meigo. Por isso me apresentou She & Him. Confesso, demorei uns dias para ouvir, por conta da correria, mas agora, algo me diz que será a banda que mais vou ouvir no iPod nas minhas caminhadas pelas ruas primaveris, ali adiante. Não combina? Escuta: "Why do You Let me Stay Here".
Ele sabe que eu tenho um lado meigo. Por isso me apresentou She & Him. Confesso, demorei uns dias para ouvir, por conta da correria, mas agora, algo me diz que será a banda que mais vou ouvir no iPod nas minhas caminhadas pelas ruas primaveris, ali adiante. Não combina? Escuta: "Why do You Let me Stay Here".
terça-feira, março 3
segunda-feira, março 2
domingo, março 1
:: Pequenos prazeres
Ele começa a resposta que eu estava esperando dizendo que "há alguns e-mails que me deixam surpreso e outros que me deixam feliz. O seu e-mail me deixou surpreso e feliz". Acaba com superbeijo e abraço apertado.
E agora, desde já, está me esperando na cidade que escolheu pra morar e prometeu bater pernas comigo e aguentar todas as pausas para as fotos. Não é coisa de turista, eu disse, é coisa de fotógrafa que não deu certo. Tem até certa poesia nisso, percebe?
Ele começa a resposta que eu estava esperando dizendo que "há alguns e-mails que me deixam surpreso e outros que me deixam feliz. O seu e-mail me deixou surpreso e feliz". Acaba com superbeijo e abraço apertado.
E agora, desde já, está me esperando na cidade que escolheu pra morar e prometeu bater pernas comigo e aguentar todas as pausas para as fotos. Não é coisa de turista, eu disse, é coisa de fotógrafa que não deu certo. Tem até certa poesia nisso, percebe?
:: Das afinidades
O pior não é que meus colegas da nova classe de inglês, que começou neste sábado tão cedo, falam "peoples" várias vezes seguidas como se estivesse tudo ótimo. O pior é que eles não sabem quem é Nina Simone, Javier Barden, Paul Auster e Jane Austen. Eles nem sabem o que é jazz. E me olham com caras-e-bocas muito suspeitas quando digo que uma das coisas que mais gosto de fazer nas horas livres é cozinhar. E eu, no fim das contas, é que sou (simplesmente) um ET ali no meio.
O pior não é que meus colegas da nova classe de inglês, que começou neste sábado tão cedo, falam "peoples" várias vezes seguidas como se estivesse tudo ótimo. O pior é que eles não sabem quem é Nina Simone, Javier Barden, Paul Auster e Jane Austen. Eles nem sabem o que é jazz. E me olham com caras-e-bocas muito suspeitas quando digo que uma das coisas que mais gosto de fazer nas horas livres é cozinhar. E eu, no fim das contas, é que sou (simplesmente) um ET ali no meio.
:: Não-trabalho e extras
E então sexta foi um dia de não-trabalho. Porque depois de invadir as madrugadas do Carnaval no jornal, eu precisava mesmo de uma sexta-feira de sol. Mas acordei cedo, fiz exercícios de todas as espécies, porque ela mandou. Nadei, tomei sol, ouvi música.
Depois, almoço com meu pai no Vito. E ele pediu linguini ao vôngole (e vieram muitos vôngoles) e eu pedi o ravióli aberto de agrião, com rabada no vinho tinto. Até hoje ele fica surpreso quando me vê comendo determinadas coisas e comenta. Porque quando eu era pequena, ele fazia de tudo, mas eu olhava com cara de "eca" pros frutos do mar, para as carnes com qualquer tipo de pele ou gordura, para as coisas verdes das mais variadas espécies.
Enfim. Ele disse que o vôngole era mais verão e eu insisti no ravióli. Quando provou do meu prato, não confessou, mas se arrependeu. Agora quer voltar lá pra pedir a massa de agrião e rabada, que fica horas no vinho tinto - o garçom disse.
Lá é assim. Pequeno e fofo. Cardápio despretencioso com preços honestos. Numa rua cheia de árvores (dá até vontade de caminhar), perto da minha amada praça pôr-do-sol. Mas, talvez, o que eu mais goste ali, seja mesmo o atendimento.
