:: A nossa jovem Janis Joplin
A última música do show da Cat Power me lembrou um dos momentos mágicos de NY e meu "primeiro encontro" com ele, aqui em São Paulo, numa festinha da psicologia. Ela simplesmente fechou o show com "I've been loving you too long", do Otis Redding, com a máxima classe. É para quem pode, claro.
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Não fosse Otis Redding, a gente não teria ficado junto, provavelmente. Porque foi quando ele colocou Otis para tocar na pista, que eu cheguei perto para fuçar o que estava ali atrás das pick-ups. Otis já era símbolo pra mim muito antes. Talvez por isso tenha me chamado tanto a atenção. Meu pai contava, quando eu era pequena, que ele fazia som nas festas com cassete e tocava esse negão incrível que morreu precocemente, em um acidente de avião.
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Quando cheguei em NY, depois de horas de viagem muito mal-dormidas, encontrei minha irmã e Mari e fomos com o saudoso "L train" to Brooklyn. Foi no meu primeiro dia que conheci Williamsburg e o café Aurora, que a gente gosta tanto e toma brunch com ovos de todas as espécies (com Mari Sil e Roger, sempre). Frio e sol batendo no rosto e, adivinha, Otis Redding no som ambiente. Foi arrasador. Das coisas que marcam a gente.
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Tudo isso para dizer que o show do sábado do Tim, no Auditório Ibirapuera, me deixou assim, pensando nessa coisa de "melhores momentos". O show valeu cada centavo e, no final das contas, compensou a frustração de não ter visto a Feist. A Feist é frustração dupla. A primeira foi em NY quando saí da aula de mochila e iPod, na chuva, naquela guerra de guarda-chuva em plena Manhattam, correndo até o Town Hall para comprar os ingressos para o show. Cheguei lá: esgotado. Lá é assim, as coisas esgotam com meses de antecedência, dá um certo nervoso. Agora veio essa em SP.
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No balanço, sem crises, porque Cat Power realmente arrasou e, além disso, eu também tinha tentando comprar ingressos para vê-la e já estavam esgotados. Cat Power veio para compensar os dois primeiros shows, da Kátia B e da Cibelle. Kátia B fez um ar diva no palco, mas não era aquilo tudo. Um vestido longo meio hippie, uma projeção duvidosa no telão, aquela voz sem potência misturada com efeitos eletrônicos sem nenhuma novidade. E, sempre, a tal pose de diva.
Cibelle fez o tipo "menininha afetada que veio de Londres", que me irritou do começo ao fim. Mas a voz dela é mesmo um encanto. Sobretudo quando teve a sóbria idéia de cantar só com o violão. Ficou lindo de ver. Se ela arrancasse todo aquele lance teatral que eu achei extremamente forçado, tentando bancar uma coisa que ela simplesmente não era, talvez tivesse sido melhor. Mas não. Ela fez piadinhas sem parar, fez ginástica e fez graça o tempo todo. Eu não dei risada, mas, nem por isso, deixei de apreciar os bons momentos de sua voz. Aliás, eu quero comprar o disco. Ela deve funcionar muito bem no estúdio. Em certo momento, chamou a "amiga que eu amo muito, muito, muito, muito" (disse) ao palco para fazer um experimento sonoro, explicou. Vanessa da Mata subiu e cantou "Boa sorte". Foi lindo mas eu fiquei concentrada nas minhas preces, pensando "será que ela vai chamar o Ben Harper no palco também?". Não chamou, mas a palhinha foi interessante _embora eu preferisse algo mais limpo, sem aquele monte de invenções de sons.
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Depois do segundo intervalo foi a vez dela. Cat Power subiu ao palco sem rodeios e fez um show delicioso, cheio de classe. Modelito básico: jeans preto, sapato branco (que só ela pode usar) e uma blusinha de tecido verde-escuro, que caia um pouco no ombro e causava frisson. No pescoço, uma gravata descartável, preta, de lantejoulas (ou só brilhante?), fazendo o maior tipo. Franjinha e cabelo preso, sem frescura. No começo, fez bicos e caras para os fotógrafos, de um lado a outro do palco. Na terceira música, os fotógrafos saíram e ela chamou a platéia pertinho. Todo mundo correu e colou no palco. Depois, só gentileza. Ela ganhou flores, pegou na mão de todo mundo, jogou as toalhas brancas que usou para limpar o rosto delicadamente (ao menos pareceu preocupada com a maquiagem)...
Dançou e cantou. Dançou como ninguém. Uma dancinha sexy e simples sempre percorrendo o palco inteiro, raramente parada no centro. E a voz saía. Ela tossiu algumas vezes e, no final do show, depois de jogar um cigarro para o alto algumas vezes e deixá-lo cair no chão e pegá-lo de volta, pediu para alguém da platéia acender e fumou durante a última música. Mesmo assim, a voz dela simplesmente saía e era de arrepiar. Ainda tão novinha e com essa classe toda ao vivo, de gente grande, sem medo de ser feliz. Talvez tenha sido essa postura que mais tenha me atraído. Essa coisa de não ficar bancando nada. De ser natural, simples. E tudo com aquela voz rouca que saía sem esforço, fazendo um som que me lembrou uma jovem Janis Joplin, na maior elegância.
Para digerir tudo aquilo, só uma sessão de "comes e bebes" no Balcão com as amigas até 3 am.
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4 comentários:
Não me mata de decepção! O Balcão é o top bar cu na minha lista de bares cu da capital! Logo vc!
rarara, mala. eu gosto de ir lá na madrugada porque tem comidinhas, besta. não está na minha lista de prediletos. é óbvio que antes eu passei no ritz, né. mas a cozinha estava fechada. rara
Otis Redding.... vou te agradecer pra sempre, e não é só pela sua bela música.
Ainda vou pegar o L Train, ouvindo Take the L Train do brooklyn Funk essentials, quando for a NY...
Fiquei com vontade de conhecer a Cat Power, ela é mais bonita que a Ellis Fino?
adorei adorei adorei!
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