domingo, março 1

:: Não-trabalho e extras

E então sexta foi um dia de não-trabalho. Porque depois de invadir as madrugadas do Carnaval no jornal, eu precisava mesmo de uma sexta-feira de sol. Mas acordei cedo, fiz exercícios de todas as espécies, porque ela mandou. Nadei, tomei sol, ouvi música.

Depois, almoço com meu pai no Vito. E ele pediu linguini ao vôngole (e vieram muitos vôngoles) e eu pedi o ravióli aberto de agrião, com rabada no vinho tinto. Até hoje ele fica surpreso quando me vê comendo determinadas coisas e comenta. Porque quando eu era pequena, ele fazia de tudo, mas eu olhava com cara de "eca" pros frutos do mar, para as carnes com qualquer tipo de pele ou gordura, para as coisas verdes das mais variadas espécies.

Enfim. Ele disse que o vôngole era mais verão e eu insisti no ravióli. Quando provou do meu prato, não confessou, mas se arrependeu. Agora quer voltar lá pra pedir a massa de agrião e rabada, que fica horas no vinho tinto - o garçom disse.

Lá é assim. Pequeno e fofo. Cardápio despretencioso com preços honestos. Numa rua cheia de árvores (dá até vontade de caminhar), perto da minha amada praça pôr-do-sol. Mas, talvez, o que eu mais goste ali, seja mesmo o atendimento.

Passei o resto do dia no hospital como acompanhante, mas quero pular essa parte. Porque o que importa é que depois fui na Moldura Minuto pegar os meus birds, que ele fez e me deu de presente. E ele é jovem artista e eu até fico meio metida quando falo que eu conheço. Às vezes, até repito. E agora os passarinhos estão aqui na parede redonda da minicasa, onde bate sol à tarde - parece que eles quase fogem.

Confesso. Agora que ele partiu, dá um certo aperto. É. No fim do dia da mesma sexta, eu liguei para contar da obra dele em pleno destaque, na pequena moldura branca, bem como ele mandou, e dar beijo-de-tchau. Porque, no fim, ele não conseguiu me arrastar para a cidade do Texas e, quando voltar, eu devo estar do outro lado, ele sabe.

Prometeu escrever. Eu convidei pra um café, mas na verdade era para um chá gelado. E ele é uma das poucas pessoas, senão a única, capaz de me convencer (como se nem houvesse de fato um processo de convencimento) a ir até a starbucks do shopping Villa-Lobos. Só porque era pertinho da casa dele e ele ainda precisava fazer a mala e abraçar os pais antes de partir.

E foi mais ou menos assim. Nas poltronas do mezanino conversamos um pouco sobre algumas coisas pendentes e ficamos ainda mais amigos. Ele ri com o nosso romance inventado e não esconde o quanto fica feliz quando conto que estou "louca pelos discos que ele gravou na última semana" e "não consigo parar de ouvir". Mas agora talvez eu volte a ouvir mais Caetano e Joshua Redman, para a saudade não apertar.

Um comentário:

de vries disse...

Se você soubesse o que é esse lugar, você choraria agora e talvez fizesse as malas correndo e viria pra cá me ver. Nunca, nunca mesmo, estive num lugar tão de brinquedo. Um brinquedo verdadeiro onde minha casa tem siding branco e front porch. E tudo que eu sonhei em 1984.