Passei o resto do dia no hospital como acompanhante, mas quero pular essa parte. Porque o que importa é que depois fui na Moldura Minuto pegar os meus birds, que ele fez e me deu de presente. E ele é jovem artista e eu até fico meio metida quando falo que eu conheço. Às vezes, até repito. E agora os passarinhos estão aqui na parede redonda da minicasa, onde bate sol à tarde - parece que eles quase fogem.
Confesso. Agora que ele partiu, dá um certo aperto. É. No fim do dia da mesma sexta, eu liguei para contar da obra dele em pleno destaque, na pequena moldura branca, bem como ele mandou, e dar beijo-de-tchau. Porque, no fim, ele não conseguiu me arrastar para a cidade do Texas e, quando voltar, eu devo estar do outro lado, ele sabe.
Prometeu escrever. Eu convidei pra um café, mas na verdade era para um chá gelado. E ele é uma das poucas pessoas, senão a única, capaz de me convencer (como se nem houvesse de fato um processo de convencimento) a ir até a starbucks do shopping Villa-Lobos. Só porque era pertinho da casa dele e ele ainda precisava fazer a mala e abraçar os pais antes de partir.
E foi mais ou menos assim. Nas poltronas do mezanino conversamos um pouco sobre algumas coisas pendentes e ficamos ainda mais amigos. Ele ri com o nosso romance inventado e não esconde o quanto fica feliz quando conto que estou "louca pelos discos que ele gravou na última semana" e "não consigo parar de ouvir". Mas agora talvez eu volte a ouvir mais Caetano e Joshua Redman, para a saudade não apertar.
E então sexta foi um dia de não-trabalho. Porque depois de invadir as madrugadas do Carnaval no jornal, eu precisava mesmo de uma sexta-feira de sol. Mas acordei cedo, fiz exercícios de todas as espécies, porque ela mandou. Nadei, tomei sol, ouvi música.
Depois, almoço com meu pai no Vito. E ele pediu linguini ao vôngole (e vieram muitos vôngoles) e eu pedi o ravióli aberto de agrião, com rabada no vinho tinto. Até hoje ele fica surpreso quando me vê comendo determinadas coisas e comenta. Porque quando eu era pequena, ele fazia de tudo, mas eu olhava com cara de "eca" pros frutos do mar, para as carnes com qualquer tipo de pele ou gordura, para as coisas verdes das mais variadas espécies.
Enfim. Ele disse que o vôngole era mais verão e eu insisti no ravióli. Quando provou do meu prato, não confessou, mas se arrependeu. Agora quer voltar lá pra pedir a massa de agrião e rabada, que fica horas no vinho tinto - o garçom disse.
Lá é assim. Pequeno e fofo. Cardápio despretencioso com preços honestos. Numa rua cheia de árvores (dá até vontade de caminhar), perto da minha amada praça pôr-do-sol. Mas, talvez, o que eu mais goste ali, seja mesmo o atendimento.
Passei o resto do dia no hospital como acompanhante, mas quero pular essa parte. Porque o que importa é que depois fui na Moldura Minuto pegar os meus birds, que ele fez e me deu de presente. E ele é jovem artista e eu até fico meio metida quando falo que eu conheço. Às vezes, até repito. E agora os passarinhos estão aqui na parede redonda da minicasa, onde bate sol à tarde - parece que eles quase fogem.
Confesso. Agora que ele partiu, dá um certo aperto. É. No fim do dia da mesma sexta, eu liguei para contar da obra dele em pleno destaque, na pequena moldura branca, bem como ele mandou, e dar beijo-de-tchau. Porque, no fim, ele não conseguiu me arrastar para a cidade do Texas e, quando voltar, eu devo estar do outro lado, ele sabe.
Prometeu escrever. Eu convidei pra um café, mas na verdade era para um chá gelado. E ele é uma das poucas pessoas, senão a única, capaz de me convencer (como se nem houvesse de fato um processo de convencimento) a ir até a starbucks do shopping Villa-Lobos. Só porque era pertinho da casa dele e ele ainda precisava fazer a mala e abraçar os pais antes de partir.
E foi mais ou menos assim. Nas poltronas do mezanino conversamos um pouco sobre algumas coisas pendentes e ficamos ainda mais amigos. Ele ri com o nosso romance inventado e não esconde o quanto fica feliz quando conto que estou "louca pelos discos que ele gravou na última semana" e "não consigo parar de ouvir". Mas agora talvez eu volte a ouvir mais Caetano e Joshua Redman, para a saudade não apertar.
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